tag:blogger.com,1999:blog-2617638494128375162024-03-14T11:33:17.397-03:00Sublime IrrealidadeJ. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.comBlogger434125tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-58449155134314599372024-02-13T10:42:00.002-03:002024-02-14T00:18:59.862-03:00Monotonia e solidão em “Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo”<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMQF5BA9smoQl-ZDoR2Z9Uu3piFd_BwJ_vUHD14dYiFfabCLTZ_eKahcHDhuNH4j4rCTNCR3flEdWrxrLu2mpvH_D7QVciOljcheHvROMWLGG74QT9GmBZ-O7LfEs6o2EXcyb-umgZxsfK4WE3K_2jZNsSsozQy8kOJZLjAa0F3TdpDpWVjoJab8QdTY0/s678/AE37A8BD-53C0-4455-BAA4-B061F6E1AE8A.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="678" data-original-width="452" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMQF5BA9smoQl-ZDoR2Z9Uu3piFd_BwJ_vUHD14dYiFfabCLTZ_eKahcHDhuNH4j4rCTNCR3flEdWrxrLu2mpvH_D7QVciOljcheHvROMWLGG74QT9GmBZ-O7LfEs6o2EXcyb-umgZxsfK4WE3K_2jZNsSsozQy8kOJZLjAa0F3TdpDpWVjoJab8QdTY0/s320/AE37A8BD-53C0-4455-BAA4-B061F6E1AE8A.jpeg" width="213" /></a></div><p style="text-align: justify;"><span style="color: #4c1130;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #4c1130;">Transitando entre a ficção e o documentário, entre o melodrama e o experimento e entre o realismo e o subjetivismo, <b>Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo</b> <b>(2009)</b> é um filme único, seja pela forma, pela ousadia estética ou pela intensidade com que desconstrói e reconstrói um subgênero tão tradicional como o <i>road movie</i>.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #4c1130;">José Lucas, o personagem principal é interpretado por Irandhir Santos, que não aparece em nenhuma cena do filme, sua presença se faz apenas pela narração em off, recurso usado em não poucas vezes de uma forma desnecessária no cinema nacional, mas aqui ele funciona muito bem, tanto como subversão do gênero documental como estrada para os interiores áridos do psicológico do personagem.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #4c1130;">Geólogo, 35 anos, José Lucas viaja a trabalho, sua tarefa é fazer um relatório avaliativo/descritivo da região que será atravessada pelo canal de transposição do rio São Francisco, ele cruza os interiores do nordeste brasileiro em uma jornada que espera concluir em 30 dias. Neste caminho há vidas em abandono, desolação, muita solidão (geográfica e afetiva), sonhos e projetos desfeitos e uma monotonia dolorida, que está presente nas beiras de estradas e horizontes que parecem se repetir indefinidamente.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #4c1130;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTXraPD8UBhsUQe2hWkIR4wzj9hc5zWPoTq-EBT6R8G2_9nz7Qnm40Dinmwn09G3PO6nM9yck9s8PVzHMFkHmEPwG10ZH2cEEfDzteb3_n9XDYbj2CFbUUt-oqGyYPga_IShMAYnjRu_3OfXkRLvXibpSyC_2XHybocPS-aYCH-9gBQ7bz9NY7APOxay8/s660/93C98F0A-5EAA-4E97-A051-B7A467D5F892.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="436" data-original-width="660" height="211" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTXraPD8UBhsUQe2hWkIR4wzj9hc5zWPoTq-EBT6R8G2_9nz7Qnm40Dinmwn09G3PO6nM9yck9s8PVzHMFkHmEPwG10ZH2cEEfDzteb3_n9XDYbj2CFbUUt-oqGyYPga_IShMAYnjRu_3OfXkRLvXibpSyC_2XHybocPS-aYCH-9gBQ7bz9NY7APOxay8/s320/93C98F0A-5EAA-4E97-A051-B7A467D5F892.jpeg" width="320" /></a></div><br /><span style="color: #4c1130;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #4c1130;"><span style="caret-color: rgb(76, 17, 48);">Desejo de fuga e de retorno se entrelaçam, mas na realidade nenhum dos dois se mostra viável, a vida é o que é, e parece que é isso que ela está dizendo para o personagem o tempo todo e é isso também que a narrativa está dizendo para nós espectadores. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="caret-color: rgb(76, 17, 48); color: #4c1130;">O filme oscila entre o documental e subjetivo e há ao menos duas transições bem nítidas, a primeira acontece quando um fato importante da narrativa é revelado, o que faz aprofundar o subjetivismo; na segunda, é a vida real que insurge contra o subjetivismo, e nesta passagem o predomínio da perspectiva do personagem central é rompida pela fala de uma jovem garota de programa, que parece não ignorar a presença da câmera que a constrange, nesta fala é como se a dureza do exterior trouxesse o próprio personagem de suas divagações de volta para o agora.</span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCdsyLgs-kQCxGBa9J4oxS0H5MMMkbS54jRhu_G6jrzZsZuCOVBRwnW1wTolSIYYmGKxFjWf3H25MFx9j5uohYHLUIQQ4qv9dj4RQEztVTHilaumDMDKWOPaeyvmdzcUVs2AurOINH2Ggm5TWFPz4iX4DJYEjIlVeXHiQsy_9D1N8wUNhqUN0JB41uVOA/s640/24D023BB-9CA3-44C7-A213-E7D2342FD02C.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="333" data-original-width="640" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCdsyLgs-kQCxGBa9J4oxS0H5MMMkbS54jRhu_G6jrzZsZuCOVBRwnW1wTolSIYYmGKxFjWf3H25MFx9j5uohYHLUIQQ4qv9dj4RQEztVTHilaumDMDKWOPaeyvmdzcUVs2AurOINH2Ggm5TWFPz4iX4DJYEjIlVeXHiQsy_9D1N8wUNhqUN0JB41uVOA/s320/24D023BB-9CA3-44C7-A213-E7D2342FD02C.jpeg" width="320" /></a></div><br /><span style="caret-color: rgb(76, 17, 48); color: #4c1130;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #4c1130;"><span style="caret-color: rgb(76, 17, 48);">Felizmente o que se vê em <b>Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo</b> não é o tipo de experimentalismo que tem predominado em muitos festivais de cinema, que sobrepõe a forma à narrativa supondo que isso é exercício de linguagem. Karim Aïnouz e Marcelo Gomes, que dirigiram e assinaram o roteiro, se distanciam do mais do mesmo ao atingir um nível de coerência entre os diversos elementos de linguagem, eles sabem que forma é narrativa e é isso que torna o filme grandioso.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #4c1130;"><span style="caret-color: rgb(76, 17, 48);">Para olhares deformados pelo cinema comercial, </span></span><b style="caret-color: rgb(76, 17, 48); color: #4c1130;">Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo</b><span style="caret-color: rgb(76, 17, 48); color: #4c1130;"> pode parecer excessivamente lento e com poucos estímulos sensoriais, mas o que pode ser visto como defeito por alguns, são na verdade alguns dos aspectos mais importantes. A lentidão da narrativa permite que se compreenda a solidão do personagem e sua forma de lidar com tanto com o passado, para onde ele almeja voltar, quanto com o futuro; e a falta de estímulos sensoriais ajuda reforçar a percepção da monotonia angustiante de seus dias.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="caret-color: rgb(76, 17, 48); color: #4c1130;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2CpI98uhAfrfaK5LZ2EZneR0t_14VH-Wf_9Q-TgylXul-qWzJ7jp2j23j1RpIYulgDbZ_IpESRRZ5tNkKo09I6dpfzfBQvt_pwfjLPwjjo8dU4ymvWRTnRdC7CZO0k6SJmJj9b1ZO6fxOX2lxJiwn5NqYW0nlNTWBB2UEZC9ima9-u5f6jV3wXM3Iye8/s786/45513527-922A-4C70-98AE-B810FEFF385E.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="390" data-original-width="786" height="159" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2CpI98uhAfrfaK5LZ2EZneR0t_14VH-Wf_9Q-TgylXul-qWzJ7jp2j23j1RpIYulgDbZ_IpESRRZ5tNkKo09I6dpfzfBQvt_pwfjLPwjjo8dU4ymvWRTnRdC7CZO0k6SJmJj9b1ZO6fxOX2lxJiwn5NqYW0nlNTWBB2UEZC9ima9-u5f6jV3wXM3Iye8/s320/45513527-922A-4C70-98AE-B810FEFF385E.jpeg" width="320" /></a></div><span style="caret-color: rgb(76, 17, 48); color: #4c1130;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="caret-color: rgb(76, 17, 48); color: #4c1130;">É possível estabelecer ainda mais um paralelo entre realidade e subjetividade, que pode ser percebido na própria ideia da transposição que avançaria por sobre casas e por cidades inteiras, destruindo vivências e o acúmulo de significados de vidas inteiras. Aqui é como se o filme lembrasse, e isso é dito expressamente, que nada é eterno, tudo é transitório. Para a realidade que se apresenta como fator de transformações, o atropelo das subjetividades pouco importa e a vida de José Lucas é apenas mais uma evidência disso.</span></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-54501607222283766622024-01-27T08:36:00.001-03:002024-01-27T08:36:14.486-03:00 Anatomia de uma Queda - Reflexões sobre Direito, justiça e verdade a partir de um dos melhores filmes da temporada!<div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-family: UICTFontTextStyleBody; font-size: 17px; text-size-adjust: auto;"><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3s8tJe5yLHct5q5q6DuF9ycNtEW2kz8waBtj6VHan7vW5ctufgqHL0lsSvVSA1ariqioUGtLYTidfaZ9CLYa5R5Rj3nf_tOJJ23cID-SvvrSSNEGXtdl-WgEc-CqVqJVAH0u7zzy0icQi80ycDHadHdFiaV0bBKS0NNSIDlZy-C9p-Kn2cchz7PBKYTk/s1024/anatomia-de-uma-queda4-683x1024.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="683" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3s8tJe5yLHct5q5q6DuF9ycNtEW2kz8waBtj6VHan7vW5ctufgqHL0lsSvVSA1ariqioUGtLYTidfaZ9CLYa5R5Rj3nf_tOJJ23cID-SvvrSSNEGXtdl-WgEc-CqVqJVAH0u7zzy0icQi80ycDHadHdFiaV0bBKS0NNSIDlZy-C9p-Kn2cchz7PBKYTk/s320/anatomia-de-uma-queda4-683x1024.webp" width="213" /></a></div><span style="color: #660000;"><br /></span></b></span></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-family: UICTFontTextStyleBody; font-size: 17px; text-size-adjust: auto;"><b><span style="color: #660000;"><br /></span></b></span></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-family: UICTFontTextStyleBody; font-size: 17px; text-size-adjust: auto;"><b><span style="color: #660000;">Anatomia de uma Queda</span></b><span style="color: #0c343d;">, filme francês dirigido por Justine Triet e vencedor da Palma de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cannes, possui uma trama aparentemente simples: A escritora Sandra (Sandra Hüller) mora em um chalé na montanha com o marido, Samuel (Samuel Theis), que é um ex-professor e aspirante a escritor, e o filho, Vincent (Swann Arlaud), um menino com deficiência visual. Samuel é encontrado morto por Vincent, e aquilo que a princípio parecia ser apenas um acidente passa a ser visto pelas autoridades responsáveis pela investigação como um possível assassinato e Sandra passa a ser a principal suspeita.</span></span><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #0c343d; font-family: UICTFontTextStyleBody; font-size: 17px; text-size-adjust: auto;"> </span></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #0c343d; font-family: UICTFontTextStyleBody; font-size: 17px; text-size-adjust: auto;"><br /></span><span class="s2" style="color: #0c343d; font-family: UICTFontTextStyleBody;">Na medida em que a trama se desenrola, fatos novos surgem, indícios vão aparecendo, e o roteiro, que é muito bem escrito, permite que ora acreditemos na inocência da personagem, ora duvidemos de que não tenha sido ela a responsável. De uma forma muito interessante o filme mostra que o fato original não pode ser recriado, as intenções dos envolvidos não podem ser acessadas e o que se tem é apenas um quebra-cabeças que pouco a pouco aparenta estar sendo montado a partir dos horizontes apresentados pela mulher, pelo filho e pelos indícios encontrados.</span></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="color: #0c343d;"><span style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"><br /></span></span><span class="s2" style="color: #0c343d; font-family: UICTFontTextStyleBody;">É a partir destes horizontes entrecortados que já no tribunal uma trama dentro da trama começa a ser desembolada. Passamos a nos questionar: o que nos faz crer que a personagem é inocente ou culpada são indícios concretos ou nós, expectadores sem visão privilegiada dos fatos, estamos tão sujeitos, assim como o tribunal, a aquilo que se apresenta como mera narrativa e que não necessariamente corresponde à verdade? </span><span style="color: #0c343d; font-family: UICTFontTextStyleBody;">É curioso perceber que os flashbacks presentes nesta parte do filme não servem para nos conduzir aos fatos originais, mas tão somente à uma reconstrução criada à partir da versão de algum dos personagens. E mesmo as versões apresentadas por peritos e especialista não são objetivas, são igualmente baseadas na interpretação, onde na maior parte das vezes os preconceitos dos intérpretes falam mais que as coisas analisadas em si.</span></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="color: #0c343d; font-family: UICTFontTextStyleBody;"><br /></span></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpNkmnwa7j_NskX9GNRoo-L54B4POd06AL-cEIe11eP15k5xfneN7xIIWtd0umf6f1y2RPEE6MDzm0sWfmuoaXIqcfLYa1blXY9ke6Owe4GkF9FX6Dzy0p4vGbSVIbK66FHMJT2dVBITRzw0OByvzFNVQyO_BCSbDM40yxnvS-qvUu871yWU172JYRBNc/s681/ANATOMY-OF-A-FALL-Still-1.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="383" data-original-width="681" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpNkmnwa7j_NskX9GNRoo-L54B4POd06AL-cEIe11eP15k5xfneN7xIIWtd0umf6f1y2RPEE6MDzm0sWfmuoaXIqcfLYa1blXY9ke6Owe4GkF9FX6Dzy0p4vGbSVIbK66FHMJT2dVBITRzw0OByvzFNVQyO_BCSbDM40yxnvS-qvUu871yWU172JYRBNc/s320/ANATOMY-OF-A-FALL-Still-1.webp" width="320" /></a></div><span style="color: #0c343d; font-family: UICTFontTextStyleBody;"><br /></span></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="color: #0c343d; font-family: UICTFontTextStyleBody;">Em um dado momento, um dos personagens afirma que no processo a verdade dos fatos não é o que importa, mas as impressões criadas e alimentadas; outra personagem, mais adiante, afirma que é necessário decidir mesmo diante de uma dúvida substancial e que o decidido tem validade, tem valor de verdade, como se a decisão consistisse em uma última análise em uma substituição da verdade factual pela verdade solipsista daquele em quem está investido o poder de julgar.</span></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="color: #0c343d;"><span style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"><br /></span></span><span class="s2" style="color: #0c343d; font-family: UICTFontTextStyleBody;">Aqui já é possível ensaiar algumas reflexões sobre a diferença entre a verdade factual e a verdade processual. A verdade processual sempre resultará de atos de interpretação, é a partir da linguagem que uma recriação da situação original é possível, o filósofo alemão Hans-Georg Gadamer nos lembra que “o ser que pode ser conhecido é linguagem”, o que quer dizer que acessamos as coisas sempre tendo a linguagem como condição, e no processo a verdade se forma como uma narrativa que resulta da apresentação de um horizonte por um dos lados, pela contraposição deste horizonte ao horizonte apresentado pelo outro lado da lide e pela ampliação destes horizontes pela produção/dilação probatória.</span></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="color: #0c343d;"><span style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"><br /></span></span><span class="s2" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"><span style="color: #0c343d;">Há, no entanto, situações em que os horizontes apresentados, mesmo após contrapostos e ampliados, se mostram insuficientes para que a verdade insurja, é o que na linguagem jurídica é chamado de dúvida substancial. Uma situação deste tipo traz o questionamento proposto pelo filme: há justiça no ato de entregar a alguém, que decidirá conforma sua consciência em uma situação de incerteza, o poder de destruir a vida de outrem? Este é um dos dilemas fundamentais da justiça, é o problema com o qual a deusa Palas Atena se depara no último ato da peça </span><b><span style="color: #660000;">As Eumênides</span></b><span style="color: #0c343d;">, escrita na Grécia no ano de 458 a.C por Ésquilo. É o mesmo dilema que os jurados enfrentam no clássico </span><span style="color: #660000;"><b>Onze Homens e uma Sentença</b></span><span style="color: #0c343d;"> (1957), de Sidney Lumet.</span></span></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="color: #0c343d; font-family: UICTFontTextStyleBody;"><br /></span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnvc9fHsrm25urXNxZ9xcXoWP_xqzFt5NcwYP8gtFmHlaqBVTBpseJZyS3an9_jzVrMbXkewnX9jS9VABfEtJxTZfpwdO1DUNyDffh5sasDyf2A0-evKpYpqSHICp6uGbXqRCXZC_30qCuvpCuDTlqHJ9FShipmuesfSHEyR-Pr7CRx7jyWSjLmyrzG_g/s860/anatomia-de-uma-queda-tribunal-860x484.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="484" data-original-width="860" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnvc9fHsrm25urXNxZ9xcXoWP_xqzFt5NcwYP8gtFmHlaqBVTBpseJZyS3an9_jzVrMbXkewnX9jS9VABfEtJxTZfpwdO1DUNyDffh5sasDyf2A0-evKpYpqSHICp6uGbXqRCXZC_30qCuvpCuDTlqHJ9FShipmuesfSHEyR-Pr7CRx7jyWSjLmyrzG_g/s320/anatomia-de-uma-queda-tribunal-860x484.jpg" width="320" /></a></div></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="color: #0c343d;"><span style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"><br /></span></span><span class="s2" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"><span style="color: #0c343d;">Em </span><b><span style="color: #660000;">Anatomia de uma Queda</span></b><span style="color: #0c343d;"> a justiça é representada por um dos personagens (e tem um elemento óbvio que comprova esta minha tese), é este personagem que faz questionamentos pertinentes em uma dada passagem da trama e é a ele que cabe, ainda que indiretamente, a mesma decisão que no clássico grego coube à deusa Atena.</span></span></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="color: #0c343d;"><span style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"><br /></span></span><span class="s2" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"><b><span style="color: #660000;">Anatomia de uma Queda</span></b><span style="color: #0c343d;"> é um filme que merece ser visto e muito debatido, é um excelente material para uma aula de Teoria do Direito ou de Processo Penal, principalmente em um tempo em que estamos, como sociedade, tão entregues à sanha punitivista que nos faz confundir justiçamentos com justiça. </span></span></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span class="s2" style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"><span style="color: #0c343d;"><br /></span></span></div><div style="font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="color: #0c343d;"><span style="font-family: UICTFontTextStyleBody;"><br /><div style="text-align: center;"><b><span style="color: #660000;">Anatomia de uma Queda</span></b><span style="color: #0c343d;">, que estreou no Brasil na última quinta-feira, está indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção (Justine Triet), Melhor Atriz (Sandra Hüller), Melhor Roteiro Original e Melhor Edição. Deveria estar indicado também na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira, mas a França apostou em </span><b><span style="color: #660000;">La Passion</span></b><span style="color: #0c343d;"> de Dodin Bouffant, que não recebeu nenhuma indicação. A cerimônia do Oscar acontecerá no dia 10 de março.</span></div></span></span></div><p class="p4" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><br /></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-9082681941009358102024-01-04T22:30:00.003-03:002024-01-05T07:11:30.874-03:00Quem é o "monstro"? Kore-Eda nos dá espelhos em seu novo filme!<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfkKQ4P2k-kvhX3pDgUzAJAaOBSf_skC-m3mIxvtIBUxdC7elDaeHbX2wc113rACrV0JP1Arb1W-qvYudJwIa5kOUA6n9hWpTY41dG8nTq2MZQfyRU7M88-HqX6OOfaRL_DeqvY6n4zoc24NQJZhM4PS9gsrjdiXHNWlNg4OCgDC12F29AAkvupUiHzFo/s1600/WhatsApp%20Image%202024-01-04%20at%2022.53.34.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfkKQ4P2k-kvhX3pDgUzAJAaOBSf_skC-m3mIxvtIBUxdC7elDaeHbX2wc113rACrV0JP1Arb1W-qvYudJwIa5kOUA6n9hWpTY41dG8nTq2MZQfyRU7M88-HqX6OOfaRL_DeqvY6n4zoc24NQJZhM4PS9gsrjdiXHNWlNg4OCgDC12F29AAkvupUiHzFo/w300-h400/WhatsApp%20Image%202024-01-04%20at%2022.53.34.jpeg" width="300" /></a></div><span style="color: #20124d;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Se você tiver alguma oportunidade, assista ao filme </span><b><span style="color: #4c1130;">Monster</span></b><span style="color: #20124d;">, obra mais recente do cineasta japonês Hirokazu Kore-Eda. É, eu creio que será melhor eu refazer este comando imperativo retirando a condicionante: Simplesmente, assista “Monster”! Não só porque é um dos melhores filmes do ano passado; não só porque o Kore-Eda é um diretor que precisa ser acompanhando de muito perto; não só porque o roteiro foi premiado na última edição do festival de Cannes… eu já falei que é o melhor filme de 2023?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">É necessário falar muito sobre </span><span style="color: #4c1130;">Monster</span><span style="color: #20124d;">, mas o problema é que não dá pra falar muito sobre ele sem estragar a experiência de quem ainda não assistiu. Tentarei fazê-lo, SEM SPOILERS, sob pena de que daqui pra frente o texto fique ainda mais confuso. Se me serve de justificativa, digo que a culpa pela má escrita é do próprio filme, que assisti aqui em BH no <i>Cine Una Belas Artes</i>, ainda estou inebriado, sob o efeito poderoso desta sessão. E, antes que me ataquem, o que se desenrola nestas linhas tortas talvez seja mais um relato de experiência que uma crítica.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Feitas as ressalvas, vamos lá! A trama é simples: percebendo o comportamento estranho do filho e que ele chegou machucado da escola, a mãe o questiona e ele acaba contando que foi agredido por um de seus professores. Ela vai ao colégio e tudo o que consegue é um educado, pomposo e ineficaz pedido de desculpas. Quanto mais ela tenta cobrar uma ação efetiva da diretora e dos demais professores, mais perceptível se torna o muro (ou os muros) que a separa de seu intento. É isso. É só isso? Não, é tudo isso!</span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWIN8LvVrPud4k1fVTPh40EflhkrsxfAtgiKez1nuXipefQh3wG2QFg2FGk_ZoQd1fnp2Ha9HjADxHWwkovbbYANrzjMhwHRvt1_Ll1oBMiPoT9n0s3jwjomkSIqxJiW_BtKBdARwh0VMJFhYXleKETeTg7ld2fMsRJRw3LeNNAkmPywmuBCSjuaQvdYU/s2560/KBW9777-scaled.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1920" data-original-width="2560" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWIN8LvVrPud4k1fVTPh40EflhkrsxfAtgiKez1nuXipefQh3wG2QFg2FGk_ZoQd1fnp2Ha9HjADxHWwkovbbYANrzjMhwHRvt1_Ll1oBMiPoT9n0s3jwjomkSIqxJiW_BtKBdARwh0VMJFhYXleKETeTg7ld2fMsRJRw3LeNNAkmPywmuBCSjuaQvdYU/s320/KBW9777-scaled.jpg" width="320" /></a></div><span style="color: #20124d;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Parece bobo, parece banal, mas é precisamente o oposto. O filme faz gato e sapato de nossa percepção, usando termos gadamerianos, eu diria que o filme alimenta nossas precompreenssões para adiante demoli-las em uma ampliação de horizontes. A trama brinca com a angústia de nossa condição existencial, somos seres lançamos em um mundo que enxergamos sempre a partir do ponto em que nos encontramos. Somos condenados a não ter uma noção precisa do todo e sem dar conta disso, nos contentamos com os fragmentos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">No livro </span><span style="color: #741b47;"><b>A verdade e as formas jurídicas</b></span><span style="color: #20124d;">, Michel Foucault fala de um meio de produção e validação da verdade existente na Grécia antiga, que está presente inclusive no inquérito no qual o herói trágico Édipo é submetido. Uma mesma pessoa nunca detém toda a verdade, que é uma espécie de quebra-cabeças, cujo sentido só é revelado quando as outras pessoas que detêm as outras partes se pronunciam. Na tragédia de Sófocles só se descobre a gravidade do infortúnio de Édipo, que sem saber casou com a própria mãe e matou o próprio pai, porque surgem pessoas que detém cada uma parte da história.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">O roteiro de </span><span style="color: #4c1130;">Monster</span><span style="color: #20124d;"> se vale deste mesmo método de produção da verdade, com a diferença de que nele não há um inquérito, as partes se encaixam e as pontas soltas se juntam na medida em que as perspectivas de personagens distintos vão sendo sobrepostas, revelando um sentido que que não poderia ser encontrado a partir de um horizonte solipsista. E aqui vale dizer que o que o filme faz é uma contundente crítica ao solipsismo que caracteriza o nosso tempo, no qual julgamentos baseados em precompreenssões são poucas vezes pensados </span><span style="color: #20124d;">e questionados por quem os emite.</span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-WsXhKBBwJLe2XX7HpnAOoZRdpSIWEuW0XIJfpgnDFfclDqd7mYDK7j4hKzc2qpXcbmlvIdNP4ikbpkfGAat_Oxi1s7PFTqdQ2fUTj18zK86j4S-3QQScI0cTNgd3ow-fig350-9qZ7Z2i7gpK08SeI2zDXDBFYcTKJ164tXRPIkJnotgQVamRJf7hC0/s1200/download%20(1).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="1200" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-WsXhKBBwJLe2XX7HpnAOoZRdpSIWEuW0XIJfpgnDFfclDqd7mYDK7j4hKzc2qpXcbmlvIdNP4ikbpkfGAat_Oxi1s7PFTqdQ2fUTj18zK86j4S-3QQScI0cTNgd3ow-fig350-9qZ7Z2i7gpK08SeI2zDXDBFYcTKJ164tXRPIkJnotgQVamRJf7hC0/s320/download%20(1).jpg" width="320" /></a></div><span style="color: #20124d;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span><span style="color: #20124d;">Depois de nos revirar de ponta cabeça e ao avesso e de nos sacudir, a reposta para pergunta que é feita em diversos da trama, “quem é o monstro”, se desvela. O monstro sou eu, o monstro é você, o monstro somos todos nós. </span><b><span style="color: #4c1130;">Monster</span></b><span style="color: #20124d;"> nos lembra que urge pôr abaixo os muros da incomunicabilidade e ampliar os horizontes, sem isso, na vida assim como no filme, estaremos pecando o tomar o recorte, como um todo capaz de produzir algum sentido.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span><span style="color: #20124d;"><br /></span></span></p><p style="text-align: center;"><span style="color: #20124d;">Monster ganhou o prêmio de melhor roteiro na edição do Festival de Cannes de 2023.</span></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-85651254403525555092023-05-13T09:15:00.013-03:002023-05-15T20:33:36.869-03:00Esperando Godot - “O absurdo é a vida!”<div style="text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="color: #660000; font-family: inherit;"><b>Esperando Godot</b>. Adaptada da peça <b>En attendant Godot</b> de
Samuel Beckett. Montagem realizada pelo <b>Teatro Oficina</b> com a direção de Zé
Celso. Apresentando Marcelo Drummond, Alexandre Borges, Ricardo Bittencourt,
Roderick Himeros e Tony Reis. Primeiro espetáculo da temporada, estreia no SESC
Palladium em Belo Horizonte.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVi20aWjj3wnxRNz-zJP5YQqxiKvNo8SNzeXERm6APvo661svG-LNeCEyI6rsZ_d9kxMMaeRiXczVD1Nue0yfWRPMiKCQZLBcP4nFlXghJF3-IoXJMbxmgfNY-m4mABzphNyvGc4QAzAMSQnPaRtwF3QsOIX-_PHvboFty8PO2S2a3OvkOf1ns25H2/s738/60848DA4-0103-43FF-899C-2873C1DE1F32.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="415" data-original-width="738" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVi20aWjj3wnxRNz-zJP5YQqxiKvNo8SNzeXERm6APvo661svG-LNeCEyI6rsZ_d9kxMMaeRiXczVD1Nue0yfWRPMiKCQZLBcP4nFlXghJF3-IoXJMbxmgfNY-m4mABzphNyvGc4QAzAMSQnPaRtwF3QsOIX-_PHvboFty8PO2S2a3OvkOf1ns25H2/s320/60848DA4-0103-43FF-899C-2873C1DE1F32.jpeg" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d; font-family: inherit;">Dois homens à beira de uma estrada esperam por algo, ou por
alguém, alguém que disse que viria, bem, que talvez disse que viria, mas, será
que era alguém mesmo? Será que já não veio? Que dia disse que viria? Que dia é
hoje? Quinta? Sexta? Talvez sábado. Talvez não venha hoje, mas amanhã…</span></p></div><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="color: #20124d; font-family: inherit;">O drama de “Esperando Godot” é o drama da ânsia pelo que aparenta nunca se concretizar, pelo que sempre se adia, que ora renova expectativas, ora frusta a mais resiliente das esperanças. Há quem, diante do vazio da espera, que é por extensão o vazio da própria existência, consiga rir. Hoje, durante a encenação, muita gente conseguiu, eu não consegui, mesmo nas passagens em que o tom cômico estava aflorado. Como rir diante da angustia provocada pela repetição e pela completa ausência de sentido? </span></span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="color: #20124d; font-family: inherit;"><br /></span></span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span class="s1" style="font-family: inherit;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span class="s1" style="font-family: inherit;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbuF21CTPB2URrC-tYJA5nT1wxeeJbiB8GaXnNgZyexdYqtPMET041PSMOZB2lc-tKm1_t2BOx3IorOUCdLwuW7m3OV9w7e9tCO3ljUy9mcwY0ICen8d8SSVRl1nozCIOMMDQ31QKQHDTs4bXdYqoNe8bXBlIkNbpN8ONIF1_0q2YwDCOpbP5wWbc0/s1440/D0B60159-8E90-46A8-AD6F-8C995FD771BC.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1083" data-original-width="1440" height="241" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbuF21CTPB2URrC-tYJA5nT1wxeeJbiB8GaXnNgZyexdYqtPMET041PSMOZB2lc-tKm1_t2BOx3IorOUCdLwuW7m3OV9w7e9tCO3ljUy9mcwY0ICen8d8SSVRl1nozCIOMMDQ31QKQHDTs4bXdYqoNe8bXBlIkNbpN8ONIF1_0q2YwDCOpbP5wWbc0/s320/D0B60159-8E90-46A8-AD6F-8C995FD771BC.jpeg" width="320" /></a></span></div><p></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px; text-size-adjust: auto;"><span style="font-family: inherit;"><span class="s1"></span><br /></span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="color: #20124d; font-family: inherit;">A peça nos mostra espelhos e em dado momento nos alerta: “estamos ficando menores, cada vez menores”, mas alguns de nós nem se da conta disso. Ao final, durante os agradecimentos, Zé Celso sentenciou, o absurdo não é do teatro, é da vida, isso resume tudo. A peça fala de todos nós, alguns compreendem isso, outros não. Mas, apesar das expectativas frustradas, ainda há alguma esperança, nem tudo permanece sempre igual, apesar de ser a repetição uma propulsora da crescente perda de sentido. A esperança se abraça ao nada, encara o dia que se esvai como superação - “menos um dia” - sem perceber que é a própria vida que se esgota pouco a pouco. Em uma existência que se resume a uma sequência de ciclos que se repetem indefinidamente, a cada volta tudo parece importar um pouco menos. É a lógica do eterno retorno de Nietzsche. </span></span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px; text-size-adjust: auto;"><span style="font-family: inherit;"><span class="s1"></span><br /></span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="color: #20124d; font-family: inherit;">Hoje, na faculdade, no caminho entre uma sala e outra, meu professor comentou sobre a experiência com dores crônicas, a sensação parece menor quando se passa a antever quando e de que forma a dor virá e quando e de que forma ela desaparecerá. Não é que dói menos, é a experiência repetida que evoca menos significados, o medo e a apreensão se tornam menores diante do que já é familiar. Isso explica a mudança de tom que há entre o primeiro e o segundo ato da peça. A repetição como farsa não sucede uma experiência trágica, mas uma outra farsa, que é antecedida por outra e as pontas disso nunca são encontradas encontradas, nem o começo, nem o fim. Daí o absurdo. A vida como absurdo.</span></span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px; text-size-adjust: auto;"><span style="font-family: inherit;"><span class="s1"></span><br /></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvoEPZ6sslHhWIHveRYMyhqL-Dd4Q8aIfFMyIVeZGgDrPQ9U7rg0-k-7Cr1KIzhW8ZuZL8YuolMVPIu-LMnSju2SO5FTncy2u2OS2-yu8_xuc-0vE79CsyKnLVeTfOi6Q9IIjJchV1oYjslaoELyn9-nftQ1-rZSfj1EBM8AoID45wPu88geaM57So/s1440/1BF39ACA-0A13-41BF-884D-07BBF0869FF7.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" data-original-height="1082" data-original-width="1440" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvoEPZ6sslHhWIHveRYMyhqL-Dd4Q8aIfFMyIVeZGgDrPQ9U7rg0-k-7Cr1KIzhW8ZuZL8YuolMVPIu-LMnSju2SO5FTncy2u2OS2-yu8_xuc-0vE79CsyKnLVeTfOi6Q9IIjJchV1oYjslaoELyn9-nftQ1-rZSfj1EBM8AoID45wPu88geaM57So/s320/1BF39ACA-0A13-41BF-884D-07BBF0869FF7.jpeg" width="320" /></span></a></div><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px; text-size-adjust: auto;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span style="font-family: inherit;"><span class="s1"><span style="color: #20124d;">Quem seriam Vladimir (Alexandre Borges) e Estragão (Marcelo Drummond), </span></span><span style="color: #20124d;">os dois homens à espera de Godot? Paupérrimos, maltrapilhos, amargurados e desiludidos, poderiam ser eles uma espécie de alegoria do gênero humano? No meu entendimento não, há diferentes formas de lidar com o vazio, o que se nota nos poucos personagens que atravessam aquelas paragens e a vida dos protagonistas. O homem rico explorador, o trabalhador extenuado, o mensageiro. Eles, cada um ao seu modo, lidam com a mesma falta de sentido, mas, representam categorias distintas, o burguês, o proletário e o religioso, que se põe entre homem e divindade…. Mas, e Vladimir e Gogo? Há uma pista. Em uma passagem um dos protagonistas diz ao outro: “você devia ter sido poeta”, no que o outro responde: “eu fui, não está na cara?”.</span><span style="color: #20124d;"> </span></span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px; text-size-adjust: auto;"><span style="font-family: inherit;"><span class="s1"></span><br /></span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="color: #20124d; font-family: inherit;">Acredito que a metalinguagem da peça vá bem além das quebras da quarta parede, que há no desenrolar (ou no emaranhar, melhor dizendo) de sua trama. Creio que Vladimir e Estragão sejam artistas, há indicações disso em diversas passagens. Não haveria um paralelo entre o que se despe de sentido na medida em que repete na vida, e a encenação de uma peça, que faz com que o autor, os atores e demais membros da trupe revivam todo o dia a mesma noite? </span></span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px; text-size-adjust: auto;"><span style="font-family: inherit;"><span class="s1"></span><br /></span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="color: #20124d; font-family: inherit;">Seria a angústia dos dois expectadores (os que criam expectativas) diante da submissão e agressividade do trabalhador extenuado, uma referência à dificuldade do diálogo entre uma arte de algum modo engajada e as classes populares que deveriam ser as protagonistas da luta?</span></span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px; text-size-adjust: auto;"><span style="font-family: inherit;"><span class="s1"></span><br /></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZhpm0HJH_K-5H8MjzCT6K579nu-sEiH07TmhG1LDEbx713a71Ccz84TeU1J9ubO_yiTPJTDoU0qXQdxDuePdd9-bwMpVEzTrbWKZVwEmzRmzDUpYK158beRclv29pYJUzidfDZbh8xQ7pbgfWd3-PUj5ngF266nGYohp8Lg1ZemPo3iBz2eNJXKnC/s4032/FB157616-A2B0-495A-A140-DF9BC88A85A6.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZhpm0HJH_K-5H8MjzCT6K579nu-sEiH07TmhG1LDEbx713a71Ccz84TeU1J9ubO_yiTPJTDoU0qXQdxDuePdd9-bwMpVEzTrbWKZVwEmzRmzDUpYK158beRclv29pYJUzidfDZbh8xQ7pbgfWd3-PUj5ngF266nGYohp8Lg1ZemPo3iBz2eNJXKnC/s320/FB157616-A2B0-495A-A140-DF9BC88A85A6.jpeg" width="240" /></span></a></div><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px; text-size-adjust: auto;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="color: #20124d; font-family: inherit;">Não seriam a angústia, a frustração, ou mesmo a esperança teimosa dos personagens uma extensão da própria vivência do Zé Celso e da forma com que ele lida com seus próprios fantasmas? Pois é, não creio que a montagem tenha sido por acaso. Não seria surpresa o fato de que alguém, do alto de seus 86 anos, esteja entregue às reflexões acerca do sentido da vida, da solidão, do silêncio do divino e da posição de cada um diante das dores do mundo. </span></span></p><p class="p2" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 22px; text-size-adjust: auto;"><span style="font-family: inherit;"><span class="s1"></span><br /></span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="color: #20124d; font-family: inherit;">Às vezes, mesmo depois de tanto tempo fazendo uma mesma coisa, é pertinente que se indague “o quê mesmo que estamos fazendo aqui? Vamos embora?”, alguém pode até responder “estamos esperando Godot”, e a saída talvez esteja em subverter tal espera, em não deixar que ela se transforme em uma crescente paralisia. Zé Celso cansou de esperar Godot, e nós?</span></span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="color: #20124d; font-family: inherit;"><br /></span></span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="color: #20124d; font-family: inherit;"><br /></span></span></p><p class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify; text-size-adjust: auto;"><span class="s1"><span style="color: #2b00fe; font-family: inherit;">En attendant Godot foi escrita originalmente em 1949 pelo dramaturgo irlandês Samuel Beckett e estreou nos palcos em 1953 sob a direção de Roger Blin, tida como uma das peças mais importantes do chamado Teatro do Absurdo, ela foi remontada em diversas partes do mundo e é apontada como uma das produções mais importantes da história do teatro. Esta é a terceira vez que o Teatro Oficina realiza a montagem.</span></span></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-72504135613030846802023-03-08T19:40:00.005-03:002023-03-10T00:48:32.212-03:00Culpa e compulsão em “A Baleia” de Darren Aronofsky <p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwB496kcpVzT0AwkS60KF6l7c6DP4p4MKljbzIX0iG_vh-NfORAws8P0zgb1LUSNwPIxeEJjQ8A_qIZgmA1GMtwJ0wj9MU0zysAZ5_hCYnqWEKHlw726Zp7Ji9HSz-VoBIYOX8-1bw8WLjymX7ZCaIbx5WhBpCAgo3H_QzUMja8EkbOceO_vf4nPxd/s678/5A8E56CC-BED9-4498-A64C-C03C0CE84D30.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="678" data-original-width="452" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwB496kcpVzT0AwkS60KF6l7c6DP4p4MKljbzIX0iG_vh-NfORAws8P0zgb1LUSNwPIxeEJjQ8A_qIZgmA1GMtwJ0wj9MU0zysAZ5_hCYnqWEKHlw726Zp7Ji9HSz-VoBIYOX8-1bw8WLjymX7ZCaIbx5WhBpCAgo3H_QzUMja8EkbOceO_vf4nPxd/w266-h400/5A8E56CC-BED9-4498-A64C-C03C0CE84D30.jpeg" width="266" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><span style="color: #20124d; text-align: justify;"><div style="text-align: justify;">Um artista, ao criar uma obra de arte, ainda que adaptada a partir de outra, empresta a ela seu próprio horizonte de sentido, na obra ficam impressos sua visão de mundo, seus sentimentos e suas questões mais profundas. Evidente que isso nem sempre acontece e, normalmente, a falta de uma marca autoral é o que distingue uma obra de arte de um mero produto de entretenimento. Quando mais o autor se sujeita a fórmulas preconcebidas, menor será a sua marca autoral. Se em uma adaptação, por exemplo, o autor se sujeita por completo ao texto original, a marca autoral que prevalecerá será a do autor original.</div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Darren Aronofsky é um exemplo de cineasta com uma marca autoral fortíssima, que perpassa todos os seus filmes, sem excessão. No caso dele, a marca está em aspectos técnicos, mas principalmente nos questionamentos levantados pelas narrativas. Há dois temas que podem, a partir de um olhar mais atento, ser identificados em todos os filmes, são eles culpa e compulsão. E a relação entre eles é de uma causa e efeito que se retroalimenta, a culpa produz compulsão, a compulsão que nunca se satisfaz produz mais culpa, que atenua mais ainda a compulsão e assim por diante.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Ao lidar com a culpa, os personagens de Aronofsky esboçam dois tipos de comportamentos, que, apesar de parecem opostos, a linha que os separa é extremamente tênue. Há os que desejam entregar desempenhos transcendentais para aplacar a culpa, e há os que se destroem em razão dela. É na autodestruição como parte do processo no qual o personagem se transcendentaliza que estes comportamentos opostos acabem se tocando. </span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz8hkJlykRreIZwBA4DRcxnQpR7ReplWIAavLpq_UHx6p9jBlsUIXJJgkiTQ_lnu-chr7eRfGy-v4ygv_7gnBjF_QS4EMdsYPBv-D8wNqhiiIhcEo7aaE5nHJB_aoMjBwp_tZ7uKqCc3T25GAa1HR8-49FSJj9aHGqFfP_g-Wxi4brE5t58U5V6G_l/s639/D06A3E83-35C6-4009-9053-0E254E54B480.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="639" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz8hkJlykRreIZwBA4DRcxnQpR7ReplWIAavLpq_UHx6p9jBlsUIXJJgkiTQ_lnu-chr7eRfGy-v4ygv_7gnBjF_QS4EMdsYPBv-D8wNqhiiIhcEo7aaE5nHJB_aoMjBwp_tZ7uKqCc3T25GAa1HR8-49FSJj9aHGqFfP_g-Wxi4brE5t58U5V6G_l/s320/D06A3E83-35C6-4009-9053-0E254E54B480.jpeg" width="320" /></a></div><span style="color: #20124d;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">“Cisne Negro”, “Pi”, “Noé”, “Fonte da Vida” e “O Lutador” são exemplos do primeiro caso, “Réquiem para um Sonho” e “Mãe” e “A Baleia” do segundo. Seja como uma opção abnegada ou como uma consequência de ir além dos próprios limitas na busca pela transcendentalidade, o fim acaba sendo comum: o sacrifício como forma de expiação da culpa. Culpa e compulsão dialogam com outros dois temas recorrentes: pecado e expiação. Não por acaso, o elemento religioso está presente em boa parte das obras.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Sem entender isso, que seria o básico para analisar uma obra de Aronofsky, “A Baleia”, seu filme mais recente, certamente se torna um desastre. Mas, do contrário, a compreensão das questões levantadas dão uma outra dimensão para o roteiro. Definitivamente, não se trata de um filme de atuação, assim chamado aqueles em que o desempenho de um ator ou de um grupo de atores se sobrepõe aos demais aspectos. Brandan Fraser entrega um desempenho assustador, mas, é preciso ressaltar que não é um aspecto descolado dos demais. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">É um erro, neste e em qualquer outro filme, separar aspectos técnicos da narrativa. Aspectos técnicos servem à narrativa, por isso não há possibilidade de avaliá-los sem considerar o básico: a forma com que eles se relacionam com os demais elementos da linguagem cinematográfica. Dito isso, é preciso ressaltar o quanto a direção de arte, a montagem, a edição de som, e fotografia com toda sua textura, ajudam em conjunto a compor um ambiente opressivo, sempre à meia luz, o que ajuda a reforçar a ideia de reclusão do personagem. </span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvANlJBKbQ4QPx9GT3KcLOEIvYsHWQhe-7ppaFjZgxL9UYFMeLmatfa-jRXs_bP6CD4FIGTicFscT7OOz079lsLUOYmdldhq-_orXn4hRBWQOOs_oFVKFHCJEw057pGgmaanXhC5kqkeveeJ9zsZYbt1C0htM4WkV5vLsx2jpUQNXQc4hEChEvHyf5/s639/3DD24719-E8D9-4B99-9AED-E628A17A4F06.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="639" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvANlJBKbQ4QPx9GT3KcLOEIvYsHWQhe-7ppaFjZgxL9UYFMeLmatfa-jRXs_bP6CD4FIGTicFscT7OOz079lsLUOYmdldhq-_orXn4hRBWQOOs_oFVKFHCJEw057pGgmaanXhC5kqkeveeJ9zsZYbt1C0htM4WkV5vLsx2jpUQNXQc4hEChEvHyf5/s320/3DD24719-E8D9-4B99-9AED-E628A17A4F06.jpeg" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><span style="color: #20124d;">A falta de luz nos ambientes pode ser interpretada como uma metáfora para a ausência de Deus, e a grande questão posta é a seguinte: ou Ele não existe, ou abandonou o personagem principal (percebam que esta é apenas mais uma das relações paternas, que envolvem abandono, abordadas pelo filme). </span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Se o escuro representa a ausência de Deus, a luz, obviamente irá representar sua presença. A casa está tomada pelas sombras, mas lá fora há luz (fisicamente falando e metaforicamente também, basta que lembremos do pássaro que vem à janela para comer). Outro ponto que reforça tal interpretação é o de que em pelo menos três momentos da narrativa, personagens são impedidos de sair da casa pela chuva que cai lá fora. Estaria Deus dando uma chance de reconciliação para os personagens? Uma passagem que envolve dois deles aponta para uma resposta para esta pergunta.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Referências claras à obra “Moby-Dick” de Herman Melville estão espalhadas por todo o filme, a começar pelo nome. Na história contada pelo livro o caçador passa a vida inteira perseguindo a baleia, quando ele finalmente a alcança, todo o esforço da busca perde o sentido. A baleia não era o importante, era apenas uma compulsão. A compulsão afasta do que é real de fato. </span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2GK051BA3-DOAURbtMi11vJAUyH6-4aqkkz6VHm-W5UCDqvttHs0WqBu5vPUD5zkW7QqEGFQGCZCQ3AXeaV68bSa6EPyEvK04KMa4H4iCXh2YAbmYJ2qIg7mjkmOtU8NuHzAl5CsakBt9Pe3qegym9NFvsXuOloftcDSPt6BA3uaohXy6b-sGqS0L/s640/F0CC942C-CFBF-4A04-8ABE-2E5E31D62055.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="640" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2GK051BA3-DOAURbtMi11vJAUyH6-4aqkkz6VHm-W5UCDqvttHs0WqBu5vPUD5zkW7QqEGFQGCZCQ3AXeaV68bSa6EPyEvK04KMa4H4iCXh2YAbmYJ2qIg7mjkmOtU8NuHzAl5CsakBt9Pe3qegym9NFvsXuOloftcDSPt6BA3uaohXy6b-sGqS0L/s320/F0CC942C-CFBF-4A04-8ABE-2E5E31D62055.jpeg" width="320" /></a></div><span style="color: #20124d;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Percebo ainda outra referência, esta não tão clara, que é à obra “A Metamorfose” de Franz Kafka, que tem como tema, adivinhem… a culpa. Tal como Gregor Sansa do livro de Kafka, Charlie o personagem de “A Baleia” se enxerga como uma figura monstruosa capaz de causar repulsa em quem quer que seja. A aparência é, em ambos os casos, uma metáfora para a culpa que corrói internamente. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">E Deus diante da culpa? Se agradaria do autoflagelo de quem se reconhece como pecador. Esta é outra questão que vem à toda em alguns momentos. No fim das contas, o mal maior talvez seja a hipocrisia, o que faz com que cada um tenha receio de se expor como realmente é, e a “salvação” talvez esteja na aceitação do real, em outras palavras, em se mostrar como se é, ou em ser autêntico.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-21846771118571992532022-08-24T06:00:00.002-03:002022-08-24T06:00:48.623-03:00GAME OF THRONES - A Série <p style="text-align: justify;"><span style="color: #660000;">GAME OF THRONES - porque eu não consigo enxergar, para além dos aspectos técnicos, nada de extraordinário na série. </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlrxkk2wskkvyp_PRd_YCu0DK8rygPoqlSJMGKlIUX38RxSXvci-hqonvpd25_6brWHBwFRjnWdedwoP6v5p42rIfVPvPGivBp2eCxmvEW_hxr8DwDWP1exU7_wUqRvn18gnrgXjgdIHzWN5j-lA6ledhnGzdzMHOyy2Te1rvsU3A_7q3D14cBAUli/s659/003F669A-FC24-40E8-AE7D-1D5D877D2A7D.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="659" data-original-width="466" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlrxkk2wskkvyp_PRd_YCu0DK8rygPoqlSJMGKlIUX38RxSXvci-hqonvpd25_6brWHBwFRjnWdedwoP6v5p42rIfVPvPGivBp2eCxmvEW_hxr8DwDWP1exU7_wUqRvn18gnrgXjgdIHzWN5j-lA6ledhnGzdzMHOyy2Te1rvsU3A_7q3D14cBAUli/s320/003F669A-FC24-40E8-AE7D-1D5D877D2A7D.jpeg" width="226" /></a></div><p><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Nos últimos dias descobri que não só as sobre política envolvem emoções à flor da pele e posições extremas. Discutir Game of Thrones pode ser mais arriscado do que debater se foi ou não golpe. O lado ruim de discussões acaloradas é que nem sempre escutam o que você diz e frequentemente lhe atribuem posições que você não defendeu. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Pra tentar deixar claro o meu ponto de vista e a leitura que fiz das três temporadas da série que assisti, decidi escrever esta breve análise. Pra começar, preciso deixar claro que não acho a série ruim, longe disso, no tocante aos aspectos técnicos ela é grandiosa. O problema, como defendi desde a minha frustrada tentativa de fazer uma maratona, está no roteiro e na construção dos personagens. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">A trama é desinteressante? Não. Se o fosse a série não teria despertado a curiosidade de tanta gente. O que é necessário analisar é se há de fato valor artístico na construção da narrativa ou se há apenas mero entretenimento. Antes de qualquer consideração, é necessário distinguir arte de entretenimento, a arte pressupõe diálogo entre obra e expectador, o entretenimento envolve apenas estímulos sensoriais. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Mas, porque abordar isso? A pretenção artística é atributo necessário para a qualidade de uma obra? Não, a obra deve ser avaliada de acordo com aquilo que ela se propõe a ser. O equívoco talvez esteja no fato de que Games of Thrones é entretenimento, bom entretenimento por sinal, e andou sendo vendido, principalmente pelo público, como obra de arte. E, ao menos nas três temporadas que assisti, não há muito espaço para diálogo. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">A trama de Games of Thrones é simples e superficial, uma falsa noção de complexidade é criada pela presença de um grande número de personagens e de sub-tramas. Tal como num tabuleiro de xadrez, visto por alguém que analisa o jogo sem participar dele, o elemento surpreendente são os movimentos e os seus resultados e não as motivações que os tornaram possíveis. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Em Games of Thrones a velocidade, advinda da necessidade de manter o expectador médio preso à série, sacrifica qualquer possibilidade de exploração das motivações e das bases subjetivas dos personagens. Desde a primeira temporada, criou-se a ideia de que todos são capazes de tudo, o que elimina a ponderação acerca de cada ato. Um personagem pode ordenar a degola de outro e isso causará surpresa, mas não o tipo de espanto que leva à reflexão, sequer há tempo ou espaço no desenrolar da trama para que o espectador reflita acerca dos estímulos que recebe.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">O contexto extremamente adverso no qual a história se desenvolve brutalizou a grande maioria dos personagens, tirando-lhes a humanidade. A perda da humanidade, no entanto, não se dá em um processo, ela ocorre subitamente em alguns casos ou é inata aos personagens em outros, apenas um personagem foge à esta lógica, Tyrion Lannister. Há deste modo uma sujeição da maioria absoluta dos personagem aos mecanismos da narrativa. Abre-se mão daquilo que poderia ser uma base para a complexidade em prol de artifícios, que visam tão somente a produção de estímulos, que têm como fim a fidelização do expectador. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Nos comentários do post que rendeu a discussão, defendi que, no tocante à construção dos personagens, até mesmo The Walking Dead, série irregular, era superior a GOT. A TWD soube em diversos momentos abrir mão da velocidade e da ação, pra desenvolver melhor as tramas e as relações que se dão entre os personagens. Há, tal como em GOT, uma situação de perda da humanidade, mas aqui ela se dá em um processo, no qual o maior inimigo de cada personagem não é um zumbi que possa estar à espreita, mas ele mesmo. A reflexão acerca de cada ato é o que confere valor artístico à narrativa.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">O herói trágico, base de quase tudo que se produziu na literatura e em outras narrativas nos últimos milênios, tinha como principal característica a presença de uma falha de caráter ou pecado que o conduzia à peripécia, que por sua vez lhe levava à desgraça. Este formato funcionou e ainda funciona tão bem porque a simples presença de uma falha ética ou moral torna o personagem mais humano e é a sua reação ou reflexão diante desta falha que lhe torna complexo. Ainda que ele venha a se desumanizar, isso ocorre de forma gradativa, diferente do que ocorre com os outros persongens tidos como secundários, nos quais a superficialidade da construção pode não necessariamente se tornar um problema.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Em GOT não uma moral externa ou uma ética interna que possa servir como mediador de condutas ou base para conflitos internos ou perturbações. A ausência destes reguladores, que não é um defeito em si, torna a grande maioria dos personagens rasos e seus comportamentos previsíveis, ainda que o elemento surpresa esteja presente no efeito de suas ações. Se objetivo da série fosse o de retratar a trajetória de apenas um personagem, Tyrion, talvez o objetivo fosse alcançado com maior sucesso, mas a narrativa aposta na manutenção de diversos núcleos dramáticos, mas sem inserir neles personagens com um mínimo de profundidade.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Outro ponto que merece ser discutido é o suposto pioneirismo da série. A verdade é que não há nada de novo nela. Nem o sexo quase explícito, nem a violência ou a morte de personagens centrais é novidade. Hitchcock matou uma de suas protagonistas antes da metade do filme, isso em 1960. Em 1976, o filme Império dos Sentidos, um clássico de Nagisa Oshima, chocou meio mundo com sequências de sexo real e explícito - a primeira vez que isso acontecia fora de um filme pornô - perto da sequência em que um personagem introduz um ovo cozido na vagina de sua parceira e o come em seguida, as passagens picantes de GOT parecem saídas de programas adolescentes. O fato é que de lá pra cá tudo isso deixou de ser novidade, o mundo é outro, não há mais contestação em mostrar sexo ou violência, apenas uma satisfação dos desejos de uma parcela hipócrita da população que busca na ficção justamente aquilo que condena na vida real. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Um último ponto que merece menção é a ancoragem da série na obra original, recorrente nos argumentos de quem defende a qualidade de seu roteiro, frequentemente ouve-se a justificativa: "no livro era assim", mas isso não deve ser argumento. Qualquer obra adaptada deve ser completamente independente da obra que a originou, se há uma relação de dependência é porque o processo de adaptação não foi bem sucedido. Não li os livros, mas aparentemente lá os personagens são melhores construídos, há evidentemente a questão do tempo, o ritmo literário abre mais possibilidades de desenvolvimento. Todavia, isso não é justificativa para a notável pressa e superficialidade da trama na série. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">A minha conclusão é a de que GOT pode ser um ótimo entretenimento, com notáveis atributos que justificam o hype criado em torno dela, isso, no entanto, não exclui o fato de que seu roteiro não possui absolutamente nada de extraordinário e seus personagens não passam de peças sujeitas às movimentações que objetivam tão somente levar aos sucessivos plot twists. </span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">P.S. Um último ponto, prometo: premiação não é sinônimo de qualidade. As entidades que organizam e entregam os prêmios agem seguindo a lógica do mercado e estão sujeitas às politicagens internas, compra de votos e pressões de canais de TV e produtoras. As injustiças não são raras, algumas delas são verdadeiras aberrações (David O. Russel manda lembranças). Isso quer dizer que todos os prêmios recebidos por GOT foram injustos? Absolutamente que não. Quer dizer apenas que tais premiações não devem servir de parâmetro para nada.r</span></p><p><br /></p><p style="text-align: center;"><span style="color: #2b00fe;">Texto escrito e publicado no Facebook em 24 de agosto de 2017. </span></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-29384701403517856142022-08-14T04:32:00.002-03:002022-08-14T04:32:48.325-03:00Linguagem e Revolução em “Duas ou Três Coisas que eu Sei Dela” de Jean-luc Godard<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn9qvg9YRSn78X9_nC6vIPkXms--MALkQb--6-6SnZIxjuJ8EJtWppCCP7NRVXDO7wN0UD8bWvFl1ImLGi9plANMyyAsBELSWYb_V9Ho06QcOvtfqYpXuGwvqSQskmXUAEnv_2VU5ABk561sm05fccTTfQSbeKT4M1zPB4Jhaz6-PS0FsMqZQgXRoU/s658/8516589A-8290-4E54-B583-053F7477C9C5.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="658" data-original-width="466" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn9qvg9YRSn78X9_nC6vIPkXms--MALkQb--6-6SnZIxjuJ8EJtWppCCP7NRVXDO7wN0UD8bWvFl1ImLGi9plANMyyAsBELSWYb_V9Ho06QcOvtfqYpXuGwvqSQskmXUAEnv_2VU5ABk561sm05fccTTfQSbeKT4M1zPB4Jhaz6-PS0FsMqZQgXRoU/s320/8516589A-8290-4E54-B583-053F7477C9C5.jpeg" width="227" /></a></div><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">“Os limites da minha linguagem denotam o limite do meu mundo”, disse Wittgenstein em sua primeira obra Tractatus Logico-Philosophicus de 1921. Godard retoma esta reflexão no filme “Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela” (1967), na passagem reproduzida abaixa. Na narração em off, feita pelo próprio Godard, a expansão da consciência é apontada como saída para a limitação imposta pela linguagem. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Pode-se dizer que o que Godard propõe é uma ruptura com o modelo filosófico proposto pelo Wittgenstein naquela que é conhecida como sua primeira fase (a do Tractatus), e o caminho proposto é o inverso do percorrido pelo filósofo. Se este da um passo além do paradigma da consciência ao considerar que o limite da linguagem é o limite do mundo do indivíduo, Godard da um passo atrás e conclui o inverso, que o mundo pode ser expandido através da consciência e o caminho para isso seria a subversão da linguagem.</span></p><p><br /></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">O filme, contudo, não para nas reflexões de cunho ontológico, que encaram a linguagem como mero instrumento de decodificação do mundo, há uma forte crítica política ao capitalismo, à sociedade de consumo e à guerra do Vietnã, temas que podem ser facilmente correlacionados. O capitalismo se fortalece na medida em que impulsiona o consumo enquanto silencia os sistemas dissidentes, a guerra vende produtos, enquanto que outros produtos (como os mass medias) criam a ilusão de que a guerra é necessária e seus absurdos aceitáveis. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Mas, de que forma as reflexões sobre a linguagem e as críticas políticas se relacionam? Vejamos: A revolução possível (aquela capaz de frear o estágio do capitalismo mostrado no filme) passa pela imaginação de um outro mundo possível, o que, para Godard,só poderia pode ser feito tendo como ponto de partida a subversão da linguagem. Se a linguagem convencional é um mero instrumento limitado pela visão de mundo, a experimentação no campo da linguagem pode revelar outros mundos. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">A metáfora da cidade de Paris, que passava na época por processos de modernização estrutural e por uma expansão tecnológica da industria, remete às teorias estruturalistas, nas imagens que da cidade, que surgem a todo momento na tela, o que se vê é a composição ou revitalização das estruturas sobre as quais está sendo edificado um novo estágio social: Edifícios, vias, pontes, viadutos… todas estas edificações remetem à solidez de uma estrutura social que se encontra ainda em expansão. “Objetos mortos permanecem vivos, pessoas estão frequentemente mortas”, conclui o narrador.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">O mundo físico e não sua representação na linguagem é a metáfora porque o fundamento último do modelo de organização social se encontra na própria linguagem. É na linguagem que está a estrutura que precisa ser reconhecida como tal e destruída para abrir caminho para a idealização do novo. Esta seria a revolução possível. Plenamente consciente disso, Godard faz do próprio filme um jogo de metalinguagem: ele aborda a subversão da linguagem como tema ao mesmo tempo em que subverte a linguagem cinematográfica como experimento.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Toda a reflexão, no entanto, não deixa de soar um tanto datada, visto que Godard aparentemente ignora as contribuições do Wittgenstein da segunda fase, que vai muito mais além ao romper com as pressupostos da primeira fase, ao reconhecer o caráter intersubjetivo da linguagem, rompendo, deste modo, em definitivo com o paradigma da consciência. Ao considerar que a linguagem possui caráter intersubjetivo, infere-se que haja um freio social que impede que a linguagem seja desconstruída no âmbito da consciência de um único sujeito (os elementos da linguagem não podem ser simplesmente aquilo que o indivíduo quer que eles sejam). </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">A revolução possível, ao contrário do que imaginou Godard, não se efetiva apenas pela ruptura com modelos de linguagem no âmbito da consciência de cada indivíduo. Há toda uma tradição (um chão linguístico) que precisa ser enfrentada coletivamente tendo o reconhecimento da linguagem não apenas como mero instrumento, mas como condição de possibilidade de qualquer compreensão e da própria existência do indivíduo no mundo (como Heidegger bem compreenderia).</span></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-16990591813299803922022-08-14T04:26:00.004-03:002022-08-14T04:44:21.094-03:00A cara do bolsonarismo <p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2UKJ5li9RaSyD5dzL86D7AXYgqy9R7P2F_xJSoTv04Xa8M1ffgPKN_pKBFm-uoeYNIeA6wYz3zPLnyd6mf9ctOvPZsnqT0paFpaHuLMBJRmFkz7GIgxzwBDQHIvXQ9C8lwF-RC_h77X_lLsBHJ3a3oFmyYitVJZVULp-4RdnscA3ZW8keC4YSujPG/s554/3FB3714A-5C77-4A3C-B9DC-3799414F4FCD.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="554" data-original-width="554" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2UKJ5li9RaSyD5dzL86D7AXYgqy9R7P2F_xJSoTv04Xa8M1ffgPKN_pKBFm-uoeYNIeA6wYz3zPLnyd6mf9ctOvPZsnqT0paFpaHuLMBJRmFkz7GIgxzwBDQHIvXQ9C8lwF-RC_h77X_lLsBHJ3a3oFmyYitVJZVULp-4RdnscA3ZW8keC4YSujPG/s320/3FB3714A-5C77-4A3C-B9DC-3799414F4FCD.jpeg" width="320" /></a></div><span style="color: #660000;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #660000;">O bolsonarismo raiz pra mim tem um rosto. Toda vez que eu penso no quão absurdo é a adesão a um programa baseado em morte e destruição, eu lembro deste rosto. O rosto é de uma pessoa com quem eu convivi boa parte da infância e da adolescência. Tão ou quase tão pobre quanto eu, sem talentos e de cognição rarefeita, ele se acreditava parte de uma elite, exaltava uma suposta ascendência europeia e apontava uma família predominantemente negra, que morava na mesma rua, como a “causadora de todos os problemas do bairro”. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #660000;">Tentou diversas vezes o concurso da polícia militar, dizia que queria ser PM pra “botar ordem” no bairro e que quando lá estivesse, pintaria uma suástica na roda da viatura e passaria devagarzinho na ronda pelo morro. Ser o terror de seus iguais para se sentir diferenciado, aquele era o seu delírio de grandeza. Apesar das diversas tentativas, nunca chegou nem perto de passar nos concursos que tentou. O limite de idade ou a exigência de nível superior (o que veio antes) serviu para enterrar o seu propósito, felizmente.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #660000;">Invejava a vida de um outro vizinho, que aparentava ser boa parte daquilo que ele queria pra si e sabia que jamais conseguiria. O nível da inveja aumentou quando o outro vizinho começou a namorar uma menina de quem ele gostava. Defensor da moral e dos bons costumes, era incapaz de viver o básico daquilo que apregoava, assediava mulheres casadas do baixo naqueles chats dos primórdios da internet usando perfis fakes, perdia o controle de si quando bebia, tirava a roupa em público, e no ápice da paranoia, em uma noite de réveillon, jogou o chevette velho que tinha contra contra pessoas que participavam de uma festa na casa de um vizinho; não chegou a ferir ninguém, saiu ileso.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #660000;">Frustração, baixa capacidade cognitiva, inveja, machismo, racismo, falso moralismo, delírios de grandeza e propensão para condutas violentas foram os ingredientes que o tornaram um bolsonarista antes do bolsonarismo. O bolsonarismo que sempre foi incapaz de criar qualquer coisa, não criou nem a si mesmo, apenas aproveitou algo que já existia, como idelogia não é algo novo, é algo que sempre esteve aí, e este meu ex-vizinho é a prova disso.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #660000;">Por todo o tempo que eu convivi com este indivíduo, eu sempre percebia todos os traços repulsivos presentes no comportamento dele como um elemento cômico. E era uma espécie de Cérebro (aquele do desenho Pinky e Cérebro), um mero camundongo de laboratório com pretenções de dominar o mundo, e aquilo pra mim parecia ser muito engraçado. Hoje percebo que eu estava errado, não havia nada de engraçado, camundongos de laboratório dominados pelo ódio podem se tornar um problema quando o número deles se torna demasiadamente grande; e foi o que aconteceu.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #660000;"><br /></span></p><p style="text-align: right;"><span style="caret-color: rgb(102, 0, 0);"><span style="color: #073763; font-size: x-small;">Imagem ilustrativa encontra <a href="https://www.haaretz.com/opinion/2018-10-28/ty-article-opinion/.premium/hitler-in-brasilia-the-u-s-evangelicals-and-nazi-political-theory-behind-bolsonaro/0000017f-e309-d7b2-a77f-e30f402a0000?_amp=true" target="_blank">AQUI</a>!</span></span></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-14767717499669236582022-05-06T21:39:00.000-03:002022-05-06T21:39:09.630-03:00Realidade e expectativa em “Madres Paralelas” de Almodóvar <p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifASIre6LtxlhEHQD3hPF2_iQX98Sjt_20OQaLkWLU2Hyi8xSZgHOcxZZvIa9EaJPe2sxnsHA06LenaUJMbny0qUPjZZ3c61k0dT_j85BugrJovCGUUDIDiAapFTWVo4BDS1u4_GCnryZzrBP07ASa4CzC2zzQsXsIlnYzrycNN6zw7eWlJZajqsC3/s800/Madres-Paralelas-2-scaled-1-800x445.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="445" data-original-width="800" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifASIre6LtxlhEHQD3hPF2_iQX98Sjt_20OQaLkWLU2Hyi8xSZgHOcxZZvIa9EaJPe2sxnsHA06LenaUJMbny0qUPjZZ3c61k0dT_j85BugrJovCGUUDIDiAapFTWVo4BDS1u4_GCnryZzrBP07ASa4CzC2zzQsXsIlnYzrycNN6zw7eWlJZajqsC3/s320/Madres-Paralelas-2-scaled-1-800x445.jpeg" width="320" /></a></div><span style="color: #20124d;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Me proponho a escrever estas breves linhas não como uma resenha do filme em si, mas como uma crítica de parte das críticas que li sobre ele. Decido fazê-lo porque algo que considero um equívoco se mostrou de forma reiterada em grandes partes das análises que li. Apesar de eu ter gostado muito do filme, eu não o colocaria no topo de meu ranking pessoal das obras do cineasta espanhol. Ressalto de antemão que minha divergência em relação a tais críticas não se dá por elas serem negativas, mas por adotarem premissas que, ao meu ver, estão erradas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Antes de adentrar no ponto central deste breve texto, penso que é necessário fazer algumas considerações, a primeira é a de que Almodóvar é um homem, e, portanto, sua visão sobre o universo feminino, como autor, sempre vai ser a partir da perspectiva de um homem, não deveria haver dificuldade para entender isso, mas aparentemente ainda há. Algumas análises apontam isso como demérito e não como fatalidade. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Outro ponto que vale ressaltar é que os filmes de Almodóvar não são e não devem ser analisados como tratados sobre o universo feminino, eles não possuem pretenções sociológicas e possuem pouco compromisso com a ideia de se fazer um retrato da vida como ela é, o que é uma característica essencial do melodrama, subgênero pelo qual Almodóvar sempre transitou.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">O problema, extremamente recorrente em muitos críticos, e aqui chegamos no ponto central deste texto, é querer que a obra seja como eles próprios a imaginaram e não como ela é. Sempre defendi que a análise de uma obra de arte deve ser pelo que é e nunca pelo que poderia ter sido. O campo do “poderia ter sido” será sempre demasiadamente grande e tão diverso quanto o número de críticos que se proponha a idealiza-lo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhig2ZZYCjWbXbAAxVjKRpWtMs2wXK_gqAhglg9KKBkAMkzB3bkJ0_vcEs0oPKXpVtJywueAZnO9FAg1B5bcsGfRdErhfbzFdm8m3yw5XXnfKhxvCHu387MEIAvJq2IDYBH_nkTSRqg5cfpFJjKw0fG91oKsicCFve-Y91cRGv8lcglMnHdEtf9-FkU/s750/20211208-madres-paralelas-papo-de-cinema-2-750x396.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="396" data-original-width="750" height="169" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhig2ZZYCjWbXbAAxVjKRpWtMs2wXK_gqAhglg9KKBkAMkzB3bkJ0_vcEs0oPKXpVtJywueAZnO9FAg1B5bcsGfRdErhfbzFdm8m3yw5XXnfKhxvCHu387MEIAvJq2IDYBH_nkTSRqg5cfpFJjKw0fG91oKsicCFve-Y91cRGv8lcglMnHdEtf9-FkU/s320/20211208-madres-paralelas-papo-de-cinema-2-750x396.jpeg" width="320" /></a></div><span style="color: #20124d;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Este é o problema em boa parte das análises de “Madres Paralelas” que li. Curiosamente, percebo que há uma preguiça dos autores de tais análises de tentar relacionar os dois arcos narrativos presentes no filme, aí fica a impressão de que um invade o outro em dado momento da narrativa, sendo que ambos estão entrelaçados desde o início. Faltou nestes casos a compreensão de que uma das “madres” às quais o título faz referência é a pátria espanhola e que a conotação política não emerge apenas no final do filme. Deveria ser algo óbvio, mas pra muitos aparentemente não foi. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Parte das críticas negativas que li se concentrou no fato de que Almodóvar deixou de aprofundar determinados aspectos da narrativa. Porém, este não aprofundamento é em si uma opção narrativa. Se ao escrever um roteiro eu deixo de aprofundar um aspecto em especial, eu estou tacitamente dizendo que o foco deve estar em outro. Mas, parafraseando um personagem de “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, enquanto Almodóvar está apontando para a lua, os imbecis continuam a olhar para o dedo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Há notadamente nas críticas às quais me refiro um conflito entre realidade, o que o filme é, e expectativa, o que o filme poderia ter sido. O que não é algo novo. Fenômeno semelhante ocorreu há mais de 60 anos, em “A Aventura”, clássico de Antonioni, nele há uma expectativa de que a trama se desenvolva em uma direção, o desaparecimento de uma personagem, mas ela acaba tomando outra, a contemplação do vazio existencial de outros dois personagens. Há também em uma obra clássica de Hitchcock uma formidável quebra de expectativa quando aquela que foi a protagonista durante a primeira parte da trama morre e é substituída por outra. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Tanto em “A Aventura” e no filme de Hitchcock (que evito nominar por conta do spoiler), quanto em “Madres Paralelas” a expectativa criada é um problema do espectador, não do filme como obra de arte. É o ego do crítico/espectador tentando dizer mais sobre a obra que o próprio autor, e neste processo acaba sendo perdido o essencial, a noção do que de fato a obra se propunha a ser. Em, “A Aventura”, por exemplo, quem esperar pelo reencontro da personagem desaparecida não conseguirá embarcar na reflexão proposta sobre a banalidade da existência e sua completa falta de sentido. Em “Madres Paralelas” a atenção dedicada a aspectos secundários da trama pode impedir a compreensão do essencial, a existência do conflito ético entre o que se espera como ser político e o que se faz ou se pretende fazer como indivíduo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit-2Z8fwPI__oS3p2-Iip68EUd58ursPsnur4iIjhVzluwpyQ4JinKMwdnMOcV9EOmAjVm2BvTbYe9Mihg_OQSdEeHKV7m0ZIp84TXkZdZJFEVF-LjiBottK_mHk0riNIzdVOgdmBksImxxHKKfJMWMMcJpaUTbYq3PerHgfiUbiOL7nTYU4M8ShPt/s695/madres-paralelas-1509c99d.webp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="390" data-original-width="695" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit-2Z8fwPI__oS3p2-Iip68EUd58ursPsnur4iIjhVzluwpyQ4JinKMwdnMOcV9EOmAjVm2BvTbYe9Mihg_OQSdEeHKV7m0ZIp84TXkZdZJFEVF-LjiBottK_mHk0riNIzdVOgdmBksImxxHKKfJMWMMcJpaUTbYq3PerHgfiUbiOL7nTYU4M8ShPt/s320/madres-paralelas-1509c99d.webp" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><span style="color: #20124d;">Talvez por estarmos tão apegados a uma narrativa convencional, qualquer ruptura com o esquema baseado em causa/consequência acabe por nos causar certo desconforto. A reação aos saltos no tempo e às abordagens superficiais de temas espinhosos (que não são o foco da narrativa) em “Madre Paralelas” não difere muito da repulsa que filmes com finais abertos normalmente causa em quem se acostumou a ver sempre finais com todas as pontas da trama cuidadosamente amarradas.</span><p></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-51720325811723798242022-05-06T21:27:00.001-03:002022-08-14T04:54:50.107-03:00Linguagem e Poder <p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdkH3Oc3ekhbkdUxT1DiGu9B0wlwbOK0NqVg7oIHyQoLUyEoZY6UY3InnVNK3S8X9IKkEmVv_hrdCsjwdErbnuw5ac8a5Vg69KjGHW0MGUrGtvAF_ijJ3uC6rhQjI3SxFyz7QwyuyzV5zTgcsXRU3Sa1V5Vg_XwRTGZaZMijJ9_t3AA32F3CwIKEfe/s272/8A7B19B9-F34E-43F7-B16F-1BEB66EA2650.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="185" data-original-width="272" height="185" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdkH3Oc3ekhbkdUxT1DiGu9B0wlwbOK0NqVg7oIHyQoLUyEoZY6UY3InnVNK3S8X9IKkEmVv_hrdCsjwdErbnuw5ac8a5Vg69KjGHW0MGUrGtvAF_ijJ3uC6rhQjI3SxFyz7QwyuyzV5zTgcsXRU3Sa1V5Vg_XwRTGZaZMijJ9_t3AA32F3CwIKEfe/s1600/8A7B19B9-F34E-43F7-B16F-1BEB66EA2650.jpeg" width="272" /></a></div><span style="color: #20124d;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Língua e linguagem não são imutáveis, são construções sociais, sujeitas a mudanças e principalmente capazes de reproduzir os jogos de poder. Língua e linguagem podem ser instrumentos de exclusão e de dominação, há uma vastíssima bibliografia sobre isso. Todo língua é viva, tão viva que pode morrer, o latim é considerado uma língua morta, umas dentre tantas que ruíram junto com verdadeiros impérios, o que deixa evidente a relação entre língua/linguagem e poder. Enquanto viva a língua se transforma, “vossa mercê” se torna “você”, que se torna “vc”.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Há uma tentativa de reduzir a linguagem às normas gramáticas que regulamentam o uso formal do idioma, que na prática pouco ou quase nunca ocorre. É nestas normas gramaticais que aqueles que temem transformações sociais se apegam quando determinado uso da língua é apontado como capaz de validar um mecanismo de dominação, eles se esquecem, no entanto, que, ainda que de forma mais lenta, a norma culta também muda. O Brasil, vale lembrar, passou por reformas ortográficas internas em 1943 e 1971, e em 1990 assinou o acordo ortográfico que visava uniformizar o uso gramatical do português em todos os países que o têm como língua principal (até o momento apenas Brasil e Portugal colocaram o acordo em prática). </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">O problema, contudo, é que a coletividade tende a aceitar melhor a imposição de determinado uso como norma culta quando este é posto por setores dominantes da sociedade, ainda que não façam sentido algum. Somos até mesmo capazes de aceitar que há alguma razão para a existência de vários tipos de porquês (junto, separado, acentuado e não acentuado), mas, tendemos a repudiar quando a forma adversa da linguagem (adversa no sentido de oposição mesmo) vem como resposta de setores tradicionalmente dominados.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Quando determinado grupo alerta sobre a carga pejorativa que determinados termos trazem (como no caso de “índios”, termo que deve ser substituído por “povos indígenas” ou “povos originários” ou “escravos”, que deve ser substituído por “escravizados”), a reação primeira de grande parte das pessoas é a de dizer que “este politicamente correto tá ficando muito chato”, “isso são só besteiras” ou que “não tem nada de errado porque todo mundo sempre falou assim”. Todavia, vale recordar: (1) rever posturas sempre será algo “chato” pra quem está apegado aos próprios erros; (2) não são só “besteiras”, são maneiras de exercício de poder que precisam ser confrontadas; (3) não foi sempre assim e não precisa continuar sendo porque a língua é vida. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Outros poderiam dizer ainda que está em curso uma tentativa de politizar tudo, contudo, não é difícil compreender que tudo aquilo que afeta de algum modo a vida social é em sua essência um ato político, seja de contestação ou de conformação ao poder (ou aos poderes) estabelecido. O uso que fazemos da língua é político, sempre foi assim, ele confere e restringe acessos, reforça ou destrói pressupostos, valida ou desconstrói determinado sistema de dominação. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">A linguagem é, recorrendo a Heidegger e Gadamer, condição de possibilidade para se chegar a aquilo que é, deixando de lado aquilo que aparenta ser. Para se compreender o sistema de dominação como um todo é necessário “revolver o chão linguístico no qual está assentada determinada tradição”, ou em outras palavras é necessário mostrar aquilo que a linguagem está sendo usada para encobrir, pois o exercício do poder consiste justamente na substituição do que é, pelo que aparenta ser, ou vice versa.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">No exercício de revolver o chão linguístico se descobre que encoberto pela tradição (o “isso sempre foi assim”) estão questões raciais, de classe e de gênero, que não precisam ser perpetuadas. Tanto o poder de outrora quanto o de hoje precisam ser confrontados para que tais questões deixem de ser instrumentos de dominação e esse confronto passa, necessariamente, pela linguagem.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: right;"><span style="color: #20124d; font-size: x-small;">Imagem ilustrativa encontrada <a href="http://www.itad.pt/blog/linguagem/" target="_blank">AQUI</a>! </span></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-49985396346476341102022-05-01T16:04:00.004-03:002022-05-01T16:05:31.325-03:0010 livros que nos ajudam a entender o fenômeno do racismo no Brasil e no mundo!<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="240" src="https://www.youtube.com/embed/DdYxTfwTSx8" width="337" youtube-src-id="DdYxTfwTSx8"></iframe></div><br /> <p></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-27935552685124945372022-02-01T07:04:00.007-03:002022-05-06T21:25:24.720-03:00A lógica do trabalho em uma sociedade capitalista nas canções “Cotidiano” e “Valsinha” de Chico Buarque<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjJBpvLOs5E9pXzbK_CBkhcmhOUipJmAV6BfUo9HdrDSdljxLrlSwhyoMGsBJI0DhV1PnZMew96ahZEgsjmrnM_1Sus1tsKzBawDbA9kePjddP9EHuTZasYjwblIySol5iQy3Wdm0rcbdQ4LJ2g3glAIyTOjz27zVeoHwOD4LA9UV3IVtqhOuppsSCj=s700" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="700" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjJBpvLOs5E9pXzbK_CBkhcmhOUipJmAV6BfUo9HdrDSdljxLrlSwhyoMGsBJI0DhV1PnZMew96ahZEgsjmrnM_1Sus1tsKzBawDbA9kePjddP9EHuTZasYjwblIySol5iQy3Wdm0rcbdQ4LJ2g3glAIyTOjz27zVeoHwOD4LA9UV3IVtqhOuppsSCj=s320" width="320" /></a></div><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Mais uma madrugada insone e eis que me pego refletindo novamente sobre canções do Chico Buarque, mas desta vez não é sobre “Com Açúcar e com Afeto”, objeto da polêmica dos últimos dias, mas sobre outras canções que trazem, igualmente, impregnado em si o peso do tempo no qual foram compostas. “Cotidiano” é uma outra canção na qual o Chico, como autor, adota a posição de um cronista; nela, o personagem narrador descreve o seu cotidiano e a presença da esposa em momentos diversos de seu dia, o café da manhã, o intervalo para o almoço, a chegada em casa no fim da tarde até as juras de amor eterno da esposa antes de dormir.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Na estória contatada, o homem que sai para o trabalho, enquanto a mulher fica em casa, o que aponta para a lógica predominante em um período em que a mulher ainda possuía pouca inserção no mercado de trabalho para além de empregos domésticos e outros cuja visão machista considerava (e ainda considera) inapropriados para homens. É evidentemente um contexto machista, mas, vale lembrar, toda obra é fruto de seu tempo. Compreender a obra tão somente por este aspecto talvez seja um reducionismo, há algo mais profundo ali, há uma crítica à lógica do trabalho em um modelo de sociedade capitalista e à forma com que ela mecaniza as relações.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">O tom crítico está nas entrelinhas, as expressões “todo dia” e “toda noite” indicam a repetição de uma rotina na qual os personagens estão aprisionados. A noção de prisão pode parecer exagerada, mas ela fica evidente na estrofe que fala do intervalo para o almoço: “todo dia eu só penso em poder parar, meio-dia eu só penso em dizer não, depois penso na vida pra levar, e me calo com a boca de feijão”. O personagem pensa em romper com a rotina, mas desiste porque há a “vida pra levar”, reparem que não é uma vida pra ser vivida, é uma vida pra ser levada, como se o sentido estivesse apenas em empurrar a passagem dos dias.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">A introdução da musica, os primeiros 12 segundos, sempre me intrigou pois ela destoa do restante, ela me soa como algo que evoca fim, um final triste, opressivo. Mas, ela está no início, é como se o fim fosse o começo, o que já evoca a ideia de repetição. Há, após a introdução, uma rápida marcação de tempo mais lento na bateria, que, já na sequência dá lugar a um toque mais rápido. É o ato de acordar descrito apenas pelo ritmo da bateria, de súbito se passa para de um ritmo lento para um mais rápido, como se o sujeito já acordasse em um ritmo frenético, correndo contra o tempo, a marcação se assemelha a um tic tac acelerado de relógio, que denota urgência. A cada final de estrofe há uma nova marcação que se assemelha a uma campainha, que indica tempo esgotado. É o dia, deste o seu primeiro minuto, pautado pela lógica do trabalho.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">A repetição e a urgência tiram o sentido de tudo, todo dia a mulher diz para o marido se cuidar e “essas coisas que diz toda mulher”, seis da tarde ela o espera no portão “como era de esperar”, na hora de dormir a mulher pede para o marido não se afastar (mas ele já está complemente afastado, alienado), neste pedido está a tentativa dela de romper com a rotina, ela o abraça, ele sente sufocado pelo abraço, mas não faz nada. A marcação que remete ao som de uma campainha interrompe e a rotina recomeça. Não por acaso, a introdução da música evoca fim, talvez morte, algo ali já está morto e reagindo apenas de forma automática.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Algo interessante é que não é apenas o marido que é afetado pela lógica do trabalho, a esposa também é, a mesma lógica está reproduzida também no trabalho doméstico, a mesma prisão, o mesmo sistema de opressão, com o qual nem ele nem ela conseguem romper. Ao menos não nesta canção. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Não sei se alguém já estabeleceu uma relação entre as duas canções, mas vejo “Valsinha”, também do Chico, como uma continuação de “Cotidiano” (ambas estão no álbum “Construção” de 1971). Esta outra canção também não escapa do peso do tempo, ela também reflete, como crônica, características de um momento histórico no qual situações de machismo eram pouco problematizadas e portando normalizadas. Este tipo de leitura crítica precisa ser feita, contudo, não precisa ser vista como a única leitura possível.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Em “Valsinha” há a ruptura com a lógica do trabalho que não vemos acontecer em “Cotidiano”. A narrativa já começa com a chegada do marido em casa (gosto de imaginar que os persongens das duas canções são os mesmos), porém neste dia ele chega diferente, olha a esposa de uma forma diferente e a convida para dançar. A esposa então se “faz bonita, como há muito tempo não queria ousar”. Aqui duas leituras é possível, uma machista segundo a qual a esposa se produziu para agradar o marido e outra segundo a qual ela se produziu para si mesma, o restante da música aponta para a segunda opção, explicarei.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">A ousadia do gesto à qual a letra faz referência não é uma ousadia perante o marido, mas sim perante à lógica à qual ambos estavam até então inseridos. Aqui há uma transferência de lógica do individual para o coletivo e isso fica evidente na letra. O caso vai para a praça da cidade e ali começam a se abraçar, a vizinhança desperta, a felicidade deles ilumina a cidade toda. Nos últimos versos o narrador, que não é um dos personagens, afirma que o “o mundo compreendeu e o dia amanheceu em paz”. O que havia para ser compreendido? Aqui há uma margem enorme para interpretação, mas, eu prefiro retomar a noção que já havia sido explorada em “Cotidiano”, a de que a repetição e a perda do sentidos das coisas é uma consequência da lógica do trabalho em uma sociedade capitalista.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Em “Valsinha” é esta lógica que é rompida, há uma quebra no cotidiano opressivo e o ato de ir para a praça pública no meio da noite é uma metáfora de um romper de uma prisão. A cidade acorda, se ilumina, e compreende que a logica pode ser rompida. O amanhecer em paz é o oposto do amanhecer descrito em “Cotidiano”. Reparem que não há uma ruptura com o capitalismo como modelo de organização social, mas há, por algum momento talvez, uma ruptura com a lógica decorrente deste modelo: a de que somos meros instrumentos de produção e circulação de capital e, como tal precisamos estar sempre prontos para sermos usados, o que acaba por sujeitar tudo, da alimentação ao sono, ao mero utilitarismo. O ato de fazer algo que aparenta não ter utilidade alguma rompe com esta lógica.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">E você, o que acha, canções como “Cotidiano” e “Valsinha” ficaram datadas ou têm ainda algo a nos dizer?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/npLzj2O8a6o" width="320" youtube-src-id="npLzj2O8a6o"></iframe></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/Jg7bzlkUrj8" width="320" youtube-src-id="Jg7bzlkUrj8"></iframe></div><br /><span style="color: #20124d;"><br /></span><p></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-60042913140453417772021-11-13T08:07:00.000-03:002021-11-13T08:07:22.751-03:00Uma análise de Round 6 (Squid Game no original) à partir de conceitos e pressupostos presentes na obra do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/_3_uV_bjrcI" width="320" youtube-src-id="_3_uV_bjrcI"></iframe></div><br /> <p></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-52304047219872745412021-10-12T07:58:00.004-03:002021-10-12T07:58:27.358-03:00"Persépolis" de Marjane Satrapi - Livro<p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6wph7QpsA416lP1gp7G6wuGJCOrb1Trhev53HqbNaaZGb7Z5Xq8LnxQ5IRr149btkb7s0FgfrPloLfFSgIbbJklDv9BpPAH4pJT8zfNkV_k1VDBNVIkj1bAJasCTja4SvkU6b4YGmWPU/s2048/capa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1379" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6wph7QpsA416lP1gp7G6wuGJCOrb1Trhev53HqbNaaZGb7Z5Xq8LnxQ5IRr149btkb7s0FgfrPloLfFSgIbbJklDv9BpPAH4pJT8zfNkV_k1VDBNVIkj1bAJasCTja4SvkU6b4YGmWPU/w269-h400/capa.jpg" width="269" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Marjane Satrapi ainda era criança quando em 1979 rebeldes xiitas insurgiram contra Xá, autoridade máxima no Irã na época, e o depuseram, instalando em seguida um regime ditatorial e extremamente sanguinário. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Ela cresceu em meio à imposição de regras de comportamento e de vestimenta que cerceavam toda e qualquer expressão de liberdade individual. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">A situação de seu país piora com o início da guerra entre Irã e Iraque, conflito que foi financiado por países do ocidente. O número de mortos e desaparecidos só aumenta e diante da ameaça iminente os pais de Marjane decidem mandá-la para a Suíça. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Já na Europa Marjane tem seu primeiro contato de fato com o movimento punk e a filosofia anarquista, até então seu contato mais próximo com o movimento era através de fitas K7 que circulavam clandestinamente entre seus amigos. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Marjane passa então a ter contato com uma liberdade quase absoluta, e, acaba não sabendo lidar com ela, indo ao fundo do poço após o término de um relacionamento, ela chega a morar na rua antes de voltar para o Irã. De volta pra casa dos pais, ela passa a ter contanto com um viés de seu país tão cruel quanto a própria guerra: a discriminação. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAnkRlSCOEBMMxW5IrXmwHI0RK5myLphSYhO5y9gGJuRZwPApsSBCPtLbpBQ8ZTJsXMtBlyBHc2OmFKKjp0zGiUY9PBYMI6NjYZYc-NT5UA3yAGqWYVtVFCe9dc77doQbfATa5JPgW_PQ/s800/MarjaneColormag.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="445" data-original-width="800" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAnkRlSCOEBMMxW5IrXmwHI0RK5myLphSYhO5y9gGJuRZwPApsSBCPtLbpBQ8ZTJsXMtBlyBHc2OmFKKjp0zGiUY9PBYMI6NjYZYc-NT5UA3yAGqWYVtVFCe9dc77doQbfATa5JPgW_PQ/w400-h223/MarjaneColormag.jpg" width="400" /></a></div><br /><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Resiliente, Marjane consegue vencer seus próprios fantasmas interiores e bater de frente com costumes, tabus e princípios. Ciente de que nunca mais caberá naquele mundo, ela parte de vez para a França, onde começa a escrever uma nova história... </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;">Em <b><span style="color: #660000;">Persépoli</span>s</b>, Marjane desnuda de forma crua e muitas vezes angustiante a realidade que vivenciou em seu país e fora dele. O preconceito por não seguir a doutrina islâmica, por ser questionadora, por ser iraniana, por ter morado na Suíça, por não ser a esposa ideal, todos estes são na verdade males menores diante de um mal muito maior: o fato de ela ter nascido mulher em uma sociedade extremamente machista e autoritária...</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><b><span style="color: #660000;">Persépolis</span></b> é uma obra prima em quadrinhos, um livro obrigatório, que nos fará entender e respeitar o outro étnico e valorizar a liberdade que ainda temos...</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #20124d;"><span style="font-size: x-small;"><span style="color: #2b00fe;">Escrito em 12 de outubro de 2015 e publicado originalmente no Facebook. </span></span><br /></span></p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-12357728687536603922021-02-03T05:12:00.000-03:002021-02-03T05:12:44.903-03:00 O Cortiço de Aluísio de Azevedo - João Romão e os recalques de uma classe média ascendente<p style="text-align: justify;"><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglXBC6Nn-sU6YsgIQX-k0E4KF1lZK7tG6HSxVKBzFEpwmta2bFZVleHzhdMeWiDmSPjvE-tBtnMvog6Yl3aKFqyzNTwfIktZQXh0iEcjhWtixiwx-M345UKPhlS2kwcFA25pva4KQ_O58/s2048/29E2AF70-48CE-4F33-8146-5D29CAD2AE6D.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1952" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglXBC6Nn-sU6YsgIQX-k0E4KF1lZK7tG6HSxVKBzFEpwmta2bFZVleHzhdMeWiDmSPjvE-tBtnMvog6Yl3aKFqyzNTwfIktZQXh0iEcjhWtixiwx-M345UKPhlS2kwcFA25pva4KQ_O58/s320/29E2AF70-48CE-4F33-8146-5D29CAD2AE6D.jpeg" /></a></div><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Terminei minha pequena maratona por clássicos de nossa literatura com a leitura de “O Cortiço” do Aluísio de Azevedo. O livro rende inúmeras análises que vão do racismos estrutural presente em sua narrativa à sua abordagem de dois problemas que estão presentes até hoje na maior parte das cidades brasileiras, a não universalidade da moradia digna e a precarização do trabalho.</p><p style="text-align: justify;">Mas, optei, nesta breve análise, por falar não sobre estes assuntos, mas sobre a forma com que um personagem da obra em especial ilustra um fenômeno também observado em nossos dias. O personagem é João Romão e o fenômeno é a ascencao econômica de pessoas pertencentes a classes menos favorecidas, que resulta na formação de uma nova classe média. </p><p style="text-align: justify;">João Romão é um Português que vem tentar a vida no Brasil, ele acaba assumindo o pequena venda onde trabalhava depois que o dono, também português, decide voltar para o país de origem e lhe entrega o controle do comércio como forma de quitação de salários atrasados. Pouco tempo depois, ao vislumbrar uma oportunidade de alavancar o seu negócio, João inicia um relacionamento e uma sociedade comercial com Bertoleza, mulher negra, ainda escrava, que fazia quentinhas para vender. </p><p style="text-align: justify;">Com a ajuda de Bertoleza, que trabalha incansavelmente sete dias por semana, João prospera. Com o dinheiro do comércio e da venda de quentinhas, ele compra parte de uma pedreira e constrói moradias precárias para aluguel. Contudo, quando Miranda, vizinho da venda e do cortiço, conquista um título de nobreza, o de barão, João vê despertada em si uma grande insatisfação com tudo o que construiu. Ele é tão rico quanto Miranda, mas não tem a mesma “classe” que ele. </p><p style="text-align: justify;">Diante da notícia de que Miranda dará uma grande festa para comemorar a conquista do título, João se angustia. Ao ser convidado para a festa ele reconhece que não seria capaz de se infiltrar no meio ao qual Miranda pertence. Ele não se imagina vestindo sapatos, luvas ou conversando sobre arte e política com outros homens da alta sociedade. Ele não foi educado para as regras de etiqueta, tão pouco tem conhecimento da realidade do país ou sensibilidade artística para conversar sobre o que conversam. </p><p style="text-align: justify;">João ganhou muito dinheiro às custas da exploração do trabalho alheio e da aplicação de pequenos golpes, isso, no entanto não lhe torna menos parecido com as pessoas que moram em seu cortiço. O drama que ele vive vem da necessidade de se elevar, de se diferenciar dos seus, para assim ser aceito pela elite de seu tempo. </p><p style="text-align: justify;">Em sua busca por um atalho para alcançar seu objetivos, João pesará a mão sobre os seus inquilinos, na esperança de que o poder exercido sobre eles lhe alce a uma posição superior. Bertoleza se apresenta, em seus devaneios, como um grande obstáculo para a realização destes intentos. Como ser aceito pela elite racista estando ainda amasiado com uma negra? </p><p style="text-align: justify;">João Romão, em sua mesquinhez, avareza e ambição desmedida, em sua parca formação cultural, em sua limitação de visão para os fatos relevantes de seu tempo e em seu completo desprezo pelos que lhe servem de trampolim, se assemelha muito à significava parte da classe média atual, que se considera elite, sem o ser de fato, e insurge como antagonista dos desprivilegiados. Romão é um espelho da classe média que apoiou o golpe de 2016 e que elegeu um presidente fascista em 2018. </p><p style="text-align: justify;">AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. Jaraguá do Sul: Editora Avenida, 2009. </p>J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-83648155913892052762020-06-24T19:32:00.000-03:002020-06-24T19:32:01.579-03:00Milagre na Cela 7<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #660000;">Milagre na Cela 7</span></b><span style="color: #20124d;"> (Yedinci Kogustaki Mucize)
- 2019. Dirigido por Mehmet Ada Öztekin. Escrito por Özge Efendioglu e Kubilay Tat. Direção de Fotografia de Torben Forsberg. Trilha
Sonora Original de Hasan Ozsut. Produzido por Saner Ayar, Sinan Turan e Cengiz Çagatay. Turquia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"> </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxZm06r1_ou7bvOCGs0sy1F-ofxnFjvY9lVbaEdEOjIkSH2M3xHAp0LfU2HP2k0LlyJ9Xlui12rAP4CtZwcsTvvMgxCGK1v47nRidwi4VYEqyqkh6gJirn-s7Gl-EeTQFCzvhyjYHxjoM/s1600/1926679.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1131" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxZm06r1_ou7bvOCGs0sy1F-ofxnFjvY9lVbaEdEOjIkSH2M3xHAp0LfU2HP2k0LlyJ9Xlui12rAP4CtZwcsTvvMgxCGK1v47nRidwi4VYEqyqkh6gJirn-s7Gl-EeTQFCzvhyjYHxjoM/s400/1926679.jpg" width="282" /></a></div>
<br /><div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;">Eu normalmente prefiro esperar o <i>hipe</i> passar para assistir a um filme ou série sobre o qual todo mundo esteja falando, mas hoje decidi fazer o oposto e assisti <b><span style="color: #660000;">O Milagre da Cela 7</span></b>. O filme tem dividido opiniões, o público o exalta, enquanto parte da crítica especializada o massacra. Em tempos de polarização, talvez as defesas e ataques extremos tenham sido o que chamou a minha atenção (e olha que eu tenho tentado ao máximo evitar as tretas).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;">A seguir tentarei tecer algumas considerações, analisando-o não como mero entretenimento, mas como cinema. Se ele funciona bem no primeiro universo (o que se vê pelo sucesso de público), ele tropeça em diversos aspectos no segundo. Antes que me questionem se o cinema não pode entreter ou se o entretenimento não pode ser considerado cinema, explico que para efeito de análise considerarei como cinema a obra dotada de valor artístico, considerando que o valor artístico está no diálogo que a obra é capaz de estabelecer com o espectador.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;">O mero entretenimento normalmente abre mão do diálogo por entregar pronto aquilo que caberia ao espectador decodificar. Quanto mais “acabada” é a obra, menor o seu potencial artístico. Todo o aparato de linguagem se volta nestes casos para despertar no espectador um tipo específico de reação, não havendo, por isso, tanto espaço para a reflexão, para a contemplação ou mesmo para o questionamento.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5_IwwRj5XWDkBPeO1dtPqDMRkSkHjh-k52Ryyx6XuWNh9W3BwtQSRkVyvKKmRZRf6G_4M7Emz1DF-n9yiGW-sR40kQBvBY5UUuxKCpmarw83IUpV7WiaaoF6TvfuQilLwA2i_Xi0GuKw/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="173" data-original-width="291" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5_IwwRj5XWDkBPeO1dtPqDMRkSkHjh-k52Ryyx6XuWNh9W3BwtQSRkVyvKKmRZRf6G_4M7Emz1DF-n9yiGW-sR40kQBvBY5UUuxKCpmarw83IUpV7WiaaoF6TvfuQilLwA2i_Xi0GuKw/s1600/images.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><span style="color: #660000;">O Milagre da Cela 7</span></b>, como afirmei acima, funciona como entretenimento e de fato esta é a sua proposta, seu objetivo não é o de levantar reflexões profundas que perseguirão o espectador por dias, semanas, ou quiçá pra vida toda, ele te emocionará, todavia, no dia seguinte, quando você lembrar das mesmas passagens, elas já não produzirão mais o mesmo efeito, afinal tudo é muito raso e efêmero, o que não deixa de ser uma característica predominante no cinema <i>mainstrean</i>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;">O filme tem inegável qualidade técnica, bela fotografia, movimentos de câmera cuidadosos e belíssima direção de arte, todavia, todos estes aspectos são reduzidos ao propósito de fazer emocionar e isso, confesso, é algo que me incomoda bastante. É possível antever todas as cenas em que algo triste irá acontecer, tão somente pela progressão da trilha sonora. Pode-se, inclusive, afirmar que é a trilha que pontua quando o espectador deve rir ou se emocionar; e isso, meus caros, nada mais é que manipulação barata.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;">Talvez o filme funcionasse um pouco melhor como cinema se ele tivesse a trilha amputada de si, afinal de contas o argumento dele é bom. O roteiro poderia ter sido melhor desenvolvido, se não estivesse tão sujeito, como os outros aspectos, à pretensão de emocionar. Ele possui boas atuações, mas falha na medida, o que se percebe mas inúmeras reações de personagens que soam forçadas no contexto em que acontecem.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZge2zNZmhbH6U7bz7PuucqvGzspQ3NiIazq3MPA0VyS9-M9XxpYpeNgK3_pmIw8GR1efsAYOQpcf-5ITvbDNiSPKaZ78m-FYxXGFUWQyDJRRx5b-L9m9XN0JZeQ8dLD5frEVAkKTO3gY/s1600/o-milagre-na-cela-7-plano-critico-600x400.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZge2zNZmhbH6U7bz7PuucqvGzspQ3NiIazq3MPA0VyS9-M9XxpYpeNgK3_pmIw8GR1efsAYOQpcf-5ITvbDNiSPKaZ78m-FYxXGFUWQyDJRRx5b-L9m9XN0JZeQ8dLD5frEVAkKTO3gY/s320/o-milagre-na-cela-7-plano-critico-600x400.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><span style="color: #660000;">O Milagre da Sela 7</span></b> entra, como eu havia previsto, naquele já volumoso grupo que tem como expoentes filmes como <span style="color: #660000;"><b>A Vida é Bela</b></span> (1997), <span style="color: blue;"><b><a href="http://sublimeirrealidade.blogspot.com/2012/02/cavalo-de-guerra.html" target="_blank">Cavalo de Guerra</a></b></span> (2011), <span style="color: #660000;"><b>O Menino do Pijama Listado</b></span> (2008) e um incontável número de obras de menor expressão. Obras em que o melodrama sufoca todo o potencial e a importância do tema abordado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;">No atual caso, a frustração, pra mim, veio do fato de eu cheguei a me alegrar por perceber que o público estava dando atenção a uma obra de fora do mercado hollywoodiano e, tal como aconteceu no caso do francês <b><span style="color: blue;"><a href="http://sublimeirrealidade.blogspot.com/2013/01/intocaveis.html" target="_blank">Intocáveis</a></span></b> (2011), o que eu vi no filme foi mera cópia de um modelo explorado à exaustão no cinemão americano... e as coisas podem piorar se Hollywood decidir, daqui a alguns anos, fazer um remake.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;">Resumindo, <span style="color: #660000;"><b>O Milagre da Cela 7</b></span> será uma boa pedida se você apenas quiser se deixar levar. Para os saudosistas, ele lembrará os inofensivos filmes feitos para a TV que cansamos de assistir no Cinema em Casa e na Sessão da Tarde. Agora, se você quiser experimentar aquilo que boa parte do público tem experimentado, abra mão da reflexão durante a sessão, separe o lenço e <i>laissez faire</i>...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe width="320" height="266" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/XLKZ8GLKs7U/0.jpg" src="https://www.youtube.com/embed/XLKZ8GLKs7U?feature=player_embedded" frameborder="0" allowfullscreen></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-17455255752168575822020-06-17T20:51:00.000-03:002020-06-17T20:51:02.328-03:00Felicidade ou Morte - Livro <div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;"><b><span style="color: #660000;"><span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;">Felicidade ou Morte</span> </span></span></b></span><span style="color: #20124d;">de Clóvis de Barros Filho e Leandro Karnal. Lançado originalmente em 2016. Campinas. Papirus 7 Mares, 2016.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiucOi8xn8-sxGbIr7aUysVMo2cuQ3aBOaq17BjaY76WwRzQ4iyrDhD40Zb1RO4gzsrVEWS1DcZt6Fb4PmNeqTKBIaucWGMc8VIz-9AKZkzQ0Uc4iMEqUvA_YmtjUFhPwWHQ5tiYT21dlA/s1600/91wQMqrOOBL.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1064" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiucOi8xn8-sxGbIr7aUysVMo2cuQ3aBOaq17BjaY76WwRzQ4iyrDhD40Zb1RO4gzsrVEWS1DcZt6Fb4PmNeqTKBIaucWGMc8VIz-9AKZkzQ0Uc4iMEqUvA_YmtjUFhPwWHQ5tiYT21dlA/s400/91wQMqrOOBL.jpg" width="265" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;">O sucesso conquistado por Leandro Karnal e Clóvis de Barros Filho é um
fenômeno no mínimo interessante. <i>Bestsellers</i>, eles conseguiram transpor
as paredes da torre de marfim e atingir um público além dos
universitários das respectivas áreas que lecionam, história e filosofia.
</span>
<span style="color: #20124d;"><br />
O fenômeno é curioso porque em um país de poucos leitores e parco
interesse pela dita alta cultura, eles se tornaram verdadeiros gurus, de
quem se espera um posicionamento ou uma resposta para as inúmeras
crises pelas quais o país passa. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Não é um disparate dizer que o sucesso dentre o público não
universitário de humanas se deve ao trânsito fácil pela linguagem
simples, ainda que não coloquial, que torna reflexões complexas
acessíveis a todos os públicos, mas também ao notável domínio da
retórica e da comunicação nas redes sociais. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Em "Felicidade ou Morte", livro constituído na forma de um diálogo entre
os dois intelectuais sobre o tema proposto, ambos tecem reflexões
acerca da ideia de felicidade, da resignação como forma de driblar a
angústia existencial, da construção social e histórica do que se tem
como padrões de vida bem sucedida e da inevitabilidade da dor, que torna
a própria noção de felicidade efêmera. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Sem precisar recorrer a academicismos, os autores transitam pela
história e pela filosofia em busca ora de respostas, ora de algum eco
para aquilo que defendem. A escrita flui fácil e, em alguns pontos, o
texto chega a parecer uma transcrição de um diálogo tal como ele se deu,
sem cortes e sem qualquer outro tipo de edição. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Tal noção vem justamente do fato de que tanto o Barros Filho quanto o
Karnal se fizeram conhecidos do grande público antes pelos vídeos e só
depois pela escrita, o que ajuda explicar o fenômeno que citei no início
desta rápida resenha. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
A manutenção do mesmo tipo de linguagem presente nos vídeos, inclusive
com passagens já contadas ou citadas em outras oportunidades, cria uma
espécie de aproximação (por meio da autoreferência), que conta muito no
processo de trazer os seguidores das redes para o consumo da obra
escrita. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Em um tempo em que ainda há certo repúdio pelo conhecimento e pela
complexidade da leitura de um mundo pautado pela velocidade e pelo
imediatismo, vejo com bons olhos o <i>hipe</i> e popularização do pensamento e
do ato filosófico.</span></div>
J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-32837227940780028822020-06-10T19:30:00.000-03:002020-06-10T19:30:00.651-03:00Da Arte Poética - Livro <div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;"><b><span style="color: #660000;">Da Arte Poética</span></b></span><span style="color: #20124d;"> de Aristóteles. Escrito provavelmente no século IX a.C.. Tradução de Maria Aparecida de Oliveira Silva. São Paulo. Martin Claret, 2015.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5vjCUa5f_Exk3DrZ6rE9DlBilSx00rfv2YPNY_FET4TXAThaQUijLR7DR2t4vPJoamfc2uC2p7FHGDP0vyxSbbqENJ7QUlaFsQrpdEhhxwIicINxHE-WLciTkDmojziqDUaBWeBLyk7c/s1600/unnamed.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="400" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5vjCUa5f_Exk3DrZ6rE9DlBilSx00rfv2YPNY_FET4TXAThaQUijLR7DR2t4vPJoamfc2uC2p7FHGDP0vyxSbbqENJ7QUlaFsQrpdEhhxwIicINxHE-WLciTkDmojziqDUaBWeBLyk7c/s400/unnamed.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;">"Da Arte Poética" seria, de acordo com estudiosos da obra de
Aristóteles, uma compilação de anotações feitas para serem usadas por
ele nas aulas que ministrava no Liceu em Atenas. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Apesar de pequena, a parte da obra que sobreviveu ao decorrer dos mais de dois mil anos é
de uma densidade tamanha, dado o brilhantismo da análise, que serviria
não só para esmiuçar cada um dos elementos narrativos da tragédia grega,
mas como um verdadeiro manual sobre a literatura e o teatro clássico,
que continuaria inspirando poetas, dramaturgos e cineastas até hoje. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
É uma obra seminal pra entender a arte ocidental produzida nos dois
últimos milênios, e aqui incluo a literatura, o teatro e o cinema. "Da
Arte Poética" é tão importante que é cabível a simplificação de reduzir
tudo o que veio depois como confirmação ou ruptura em relação às
ponderações de Aristóteles. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Meu primeiro contato com a obra foi há quase 10 anos, por meio do livro
"O Teatro do Oprimido" de Augusto Boal, que faz uma leitura crítica do
pensamento de Aristoteles e, à luz das teorias de Brecht sobre o teatro
épico, propõe uma superação do modelo clássico. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
A crítica feita por Boal me deu uma noção ampla do quão arraigado o
modelo trágico ainda está na produção literária/teatral/cinematográfica
de nosso tempo. E, posições contrárias à parte, o que cabe destacar aqui
é que o fato de ter perdurado por mais de dois mil anos por si só já é
um indício da força que tal modelo possui.</span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Entender conceitos e elementos como a imitação, a peripécia, o
reconhecimento, o patético e principalmente a catarse é essencial pra
qualquer um que se proponha a compreender, analisar ou criticar qualquer
obra dotada de narrativa.</span></div>
J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-83258560085804117162020-06-03T19:00:00.000-03:002020-06-03T19:00:02.624-03:00A Morte de Ivam Ilitch - Livro <div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;"><b><span style="color: #660000;">A Morte de Ivan Ilitch</span></b></span><span style="color: #20124d;"> de Leon Tolstoi. Lançado originalmente em 1886. Tradução de Vera Karam. Porto Alegre. L&PM Pocket, 2010.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVHlMU49DMe_iqq8asg0zpABhPDRqkBiaT88b2gAqGFIBxbfuyO7WhTsgQwX_5m5ulyfukfeL0WRhaJpy0tTW-8vkKrZQBSPim8RMxheVPx8rDd99Nq5eYMqCIeLvM6yNTndiro3zYLmE/s1600/1009569433.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1331" data-original-width="800" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVHlMU49DMe_iqq8asg0zpABhPDRqkBiaT88b2gAqGFIBxbfuyO7WhTsgQwX_5m5ulyfukfeL0WRhaJpy0tTW-8vkKrZQBSPim8RMxheVPx8rDd99Nq5eYMqCIeLvM6yNTndiro3zYLmE/s400/1009569433.jpg" width="240" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;">"A Morte de Ivan Ilitch" de Leon Tolstoi é considerado uma das melhores
novelas de todos os tempos, o que é plenamente justificável, uma vez que
sua densidade, que abrange a profundidade psicológica do personagem
central e suas inúmeras representações sociais, a tornam não só um
clássico da literatura de ficção, mas uma obra de forte cunho filosófico
e até político. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Há na história uma contundente crítica ao ideal de felicidade burguês,
que inclui casamento, carreira e posse de bens. Na trama, o personagem
central, Ivan Ilitch, é um renomado e respeitado juiz, que teve uma
rápida ascensão no meio jurídico e se tornou, dentre seus pares,
referencial de sucesso e prosperidade. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Sua constante preocupação em estar em conformidade com o padrão de vida,
com hábitos e até com os trejeitos burgueses lhe garante acessos e
posições cada vez mais alta na hierarquia do tribunal em que trabalha. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
O casamento infeliz, mantido às custas da aparência e do temor da
reprovação social, faz com que Ivan se mergulhe em seu trabalho a ponto
de quase aniquilar por completo a sua vida social. O progressivo
distanciamento da esposa e dos filhos, uma clara tentativa de evitar
conflito, se torna a justificava interior para as horas a fio diante de
processos e de dossiês da repartição.</span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Ao apresentá-lo como personagem, Toltoi diz muito coisa com pouco mais
de duas linhas: "A história da vida de Ivan Ilitch foi das mais simples,
das mais comuns e portanto das mais terríveis". Em poucas palavras já
fica decretada a tragédia do protagonista, já denunciada no título da
obra e abordada já em seu primeiro capitulo. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Ivan sucumbirá diante de uma doença misteriosa, que lhe consome em pouco
mais de três meses. A agonia e a angústia advinda da ciência da
finitude da vida leva o personagem a questionamentos filosóficos acerca
do porquê do sofrimento e sobre a existência ou não de um sentido maior
para a vida. </span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Em dada passagem ele indaga a uma voz interior o porquê de tamanha
agonia, e ela apenas responde: "Por nenhuma razão. É assim e pronto."
Diante disso sobra apenas o vazio e o fatalismo de que a inevitabilidade
da morte física é a única certeza (certeza esta que ele evitou por toda
sua vida).</span>
<span style="color: #20124d;"><br />
Ivan se apega então a um último questionamento: teria a sua vida válido a
pena? Algo dentro de si lhe diz que sim, afinal ele cumpriu todos os
requisitos reconhecidos pela sociedade como necessários para uma vida
boa. Mas, as recorrentes memórias da infância, período em que fora de
fato feliz, lhe induzem a crer no contrário. Tal percepção lhe machuca
mais que a dor intermitente decorrente da doença.</span>
<span style="color: #20124d;"><br />
A contundência da obra está no fato de que ela nos leva a questionar o
nosso próprio padrão de felicidade, que muitas vezes nem é uma criação
nossa, mas um mero fruto de uma construção social. É atormentadora a
ideia de que o medo da morte que Ivan experimenta não é um medo de
perder a vida, mas o arrependimento de não tê-la vivido de fato, somado à
ciência de que já é tarde demais pra voltar atrás...</span></div>
J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-79929389071771219062020-05-29T20:12:00.000-03:002020-05-29T20:12:03.529-03:00Depois do Colonialismo Mental: Repensar e Reorganizar o Brasil - Livro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dyzFRRCsp-8wTyh0dHr8ije1txIrbICGEiUaOKUQOYAIDmaodFo1mmWposlXL14H0ZUJM9P_rovPPsn4mZxfw' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-91561466652051712702020-05-27T19:30:00.000-03:002020-05-27T19:30:00.167-03:00A Terceira Via e seus Críticos - Livro <div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><b><span style="color: #660000;">A Terceira Via e seus Críticos</span></b><span style="color: #20124d;"> de Anthony Giddens. Lançado originalmente em 2001. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro. Record, 2001.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwNmKnlw9XtKkqZ1byV_EvL_AeslwVjuzymKNivtNm1jUZK9tv0EvJxsoum2IFcRcTp517INA-AkBE_N0jLq9kqPYesEtD8Flr4Herj82Xgl-ndxrwN3w_RbHiBZrwcLn1GRL-4aTmY6g/s1600/850106016X.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="391" data-original-width="255" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwNmKnlw9XtKkqZ1byV_EvL_AeslwVjuzymKNivtNm1jUZK9tv0EvJxsoum2IFcRcTp517INA-AkBE_N0jLq9kqPYesEtD8Flr4Herj82Xgl-ndxrwN3w_RbHiBZrwcLn1GRL-4aTmY6g/s400/850106016X.jpg" width="260" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;">Tido como um dos grandes teóricos da nova social democracia, o sociólogo
Anthony Giddens, influenciaria com suas obras os rumos de governos nos
países desenvolvidos e nos emergentes. Seu pensamento seria adotado como
um norte em um período em que boa parte da literatura econômica e
social das décadas anteriores começava a não acompanhar a rapidez das
transformações do mundo globalizado.</span><span style="color: #20124d;"></span><br />
<span style="color: #20124d;"><br />
Tony Blair, Romano Prodi, Bill Clinton, Fernando Henrique Cardoso,
dentre outros, na época em que o livro foi publicado, já colocam em
prática parte daquilo que seria defendido na obra. A terceira via
proposta por Giddens é na verdade um meio termo entre o liberalismo
econômico e o estado de bem estar social, com uma forte inclinação para o
primeiro lado.</span><span style="color: #20124d;"></span><br />
<span style="color: #20124d;"><br />
O autor defende uma coexistência entre o mercado, o estado e a sociedade
civil, que seria necessária, segundo ele, para a manutenção de uma
democracia plena condizente com a nova conjuntura imposta pela
globalização.</span><span style="color: #20124d;"></span><br />
<span style="color: #20124d;"><br />
Ele não nega os conceitos de esquerda e direita, e inclusive chega a
citar a obra de Noberto Bobbio, <span style="color: blue;"><a href="http://sublimeirrealidade.blogspot.com/2020/05/direita-e-esquerda-razoes-e.html" target="_blank">Direita e Esquerda - Razões e Significados de uma Distinção Política</a></span> como uma leitura seminal sobre o
tema. No entanto, o que ele propõe é uma alternativa, que não seria
novidade, o próprio Bobbio já tinha classifica tal tendência como a
"terceiro inclusivo".</span><span style="color: #20124d;"></span><br />
<span style="color: #20124d;"><br />
O modelo proposto preserva a força do estado, o que se mostra como o
principal ponto de discordância entre Giddens e os liberais, o que seria
necessário para balizar a atuação do mercado e da sociedade civil e
atuar na minimização das desigualdades, quando estas restringissem
oportunidades de ascensão.</span><span style="color: #20124d;"></span><br />
<span style="color: #20124d;"><br />
No entanto, não há neste pensamento qualquer tipo de subversão ao status
quo, há a defesa da responsabilização do topo da pirâmide econômica
pelas injustiças sociais, mas mecanismos de redistribuição de renda,
como a tributação progressiva, são defendidos com certa timidez.</span><span style="color: #20124d;"></span><br />
<span style="color: #20124d;"><br />
A globalização é vista como um processo já consolidado, o mercado chega a
ser quase idolatrado como o ente detentor da capacidade de resolver os
problemas sociais (a maioria decorrentes de sua própria atuação). A
suposta igualdade de oportunidades, seria, numa leitura mais crítica da
obra, apenas uma preocupação com a formação da mão de obra necessária à
cadeia de produção e de meros consumidores.</span><span style="color: #20124d;"></span><br />
<span style="color: #20124d;"><br />
A fragilidade da obra talvez esteja justamente no ponto em que o próprio
autor considera a sua grande força: a capacidade de dar soluções
adequadas para problemas do mundo atual. "A Terceira Via e Seus
Críticos" foi publicado antes do atentado de 11 de setembro, antes da
crise de 2008, antes do Brexit e de tantas outras transformações que
tornam distante o contexto no qual ele foi publicado.</span><span style="color: #20124d;"></span><br />
<span style="color: #20124d;"><br />
Por ironia do destino, apesar do governo FHC ser citado na obra como
exemplo de uma das materializações práticas da terceira via, conforme
proposta, são os governos Lula e Dilma que melhor representam a prática
daquilo que fora proposto, inclusive com os pontos fracos, que levariam à
queda do Lulismo e à crise política pela qual o Brasil passa hoje.</span><span style="color: #20124d;"></span><br />
<span style="color: #20124d;"><br />
O pacto proposto por Giddens, ao menos por aqui, funcionou apenas até
que a redução das desigualdades tornasse os pobres menos dependentes, o
que desagradaria as elites tradicionais e levaria à quebra do pacto e a
readoção de um modelo muito mais neoliberal do que o imposto ao país
pelo FMI na década de 90.</span></div>
J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-68064937520152558342020-05-20T18:16:00.002-03:002020-05-20T22:28:39.095-03:00Direita e Esquerda: Razões e Significados de uma Distinção Política - Livro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #660000;">Direita e Esquerda - Razões e Significados de uma Distinção Política</span></b><span style="color: #20124d;"> de Noberto Bobbio. Lançado em 1995. Tradução de Marco Aurélio Nogueira. São Paulo. Editora da Unesp, 1995. </span></div>
</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMr508oSN9cMK0icuOcqMpS3OMxwFDTGQN8ey4NNGSarZivmWPIqpKHNOkSsPMxCG0QdtnxRtHS8dbU-60LjC9THGIOOXzH2VRGntsrM-AwXn8L0rqrI3lEJDUW4CjTskhWC3WK3f79g4/s1600/9E229117-68F2-4D4D-98B0-D73E7AB8C7BF.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="288" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMr508oSN9cMK0icuOcqMpS3OMxwFDTGQN8ey4NNGSarZivmWPIqpKHNOkSsPMxCG0QdtnxRtHS8dbU-60LjC9THGIOOXzH2VRGntsrM-AwXn8L0rqrI3lEJDUW4CjTskhWC3WK3f79g4/s400/9E229117-68F2-4D4D-98B0-D73E7AB8C7BF.jpeg" width="230" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;">A queda do muro de Berlim em 1989 simbolizou o final de uma era, a reunificação da Alemanha jogou por terra a ideia do mundo bipolarizado, dando início a um período de intensa crise das ideologias. O fracasso do comunismo na URSS levantou uma incômoda questão: ainda faria sentido distinguir esquerda e direita? Noberto Bobbio, jurista, cientista político, historiador e filósofo italiano, defendeu nesta obra magnífica que sim, a distinção entre esquerda e direita continuava naquela época, início dos anos 90, mais atual é necessária do que nunca. </span></span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;">Bobbio ressaltou no livro a importância de não confundir as experiência totalitárias fracassadas como única forma de expressão do socialismo, ele chama a atenção para o fato de que as orientações antagônicas não têm relação direta com o tipo de governo (liberal ou totalitário), podendo o totalitarismo ser de esquerda (como o foi na URSS), ou de direita (como foi na Alemanha nazista). </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;">O que então, em última instância, distinguiria esquerda e direita? Para Bobbio seria o posicionamento em relação à igualdade, mais do que qualquer outra coisa. A direita tende a crer que as desigualdades são naturais e, sendo assim, inevitáveis, enquanto que a esquerda as considera como um fruto de uma determinada construção social e, como tal, passíveis de serem eliminadas ou amenizadas pela atuação do estado ou pela sua completa extinção. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;">A resposta à pergunta "igualdade sim, mas entre quem, em relação a quê e com base em quais critérios?" seria, de acordo com o autor, capaz de posicionar um indivíduo, um partido político ou um governo em um determinado ponto da linha que tem a esquerda em uma de suas extremidades e a direita na outra. Bobbio, relembra ainda a máxima de aristotélica presente na obra "Ética a Nicômaco" que diz que o principio maior da justiça seria tratar os iguais de forma igual e os diferentes de forma desigual na medida de suas desigualdades. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;">A adoção de tal pressuposto, segundo ele, evitaria tanto o igualitarismo característico do totalitarismo de esquerda, quanto a manutenção do status quo, tão presente no pensamento e na práxis liberal. Para Bobbio a desigualdade deve ser valorizada como fator de multiplicidade, no entanto, o tratamento desigual se faria necessário quando houvesse o entendimento de que a desigualdade se torna um fator de opressão ou de exclusão. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;">Apesar de ser uma obra relativamente pequena (127 páginas nesta edição), "Direita e Esquerda..." é de notável profundidade, o que a torna uma obra definitiva sobre o tema. Não é por acaso que ela tenha gerado e ainda gere tanta controvérsia. Ao escrever o prefácio da segunda edição italiana, Bobbio defendeu que as inúmeras críticas que recebeu na ocasião do lançamento apenas reforçavam a sua tese, os termos, criados no contexto da revolução francesa, continuavam vivos e ainda capazes de representar os dois espectros antagônicos da política.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="color: blue;"><span style="color: #20124d;"><span style="color: #4c1130;">Resenha escrita em 12/02/2017 e publicada originalmente no Skoob (rede social sobre livros). </span></span></span></span></div>
J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-52531876747421591252018-12-29T10:17:00.002-02:002021-02-05T06:44:33.284-03:00O Público e as Verdades da Arte <br />
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span face=""tahoma" , sans-serif" style="font-size: 11pt;"><span style="color: #20124d;">Oscar
Wilde chegou a afirmar, por meio de um de seus personagem mais
emblemáticos, Lord Henry Wotton de </span><span style="color: #660000;">O Retrato de Dorian
Gray</span><span style="color: #20124d;"> (seu alter-ego), que o "objetivo da arte é revelar a obra e
esconder o artista"... eu concordo em partes com este pensamento. Se por
um lado é impossível, por exemplo, compreender a grandiosidade da obra de Kafka
(também escritor) sem conhecer, ainda que superficialmente, a sua trajetória e
o contexto em que ele viveu, por outro o foco demasiado no artista pode relegar
em segundo plano aquilo de mais importante que sua obra possui, e isso
frequentemente acontece. Vivemos atualmente uma inversão extrema do pensamento
de Oscar Wilde; a mídia cumpre o papel de desnudar a vida do artista, enquanto
o público busca nela, e não na obra, os elementos de identificação capazes de
produzir empatia. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span face=""tahoma" , sans-serif" style="font-size: 11pt;"><span style="color: #20124d;">Discorrerei
rapidamente sobre três situações que vivenciei recentemente e depois tentarei
propor uma breve reflexão sobre o assunto. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span face=""tahoma" , sans-serif" style="font-size: 11pt;"><span style="color: #20124d;">- Em
agosto deste ano, Oswaldo Montenegro tocou em Piacatuba, distrito de
Leopoldina/MG, no Festival de Viola e Gastronomia. Naquele dia, minutos antes de
sua própria apresentação ele estava no meio do público assistindo ao show de
dois violeiros locais, um casal então se aproximou dele e pediu para tirar
fotos, ele não negou, mas enquanto os flashes eram disparados ele permaneceu na
mesma posição em que já estava, de braços cruzados e olhar direcionado para o
palco. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span face=""tahoma" , sans-serif" style="font-size: 11pt;"><span style="color: #20124d;">- No
último dia 8, na edição do festival Circuíto Banco do Brasil, realizada no Rio
de Janeiro, a banda americana MGMT foi vaiada por uma parte do público e um dos
motivos foi não ter sido "cordial com a platéia". Uma adolescente, fã
da banda que tocaria na sequência, que estava logo à minha frente durante a
apresentação resumiu o motivo de sua indignação: "entraram e saíram
sem ao menos dar boa noite". <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span face=""tahoma" , sans-serif" style="font-size: 11pt;"><span style="color: #20124d;">- No
último sábado, Maria Rita se apresentou aqui em Ubá, no Festival de Música Ary
Barroso. A</span></span><span style="color: #20124d; font-size: 11pt;">pesar de ter feito uma apresentação memorável, ela foi criticada por
alguns dos que estavam presentes por não ter recebido o público para uma sessão
de fotos e autógrafos. Algumas pessoas chegaram a criticar a organização do
evento por tê-la trazido, isso pelo simples fato de não ter conseguido se
aproximar dela. </span></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span face=""tahoma" , sans-serif" style="font-size: 11pt;"><span style="color: #20124d;">Chegamos
ao ponto: O tratamento seco dado pelo Oswaldo Montenegro ao casal que o
abordou, a falta de interação verbal do MGMT com o público e a recusa de Maria
Rita a receber admiradores em seu camarim, nenhum destes fatos definitivamente
não tornou nenhuma das apresentações menos impactantes pra mim e isso porque o
essencial, ao meu ver, não é, e nunca será, a postura do artista em relação aos
fãs, mas a proposta e a representatividade que sua obra tem para mim. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span face=""tahoma" , sans-serif" style="font-size: 11pt;"><span style="color: #20124d;">Pode
parecer uma afirmação dura, mas artista nenhum tem obrigação de paparicar seu
público. Admiro muito aqueles que relacionam de forma natural com seus fãs e
repudio os que o faz de forma forçada, por mero sentimento de obrigação. Uma
parcela do público aparentemente não consegue compreender isso e para ela bom continua
sendo o artista estrangeiro que arrisca algumas palavras em português no palco,
o que força sorrisos na hora do selfie e o que bajula o público com frases
feitas e falsas afirmações.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span face=""tahoma" , sans-serif" style="font-size: 11pt;"><span style="color: #20124d;">Pode
parecer contraditório eu escrever uma nota com este conteúdo, afinal sou dos
que curte ter o disco original autografado e um dedo de prosa com algum artista
cuja a obra eu admiro ou respeito. Mas, a questão é que é preciso separar as
coisas, não confundir o artista com a obra, pois tal tipo de simbiose na maioria
das vezes não se dá de forma tão harmônica. Quem faz este tipo de confusão
corre o risco de acabar frustrado ao descobrir que um determinado compositor
não é bem aquilo que se pressupunha que ele era divido à uma interpretação
pessoal de suas letras. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span face=""tahoma" , sans-serif" style="font-size: 11pt;"><span style="color: #20124d;">Aqui
cabe uma rápida reflexão sobre o que é apreciação artística e sobre a forma com
que ela se dá. Quando nos colocamos diante de uma obra (seja ela uma música, um
filme ou até mesmo um quadro) estamos diante de pelo menos três verdades que
podem ou não ser divergentes, a primeira delas é a que é idealizada pelo
artista antes e durante o processo de criação, a segunda é a resultante deste
processo, que absolve influências externas, inclusive de outras pessoas
envolvidas com ele. A terceira e última verdade é a de quem se coloca diante da
obra, que é influenciada pela visão de mundo e pela bagagem que cada um traz
consigo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span face=""tahoma" , sans-serif" style="font-size: 11pt;"><span style="color: #20124d;">O que
geralmente ocorre é que uma parte do público confunde a sua verdade com a
verdade do artista e por isso passa a exigir dele posturas e comportamentos que
validem aquilo que até então não passava de meras impressões. Há neste fenômeno
uma negação de todo o processo de criação e de consumo da arte. Desconsidera-se
o poder que a obre tem de impactar por si própria e o dever de provocar este
impacto é delegado ao artista, como se nele se esgotasse todo o processo. Dai
surgem as aberrações criadas pela indústria cultural: os artista cuja obra se
resumem à uma única verdade, previamente fabricada para um público que já está
de antemão apto para decodificá-la e digeri-la sem maior trabalho.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span face=""tahoma" , sans-serif" style="font-size: 11pt;"><span style="color: #20124d;">Felizmente
ainda existem artistas cuja grandiosidade de suas obras transcende suas
próprias posturas, algumas vezes mesquinhas... Oswaldo Montenegro, MGMT e Maria
Rita fazem parte deste grupo! <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="line-height: 13.4pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span face=""tahoma" , sans-serif" style="font-size: 11pt;"><span style="color: #20124d;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="color: blue;">Escrito originalmente em 20 de novembro de 2014</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-53148488742925952892017-07-13T22:24:00.000-03:002017-07-22T18:30:23.953-03:00Vanguart - Beijo Estranho<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC1rcufQk9IOoAfR9rACAfHDKjj0O5x1GpgkbdtGr0dCxye-pojLfZacv8hBEI_AQTEhj8P54VHOGs5v-md4Qi6UMJubdevjRQW8E5laCgyrvhmVrpm3tuGljeI6eYHGcojN_RoNtdZhc/s1600/vanguart+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="750" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC1rcufQk9IOoAfR9rACAfHDKjj0O5x1GpgkbdtGr0dCxye-pojLfZacv8hBEI_AQTEhj8P54VHOGs5v-md4Qi6UMJubdevjRQW8E5laCgyrvhmVrpm3tuGljeI6eYHGcojN_RoNtdZhc/s320/vanguart+1.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<span style="color: #4c1130;"><b>Beijo Estranho</b>, quarto disco de estúdio do <b>Vanguart</b>, tinha lançamento previsto para o dia 28 de abril. O single homônimo já tinha sido lançado no início daquele mês e denotava uma aventura da banda por uma sonoridade diferente da explorada nos trabalhos anteriores. A ansiedade de parte do público já era alta, mas havia o receio de que as expectativas pudessem ser frustradas, uma vez que não seria fácil manter o alto nível dos álbuns anteriores. Horas antes do previsto alguém queimou a largada, o disco foi postado em uma das plataformas de <i>streaming</i>, pouco tempo depois aconteceria o lançamento oficial nas outras plataformas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;">Diante da notícia de que o álbum já tinha caído na rede, experimentei um daqueles raros momentos de realização em que o mundo todo pausa para que possamos fazer algo de extrema importância; eu não teria como descrever aqui a sensação de estar diante de um material inédito de uma das minhas bandas favoritas - Neste exato ponto desta resenha, penso que cabe lembrar que este é um texto pessoal, sem qualquer compromisso com a objetividade ou com qualquer tipo de distanciamento - naquele momento, estranhamente, era como se eu esperasse encontrar no disco não a banda, mas a mim mesmo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;">Os discos <b>Boa Parte de Mim Vai Embora</b> e <b>Muito Mais que o Amor</b> marcaram fases distintas de minha vida e era natural, ao menos pra mim, que eu buscasse no novo álbum um fio que me reconduzisse de volta às experiências e reminiscências destes períodos. Mas, ao invés de um fio que me conduzisse de volta para o passado, encontrei uma porta que se abria para o desconhecido.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-oU0-BCepmw1KHpd-RBUgS5Z8aWnxI_aN5_r4bC_Y-2708Dqq6VMCn-xAYOA9fOvcDaS2vucjcLvCceX3-QEp8Mj_n2Ia1XBCEQNM6ab4QbYX5X2_4zhaygnjbqMAojtPgDRiW6A3ZJc/s1600/vanguart+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-oU0-BCepmw1KHpd-RBUgS5Z8aWnxI_aN5_r4bC_Y-2708Dqq6VMCn-xAYOA9fOvcDaS2vucjcLvCceX3-QEp8Mj_n2Ia1XBCEQNM6ab4QbYX5X2_4zhaygnjbqMAojtPgDRiW6A3ZJc/s320/vanguart+2.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="color: #4c1130;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;">Dei o play no álbum no Spotify, optei por não pular a primeira faixa, a já conhecida faixa título, eu queria sentir o disco em sua totalidade, e sentir era mesmo a palavra mais adequada. <b>Beijo Estranho</b>, tal como seus antecessores, transbordava sentimentos e sensações. Ouvi o disco completo sem avançar nenhuma faixa, tentei absorver cada acorde, cada estrofe, cheguei ao final e voltei ao início, ouvi de novo e voltei outra vez, e outra, e outra... caminhava a madrugada a passos largos e à medida em que ela avançava, mais denso e interessante o disco ficava.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;">Mas, nestas primeiras audições ainda me faltava uma noção da totalidade, o disco ainda me soava fragmentado, como se cada canção transitasse por um universo próprio de questões e de sensações distinto das demais. Entretanto, a cada nova audição as pontas, que eu acreditava estarem soltas, se juntavam uma às outras deixando transparecer algo maior. Ao contrário do que eu cheguei a supor, havia sim uma unidade em <b>Beijo Estranho</b>, algo que o localizava entre a nebulosidade do <b>Boa Parte de Mim Vai Embora</b> e o clima ensolarado de <b>Muito Mais que o Amor</b>. </span><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><b>Beijo Estranho</b>, eu ousaria dizer, é um disco sobre amor e medo; não por acaso, estas </span><span style="color: #4c1130;">são as palavras mais recorrentes nas letras das onze canções que o compõem; ouso dizer ainda que não só há uma unidade entre essas canções, como também há um todo maior que liga o disco aos seus antecessores. </span><b style="color: #4c1130;">Beijo Estranho</b><span style="color: #4c1130;"> é uma espécie de continuidade dos álbuns de 2011 e de 2013, uma vez que a reflexão proposta em cada um está entrelaçada à temática predominante nos outros.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><b>Boa Parte de Mim Vai Embora</b> evocava a dor e o sofrimento advindos do rompimento com uma pessoa amada, enquanto que <b>Muito Mais que o Amor</b> era sobre redescobrir o amor idealizado, romântico em sua essência, aquele capaz de renovar as esperanças e a própria vida. <b>Beijo Estranho</b> ésobre descobrir a si mesmo, é sobre se reconhecer no amor que oferta a alguém. A vivência da auto-descoberta inclui tanto a noção de que o amor pode ser doloroso e abrir feridas profundas quanto o reconhecimento de que é preciso vencer o medo que sufoca e tolhe a experiência do amor real, um medo que paralisa e acomoda. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><br /></span>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFddz9UiMbhHyinSPzQ7-WdqWlQZ6Zmn0ReTw195k35g7YOUO8tkinykRAIbuk9kCBlOtVCcLogsDTWds2mlpowiyuMgiGNn6sgitBqAg8jrEJE2i_u92Rq_qv-je7gHMuFjzNpNPaIXU/s1600/Vanguat+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="1170" height="163" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFddz9UiMbhHyinSPzQ7-WdqWlQZ6Zmn0ReTw195k35g7YOUO8tkinykRAIbuk9kCBlOtVCcLogsDTWds2mlpowiyuMgiGNn6sgitBqAg8jrEJE2i_u92Rq_qv-je7gHMuFjzNpNPaIXU/s400/Vanguat+2.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: blue;">Foto publicada originalmente no site <a href="https://www.agambiarra.com/vanguart-beijo-estranho/" target="_blank">A Gambiarra</a></span></td></tr>
</tbody></table>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;">"Quente é o Medo" não é a minha música favorita, mas talvez seja a mais emblemática do disco (abro um parêntese aqui para defender que ela deveria ter dado nome ao disco), é uma canção que possui certa dubiedade e que, por isso, abre margem para interpretações diversas e principalmente para reflexões sobre - adivinhem - amor e medo. Outras faixas dão sequência à mesma reflexão; "Todas as Cores", que começa em um tom de conselho, fala sobre o aprendizado adquirido por meio dos erros cometidos, um aprendizado que ajuda a vencer o medo de apaixonar de novo. "Quando Eu Cheguei na Cidade" fala sobre a coragem de se reabrir para um amor que já causou muita dor. "Menino" incita a fazer o seu próprio tempo ao invés de esperar o tempo certo, que talvez nem exista.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;">"Casa Vazia", que também diz muito sobre o álbum como um todo, em seus versos lembra que a natureza do amor é determinada mais pelo amante do que pelo objeto deste amor, o que está diretamente ligado à ideia de reencontrar, conhecer e amar a si mesmo antes de oferecer amor a outrem. "Homem Deus" dá ares filosóficos à reflexão; em seus versos, todos (o homem, Deus, a natureza) são um só e o amor é o elemento que confere tal unidade. O amor é o elemento capaz de elevar o homem e colocá-lo em contato com o sublime.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;">Vencido o medo, vem a oportunidade de viver uma entrega plena, capaz de proporcionar a vivência do amor real. Nesta onda de reflexão vêm "Beijo Estranho", que aborda a auto-descoberta de alguém que dedicara a própria vida à outra pessoa e finalmente descobre o quão destrutivo era este relacionamento. "E o Meu Peito Mais Aberto que o Mar da Bahia" fala sobre a entrega irrestrita, exaltando a felicidade e a liberdade que dela decorrem. "Eu Preciso de você", minha favorita do disco, é outra ode à entrega - perfeita a metáfora do trem desgovernado. A derradeira do álbum, álbum, "Pancada Dura", condensa em si toda a reflexão que permeia o disco, ela o fecha falando de coragem e conclui: vale a pena morrer de amar!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;">Musicalmente, apesar da mudança recente na formação, a banda aparenta estar no ápice de seu entrosamento e potencial criativo. Helio Flanders e Reginaldo Lincoln tiraram de suas mangas verdadeiras pérolas, ambos estão cantando como se estivessem com a alma a ponto de sair pela boca. O violino da Fernanda Kostchak nunca esteve tão expressivo, ele geme, grita, chora, sorri e corre solto se destacando mesmo nas faixas em que surge acompanhado por outros instrumentos de corda (em belíssimos arranjos). O baixo do Reginaldo e a guitarra do David Dafré, estão lá, também em perfeito entrosamento, para nos lembrar porque o Vanguart é o Vanguart.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;">Destaco as participações especialíssimas do lendário Wagner Tiso (autor dos arranjos de boa parte dos clássicos do Clube da Esquina), que compôs os arranjos de "Homem-Deus", do Thiago França (Metá Metá), que gravou o Sax e a Flauta na canção "Quando eu Cheguei na Cidade" e do eterno Vang Luiz Lazzaroto, que gravou o órgão em "Menino".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;">Relevem o fato de que nesta resenha a persona fã gritou mais alto que a do jornalista e crítico e anotem o que eu estou dizendo: "Beijo Estranho" figurará em algumas listas dos melhores do ano, mas certamente será um disco que crescerá com o tempo. Ele fará, junto com os seus antecessores, que o Vanguart seja lembrado daqui a alguns anos como uma das melhores e mais originais bandas de nosso tempo. Anotem.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #4c1130;">Dá o play no disco e aciona o repeat!</span><br />
<span style="color: #4c1130;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #4c1130;"><iframe allowtransparency="true" frameborder="0" height="100" src="https://open.spotify.com/embed?uri=spotify:track:5mpSwHJkZ8T49I7ek4AaNC" width="100"></iframe></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #4c1130;"><br /></span></div>
</div>
J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-261763849412837516.post-17794217720456338042017-04-13T12:36:00.000-03:002017-09-16T09:17:03.052-03:00<div style="text-align: justify;">
[Escrito em 13/04/2017] - Por quanto tempo a gente consegue ir acumulando e silenciando sentimentos, dores, angústias. Por quanto tempo conseguimos calar o nosso corpo. Os sapos que engolimos, os desaforos não respondidos, os ataques suportados e as dores aparentemente aplacadas, pra onde vai tudo isso? Seguimos, crentes de que tudo está bem, mas a ferida continua aberta. Fingimos que ela não existe, até que ela reaparece enorme e, assustados, não sabemos lidar com ela. Ansiedade é isso, é o corpo que grita, que pede socorro e clama por reação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Convivi com a ansiedade por muito tempo, até o momento que eu acreditei que ela estava vencida e que não voltaria mais a atingir níveis tão incômodos. Superei ela mudando a perspectiva sobre as coisas à minha volta, com atividades que durante muito tempo eu usei como terapia (o blog, por exemplo), mas nunca cheguei fazer acompanhamento profissional ou qualquer tipo de intervenção medicamentosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aplaquei a ansiedade adotando um ritmo de vida extremamente acelerado: trabalho, ativismos, estudos, leitura, mais trabalho, mais estudos, correria ensandecida. Foi bem enquanto o ritmo foi mantido, ou eu consegui me enganar que estava indo bem. Mesmo nas minhas últimas férias a correria foi mantida. Nesta, eu resolvi diminuir o ritmo, estranhamente foi pior.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Situações que estão fora do meu controle e que têm me causado apreensão e angústia trouxeram novamente à tona a sensação de medo constante, a vontade de chorar sem motivo aparente (mesmo sem qualquer tipo de tristeza), a vontade de fugir e algo que eu não tinha experimentado até então: uma barreira com relacionamentos, erguida pelo medo, por uma estranha expectativa que paira no ar de que em algum momento algo muito ruim irá acontecer, de novo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O medo tem me paralisado e eu não estou sabendo lidar com ele. Fisicamente, reapareceram outros sintomas, com uma intensidade muito maior, as crises de gastrite, as cólicas intestinais, sensação de fadiga, mãos suando o tempo todo, problemas na pele. C'est la vi, companheiros, ela não está fácil, mas a gente vai levando...</div>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/vZU6YYRk_L0/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/vZU6YYRk_L0?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<br />J. BRUNOhttp://www.blogger.com/profile/15976743861075792041noreply@blogger.com1