O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball) - 2011. Dirigido por Bennett Miller. Escrito por Steven Zaillian, Aaron Sorkin e Stan Chervin, baseado no livro de Michael Lewis. Direção de Fotografia de Wally Pfister. Música Original de Mychael Danna. Produzido por Michael De Luca, Rachael Horovitz e Brad Pitt. Columbia Pictures / EUA.
O Homem que Mudou o Hoje (2011) estreou no Brasil já com um desafio, ele precisava conquistar um público que tem pouca, ou nenhuma, afinidade com o esporte em torno do qual sua trama gira, o baseball. Eu, como a maioria dos brasileiros, tenho pouquíssimo conhecimento acerca do esporte e suas regras, mas surpreendentemente isso não impede que o filme funcione tal como deve. Reconheço que o efeito provocado por ele possa até ser bem maior naqueles que acompanham as ligas e conhecem os jogadores, mas tenho dúvidas se isto seria para o seu resultado final um fator positivo ou negativo, falarei sobre isso adiante. De fato, o filme funciona sem tantas dificuldades porque a essência de sua temática, ao contrário do baseball, não nos é estranha. A verdade é que ele não passa de mais um filme sobre superação, baseado em fatos reais. Por mais que o positivismo deste tipo de produção já esteja manjado, ele ainda não está completamente saturado. O público parece frequentemente buscar obras cujos personagens lhes sirvam de inspiração, como modelos de persistência e perseverança.
O longa de Bennett Miller reza pela mesma cartilha que filmes como À Procura da Felicidade (2006) e Julie e Julia (2009), a fórmula usada é bem simples e praticamente invariável: o personagem central está desacreditado e sem expectativas, até que encontra uma solução para seus problemas, porém tal solução não é levada a serio por todos os amigos e familiares, no entanto eles persistem. Eles até chegam a pensar em desistir em alguns momentos, mas se mantêm firmes até que conseguem realizar os feitos que lhes tornaram notáveis. Geralmente a realização de tais feitos compensa todo o esforço e o desgaste do caminho trilhado até o topo... O Homem que Mudou o Jogo tem um roteiro linear sem tantos complicativos, sua trama é relativamente simples e ele convence facilmente boa parte do público com a ideia de que com persistência todos os sonhos podem ser realizados. É um filme redondinho, com arestas bem aparadas, cuja história é moldada de tal forma que cause mais comoção do que desconforto. Pois é, se trata de mais um filme feito nos moldes para cativar o público e a crítica e assim angariar prêmios...
O filme conta a história, inspirada em fatos reais do ex-jogador de baseball, Billy Beane (Brad Pitt), ele é o administrador do Oakland A´s, time tradicional que no final de 2001 amargava uma série de derrotas e o último lugar na tabela do campeonato nacional, a situação que já não estava boa é ainda agravada pela falta de investimentos, que impede o time de negociar novos jogadores e ainda dificulta a manutenção dos atuais na equipe. Billy tenta fazer algo para mudar a situação, porém a falta de recursos lhe deixa de mãos atadas. Quando já está desacreditado pela equipe e pelos dirigentes, Billy conhece Peter Brand (Jonah Hill), um jovem economista formado em Yale, que garante que o baseball pode ser compreendido através de complexas fórmulas matemáticas, capazes de ajudar na formação das equipes e consequentemente na previsão de resultados. O administrador decide então apostar todas as suas fichas nesta idéia que poderia revolucionar a forma de pensar o esporte.
Billy contrata Peter como seu assistente e adota o modelo de administração proposto por ele. A parceria entre eles começa a causar controvérsias, quando eles fazem a contratação de jogadores problemáticos, porém baratos, que nenhum outro time tinha tido a ousadia de contratar. O pressuposto era de que com a escalação certa tais jogadores poderiam atuar em seus potenciais máximos, compondo assim uma equipe quase perfeita, tudo uma mera questão de números... As medidas que Billy toma, sob o aconselhamento de Peter, não são bem aceitas pelo técnico Art Howe (Philip Seymour Hoffman), que se considera o único responsável pela escalação, tanto ele quanto os dirigentes do time enxergam os novos métodos adotados como loucura. O descrédito e o aparente insucesso de seu novo modelo de gestão quase fazem o administrador desistir, mas ele busca em seu passado como jogador e no amor da filha os fatores de motivação capazes de lhe manter firme em seu propósito...
No início desta resenha, eu disse que aquela parte do público que conhece e tem paixão pelo baseball poderia ter tanto reações positivas quanto negativas ao filme, agora explico: O Homem que Mudou o Jogo desconstrói parte do aspecto lúdico do baseball, resumindo-o a um mero resultado de cálculos matemáticos. A racionalização do esporte, reforçada pelas teorias seguidas por Peter, é sem dúvidas um fator negativo, uma vez que ela contraria a ideia romantizada de que os resultados das partidas seriam definidos, não por questões lógicas, mas pelo talento de alguns poucos jogadores e por suas respectivas performances (ideia esta defendida pelos homens de negócios envolvidos com o esporte). Contudo, a verdade é que boa parte deste público terá sim reações positivas, pois provavelmente eles não farão tal leitura do filme, eles se contentarão em ver de forma superficial a dramatização que envolve um time nacionalmente conhecido (nos Estados Unidos) e seus jogadores.
Para nosotros, leigos no que tange ao baseball e suas regras, a desmistificação do esporte que mencionei acima faz pouca diferença, uma vez que independente dela o filme cumpre aquilo a que se propõe. O Homem que Mudou o Jogo desempenha bem o seu papel, que é tão somente o de ser um filme leve, facilmente digerível e motivador, qualquer conotação que vá além destas será, para mim, superestimação... As atuações do filme, principalmente as do elenco principal, são muito boas, porém sem nada de sobrenatural. Brad Pitt está bem, mas já esteve muito melhor em outros filmes, Jonah Hill também está bem, mas não cativa e pouco chama a atenção e Philip Seymour Hoffman poderia estar bem melhor se seu personagem tivesse maior destaque na trama (ele surpreende apenas pela excelente caracterização, que prova mais uma vez o quanto ele é um ator versátil). O roteiro do filme é bem escrito, o que torna seu desenvolvimento ágil e agradável a qualquer público, porém o excesso de clichês acaba o prejudicando. A minha conclusão, é a de que O Homem que Mudou o Jogo é sim um filme bom, mas sem nada de especial que o torne indispensável. Contudo, vale à pena assisti-lo, principalmente se você estiver buscando qualquer tipo de motivação!
O Homem que Mudou o Jogo está indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Ator (Brad Pitt), Ator Coadjuvante (Jonah Hill), Roteiro Adaptado, Montagem e Mixagem de Som. No Globo de Ouro, o filme foi indicado nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Ator - Drama, Melhor Ator Coadjuvante (Jonah Hill) e Melhor Roteiro.
Confiram aqui no Sublime Irrealidade a resenha de Capote, também dirigido por Bennett Miller.