Julie e Julia (Julie & Julia) - 2009. Dirigido por Nora Ephron. Escrito por Nora Ephron, baseado nas obras de Julie Powell e de Julia Child e Alex Prud'homme. Direção de Fotografia de Stephen Goldblatt. Música Original de Alexandre Desplat. Produzido por Nora Ephron, Laurence Mark, Amy Robinson e Eric Steel. Columbia Pictures / USA.
Assisti Julie e Julia (2009) pela primeira vez no início de janeiro do ano passado, eu estava de férias e tal como neste ano, eu não tinha nada planejado, eu sabia que não iria viajar e tão pouco tinha algum compromisso agendado para aquele período, eu precisava de algo que me tirasse da inércia e que ao mesmo tempo desse algum sentido para aqueles dias de tédio. Foi então que ao assistir ao filme dirigido por Nora Ephron, eu tive uma espécie de epifania: Por que não aproveitar o ócio para voltar a postar no meu blog (que estava então praticamente esquecido)? Quando criei o Sublime Irrealidade, em maio de 2008, eu não tinha nem um objetivo, nem uma linha editorial bem definidos, o primeiro post, Gênese, já deixava isso bem claro, dois anos e meio se passaram sem que eu encontrasse um norte para ele... A trama de Julie e Julia foi o incentivo que eu precisava para reformula-lo por completo, cheguei então á conclusão de que se eu quisesse ter um blog eu precisava, antes de qualquer coisa, saber sobre o que escrever ... Parecia o óbvio, mas a ideia de escrever sobre cinema (e outras expressão artísticas) demorou para ser assimilada. Na ocasião eu já tinha postado a resenha de E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (2000), no entanto foi só quando postei a crítica de Os Imorais (1990) que a ficha realmente caiu, naquele dia veio a ideia mirabolante de comentar no Blog cada um dos filmes que eu viesse a assistir a partir de então.
Desde o princípio eu tentei encarar isso não como uma meta, nem como uma obrigação, afinal precisava ser algo natural e espontâneo para valer à pena. Decidi que não postaria sobre filmes cuja exibição fosse prejudicada por fatores externos (tais como conversação durante a exibição), nem sobre aqueles cuja qualidade da exibição deixasse a desejar (como os dublados exibidos pela TV aberta). Diante da empreitada e da pouca falta de tempo, acabei assistindo a menos filmes do que nos anos anteriores, contudo o aprendizado foi muito maior. Durante este ano, assisti e escrevi sobre produções dos mais diversos gêneros, passei por clássicos, cults, indies e até por alguns lançamentos e brokebusters (no total foram mais de 120 obras resenhadas). Em cada uma das resenhas que escrevi, busquei ter como referência não só os nomes envolvidos, ou os prêmios conquistados pelos filmes, mas principalmente a impressão cada obra individualmente causou em mim durante a exibição, este era para mim o diferencial... Neste período, adquiri conhecimento e acumulei um considerável número de visualizações de página, no entanto o mais valioso foram as amizades e parcerias conquistadas... Conheci pessoas maravilhosas, donas de uma excelente bagagem cultural, que ora me incentivaram com elogios, ora me mostraram através de críticas quais os caminhos eu deveria seguir.
Deixemos um pouco de lado tais divagações e voltemos ao filme. Julie e Julia é baseado em duas histórias reais de persistência e auto-superação. Na primeira, que se passa nos anos 50/60, conhecemos Julia Child (Meryl Streep), ela que acabara de mudar com o marido, o diplomata Paul Child (Stanley Tucci), para Paris, começa a sentir-se deslocada na cidade por não ter um emprego ou algo a que se dedicar. Em uma tentativa de ocupar seu tempo com algo produtivo, Julia começa um curso de culinária em período integral. Ela, que se apaixonara pela cozinha francesa desde sua chegada ao país, fica decepcionada ao descobrir que não existe nenhum livro de receitas da culinária local que tenha sido traduzido para o inglês. Após vencer a sua falta de jeito com a cozinha e terminar o curso (ela não conseguiu o diploma por não ter sido aprovada na prova final), Julia decide embarcar junto com duas novas amigas numa ousada missão, elas pretendem escrever um livro que sirva como um guia prático sobre a culinária francesa para donas de casa americanas... A obra em questão, que seria chamada de Mastering the Art of French Cooking, é até hoje um best seller do gênero.
Na segunda história somos apresentados à doce Julie Powell (Amy Adams), ela é uma escritora fracassada que trabalha em uma repartição pública, em um emprego no qual não encontra qualquer tipo de realização, ela se sente frustrada e entediada e a proximidade de seu aniversário de 30 anos, a faz refletir sobre os rumos de sua vida e acerca de tudo aquilo que ela já deveria ter conquistado. Julie não tem tantas vitórias ou realizações das quais se gabar (sua mãe faz questão de lhe lembrar que ela frequentemente não termina aquilo que começa), enquanto suas amigas mais próximas são, aparentemente, realizadas e bem sucedidas (na verdade são todas mais infelizes que ela, só não admitem isso, vivendo apenas de aparências). Tal como Julia, Julie conta apenas com o carinho e o constante apoio do marido. Quando ela decide criar um blog (em uma época em que eles ainda eram pouco comuns), é Eric Powell (Chris Messina), seu esposo, quem lhe sugere escrever sobre culinária, o tema é algo que ela gosta, sobre o qual seria portanto prazeroso escrever. Ela então estabelece a meta de preparar em um ano as 524 receitas do livro Mastering the Art of French Cooking, co-escrito por Julia Child, e postar sobre cada uma delas em seu blog recém criado, o Julie/Julia Project.
Tanto Julie quanto Julia passam por diversos momentos em que teria sido fácil desistir daquilo a que se dispuseram, nem todos à volta delas as apóiam, o pai de Julia e a mãe de Julie são, a princípio, dois grandes desmotivadores, mas com perseverança elas conseguem ir em frente, rumo ao reconhecimento que torna suas trajetórias dignas da adaptação cinematográfica. A narrativa do filme é simples e de uma agradável leveza que emociona e cativa, em Julie e Julia não tem vilões, nem efeitos especiais, nem clímax, sendo assim o atrativo é tão somente os personagens e suas respectivas histórias. Sabemos de antemão, que a trama é uma idealização dramática e que pode em diversos momentos divergir dos acontecimentos reais que a inspiraram, no entanto isso não é um problema para o filme, penso que, tendo em vista a proposta da obra, um maior comprometimento com a realidade poderia quebrar toda a "magia", comprometendo assim o resultado final e o efeito que a história produz em sobre nós espectadores.
Julie e Julia não é nem de longe uma obra prima e chega a ser bem clichê em alguns momentos, contudo é um filme delicioso de se assistir, isso não só pelos pratos que são preparados durante o desenvolvimento da trama (eu como vegetariano que sou não comeria nem metade deles). Meryl Streep nos brinda com mais uma excelente atuação, a voz e os trejeitos de sua personagem, que chegam a parecer caricatos, constituem uma recriação quase perfeita da verdadeira Julia Child (alguns vídeos, disponíveis no you tube, do programa que Julia apresentou na TV comprovam isso), seu desempenho extraordinário já seria mais que o suficiente para tornar o filme recomendável. Amy Adams também não faz feio, sua atuação explora muito bem o carisma de sua personagem, que se torna ainda mais cativante pela forma com que a atriz interpreta seus pequenos dramas e dilemas. A bela trilha sonora também merece destaque, mas no que se refere à parte técnica, é a montagem que nos salta os olhos, é ela que possibilita o constante diálogo entre as duas histórias contadas.
Julie e Julia não só me ajudou a encontrar um norte para o Sublime Irrealidade, ele foi também o ponto de partida para aquilo de melhor que fiz em 2011, tal como Julie, em meio a tantas frustrações eu descobri o prazer de escrever e de falar daquilo que realmente gosto; ela, conforme mostrado no filme, precisava de um prazo estabelecido para começar a escrever, eu precisava de disciplina, é por isso que considero uma vitória o simples fato de ter chegado até aqui, sou um vencedor sobre mim mesmo, consegui vencer minha inércia e até a minha costumeira preguiça de pesquisar e escrever. Hoje ao menos posso me gabar de não ter mais a sensação de estar "escrevendo para um vazio gigantesco"... Recomendo o filme a todos, sem restrições e dedico este post a cada um dos que visitaram, comentaram, criticaram e elogiaram o Sublime Irrealidade durante este ano... e que venham os próximos!
Julie e Julia recebeu uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Atriz (Meryl Streep). O filme ganhou o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz em Comédia ou Musical (Meryl Streep), tendo sido indicado nesta premiação também na categoria de Melhor Filme - Musical ou Comédia.
Oi lindinho... ahhh, sabe que eu amo a Meryl!? Tantão mesmo. Acho-a de uma elegância e competência enormes! Mas, esse filme eu não assisti!!! Nossa... anotadíssima dica!
ResponderExcluirAh, estou muito contente de estar de volta à blogosfera. Viajar é muito bom, mas como disse a Dorothy, em O mágico de oz, não há lugar como o nosso lar! A primeira coisa que fiz, quando cheguei aqui em casa, foi visitar meu blog! kkkkkkkkk
bjkssss
Também sou um fã incondicional da Meryl, ela brilha inigualavelmente até em filmes mais fraquinhos como "As Filhas de Marvin", sua desenvoltura para criar os mais diversos tipos é surreal, mas posso esperar para assistir "Iron Lady" com ela na pele de Margaret Thatcher!
ExcluirMe vi em você lendo essa sua postagem, meu blog era tão diário de menininha de 15 anos(nada contra) qd o comecei, e ficou assim mais de um ano, daí, lendo um livro e comentando sobre ele com uma amiga ela me perguntou pq eu não escrevia tudo num blog, e assim comecei, mas sem fé que meus poucos seguidores iriam comentar, se expressar. Mas enfim, acho que essas coisas começam sempre com momentos de inspiração.Assim como as duas mulheres do filme, que eu vou alugar esse fim de semana, amo esse estilo de comédia romântica com uma boa dose de história real.Parabéns mais uma vez pela postagem .
ResponderExcluirBeijos
Viviane
Curioso, o meu era praticamente um diário, afinal boa parte de seu conteúdo vinha de meu diário (sim eu tenho um, não escreve faz tempo, mas tenho)... preferi não apagar as postagens antigas, pois servem como histórico e tem algumas coisas lá que ainda gosto muito. E ainda me resguardo a liberdade de variar e experimentar sem estar preso a somente um tema...
ExcluirQuanto ao filme, eu lhe recomendo, ele é clichê mas é apaixonante!
Ótimo texto. Bastante intimo, esclarecedor e o filme parece ser muito importante pra você, né. Pra mim, não teve relevância alguma, confesso hahaha
ResponderExcluirGosto da montagem e prefiro o segmento da Amy Adams do que o da Meryl Streep, apesar do da segunda ser mais bem trabalho e, de fato, melhor. Streep como sempre dando show, Adams com seus carisma e beleza natural. Uma obra divertidinha, pra mim não passa muito disso. E, realmente, você fica até com fome depois de assistir!
Achei as duas histórias bem cativantes, acho que em ambas as vezes que o vi eu estava no estado de espírito certo para poder "digeri-lo", reconheço, como disse no texto, que ele não é uma obra prima, é apenas um filme bem legal que conseguiu me cativar...
ExcluirNão é meu tipo de filme preferido, porém filmes com a Meryl Streep sempre valem dar uma conferida.
ResponderExcluirMinha madrinha adorava ela.
Abss!
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Site Oficial: JimCarbonera.com
Rascunhos: PalavraVadia.blogspot.com
A Meryl Streep é de fato um dos melhores aspectos do filme, eu também estava com um pouco de receio quando o assisti pela primeira vez e ele acabou me convencendo... Se você tiver alguma oportunidade confira sim!
ExcluirCara eu assisti esse filme a muito tempo atras, e me lembro dele perfeitamente. Na hora que ela vai no blog dela e olha para o marido dizendo"olha, tem um comentário" lembrei de mim quando comecei o blog. Legal a determinação dela em cozinhar bem. Lembro que depois de ter assistido, comi um pão com "manteiga" porque a palavra é dita mais de 20 vezes no filme !
ResponderExcluirAbraço Meu amigo moderador !
Já tinha um ano que eu tinha assistido ele pela primeira vez e também lembrava perfeitamente de sua trama e até de pequenos detalhes... A dedicação de Julie ao seu blog foi o que me motivou a reformular o blog e volar a escrever com maior frequência...
ExcluirMeryl é sempre divina! Esse filme também me fez repensar a volta para um lugar que passei. Transmitiu suavidade no processo aleatório que nos leva a seguir caminhos que em outros momentos estariam distantes.
ResponderExcluirAnálise perfeita!Estou seguindo o blog! Parabéns!
Lu
Seja bem vinda Luciana!
ExcluirÉ muito legal mesmo quando um filme nos oferece tais perspectivas até então não vislumbradas... Por isso "Julie e Julia" é tão especial para mim..
Ótima resenha. Só uma observação: em relação a premiação no Globo de Ouro, que está ao contrário. Ele ganhou na categoria Atriz Musical/Comédia para Duplicidade(Julia Roberts), A Proposta(Sandra Bullock), Nine(Marion Cotillard) e Simplesmente Complicado(a própria Meryl Streep) e perdeu na categoria filme para Se Beber Não Case!
ResponderExcluirManoel Grandson
Seja bem vindo Manoel!
ExcluirObrigado pelo alerta, já reparei o equívoco no post! Fico feliz que você tenha gostado da resenha! Abraços!