O Sobrenatural Como Metáfora na Abordagem de Temores Reais
Tirando algumas raras exceções, a produção atual de terror, principalmente aquela focada em questões sobrenaturais, não me agrada, foi por isso que comecei assistir a série American Horror Story, sem esperar que iria conseguir chegar ao final da primeira temporada. A série não é nem de longe uma das melhores que assisti nos últimos tempos, mas ela me surpreendeu, principalmente pela sua abordagem, que apesar de passar por diversos clichês do gênero, ainda consegue ter um diferencial, algo que a coloca em um patamar acima daquele onde estão outras produções do estilo feitas para o cinema ou para a TV. Concebida pelos mesmos criadores de Glee (Ryan Murphy e Brad Falchuck), American Horror Story tem no centro da trama uma família nuclear lutando para viver o sonho americano, eles se mudam para uma nova casa, em um outro estado, para tentar recomeçar do zero, deixando para trás alguns traumas recém vividos.
O psiquiatra Ben (Dylan McDermott) e sua esposa Vivien (Connie Britton) se mudam com a filha adolescente Violet (Taissa Farmiga) de Boston para Los Angeles, a intenção deles é superar o trauma recente provocado por um aborto espontâneo sofrido por Vivien e também tentar salvar o casamento de uma crise agravada pelas infidelidades de Ben. Eles compram, por uma bagatela, uma grande mansão construída por um cirurgião no início do século passado. A casa, edificada em estilo gótico, esconde segredos horripilantes, que vão sendo revelados pouco a pouco durante os episódios. No tocante ao aspecto sobrenatural, a trama chega a lembrar algumas das mais bem-sucedidas produções cinematográficas do gênero, como O Sexto Sentido (1999) e Os Outros (2001), são claras também as referências à clássicos como O Iluminado (1980) e O Bebê de Rosemary (1968). No entanto não é o sobrenatural que torna a série digna de ser conferida...
American Horror Story assusta, não por falar de mortos ou assombrações, mas sim por abordar medos reais, tão verdadeiros que são capazes de nos chocar e nos levar à reflexão ao final de cada episódio. A série nos coloca diante de nossos próprios fantasmas, dentre eles os medos de enlouquecer, de sermos traídos e enganados, de estarmos sozinhos e desamparados, de perdermos o controle, de termos a segurança de nosso lar e de nossa vida familiar violadas e de estarmos à mercê do desconhecido... É neste ponto que compreendemos o quanto a obra faz jus ao seu título; tais medos têm cada vez mais se enraizado no consciente coletivo do povo americano nos últimos anos, estes temores se tornam ainda mais assustadores à medida que percebe-se que o “sonho” é só uma idealização e que a crise econômica, a ameaça terrorista e a decadência das instituições (temores que também são explorados pela série) são bem mais reais e palpáveis que ele.
Na trama os personagens se deixam ser levados e atormentados pelas situações bizarras, que acontecem na casa e em volta dela, principalmente porque não conseguem mais se comunicarem entre si. A filha adolescente prefere o risco de flertar com o surreal do que encarar o bulling, do qual é vítima na escola. O pai não consegue vencer seus impulsos e com isso coloca em risco a estabilidade e a segurança física e psicológica de sua família e a mãe está temerosa e machucada demais para perceber que a mesma ruína que se abateu sobre ela está destruindo também a vida do esposo e da filha... As dores e os medos que experimentam os distanciam ainda mais e se eles não mais capazes de se compreenderem, outros o serão, é então que entram em cena a estranha vizinha Constance (Jessica Lange), sua filha portadora de síndrome de down, Addie (Jamie Brewer), a governanta Moira (interpretada ora por Frances Conroy, ora por Alexandra Breckenridge), o ex-proprietário da casa Larry (Denis O'Hare) e o jovem psicótico Tate (Evan Peters).
É perceptível também o forte toque de ironia que permeia cada um dos episódios e principalmente o desfecho dado à história (ao que tudo indica a próxima temporada trará novos personagens e uma nova trama). A acidez, que também pode ser notada na trama de Glee, aqui toma proporções ainda maiores por extrapolar questões tipicamente adolescentes e entrar em outras mais complexas e contundentes. American Horror Story funciona ao mesmo tempo como uma metáfora e como uma sátira de uma sociedade que presencia a agonia de suas instituições mais tradicionais, dentre elas a família, sem conseguir se autoanalisar e rever suas prioridades para assim revertera a situação. De formas diferentes, porém similares, os personagens se ajustam, ao invés de lutar contra, os "fantasmas" que rondam a casa. Uma total indiferença a tudo, baseada no conformismo insurge como a forma mais cômoda de apenas tocar a vida, ou o que sobrou dela...
American Horror Story é tecnicamente irrepreensível, a direção de arte é bela e denota o cuidado que se teve com as locações e com as reconstruções de época, tal zelo é perceptível também nas peças publicitárias (vide cartaz acima) e na excelente abertura que novamente reverencia clássicos do horror. A fotografia e os movimentos de câmera ajudam a atenuar o clima opressivo que se mantém em todos os episódios. A trilha sonora é outro aspecto positivo da série, uma pena que as belíssimas canções, que geralmente são usadas no prólogo de cada episódio, não estão presentes também em outros momentos da trama. O desenvolvimento e o ritmo também são bons, nenhum dos episódios chega a ser cansativo e o suspense nos mantém presos à série até o final da temporada (final que ao meu ver poderia ter sido bem melhor). A série se torna ainda mais interessante ao subverter alguns clichês associados às noções de politicamente correto e isso, associado às metáforas implícitas em sua trama, a salva de cair no lugar comum, no limbo das produções do gênero...
American Horror Story não tem nada de tão excepcional ou inovador mas vale a pena ser vista com um olhar crítico e atento. Ao assisti-la desconsidere o sangue, as mortes violentas e a as aparições e preste atenção naquele que é o seu verdadeiro foco: a família nuclear... Recomendo!
American Horror Story não tem nada de tão excepcional ou inovador mas vale a pena ser vista com um olhar crítico e atento. Ao assisti-la desconsidere o sangue, as mortes violentas e a as aparições e preste atenção naquele que é o seu verdadeiro foco: a família nuclear... Recomendo!
American Horror Story está indicada ao Globo de Ouro 2012 nas categorias de Melhor Série - Drama e Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Minissérie ou Telefilme (Jessica Lange).
Eu sigo essa série, adoro.
ResponderExcluirQd lançaram eu pensei que ia ser lago assustador, mas depois vi que no quesito terror de molhar as " calcinhas de medo" ela não se encaixava, talvez pq eu seja uma aficionada por terror trincante suspense,mas concordo em gênero e grau em tudo o que vc disse elogiando a série, ela no prende com coisas além do mero quesito sangue e pavor, é uma série inteligente e doce.
Adorei sua postagem e seus comentários relativos a essa série.
Beijos
Vivi
Razão e Resenhas
Que bom que você fez uma postagem sobre AHS! Minhas impressões iniciais foram preconceituosas mas depois eu desencanei.Não é uma série que assusta por causa do sobrenatural,assusta pelo que as pessoas são capazes de fazer! Mais uma vez uma análise concisa! Amo o seu estilo Bruno! Beijocas!
ResponderExcluirViviane, acho que este é realmente o diferencial da série, confesso que em nenhum momento eu levei susto com sua trama, o tipo de medo que ela provoca é outro... Concordo com você, "American Horror Story" realmente inteligente e doce... Fico muito feliz que você tenha gostado do post...
ResponderExcluirAna Corolina, achei só eu tinha tido uma visão preconceituosa dela à princípio, acho que gostei ainda mais dela por ela ter desfeito esta minha opinião pré-concebida...
Vamos esperar a segunda temporada e ver se o nível será, ao menos, mantido... expectativa
Nossa, a sua criticidade foi pontual. Adorei o que escreveu e confesso que muitas coisas eu ainda não havia percebido na série.
ResponderExcluirOi J. Bruno, só faltava esse empurrãozinho para me render à série, a Joicy já falou dela e já tinha ficado interessada, com seu excelente texto então...Adorei o post mais uma vez. Beijo!
ResponderExcluirVi algumas matérias mas não assisti nada da série, nunca tive medo de filmes de terror, mas depois que assisti atividade paranormal fiquei meio cagão.então to evitando.
ResponderExcluirValeu a visita lá no blog !
Abraço
Anna é natural que cada um de nós percebamos aspectos diferenciados e é isso que torna a obra ainda mais legal, principalmente por ela permitir várias interpretações e vários olhares...
ResponderExcluirCarol, pode se render à ela sem medo (desculpe o trocadilho), American Horror Story é muito boa sim, eu também fui motivado pelo incentivo da Joicy e reconheço que mais uma vez ela tinha toda a razão!
Victor, a série explora um tipo de terror bem diferente daquele explorado por "Atividade Paranormal", assista o episódio piloto e tire suas conclusões... Coragem rapaz!
Muito boa a serie, vi todos os episodios e espero que a nova temporada chegue bem rapido!! Estou assistndo True Blood que é sensacional tbm. Bjs
ResponderExcluirhttp://www.artesdosanjos.com.br/
Seja bem vinda Jane!
ResponderExcluirTambém estou ansioso para conferir a nova temporada, como sua novo história e os novos personagens, como já disse estou torcendo para que o nível de qualidade seja mantido...
Pois é True Blood é outra série que tenho muita vontade de conferir, mas ainda não tive oportunidade pela correria e pela falta de tempo, a gente acaba tendo que fazer escolhas, mas pretendo assisti-la assim que der, valeu pela dica! Bjss
Olá Bruno tudo beleza?
ResponderExcluirRapaz, pelo modo que você descreveu essa série deve ser muito boa mesmo!
Eu que não sou muito chegadp a séries vou até procurar pra ver. Valeu pela indicação e obrigado pelo comentário lá no meu blog!
Um abração!
J. Bruno,
ResponderExcluirtudo bem?
Garoto! Achei interessantíssima esta série, tem todos elementos que curto, suspense, trama..., e por incrível que pareça, não a conheço, acredita? Mas só as referências a "Iluminado", e "Sexto sentido" já bastariam, além de "o Bebê de Rosemary", a fora isso, teu texto é excelente! Parabéns!
Dei uma paradinha no meu trabalho, nunca comento pela tarde, sempre à noite ou madrugada, mas gosto muito do teu espaço virtual, mas como sou autônoma e não estou de férias, (nem vou tirar), tenho tido tempo apenas para retribuir comentários e não ir espontaneamente, como gosto também. Mas toda vez que você aparecer por lá, é certo que estarei aqui, tá bom?
Grande abraço!
A Jessica Lange no elenco já vale a série... Vou assisti-la...
ResponderExcluirO Falcão Maltês
O primeiro episódio foi demais para mim... kkkkkk
ResponderExcluirNada contra o gênero terror, mas quando tem espíritos na parada, eu tiro o meu da reta! rs
Mas para quem curte, a série é realmente super recomendada!
BjO
Oi, Bruno!
ResponderExcluirEu não assisti a série ainda. Tenho dificuldade para acompanhar episódios semanais, tanto pela correria do dia a dia como por esquecimento (muitas vezes esqueço mesmo de assistir um 'capítulo seguinte' e acabo me perdendo; foi assim com Lost). Me prendo atualmente a The Walking Dead e estou em dia com ela, e American Horror Story, mas dessa segunda apenas baixei os episódios e ainda não os assisti (farei no final de semana).
Não tenho como falar sobre a série, mas as chamadas no canal já mostram algo intrigante, promessa de conteúdo que instiga e prende (por isso me interessei de baixar). Acho que para fãs de suspense e boas histórias é um prato cheio.
Até!
American Horror Story é incrivel, e a forma que descreves a série a torna ainda mais atrativa e interessante, não consigo parar nesse texto, vou ter que ler outros *-* Parabéns, blog marcante, conte com mais visitas ~
ResponderExcluirRaehliHage
Olá Amigo!
ResponderExcluirPrimeiramente, muito obrigado pelos elogios feitos em meu espaço!
Muito bem expressado a ideia de seu blog. E seus textos também são muito bons. Eles transmitem sinceridade, opinião, e clareza.
Gostei também da dica! Vou assistir!
Abraços e boa semana!
valeu por passar no meu blog, retrebuindo A VISITA, gostei do seu blog tambem
ResponderExcluirhttp://quatrox4.blogspot.com/
To meio dividido em relação a essa serie. Alguns falam bem, outros não, mas como tenho andado com bastante tempo para conferir o que quiser. Talvez de uma chance a essa. Abs!
ResponderExcluirhttp://espectadorvoraz.blogspot.com/
André, comece assistindo aos poucos e deixe que ela vá te conquistando, deia mais uma chance às séries, tem muita coisa boa que você estar perdendo...
ResponderExcluirCecília, eu lhe entendo separar um momento para passear com tranquilidade pela blogosfera é realmente complicado, estou aproveitando estes dias por estar de férias... Quanto a série, ela não chega nem perto da grandiosidade dos filmes citados, mas vale a pena sim, lhe recomendo!
Antonio, a Jessica Lange interpreta um dos personagens mais marcantes da série, ela está muito bem e mereceu mesmo os prêmios a que foi indicada...
Blake, deia mais uma chance à ela, eu também não sou fã da temática, mas o que torna a série legal não sãos os espíritos e sim o que existe de "real" nela...
Barbara, eu também tenho dificuldade de acompanhar com datas determinadas, gosto de assistir apenas quando realmente dá vontade, por isso eu dificilmente assisto pela TV... Assista A.H.S. e me conte depois o que achou...
RaehliHage, seja bem vindo! Poxa, obrigado pelos elogios, vai ser um prazer recebê-lo sempre por aqui... Forte abraço!!!
F.H.Canata, seja sempre bem vindo por aqui, que bom gostou! Abraços pra ti também!
Robson Silva, que bom que você gostou, seja bem vindo sempre que voltar!
Celo, assista os primeiros episódios e veja se ela te cativa, eu gostei principalmente por causa das metáforas, mas ela vale a pela também pelas atuações e pela parte técnica que é muito boa...
Perdi alguns episódios...preciso voltar minha atenção para a série.
ResponderExcluirGosto e aprecio o gênero.
Bela contextualização Bruno!
Abs.
Obrigado Rodrigo!
ResponderExcluirEu gosto do Ryan desde Nip/Tuck, então para mim gostar de glee foi um pulo e estava ansiosa com a estréia da série... Nossa, mas não imaginei que fosse gostar tanto... princcipalmente da forma turva que há na configuração dos medos e mistérios...
ResponderExcluir;D
Oi Bruno, cara gostei muito da sua resenha sobre a série, mandou muito bem. Gostei muito desta primeira temporada, pelo visto a segunda se continuarem na mesma linha de terror/drama pode dar certo.
ResponderExcluirabraço.
Esse seriado é muito bom!
ResponderExcluirTô ansiosa pela segunda temporada!!
amei amei amei to terminando de assistir já estou cm saudades
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