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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Um Gato em Paris

Um Gato em Paris (Une vie de chat) - 2011. Dirigido por Jean-Loup Felicioli e Alain Gagnol. Escrito por Alain Gagnol e Jacques-Rémy Girerd . Música Original de Serge Besset. Produzido por Jacques-Rémy Girerd. Folimage / França| Suiça | Países Baixos | Bélgica.


Se O Artista (2011) de Michel Hazanavicius é o contraponto perfeito para produções cinematográficas nas quais o avanço da técnica e os efeitos especiais se sobrepõem à trama e ao valor artístico, Um Gato em Paris (2011) de Jean-Loupe e Alain Gagnol, outro filme francês, é então a antítese perfeita das animações digitais produzidas atualmente por estúdios como Pixar e Dreanworks. O filme, feito praticamente sem computação gráfica, se vale do tradicional uso de telas e lápis coloridos e o resultado é surpreendentemente belo. Tanto O Artista, quanto Um Gato em Paris, nos fazem lembrar que tecnologias tidas como obsoletas podem ainda gerar obras geniais e inovadoras. Eles nos lembram ainda que a fantasia e a mágica das imagens em movimentos nem sempre estarão atreladas à espetacularização proporcionada pela tecnologia e que nada pode substituir o prazer de assistir uma história simples, cativante e cheia de poesia visual.

Um Gato em Paris não é do tipo de animação “recomendável á todas as idades”, não que ele possua temática ou linguagem adulta ou conteúdo desapropriado, mas por causa de seu estilo não tão convencional, que nos parece tão estranho à primeira vista. Tal sensação de estranhamento pode ser ainda maior nas crianças, dificultando assim a apreciação e compreensão da história e dos personagens. A trama do filme, é  até bem simples, porém cheia de pequenas nuances, ela pode ser apontada como uma espécie de realismo fantástico, pois apesar de fantasiosa, a história aborda temáticas bem reais. O longa ainda se difere de outros filmes do gênero por não humanizar a personalidade do felino ao qual o título se refere. Dino, o gato protagonista, apesar de demonstrar uma inteligência atípica, não anda sobre duas patas e tão pouco fala. Os personagens humanos, ao mesmo tempo que vivem dilemas e situações típicas da vida adulta, se comportam na maioria das vezes como meninos. Esta caracterização não tão bem definida entre adultos e crianças é uma das principais características do filme, ela influencia diretamente na forma com que nós espectadores o decodificamos.



Zoé, a dona de Dino, é uma garotinha que deixou de falar desde que o pai, um policial, foi morto por um bandido cruel. Ela mora com sua mãe, Jeanne (voz de Dominique Blanc), uma atarefada delegada de polícia, que tem pouquíssimo tempo para dar a atenção que a filha precisa. Zoé fica aos cuidados de uma babá de caráter duvidoso, porém passa a maior parte do tempo sozinha, não é atoa que o gato Dino é melhor amigo dela, ambos não falam e apesar disso conseguem se compreender, naquilo que parece ser um pacto de silêncio mútuo. Todos os dias à noite o bichano sai para longos passeios pelas ruas de Paris, sua dona não sabe para onde ele vai, tão pouco com quem ele vai… Ele acompanha Nico (voz de Bruno Salomone), um ladrão de jóias, em aventuras noturnas pelos telhados de casas e prédios da cidade luz. Quase que por acaso, Zoe, Dino e Nico, acabam cruzando o caminho do mafioso Victor Costa (voz de Jean Benguigui), o bandido que matou o pai da garota.



Como eu disse, em Um Gato em Paris mesmo os personagens adultos se comportam como crianças quando expostos à determinadas situações, isto pode ser percebido no viés cômico do vilão Victor Costa (apesar de ele ser um personagem malvado), no medo que ele provoca na mãe de Zoé (ela o imagina como uma espécie de “bicho Papão”, um monstro com tentáculos com quem ela tem pesadelos) e até na aparente falta de motivos que pudessem levar Nico a se tornar um ladrão, afinal ele não é um personagem ruim, ele age como um garoto que não tem consciência de que o que está fazendo é errado... Toda a história parece ser contada partindo da perspectiva de uma criança; para os pequenos o que torna um personagem ruim não é o fato de ele transgredir uma lei e sim algum ato de crueldade que ele possa ter cometido, ou vir a cometer contra alguns dos personagens bons, isso explica as conotações de caráter distintas com que Victor e Nico, mesmo sendo ambos ladrões, adquirem no filme.


Esta visão quase infantil de uma trama que não é tão infantil assim (se é que me entendem) é o que torna o filme especial. Ele de fato não parece ter sido feito para crianças pequenas e sim para adultos e para aquelas mais crescidinhas, que poderiam compreender e digerir bem uma trama que aborda temas sérios e controversos como assassinatos, perda de um ente querido, banditismo, vinganças e traumas. O mais interessante é que Um Gato em Paris é capaz de transportar a nós adultos à uma espécie de idealização da infância perdida, um lugar onde a nossa maturidade se confronta com a criança que fomos um dia, um lugar de sonhos e fantasias, onde a vida e as pessoas são mais simples. Nesta viagem algo de belo e poético acontece, sutilmente somos confrontados acerca de nossos julgamentos, de nossa ética e de nossa tão presumida maturidade. Por que nós espectadores nos flagramos torcendo em favor de um dos ladrões (a quem nos afeiçoamos durante a história) e contra o outro (a quem repudiamos desde a primeira vez que aparece), sendo que são ambos criminosos? 


Cada fotograma de Um Gato em Paris parece explodir em uma porção de cores, que se harmonizam entre si apesar das tonalidades fortes, criando assim quadros belíssimos. Ao assisti-lo preste atenção na sutileza dos movimentos dos personagens, nos detalhes do cenário e na forma com que o jogo entre sombra e luz é construído, fazendo com que cada ambiente pareça estár sendo iluminado à luz de velas. A trilha sonora do filme também é linda, ela ajuda a nos transportar para uma realidade bela, surpreendente e de uma belíssima poética, onde o nosso eu menino, embotado de emoções diversas, afronta a sabedoria do adulto que nos tornamos. Esta maravilhosa animação de Jean-Loupe e Alain Gagnol é a única capaz de subverter, com mérito real, o favoritismo de Rango (2011), que considero ótimo por outros aspectos, ao Oscar de Melhor Longa de Animação. Ultra Recomendado!


Um Gato em Paris está indicado ao Oscar na categoria de Melhor Longa de Animação. 

Assistam ao trailer de   Um Gato em Paris   no You Tube, clique AQUI !


29 comentários:

  1. Ahhh... deve ser otimo este filme, vou anotar e ver se alugo fim de semana pra assistir, adoro filmes assim e se tem gato no meio, então me apaixono pelo filme, estou doida pra ver o gato de botas, mais tá dificil viu, as locadoras aqui são ruim no negocio, uns dizem que ainda não saiu, outros dizem que sim, minha irmã disse que já viu em DVD e eu aqui, doida pra assistir!!
    Como sempre com otimas resenhas... Gostei!! Bjs

    http://www.artesdosanjos.com.br/

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    1. Obrigado jane,
      "Um Gato em paris" é um filme belíssimo do tipo que nos impressiona com sua beleza e com sua história, que parece ser simples, mas não é... Como eu disse no texto ele é quase uma poesia visual e, sendo assim, bem diferente do modelo de animações americano ao qual já estamos acostumados...

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  2. Oi Bruno,


    Palavras já ditas, mas crítica fenomenal.

    Quanto ao filme, não sou muito chegada a filmes com gatos, tenho um medo de infância de um filme que não me lembro o nome agora, mas apresentava um gato maquiavélico.

    Todavia, gostei da mensagem do filme, do olhar da criança para situações que o adulto poderia nominar como situação do cotidiano, mas sendo cruel. Penso que seja interessante a discussão sobre caráter e permita uma revisão de comportamentos.

    Valeu a indicação!

    Beijos.
    Lu

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    1. Olá Luciana,

      O bichano do filme não é cruel nem assustador, pode assisti-lo sem medo. Acho que o filme pode até ser uma boa forma de fazer as pazes com os felinos...

      Beijos!

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  3. tem um filme de animação, Mary & Max, que é demais também! É um filme com conteúdo mais adulto e ele tem uma genialidade e sensibilidade do seu diretor que é de deixar qualquer um de boca aberta.

    Retrata todo o aspecto de solidão e não compreendimento do mundo. Ou melhor, compreendimento com a visão de cada personagem.

    Sério mesmo, foi um dos melhores filmes que eu vi ano passado. Acho que é animação em massinha de modelar.

    Esse teu post me lembrou desse filme.

    Abss!

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    1. Jim, cara eu sou curioso demais para ver "Mary & Max", acho que ainda não o fiz por causa da falta de tempo, quando eu o fizer irei lembrar se sua dica e de seu elogio a ele.

      Abraços camarada!

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    1. Ainda não assisti "Chico & Rita", mas até agora creio que "Um Gato em Paris" seja o único pálio á altura de "Rango", o favorito ao prêmio...

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  5. Olá Brunão tudo bem aí?

    Rapaz, muito boa a sua crítica, parabens mais uma vez!
    Pelas imagens que você colocou no texto dá pra ver que é uma animação fora dos padroes comuns, parece bem legal! Vou assistir assim que tiver oportunidade!

    Beleza!

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    1. Assista sim André e depois me conte o que você achou...

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  6. Nossa , amei. Adoro animações assim e adorei essa sua dica, esse eu vou ver, depois eu digo o que achei. :D

    Obg pela sua visitinha...será sempre uma honra ter você por lá, acredite ! www.spiderwebs.tk

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    1. Assista sim Sabrina, é um filme lindo, que com certeza irá lhe conquistar pela sua beleza e poética estonteantes!

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  7. José bruninho do meu coração, por onde andei que não fiquei sabendo dessa animação? Nossa, aqui em casa sempre ficamos "inteirados" de todas as animações que saem, afinal o marido curte muito. É a praia dele e por isso aprendi a gostar ainda mais.

    Dica super anotada!

    bjinhosssssss

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    1. Assista Joicy, já estou curioso para saber seu ponto de vista sobre ele!

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  8. Que bom que vc gostou do filme, tenho esse a algum tempo, mas ainda não vi, quero ver antes do Oscar. Abs!

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    1. Ele é belíssimo Celo, porém com atrativos bem diferentes daqueles oferecidos pelas animações americanas... Recomendo e quero ver sua crítica dele!

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  9. Infelizmente, este filme não chegou à minha provinciana São Luís do Maranhão... Desde "Bicicletas de Belleville" que sou fascinado pela animação vinda da França! Bela análise, atiçou ainda mais minha curiosidade! Falo de "O Artista" no meu blogue: apareça! Abraço!

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    1. Dilberto, você já o encontra na net para download com excelente qualidade!

      Já passei pelo teu blog e estou lhe seguindo!

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  10. Será que ganha? Olha fiquei curioso! A sua crítica foi a primeira que me deu informações extras. Os franceses estão que tão este ano!

    Ainda sou adorador da animação tradicional (até mesmo do estilo Disney) e pelos traços que pude observar, deve ser realmente muito interessante. Tudo que ousa é atraente e chama a atenção. Recentemente um filme me fez sentir assim: "Mary e Max- Uma Amizade Diferente", excelente e até outro exemplar como aventou o Dilberto, que inclusive deu vontade de rever: " As Bicicletas de Belleville".

    Curioso por este!

    Ótimo texto Bruno!

    Abs.

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    1. "Mary e Max- Uma Amizade Diferente" e "As Bicicletas de Belleville" são dois que já tem um bom tempo que quero ver. Acho que "Um Gato em Paris" não vai ganhar o Oscar, mas se ele ganhasse não seria nem um pouco de injustiça, afinal ele é excelente é está à altura de "Rango", ainda que sejam filmes bem diferentes...

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  11. Na maioria das vezes que venho aqui sempre encontro algum filme de que nunca ouvi falar... Eu adoro isso! rs
    Fiquei curiosa com esse. Eu tenho que assistir. Ainda mais se a trilha sonora é boa!

    Desculpa o sumiço, mas é que minha net estava péssima!
    BjO

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    1. Problemas com a Net? eu sei bem o que é isso Blake, não se preocupe...

      Assista o filme sim, depois volte aqui para me dizer se você gostou ou não dele, mas estou certo de que ele irá lhe conquistar!

      Beijos

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  12. Acabei de assistir o filme do Almodôvar A pele que Habito.

    Porra, muito doido! Se não tivesse o Bandeiras nem fosse do Almodovar, eu diria que era cult e b-side film.

    Realmente é como tu cita no teu post do filme, bate de frente com vários dogmas. Até me enojei daquela gata depois que eu soube que era um cara hehehehe. Foda isso, mas são os pré-conceitos que carregamos com a gente.

    Eu vi e imaginei que pudesse ser de algum livro, é muito caricato. Lendo aqui vi que é de um escritor francês.

    Sou fã desse tipo de filme e conteúdo. De uns dias pra cá estou captando que gosto mais de filmes b-side (cult) e não trash. hehe

    Abss!

    Agora quero assistir o iraniano A Separação.

    Abss!

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    1. o Almodóvar sempre me surpreende Jim e com "A Pele que Habito" não foi diferente, fico feliz que você tenha gostado e que minha resenha tenha atiçado de alguma forma a sua curiosidade acerca do filme... Quando assistir "A Separação" volte aqui e me diga o que achou...

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  13. Acho engraçado quando as pessoas veem animações como infantis... Este é um belo exemplo de um filme a ser apreciado melhor pelos mais velhos.... Me fez pensar nas Bicicletas de Belleville.

    ;D

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    1. Karla, eu estou curioso demais para ver "Bicicletas de Belleville", você não é a primeira que me diz que "Um Gato em Paris" lhe fez lembrar dele... Vou tentar vê-lo em breve...

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  14. Opa, assisti essa animação logo quando lançou, bem antes de ser indicada ao Oscar. Por isso, me surpreendi com sua indicação - aliás, ela foi, antes ainda, para o Prêmio Lumi7. Achei graficamente impecável, mas com um roteiro frágil e sem novidade alguma. Ainda sim, acho válido trazer ao gênero uma novidade como essas. Mas, não, não chega aos PÉS de Rango. hahaha
    Quando ao fato de ser indicado para crianças ou não, nem levo isso a sério. Passei para minha sobrinha Coraline e A Viagem de Chihiro - entre outros com temática adulta - e ela simplesmente amou, tendo apenas três anos! Aliás, ainda acho que é muito melhor passar animações fora do 3D - que é uma tecnologia que amo, só pra constar - quando as crianças estão ainda pequenas, pois não tem preferencia alguma e para elas, é tudo muito mágico. Desta forma, você educa ela, cinematograficamente, de outra maneira ;)

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    1. Olá Julio,
      Como disse na resenha, eu cheio o roteiro simples, porém cheio de pequenas nuances, que o tornam "maior", apontei ele como sendo uma animação voltada para o público adulto pois não é um tipo de animação ao qual nossas crianças estão acostumadas, o que pode gerar algum desconforto, o que não acontece com as animações japonesas... e as nuances do roteiro, que mencionei, poderão ser apreciadas muito mais pelos adultos do que pelas crianças...

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  15. simplesmente amo este filme.
    Não somente pela explosão de cores e fenomenal tecnologia e sim,pelo FELINO!
    :)
    beijos.

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