Mildred Pierce - 2011. Dirigida por Todd Haynes. Roteiro de Todd Haynes, Jon Raymond & Jonathan Raymond, baseado em uma novela de James M. Cain. Direção de Fotografia de Edward Lachman. Música de Carter Burwell. Produzido por Jessica Levin. HBO / EUA.
Precisamente no dia 24 de outubro de 1929, na data que ficaria conhecida como “quinta-feira negra”, a bolsa de valores de Nova Iorque teve aquela que seria a mais drástica queda da história, empresas faliram e muito acionistas perderam suas fortunas literalmente da noite para o dia. Mas este que pode parecer um fato isolado na verdade não o foi, a recessão da economia já tinha começado algum tempo antes. O crack da bolsa foi apenas o estopim e a confirmação de que tempos difíceis tinham chegado. No período que se seguiu, que duraria até o final da década de 30, muita empresas fecharam as portas, o desemprego chegou a níveis inimagináveis e a inflação ficou totalmente descontrolada. Muitos pais de família se sucumbiram diante do desespero, a depressão exibia seus reflexos não só na economia, a taxa de suicídio cresceria de forma tão assustadora quanto o índice de desemprego.
Precisamente no dia 24 de outubro de 1929, na data que ficaria conhecida como “quinta-feira negra”, a bolsa de valores de Nova Iorque teve aquela que seria a mais drástica queda da história, empresas faliram e muito acionistas perderam suas fortunas literalmente da noite para o dia. Mas este que pode parecer um fato isolado na verdade não o foi, a recessão da economia já tinha começado algum tempo antes. O crack da bolsa foi apenas o estopim e a confirmação de que tempos difíceis tinham chegado. No período que se seguiu, que duraria até o final da década de 30, muita empresas fecharam as portas, o desemprego chegou a níveis inimagináveis e a inflação ficou totalmente descontrolada. Muitos pais de família se sucumbiram diante do desespero, a depressão exibia seus reflexos não só na economia, a taxa de suicídio cresceria de forma tão assustadora quanto o índice de desemprego.
É neste contexto conturbado de instabilidade política e econômica que a minissérie Mildred Pierce (2011), exibida pela HBO, se passa. A produção é a segunda adaptação do livro homônimo de James M. Cain, publicado em 1941, a primeira foi com o filme Alma em Suplício (1945), que renderia o Oscar de Melhor Atriz para Joan Crawford, que interpretou o papel principal. Cada uma das adaptações sofreu a inevitável influência do período em que foram realizadas. No filme a personagem Mildred ganha ares de Femme Fatale, o que transforma o longa em um quase Noir, gênero em voga na época. A série ganhou outros rumos, se aproximando mais do texto original, ao invés de explorar o mistério de um assassinato, a produção de 5 capítulos prefere dar ênfase aos relacionamentos (assistam antes de afirmar que eu só presto atenção neste aspecto) e aos problemas familiares vividos pela personagem principal.
Mildred Pierce (Kate Winslet) é uma mulher, que em plena crise da depressão descobre uma infidelidade do marido e o expulsa de casa. Hoje em dia, em tempos de crise da família como instituição, tal fato pode parecer banal, mas naquela época definitivamente não era, Mildred precisaria enfrentar o preconceito com que a sociedade olhava para um mulher separada e fazer o impossível para manter a casa e criar as duas filhas que ainda estavam pequenas. Na ocasião mulher e mercado de trabalho eram coisas completamente antagônicas, mulher direita não trabalhava, no entanto Mildred não vê outra saída a não ser deixar seu exacerbado orgulho de lado e aceitar um sub-emprego como garçonete. Dentro de pouco tempo ela, com uma perspicaz visão empreendedora, consegue abrir o próprio negócio, contando para isso com a ajuda de amigos e até do ex-marido. Seu restaurante especializado em frango consegue a proeza de prosperar mesmo em situações tão adversas. Até este ponto a história pode parecer mais uma daquelas que quase ingênuamente tentam reforçar o ideal do sonho americano que diz que tudo é possível (tem muita gente acreditando nisso ainda hoje), porém o grande mérito da minissérie é não se deixar cair neste lugar comum.
O roteiro ainda escapa de outro clichê, o de transformar Mildred em um ícone do feminismo; não se pode dizer que ela permaneça submissa aos homens mesmo depois da separação, mas seu sucesso no mundo dos negócios se deve em boa parte à “ajuda” de homens que estão à sua volta. Por outro lado a submissão se torna perceptível é no relacionamento de Mildred com a filha mais velha, Veda (Evan Rachel Wood - na fase adulta), que de fato é a maior tônica da trama. Em algumas passagens cheguei a sentir muita raiva de Veda, mas cada uma de suas atitudes e reações são compreensíveis, tendo em vista o contexto da época e a situação que a família vivia. A minissérie ganha crédito também ao não transformar os personagens simplesmente em mocinhos ou vilões, cada um deles, até mesmo Mildred, estarão sujeitos no decorrer da trama à deslizes morais e éticos, que provocarão diversas reviravoltas na história e mostrarão o lado humano de cada um deles.
Kate Winslet, Evan Rachel Wood, Melissa Leo (amiga de Mildred na série), Guy Pierce (que interpreta o segundo marido de Mildred) e todo o elenco secundário estão fantásticos em seus respectivos papéis. Porém Kate é quem dá o show, ela já tinha provado em Foi Apenas um Sonho (2008, filme em que repetiu a dobradinha com Leonardo Di Caprio) o seu talento para papéis dramáticos e complexos, este foi apenas a confirmação de que ela é uma das melhores atrizes da atualidade, sua atuação é na minha opinião a melhor coisa da minissérie e olha que cada um dos outros aspectos em momento nenhum deixam a desejar. A fotografia é excelente, conseguindo dar um ar melancólico à ensolarada Califórnia, e os cenários, figurinos e direção de arte também são impecáveis. Mildred Pierce chega a parecer um drama familiar, ao acompanhar alguns anos da vida da personagem, nós como expectadores testemunhamos cada um dos problemas que ela vive, que vão se desenvolvendo até serem substituídos por outros e estes por outros, a história é marcada por pequenos dramas, por uma tragédia e por vitórias que se enlaçam às demais situações formando um belo simulacro, que mais perece um perfeito retrato da vida real.
Em alguns momentos o ritmo da trama pode parecer lento e introspectivo, isto porque o olhar está mais voltado para dentro dos personagens que para a ambientação à suas voltas. A falta de velocidade pode desagradar os mais “hollywoodianos”, mas quem se dispor a assistir a minissérie buscando outros atrativos que não a rapidez do espetáculo, irá sem sombra de dúvidas se deliciar. Mildred Pierce foi um presente para quem não tem mais nenhum atrativo pelos sitcons e melodramas sem originalidade produzidos pela TV aberta (vide nova leva de séries da Globo). É bem possível que o material seja lançado em breve em DVD e/ou Blue Ray, fiquem atentos pois o investimento valerá a pena! Recomendo!
Assistam o trailer da minissérie Mildred Pierce no You Tube, clique AQUI !
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Tem selo para você no meu blog.Espero que goste...
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