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domingo, 14 de julho de 2013

Vanguart - Cataguases 13/07/2013 (show)

"Não te opõe ao curso do rio, prestidigitar a frustração
Tem dias que a vida é um ato de coragem..."


Bem, acho que posso dizer que foi um pequeno ato de coragem que me levou ontem ao último dia do Fórum Dissonâncias em Cataguases (MG). Após a desistência de alguns amigos, com quem eu tinha combinado de ir, parti sozinho de Ubá com o plano de chegar a Cataguases, fazer o check-in no hotel (o mesmo que eu tinha ficado uma semana antes, quando fui para o show do Silva com um amigo), ir para o debate preliminar, que tinha como tema a indagação se 'ainda há espaço hoje para reflexões conceituais na música brasileira', depois para o show do Vanguart, que encerraria o evento, e por fim, após a apresentação da banda, voltar para a hospedaria. Este plano foi por água abaixo pouco tempo depois de eu ter chegado em Cataguases... Contarei mais adiante. 

O Fórum Dissonâncias, promovido pelo Projeto Usina Cultural com o apoio da Energisa e do Governo Estadual (através da lei estadual de incentivo à cultura), tinha começado dois dias antes, na última quanta feira (11/07), tendo em sua programação outras mesas de debate sobre a música contemporânea e shows com a banda Kashymir e o com o cantor Odair José. Pelo tom do debate no último dia se via que os anteriores também tinham rendido uma boa discussão, com algumas discordâncias e muita indagação e reflexão. Saindo ligeiramente do roteiro pré-estabelecido, a mesa acabou focando uma outra questão no debate que assisti, a abrupta mudança na realidade do mercado fonográfico após a quebra de paradigmas proporcionada pelas novas tecnologias.


O debate aconteceu no auditório do Centro Cultural Humberto Mauro e a mesa foi composta pelo jornalista e crítico musical Alex Antunes, que a coordenou, pelo produtor Pena Schmidt, pelo músico e produtor Daniel Figueiredo, pelo jornalista e crítico musical Marcos Preto e pelo músico Hélio Flanders (o vocalista do Vanguart). A discussão fluiu com bastante facilidade e houve interação muito boa com o público. Foi após uma pergunta minha que a discussão acabou mudando de rumo e isso, lógico, a tornou ainda mais interessante para mim, principalmente porque o tema é bastante pertinente. Terminada a mesa de debates, fui junto com os amigos, que conheci logo que cheguei, para a praça Rui Barbosa, onde o palco estava montado, faltava pouco para o início...


O show foi simplesmente maravilhoso, o repertório predominantemente formado por canções do segundo disco, intitulado Boa Parte de mim Vai Embora, trouxe também algumas músicas do primeiro CD, autointitulado, além de duas inéditas, que estarão no terceiro álbum (que tem o lançamento previsto para o final de agosto) e um cover da clássica Ouro de Tolo do Raul Seixas. Acredito que uma boa parte do público presente na praça não tinha sequer noção de quem era o Vanguart, talvez para eles o show não tenha feito tanto sentido, afinal sabemos que mesmo em uma cidade com uma cena cultural tão forte, a verdadeira arte não exercer um apelo tão significativo sobre o público médio, que tem pouco ou nenhum contanto com este tipo de produção, mas, o que deu para notar é que uma grande maioria dos presentes curtiu o que viu e ouviu.


Para nós fãs, a apresentação foi perfeita e isso foi consenso entre todos com quem conversei, os músicos demonstraram uma técnica apurada, que ficou evidente em cada música e na execução de cada um dos instrumentos (o violino da Fernanda Kostechack e a forma com que ele se encaixa em cada canção em que é usado é simplesmente sublime, de arrepiar). Mas só técnica não é o suficiente para se fazer a música conceitual, tão discutida na mesa de debates, e é aí que está o ponto forte da banda surgida em Cuiabá (MT), mais do que a perícia, o que se sobressaiu em cada canção foi uma ebulição de sentimentos quase palpável de tão real, o que podia ser notado tanto na composição quanto na interpretação de cada uma das músicas. Antes do show, no debate, o vocalista Hélio Flanders, quando questionado sobre a serventia da música, disse que ela, como expressão artística, tinha como fim colocar-nos em contato com Deus (leia-se com o sublime) e isso foi o que senti ontem em diversos momentos...


A show terminou e estávamos cientes que tínhamos vivido uma experiência maravilhosa, já estava perfeito, mas a noite estava apenas começando... Fomos no backstage para autografar os CDs e camisas que tínhamos comprado, pegamos uma fila bem grande (o que me surpreendeu, pois continuo acreditando que nem todo mundo que estava ali já conhecia a banda anteriormente), mas valeu a pena. A surpresa veio quando o Hélio me convidou para continuarmos a discussão sobre a cena musical em um bar, junto com o pessoal da banda, o convite também foi feito para um outro amigo. Aceitamos, lógico. Ali começava a segunda parte de uma noite que seria inesquecível para cada um de nós. 


O bate papo descontraído (com alguns picos de exaltação) durou mais de cinco horas, se estendendo até quase o raiar do dia, quando os garçons abaixaram as portas e começaram a recolher as mesas que estavam à volta da nossa. Ainda ficamos um bom tempo conversando na rua, em frente ao hotel, onde os músicos estavam hospedados. Durante toda a madrugada, conversamos sobre o cenário musical, literatura, sexualidade e inúmeros outros assuntos, isso sem contar outros episódios, de caráter mais pessoal, que alguns de nós certamente guardaremos por muito tempo. Quando nos despedimos já eram cerca de cinco e meia da manhã, levei duas amigas, recém conhecidas até a casa de uma delas, voltei para o hotel, peguei minhas coisas e fui direto para a rodoviária, onde me reencontrei com o pessoal de Muriaé (MG) que esteve comigo durante toda a noite. Nenhum de nós acreditava no que tinha acontecido... 



Seguimos o curso do rio, prestidigitamos a frustração, tivemos um ato de coragem e o resultado foi uma das melhores noites do ano. Foi perfeito! Um brinde à arte que nos proporcionou tudo isso!!! 

O Vanguart é formado por David Dafré (guitarra e vocais), Douglas Godoy (bateria), Halio Flanders (voz, violão, trompete e gaita), Luiz Lazzaroto (piano, teclados e rhodes) e Reginaldo Lincoln (voz e baixo). 

Dedico este post aos amigos Gabrielle Rosa, Luiz Kutianski, Tainah Curcio, Kate Balashova, Eduarda Crecembeni, Lucas Borges, a cada um dos integrantes do Vanguart e aos outros presentes que tornaram esta noite tão especial. 

5 comentários:

  1. Realmente seguimos o curso do rio, prestigitamos a frustação e tivemos um ato de coração.. Hahaha Melhor noite de todas.

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  2. Meninooooooooo,


    Que delíciaaaa!
    Gosto tanto do som deles.

    Parabéns, pelo texto e com certeza deve ter sido uma das melhores noites de sua vida, né?

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  3. Ola Bruno, estou aqui devido o site Ccine, estava olhando sobre o filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, e por ironia do destino vi um comentário seu la dizendo que uma das fotos do filme ilustrava o seu site, então decidi vir dar uma olhada, meus parabéns!, mais pesquisei aqui mesmo no sublime irrealidade sobre o filme e não achei nada sobre, você poderia criar um artigo ficaria muito legal. Abraços.

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