N° de acessos:

domingo, 14 de agosto de 2022

A cara do bolsonarismo



O bolsonarismo raiz pra mim tem um rosto. Toda vez que eu penso no quão absurdo é a adesão a um programa baseado em morte e destruição, eu lembro deste rosto. O rosto é de uma pessoa com quem eu convivi boa parte da infância e da adolescência. Tão ou quase tão pobre quanto eu, sem talentos e de cognição rarefeita, ele se acreditava parte de uma elite, exaltava uma suposta ascendência europeia e apontava uma família predominantemente negra, que morava na mesma rua, como a “causadora de todos os problemas do bairro”. 

Tentou diversas vezes o concurso da polícia militar, dizia que queria ser PM pra “botar ordem” no bairro e que quando lá estivesse, pintaria uma suástica na roda da viatura e passaria devagarzinho na ronda pelo morro. Ser o terror de seus iguais para se sentir diferenciado, aquele era o seu delírio de grandeza. Apesar das diversas tentativas, nunca chegou nem perto de passar nos concursos que tentou. O limite de idade ou a exigência de nível superior (o que veio antes) serviu para enterrar o seu propósito, felizmente.

Invejava a vida de um outro vizinho, que aparentava ser boa parte daquilo que ele queria pra si e sabia que jamais conseguiria. O nível da inveja aumentou quando o outro vizinho começou a namorar uma menina de quem ele gostava. Defensor da moral e dos bons costumes, era incapaz de viver o básico daquilo que apregoava, assediava mulheres casadas do baixo naqueles chats dos primórdios da internet usando perfis fakes, perdia o controle de si quando bebia, tirava a roupa em público, e no ápice da paranoia, em uma noite de réveillon, jogou o chevette velho que tinha contra contra pessoas que participavam de uma festa na casa de um vizinho; não chegou a ferir ninguém, saiu ileso.

Frustração, baixa capacidade cognitiva, inveja, machismo, racismo, falso moralismo, delírios de grandeza e propensão para condutas violentas foram os ingredientes que o tornaram um bolsonarista antes do bolsonarismo. O bolsonarismo que sempre foi incapaz de criar qualquer coisa, não criou nem a si mesmo, apenas aproveitou algo que já existia, como idelogia não é algo novo, é algo que sempre esteve aí, e este meu ex-vizinho é a prova disso.

Por todo o tempo que eu convivi com este indivíduo, eu sempre percebia todos os traços repulsivos presentes no comportamento dele como um elemento cômico. E era uma espécie de Cérebro (aquele do desenho Pinky e Cérebro), um mero camundongo de laboratório com pretenções de dominar o mundo, e aquilo pra mim parecia ser muito engraçado. Hoje percebo que eu estava errado, não havia nada de engraçado, camundongos de laboratório dominados pelo ódio podem se tornar um problema quando o número deles se torna demasiadamente grande; e foi o que aconteceu.


Imagem ilustrativa encontra AQUI!

Nenhum comentário:

Postar um comentário