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domingo, 19 de fevereiro de 2012

O Espião que Sabia Demais

O Espião que Sabia Demais (Tinker Tailor Soldier Spy) - 2011. Dirigido por Tomas Alfredson. Escrito por Bridget O'Connor e Peter Straughan, baseado na obra de John le Carré. Direção de Fotografia de Hoyte Van Hoytema. Música Original de Alberto Iglesias. Produzido por Tim Bevan, Eric Fellner e Robyn Slovo. Studio Canal / UK | França | Alemanha.


Há alguns dias atrás, o amigo Julio Pereira, crítico do blog Lumi7, usou o filme O Espião que Sabia Demais (2011) como ilustração em um de seus posts em, um grupo sobre cinema no facebook, sua intenção não era analisar o longa, mas dar início a um debate sobre aquilo que eu em seguida chamei de “processo de idiotização do cinema”. É curioso, mas conforme temos observado existe uma intolerância por parte do público, em relação às obras que não conseguem compreender, o resultado disso está perceptível nas cabines e salas de cinema vazias durante a exibição de alguns títulos e nos fóruns sobre filmes de arte ou que tenham uma trama um pouco mais complexa. Nas redes sociais, O Espião que Sabia Demais foi vítima deste fenômeno, os que se perderam durante o desenrolar de sua trama, que nem é tão complexa assim, fizeram questão de execrar o filme e todos aqueles que não tiveram nenhum problema em compreendê-lo... Reconheço que por diversas vezes eu já me perdi durante a exibição de algumas obras, no entanto eu não posso atribuir a culpa disso à produção, ao seu roteiro ou à sua montagem. Se eu me perdi (quando outros não se perderam), a culpa na maioria das vezes é tão somente minha e isso de forma alguma quer dizer que o filme seja ruim ou que ele tenha sido mal feito.

A verdade é que parte do público parece ter preguiça de pensar durante um filme, por isso vêm as produções tão somente como entretenimento. Quando por desaviso estes se deparam com uma obra não tão raza, que instigue a reflexão ou o raciocínio lógico, logo passam a odiá-la, como se ela os tivesse agredido por exigir algo que não estão dispostos a dar. Este mesmo fenômeno também acontece na música, na literatura e em tantas outras expressões artísticas. O público está alheio à contemplação artística e à reflexão e a indústria cultural está a priori nivelada a ele. Este público é o mais favorável aos interesses das produtoras, por estar propenso a um modelo de consumo padronizado e contínuo, que valoriza sempre o novo em detrimento do clássico e o superficial em oposição ao profundo...


Pois é, me empolguei e acabei me distanciando do foco original do texto que era o de falar sobre O Espião que Sabia Demais. Mas, ainda que tal introdução tenha sido pertinente, voltemos ao filme (foco José Bruno, seus leitores lhe cobram objetividade!)... O filme, dirigido por Tomas Alfredson, é de um tipo cada vez mais raro, ele não pode ser considerado uma produção conceitual ou autoral, ele não toca em tabus e tão pouco evoca grandes questionamentos filosóficos, mas ele tem justamente aquilo que o cinema mainstrean aparenta ter perdido nos últimos anos, ele tem um roteiro bem escrito, que não subestima em nenhum instante a  inteligência de nós espectadores... É como se ao assisti-lo estivéssemos sendo convidados a entrar na história e no mesmo tipo de dilema dramático no qual os personagens estão envoltos. Honrando a alcunha de filme de espionagem, ele nos transforma em uma espécie de agentes observadores, que contemplam de longe a sequência de acontecimento e buscam juntar as peças para que tudo aquilo faça algum sentido.


George Smiley (Gary Oldman) é o personagem central da história que fora adaptada de um best-seller de John le Carré, ele faz parte do Circus, a divisão de elite do serviço secreto inglês. Já na primeira sequência somos apresentados ao mote da trama: Existe um agente duplo dentre os membros da inteligência britânica. Um espião é enviado à Budapeste para receber de um militar, que estava prestes a desertar, uma informação sigilosa que esclareceria quem de fato era o infiltrado, porém esta missão acaba de forma trágica. Control (John Hurt) é responsabilizado pelo desastre, o que o leva a um pedido antecipado de aposentadoria e a dispensar Smiley, seu subordinado. Quando surge a suspeita de que o infiltrado é um dos quatros membros remanescentes do Circus, Smiley é convocado para entrar novamente em ação, sua missão é descobrir quem é o agente duplo. Seu atual distanciamento e o conhecimento que ele tem sobre cada um dos ex-colegas, o tornam o agente ideal para o serviço. Em sua missão ele contará com a ajuda do jovem agente Peter Guillam (Benedict Cumberbatch), a quem ele foi autorizado a convocar. No contato entre os dois personagens fica notável, ainda que de forma sutil, o choque entre diferentes gerações e suas distintas formas de abordagem e de pensamento.


Quem começou assistir O Espião que Sabia Demais, esperando algo no estilo das franquias de 007 ou  Missão Impossível, certamente se decepcionou, o atrativo aqui é outro. Não existe glamour, nem lindas  garotas apaixonadas pelos espiões. Não há perseguições de carro, nem lutas de tirar o fôlego. Todo o filme é conduzido lentamente por uma trilha sonora melancólica, composta por Alberto Iglesias, que cria a atmosfera perfeita para que venha á tona os dramas pessoais do personagem central, que vê no serviço uma tentativa de dar um sentido maior á carreira que chegara ao fim e à própria vida solitária. George Smiley é um personagem icônico por carregar consigo o pesado fardo de seu tempo, uma época de temores e apreensões, sua postura representa de forma alegórica a situação de seu país, que parecia estar apenas perdido em meio a um conflito que não era mais seu, lutando apenas para que o fogo cruzado não fosse iniciado por nenhum dos dois lados (leia EUA e URSS). 


Em cada enquadramento, O Espião que Sabia Demais nos impacta com a beleza estonteante de suas imagens. Os membros do departamento de fotografia da Academia só podem estar cegos, só isso para explicar a não indicação deste filme ao Oscar nesta categoria. A direção de arte, a montagem e os figurinos também são irrepreensíveis, o que prova que um filme pode combinar de forma harmoniosa excelência técnica, qualidade de narrativa, e excelentes atuações. Gary Oldman está fantástico, este é sem dúvidas um dos melhores momentos de sua extensa carreira, sua indicação ao Oscar foi mais que merecida! John Hurt, Colin Firth, Mark Strong, Toby Jones, Benedict Cumberbatch, Ciarán Hinds, David Dencik e Tom Hardy, também têm um desempenham notável o que valoriza os seus personagens, ainda que nem todos sejam tão significativos e presentes na trama. Alberto Iglesias dá um show que dispensa qualquer comentário, só peço a você leitor que, ao assistir o filme, você preste atenção na música que toca enquanto Smiley deixa seu posto de trabalho após ser compulsoriamente aposentado... 


Este é o tipo de filme capaz de nos dar prazer real diante da tela, não um prazer induzido por técnicas já manjadas, mas um prazer de estar diante de uma verdadeira obra prima, capaz de nos desafiar a um confronto que se desenvolve a cada sequência. O Espião que Sabia Demais é cinema de qualidade e sem qualquer tipo de frescuragens, ele mais uma obra que entra com louvor em meu top 10 de 2011. Coloquemos os nossos cérebros para funcionar e apreciemos! Ultra recomendado!


O Espião que Sabia Demais está indicado aos Oscars de Melhor Ator (Gary Oldman), Roteiro Adaptado, Trilha Sonora Original. 

Assistam ao trailer de O Espião que Sabia Demais no You Tube, clique AQUI !


35 comentários:

  1. Oi, querido!!! Esse filme estava na lista da Mostra Cultural que aconteceu aqui em Gyn, mas infelizmente os horários não eram compatíveis com minha vida de pobre mortal. rsrsrs

    Tá "foliando" muito, nesse carnaval? Vá lá no blog ver a minha folia!! ;)

    bjkssss

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    1. Olá Joicy, uma pena que você o perdeu na mostra, pois ele é ótimo! É o tipo de filme que você assiste e pensa "é por causa disso que eu sou cinéfilo"...

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  2. Brunão caramba, seguir seu blog tá me fazendo mal, hahahahahahahhaa, porque tudo que vc comenta eu tenho que anotar numa folha como: Filmes que vou ter que assistir, hahahahahhahahahahahahaha.

    Bela postagem amigo!

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    1. Estamos juntos André hehe também me sinto assim :D

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    2. É uma honra pra mim estar fazendo para vocês! kkkk
      Espero que quando vocês assistirem alguns dos filmes que tenho indicado, as suas expectativas sejam confirmadas!

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  3. Ainda não vi, mas sei que gostarei. Adoro os enredos secos de Le Carré.

    Cumprimentos cinéfilos!

    O Falcão Maltês

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    1. Ele é ótimo, eu fiquei curioso para conhecer o livro que o originou!

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  4. Vou assistir assim que possível.
    Meu amigo tbm disse q é mt bom!

    Beijos

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    1. Assista sim Lindayana e depois me conte o que achou! Beijão!

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  5. Ola Bruno,
    Também já estou seguindo o seu blog!
    Eu ainda não vi esse filme, mas como o amigo André já disse acima, vou anotar aqui na minha relação de filmes a serem vistos! Obrigado pela dica!
    Contudo você falou muito bem quando externou sua preocupação quanto ao fenômeno "processo de idiotização do cinema", e amplio esse debate para a televisão também, já que faz parte do meu blog. Muitas pessoas estão ficando com preguiça de pensar, querem tudo pronto e acabado, então, quando se deparam com uma obra um pouco mais complexa que consegue provocar no espectador reflexões que o tirem da condição de agente passivo, dizem simplesmente que não gostaram. Uma pena... Tudo isso tem raíz em um problema muito sério na educação do nosso país.

    Já estou seguindo e virei sempre!
    Abraços, Flávio.

    Telinha Critica - debatendo a TV brasileira

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    1. Preguiça de pensar... lembro que tive essa sensação quando passou uma minisssérie na globo: "Afinal, o que querem as mulheres?"

      Sinceramente, eu assisti alguns episódios com a nítida impressão de que tinha perdido alguma coisa, mas depois vi que o autor dessa minissérie (que não me lembro quem é) e de outras, como "Hoje é dia de Maria", tem mesmo esse texto de difícil compreensão para os meros mortais, como eu, rsrsrss...
      Mas esse tipo de coisa, difícil, complicado, bem que me atrai bastante

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    2. Olá Flávio, não tem tanto tempo que estávamos discutindo sobre isso e a Joicy, que comentou acima, fez a mesma constatação, a de que a origem do problema está é na educação... Eu não creio que a educação seja capaz de transmitir sensibilidade artística, mas é ela a responsável por desenvolver a capacidade de raciocínio e por abrir os horizontes, ampliando assim a nossa visão que parece ter sido limitada por um cabresto...

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    3. Valquíria, infelizmente eu não consegui assistir "Afinal, o que querem as mulheres?", mas ainda pretendo comprar os DVD´s da minissérie, já "Hoje é Dia de Maria" eu considero uma das coisas mais belas já produzidas em solo tupiniquim a poesia e o lirismo da história cheia de referências à cultura nacional e à clássicos da literatura é cativante... Eu confesso que boiei foi em outra minissérie, "A Pedra do Reino", compreendi o primeiro capítulo sem tanta dificuldade, mas perdi o sendo e a partir daí nada mais fez sentido, mas não culpo a série por isso, pelo contrário, é outra que quero ainda poder rever...

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  6. Zé, esse eu ainda não assisti, mas pelo que você falou, o filme não esconde o que é, um belíssimo suspense de espionagem. Bela dica.

    spiderwebs.tk

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    1. Você classificou bem Sabrina, ele é sim um belíssimo suspense de espionagem, que merece e muito ser visto!

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  7. Olá!Bom dia!
    Nenhuma das pessoas que comentaram acima, assistiu o filme?
    Que isso... Eu, também não!
    Mas,pela sua sinopse/resenha, parece ser bom!Sim! É verdade! Muitas produções atuais, são de filmes que não invocam, o "pensar", e , ao contrário de muitas pessoas, eu gosto de assistir obras com o manifesto desejo de refletir.Vamos que vamos!
    Boa semana!
    Abraços!

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    1. Olá Felisberto!
      Acho que o filme ainda nem estreou no cinema por aqui e como minha cidade não tem nenhuma sala de exibição acabei me rendendo aos downloads para conferir alguns dos lançamento... acho que isso explica o fato de que quase ninguém ainda o tenha visto... Ele é ótimo e eu o recomendo! Ótima semana para você também meu caro! Forte abraço!

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  8. Oi, Bruno.
    Entendo pouca coisa de cinema, teatro, etc... Por isso acho que seu blog vai me abrir os olhos pra bastante coisa, principalmente ajudar a escolher bem meus repertórios de filmes a assistir.
    Estou te seguindo, viu?
    Grande beijo.

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    1. Olá Valquíria, vai ser uma prazer enorme lhe ter entre meus seguidores! Espero que você goste de minhas dicas e fique a vontade para criticar e fazer sugestões! Beijão!

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  9. Grande Bruno, como estais? Estava afastado esses dias da blogosfera devido ao meu acidente, mas quinta passada retirei o gesso e vou partir pra fisioterapia, e aproveitei e dei um tapa no visual do meu blog, espero que goste, por esses dias volto com as atualizações.

    Cara, mais uma excelente dica de filme, já tinha ouvido falar nesse filme, mas não tive oportunidade de assistir, pelo roteiro deve ser um filmaço, valeu pela dica, abração pra ti.

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    1. Olá Paulo, passarei agora para conferir o novo visual de seu blog e estarei aguardando as atualizações! Lhe desejo uma recuperação rápida amigo! Forte abraço!

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  10. Olá, olá. Então realmente as pessoas tem preguiça de pensar em relação aos filmes é muito mais fácil assistir a novela das oito que já vem mastigadinha.
    Me interessei muito pelo filme, quero ver. Obrigada pela visita e volte sempre:)

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    1. Olá Kely, seja bem vinda!
      Se você tiver alguma oportunidade de ver o filme não a perca, pois ele é excelente, grandes atuações e uma ótima história de espionagem, cheia de suspense..

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  11. Nossa, Bruno!
    Eu simplesmente sinto que preciso ver esse filme, sua resenha me deixou muito curiosa!
    Concordo com os primeiros parágrafos de seu texto, estamos diante de uma geração de pessoas que tem "preguiça de pensar".
    Costumo chamar de geração fast-food. Tudo rápido, fácil, sem esforço, para acabar logo. Pena.

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    1. Este conceito de "geração fast-food" realmente é pertinente, afinal fazemos parte de uma geração que quer tudo pronto e se possível já mastigado... isso faz com que toda a obra que provoque desconforto ou que atice a reflexão seja vista com maus olhos... Não deixe de ver o filme, ele é ótimo!

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  12. Não entrando novamente na discussão, valeu pela citação. Quando ao filme, é uma obra-prima moderna. Muito mais maduro do que Deixa Ela Entrar. Narrativamente maravilhoso, com uma montagem sensacional, trilha sonora arrebatadora. E os cinco minutos finais ficam na mente de qualquer cinéfilo - aliás, não consigo esquecer a imagem do Colin Firth chorando sangue. Quem esperar um filme convencional de espionagem, como você disse, vai se decepcionar. É mais que isso: o estudo daqueles personagens! E, por favor, vamos dar o Oscar pra Gary Oldman, né?!

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    1. Júlio, depois que assisti este filme toda a minha certeza de que o Oscar de melhor ator deveria ir para o Dujardin, foi desfeita... O Gary Oldman está soberbo no papel, a cena que ele descreve seu encontro com o agente russo é simplesmente perfeita, me causou até arrepios!

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  13. Poxa,eu estou com este filme aqui e ainda não vi,vc aguçou a minha curiosidade,vou aproveitar a segunda ociosa e fazer isto!Ahhhh estou rindo ainda do seu comentário no Felizberto...rsrsrsrsr.Abraços Lili.Gostei do blog.

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    1. Olá seja bem vinda Lilian,
      Assista sim e se possível volte aqui para comentar o que você achou dele. fico feliz que tenha gostado do blog, volte mais vezes! Abração!!!

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  14. O Espião Que Sabia Demais foi bem subestimado nas indicações ao Oscar. Um filme envolvente e que preciso rever outras vezes. Oldman em um de seus melhores papéis. Ele mesmo afirmou ser o melhor!

    Interessante você abrir o texto falando sobre a repercussão do filme em que algumas pessoas não conseguiram aproveitar a sessão repudiando a obra? Particularmente não senti isso, também conversei sobre o filme com poucas pessoas, mas de fato isso ocorre quando surge algo um tanto diferente. Também não entendo o motivo de tanta discussão, aliás, ao menos para mim, "O Espião..." nem é um filme tão "alienígena" assim. Tubo bem ele é realmente um filmaço, mas também não chega a ser: "UAL que filme é esse?!" Entende?

    Abç.

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    1. Rodrigo, eu penso que neste ano mesmo tiveram algumas obras bem melhores que ele, mas todos filmes de arte ou de cunho autoral, pelos quais tenho maior preferência... Dentre os filmes, que não trazem consigo uma ideia ou pensamento filosófico, "O Espião que Sabia Demais" talvez um dos melhores e mais importantes do ano. O roteiro é muito bem escrito, ele foi muito bem filmado e ainda conta com atuações excelentes!

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  15. Poderia me enviar alguma explicação para o filme? Confesso que me distraí bastante enquanto assistia

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  16. Muito bom o blog,meu amigo que recomendo,ai vir conferir e eu vou recomendar tb,e acompanha..me recomendaro esse site de rastreamento pois eu tava precisando de um rastreador http://rastreamentodecelular.net sera que é bom? rsrsrsrs abraços..parabens pelo blog

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