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terça-feira, 6 de agosto de 2013

O Bebê de Rosemary

O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby) - 1968. Dirigido e escrito por Roman Polanski, baseado na obra de Ira Levin. Direção de Fotografia de William A. Fraker. Música Original de Christopher Komeda. Produzido por William Castle. William Castle Productions / USA.


O Bebê de Rosemary (1968) foi o primeiro filme de Roman Polanski produzido e rodado nos Estados Unidos, pode-se dizer que ele é um fruto do momento histórico pelo qual Hollywood passava e para entender isso vale a pena fazer um breve retrospecto: Aquele era um período de experimentação e de rompimento com antigos paradigmas. Na Europa esta transformação no cenário cultural tinha começado alguns anos antes, no final da década de 50, e era natural que mais cedo ou mais tarde a reinvenção pela qual o cinema passara lá e em diversas outras parte do mundo (inclusive no Brasil com o Cinema Novo) chegasse à já envelhecida meca americana dos sonhos. Os grande estúdios, que demoraram para compreender o que estava acontecendo no resto do mundo, viviam um período de recessão econômica e isso era uma consequência do crescente desinteresse pelas grandes produções, nas quais a suntuosidade se sobrepunha ao valor artístico, e da popularização da TV, que impactava negativamente nas cifras arrecadas nas bilheterias.

Com a crise financeira e de criatividade que a indústria vivia, a contratação de cineastas europeus, que estavam acostumados a produzir com poucos recursos, se tornara uma opção a ser considerada. Roman Polanski, que ganhara notoriedade com seu primeiro filme, A Faca na Água (1962), e se tornara um cineasta ainda mais respeitado após o lançamento de Repulsa ao Sexo (1965), foi então convidado para filmar em Hollywood, este convite o fez mudar para os Estados Unidos em 1968, para rodar aquele que se tornaria o segundo filme de sua 'trilogia do apartamento'. O efeito de todo este panorama pode ser facilmente observado em O Bebê de Rosemary, principalmente na trama obscura, que toca em temas que vão muito além do viés ocultista presente na história contada. Transcendendo os gêneros aos quais foi associado, o filme se mostra como uma bem construída metáfora da decadência do american way of life e da própria indústria cinematográfica.


A história gira em torno do casal Rosemary (Mia Farrow) e Guy Woodhouse (John Cassavetes), ele é ator de teatro e sonha em trabalhar no cinema, ela é uma mulher submissa e dedicada ao lar, seu maior sonho é ser mãe. Eles constituem à princípio uma representação quase perfeita do sonho americano, eles se amam, estão felizes e fazem planos juntos para o futuro. No entanto, tudo começa a desandar depois que eles compram um apartamento em um antigo prédio do centro de Nova Iorque. O lugar foi no passado o palco de estranhos casos, que envolviam bruxaria e mortes misteriosas... Logo depois de se mudarem, Rosemary e Guy conhecem um casal de idosos que moram no apartamento ao lado. Minnie (Ruth Gordon) e Roman Castevet (Sidney Blackmer), os vizinhos, se mostram gentis e prestativos e logo ganham a confiança do casal recém-chegado.

Pouco tempo depois, Rosemary engravida e as fortes dores que ela sente no início da gestação indicam que tem algo de estranho acontecendo com o seu bebê, aconselhada pelos vizinhos, ela desiste do acompanhamento tradicional e se submete a um tratamento alternativo, proposto pelo doutor Sapirstein (Ralph Bellamy), um dos mais respeitados obstetras do país. O tratamento, no entanto, produz poucos resultados. Tomada pela paranoia, Rosemary passa a suspeitar que existe uma conspiração sendo arquitetada contra ela, uma trama macabra que envolve a criança a quem ela dará a luz e os interesses obscuros de um grupo de satanistas. Ela passa então a desconfiar de quase todos que estão à sua volta, inclusive de Guy, que aparenta não levar a sério aquilo que ela sente, nem tão pouco suas suspeitas.


Apesar da questão do satanismo ser a premissa que sustenta a trama do filme, o que nos mete medo nele não são as questões metafísicas, mas aquelas que são reais e passíveis de acontecer com qualquer um de nós. Sua trama é apreensiva porque ela dialoga com nossos próprios medos, dentre eles o de estar só e desamparado, o de ser traído por quem mais confiamos e, principalmente, o de ver o nosso projeto de vida falir diante de uma situação sobre a qual não temos controle nenhum. Nos compadecemos da situação na qual Rosemary se encontra porque antes nos identificamos com os seus planos e sonhos. Em uma análise da obra podemos tomar a protagonista como um arquétipo da sociedade americana e, por extensão, da nossa própria (afinal compartilhamos com eles a mesma ética triunfalista que contempla a felicidade e a autorrealização como o fim maior de nossas vidas), ela personifica a fragilidade do indivíduo frente às ameaças e peripécias que podem distanciá-lo de seus projetos e de seus sonhos.


Já a crítica à indústria cinematográfica é feita de forma sutil, tanto que ela poderá passar facilmente despercebida para alguns. Na trama, Guy preza pelo valor artístico das obras nas quais atua, mas ele também quer reconhecimento e no afã de conquistar um papel de destaque ele acaba se vendendo e traindo suas próprias convicções. Neste aspecto está uma referência clara ao esvaziamento artístico que já afetava uma significava parcela da produção americana, que prezava mais pelo resultado financeiro e pela glória do que pelo valor artístico de cada obra. Curiosamente, John Cassavetes, que interpreta o personagem, acabou percorrendo, em sua trajetória como cineasta, um caminho bem diferente do escolhido por Guy e graças a isso ele seria lembrado ainda hoje como uma espécie de patrono do cinema independente dos Estados Unidos.


O Bebê de Rosemary já nasceu clássico (me perdoem pelo trocadilho), mas alguns fatos curiosos o tornaram ainda mais cultuado com o passar do tempo e dentre eles estão alguns acontecimentos estranhos que, direta ou indiretamente, teriam o nome do filme associado a eles: John Lennon foi assassinado em 8 de junho de 1980, em frente ao prédio em que morava em Nova Iorque, o prédio é o mesmo no qual o filme se passa. Quatorze meses após a finalização do longa, Sharon Tate, a esposa de Roman Polanski, que estava grávida de oito meses, foi assassinada em um ritual por Susan Atkins, um membro da família de Charles Manson. Atkins era um ex-seguidor de Anton LaVey, o fundador da igreja de satã nos Estados Unidos. Reza a lenda que LaVey teria prestado uma espécie de consultoria sobre os ritos de magia negra durante as filmagens do longa. O caso dos crimes cometidos pelo clã de Manson ficaria conhecido como Helter Skelter, nome de uma canção dos Beatles, que teria supostamente inspirado a série de assassinatos.


É legal também perceber uma espécie de autorreferência que Roman Polanski faz no filme, em determinada passagem, Rosemary diz que "coisas terríveis acontecem em apartamentos", esta declaração simples, banal até, ganha um significado maior quando lembramos que esta foi a premissa sob a qual as tramas de Repulsa ao Sexo (1965) e O Inquilino (1965) também foram edificadas (estas são as outras duas produções que, junco com O Bebê de Rosemary, ficariam conhecidas como a "trilogia do apartamento"). 


O aparato técnico de O Bebê de Rosemary é soberbo e isso já fica evidente na sequência de abertura do filme, na qual a câmera ronda, pelo alto, o prédio no qual a trama se passa ao som de uma música, quase fúnebre, cantarolada pela própria Mia Farrow. Ainda que sua construção seja relativamente simples, esta cena já consegue nos causar alguns arrepios e isso denota o domínio que Polanski tem sobre a linguagem, o que também pode ser notado no restando do filme, em praticamente todos os aspectos, nos enquadramentos, na fotografia, na direção de arte, nos figurinos (prestem atenção na forma com que a cor da roupa usada ajuda a dissimular as reais intenções dos personagens, outros cineastas poderiam ter optado pelo óbvio, que seria o uso de roupas escuras pelos antagonistas e de roupas claras pelos protagonistas) e na maquiagem (a transformação da protagonista durante o filme é notável e o trabalho de maquiagem colabora muito para isso). 


Os excelentes desempenhos do elenco principal potencializam o efeito da trama e agregam ainda mais valor à obra, reforçando a minha tese de que ela já nasceu clássica. A Mia Farrow está ótima e sua interpretação conta muita no processo de identificação entre o público e a sua personagem, o que é fundamental para o bom funcionamento da trama (há o boato de que uma cena de nudez no filme, muito bem construída por sinal, teria sido o estopim para o fim do casamento da atriz com o cantor Frank Sinatra). A Ruth Gordon não deixa nenhuma dúvida de que foi justa a sua premiação no Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, o tom caricato que ela dá à sua Minnie Castevet, também é essencial na construção de um dos conceitos mais importantes do roteiro... John Cassavetes, Sidney Blackmer e Ralph Bellamy mantêm o alto nível com grandes desempenhos.

O Bebê de Rosemary ganhou o Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Ruth Gordon), tendo sido indicado também ao prêmio de Melhor Roteiro Adaptado. No Globo de Ouro o filme venceu na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Ruth Gordon) e foi indicado aos prêmios de Melhor Roteiro, Melhor Atriz de Drama (Mia Farrow) e Melhor Trilha Sonora.


 Assista ao trailer de O Bebê de Rosemary no You Tube, clique AQUI !

Confiram também aqui no Sublime Irrealidade as críticas de Repulsa ao Sexo (1965)O Escritor Fantasma (2010) e Deus da Carnificina (2011), também dirigidos pelo Roman Polanski.

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Sombras da Noite

Sombras da Noite (Dark Shadows) - 2012. Dirigido por Tim Burton. Escrito por Seth Grahame-Smith e John August, baseado no roteiro televisivo de Dan Curtis, escrito para a série homônima produzida nos anos 60. Direção de Fotografia de Bruno Delbonnel. Música Original de Chris Lebenzon. Produzido por Johnny Depp, Christi Dembrowski, David Kennedy, Graham King e Richard D. Zanuck. Warner Bros. Pictures, Infinitum Nihil, GK Films, Zanuck Company, Dan Curtis Productions e Tim Burton Productions / USA.


Sinceramente eu não sei o que esperar de Frankenweenie (2012), filme do Tim Burton que estreia no Brasil no próximo mês, de certa forma isso é bom, simplesmente porque a obra do cineasta se tornou nos últimos anos uma mera repetição de tipos e fórmulas. Sombras da Noite (2012), fruto de mais uma parceria de Burton com o ator Johnny Depp, reforça esta constatação. Não é um filme de todo ruim, principalmente se comparado com a obra anterior do cineasta, o medíocre Alice no País das Maravilhas (2010), no entanto, ele peca nos mesmos pontos em que outros filmes recentes do mesmo diretor pecaram e dentre estes pontos o mais fraco é o roteiro. Adaptada da série homônima exibida pela TV americana nos anos 60, a história mescla o terror à comédia, sem no entanto funcionar em nenhuma das duas frentes. O trâmite entre gêneros distintos, que já foi uma habilidade de Burton, é hoje o seu calcanhar de Aquiles. 

A narrativa de Sombras da Noite começa em 1752, quando a família Collins se muda de Liverpool na Inglaterra para os Estados Unidos. Barnabas (interpretado na vida adulta por Depp) era então uma criança, ele era muito apegado aos pais,  Joshua e Naomi, que sempre lhe ensinaram sobre o valor da família. Já em solo americano, os Collins prosperam no ramo de frutos do mar e criam um verdadeiro império em torno do qual a cidade de Collinsport é edificada. Já adulto, Barnabas inicia um relacionamento com Angelique (Eva Green), a empregada da família, contudo ele a abandona depois de se apaixonar por Josete (Bella Heathcote), a quem escolhe para ser sua esposa. Angelique revela sua verdadeira natureza ao descobrir que fora traída, usando truques de feitiçaria ela mata os pais de Barnabas, conduz Josete ao suicídio e transforma se próprio amado em um vampiro, para em seguida atiçar a cidade contra ele e enterrá-lo vivo, acorrentado em um caixão


Quase duzentos anos depois, precisamente em 1972, Barnabas é acidentalmente despertado. Ao se ver livre ele percebe que está em mundo bem diferente daquele que conhecera. Ele então tenta se reaproximar de seus descendentes, quatro deles ainda vivem na cidade. Elizabeth Collins (Michelle Pfeiffer) é a nova matriarca da família, que agora está falida e vivendo em ruínas, ela o recebe com receio e desconfiança. É  Elizabeth quem luta para manter os parentes unidos apesar das adversidades, ela vive com a filha adolescenteCarolyn (Chloë Grace Moretz), com o sobrinho David (Gulliver McGrath) e com o irmão Roger (Jonny Lee Miller), pai de David. No antigo castelo construído pelo pai de Barnabas moram ainda a psiquiatra de David, Dra. Julia Hoffman (Helena Bonham Carter), a empregada recém contratada, Victoria Winters (Bella Heathcote), e outros dois serviçais.


Nos anos 70, Barnabas se depara com uma espécie de continuidade da história que vivera cerca de duzentos antes, todavia, este novo cenário é bem diferente e o estranhamento diante de tudo lhe causa um enorme choque, neste ponto da drama está o aspecto mais legal do roteiro. A trama brinca com o fato de que mesmo um vampiro seria incapaz de ser tido como diferente em uma década povoada por personagens tão excêntricos e bizarros. Em uma das sequências, o músico Alice Cooper aparece interpretando a si mesmo em um baile, o personagem central não consegue distinguir o que de fato ele é e o confunde com uma mulher, esta cene rende uma das melhores tiradas do filme. Outras piadas criadas em torno da confusão de Barnabas são engraçadas, no entanto elas só funcionam em um primeiro momento do filme, se tornando depois repetitivas e cansativas... A verdade é que na segunda metade pouca coisa no filme funciona.


Da metade para o final do filme a impressão que fica é a de que o fio da meada foi perdido, há uma nítida pressa em dar um desfecho para história que possa relacionar cada um dos fatos que vieram à tona nos primeiros atos. A desenvoltura observa na apresentação de cada um dos personagens, simplesmente desaparece dando lugar à uma sequência de ações desajustadas que prejudica o desenvolvimento da história e coloca a perder tudo que já tinha sido edificado. A sequência final beira ao ridículo, denunciando assim o problema que tem sido comum também a outros dos últimos filmes do Tim Burton: apesar de ter personagens interessantes o roteiro demonstra que não sabe o que fazer com eles e sendo assim, a saída é inseri-los em uma realidade alterada, ora sombria, ora burlesca, que busque se sustentar apenas pelo aparato técnico da produção.


A atuação do Johnny Depp no filme é um indício claro daquilo que já venho defendendo a bastante tempo, a parceria dele com Burton já deu o que tinha que dar, ele não está mal, contudo a repetição de mais um personagem excêntrico, que se assemelha a tantos outros que ele já viveu, pelos diversos trejeitos e maneirismos, é extremamente prejudicial para ele como artista, uma vez que seu nome está cada vez mais associado a tais tipos. Na constituição de seu Barnabas Collins não há ousadia, apenas mais do mesmo escondido embaixo de alguns quilos de maquiagem. A situação também se repete com a Helena Bonham Carter, que por sua vez se encontra neste filme em uma posição bem mais desconfortável do que a de Depp, seu personagem raso não lhe permite demonstrar o talento que tem. 


Ainda no tocante às atuações, os destaques ficam por conta da Eva Green, que está muito bem na pela da vilã, e da Michelle Pfeiffer, que transcende a mediocridade de sua personagem e entrega um desempenho bastante convincente. Como é comum nos filmes do Tim Burton, o aparato técnico é de uma qualidade quase irrepreensível,  a começar pela trilha sonora, que é fantástica, passando pelos figurinos, maquiagens e direção de arte, até chegar na fotografia dirigida pelo Bruno Delbonnel (que tem no currículo obras como O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) e Across the Universe (2009)), todavia, volto a afirmar que a excelência técnica por si só não é o suficiente para se fazer um bom filme. 

Concluo, portanto, que Sombras da Noite não é uma obra totalmente dispensável, contudo ele não chega nem perto de atingir as expectativas alimentadas pelos nomes envolvidos. E definitivamente ele não parece ser um filme do mesmo cineasta que já concebeu obras do calibre de Edward Mãos de Tesoura (1990)Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (2003).


Assistam ao trailer de A Troca no You Tube
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A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra,

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Terror em Silent Hill

Terror em Silent Hill (Silent Hill) - 2006. Dirigido por Christophe Gans. Escrito por Roger Avary. Direção de Fotografia de Dan Laustsen. Música Original de Jeff Danna e Akira Yamaoka. Produzido por Don Carmody e Samuel Hadida. Silent Hill DCP Inc., Davis-Films e Konami Corporation / Canadá | França | Japão | USA.


Meus amigos adoram me meter em furadas, isso é um fato... Dia desses escolhi um bom filme pipoca para levar na casa de uns amigos, porém chegando lá, para minha completa decepção, eles optaram por outro filme que eu não tinha, até então, a mínima pretensão de assistir. Mas, mesmo sabendo o que me aguardava, decidi ficar, afinal eu não estava na posição de impor qual filme deveríamos assistir e ficaria feio se eu decidisse ir embora  de uma hora para outra. O filme escolhido por eles era Terror em Silent Hill (2006), adaptação cinematográfica de um famoso jogo de vídeo-game que fora criado no Japão. Comecei então a assisti-lo e minha expectativa ainda não era das piores. Com toda a sinceridade do mundo, eu torcia para que ele me surpreendesse, contudo bastaram poucos minutos para que eu entendesse que isso não seria possível de forma alguma. 

O longa, dirigido por Christophe Gans reproduz inúmeros clichês do terror como gênero e como se isso não bastasse ele faz verdadeiros plágios de cenas e de situações que ficaram famosas em outros filmes, como por exemplo o da tomada aérea que mostra o carro se deslocando numa autoestrada, indo em direção ao perigo - sequência memorável de O Iluminado (1980) - e a cena da garotinha que surge assustadora com rosto tombado e as mechas de cabelo jogadas sobre o rosto - cena presentes em inúmeros filmes do gênero, que vão de Carrie, a Estranha (1976) a O Chamado (2002) - isso para não citar outras que serviriam como spoilers, a presença de tais "repetições" só mostra o quanto o terror se desgastou nos últimos anos e sua urgente necessidade de reinvenção.



A trama, totalmente "sem pé nem cabeça", como bem classificou o meu amigo que escolheu o filme, gira em torna da família Silva (sic). Rose da Silva (Radha Mitchell) e Christopher Da Silva (Sean Bean) estão muito preocupados com a filha Sharon (Jodelle Fernand), ela sofre de sonambulismo, o que a faz caminhar e dizer coisas estranhas durante o sono. A primeira cena do filme mostra uma situação na qual a menina se meteu por conta de sua doença, seus pais se arriscam para salvá-la, no entanto esta é a gota d'água para Rose,  que, mesmo contra a vontade do marido, decide ir até Silent Hill, cidade que a menina menciona repetidamente durante o sono, para investigar a fundo o passado da filha que adotara ainda bebê.


Silent Hill é uma cidade fantasma, que fora abandonada depois de um acidente que acontecera na década de setenta. As minas de carvão que estão localizadas no seu sub-solo, onde ao que tudo indica o acidente aconteceu, continuam em combustão,  produzindo uma quantidade enorme de fumaça e de fuligem, o que torna a cidade praticamente inabitável. Rose capota seu carro ao chegar nos arredores do município e ao acordar ela percebe que a filha desaparecera, dotada de uma coragem descomunal ela adentra no perímetro assustador da cidade para tentar encontrar a menina. Ela contará com a ajuda de uma policial de uma cidade vizinha, que a perseguira na estrada, e de alguns outros personagens que surgem durante o desenvolvimento da trama.


De uma forma totalmente improvável o roteiro mescla histórias de fantasmas, zumbis, bruxas, monstros e possessão, sem que nada disso seja devidamente explicado ou no mínimo contextualizado, mesmo com tantos elementos o que sobra é o convencionalismo, que permite que nós espectadores já saibamos que desfecho o filme vai ter desde os primeiros minutos - aos 15 minutos de duração eu expus minha teoria sobre o desfecho, acertei em cheio - todas as situações são previsíveis e a trama é totalmente incapaz de criar qualquer tipo de suspense. As únicas sensações desconfortáveis que o filme nos provoca são o cansaço, que vem com a impressão de que ele está se prolongando demais (isto ainda na primeira hora de duração), e a vergonha alheia, que sentimos diante dos efeitos visuais e das tentativas de provocar algum susto.


Terror em Silent Hill é uma porcaria com "P" maiúsculo, do tipo que devemos passar o mais longe possível, portanto não se deixe levar pela propaganda de que esta é a melhor adaptação de um game já feita, isto pode até ser verdade, contudo tal argumento não vale por si só. Talvez para os fãs do jogo o filme até faça algum sentido, mas para os olhares mais atentos e aguçados, o longa não passa de uma fraude, uma sequência de erros que tenta se sustentar plagiando obras consagradas do gênero. É até estranho ver um profissional como o roteirista Roger Avary, que tem no currículo a coautoria de obras primas como Cães de Aluguel (1992) e Pulp Fiction (1994), entregar um trabalho tão sofrível quanto este. Durante todo o filme é possível perceber que houve um cuidado com o visual e com a fotografia, no entanto, toda a estética do filme é pessimamente usada como parte da narrativa. A trilha sonora, quase toda vinda do jogo, é o destaque positivo do filme, mas ela por si só é incapaz de salvar o filme da péssima qualidade de seus outros aspectos... Não recomendo!


Assistam ao trailer de Terror em Silent Hill no You Tube, clique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra, 


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Aliens, O Resgate

Aliens, O Resgate (Aliens) - 1986. Dirigido por James Cameron. Escrito por James Cameron, David Giler e Walter Hill. Música Original de James Horner. Direção de Fotografia de Adrian Biddle. Produzido por Gale Anne Hurd. Twentieth Century Fox Film Corporation, Brandywine Productions e SLM Production Group / USA | UK.


Quem conhece a filmografia de James Cameron já sabe o que esperar de suas obras: excelente qualidade técnica e efeitos espetaculosos; aspectos estes que servem tanto para impressionar o público quanto para camuflar o convencionalismo de suas tramas e o minimalismo de seus personagens. Isto seria em si um problema? Penso que depende do ponto de vista. Alguns de seus filmes foram pioneiros no uso de diversas tecnologias e quebraram  paradigmas no tocante ao uso da técnica, contudo seus roteiros são apenas mais do mesmo, não há neles experimentalismo, inovação ou qualquer tipo de marca autoral, suas tramas acabam tropeçando em alguns dos clichês mais manjados da sétima arte, cito como exemplo o do romance entre o rapaz pobre e a menina rica e do herói que se volta contra seu próprio povo para defender o modo de vida de uma outra civilização. Aliens, o Resgate (1986) não foge à esta regra, infelizmente, e isto o torna um filme bem diferente de Alien, o Oitavo Passageiro, o primeiro da franquia.

Aliens, o Resgate não é um filme ruim, longe disso, porém os seus atrativos são bem diferentes daqueles oferecidos pelo primeiro. Se no longa dirigido por Ridley Scott, o suspense com ares hitchcokianos era um dos aspectos que mais se destacava, ao lado da direção de arte, neste ele cede lugar a um modo bem mais  simplório de explorar as nossas emoções. Quando escrevi o artigo Hitchcock à Luz da Teoria da Persuasão, publicado aqui no Sublime Irrealidade, iniciei o texto com uma citação do mestre do suspense que define bem o seu "estilo", ele diz que: "Se explodirmos repentinamente uma bomba numa sala com duas pessoas, a emoção durará dez segundos. Mas anuncie que a bomba irá explodir e o suspense durará até o fim"; tal forma de incitar a tensão é semelhante a aquela que Ridley explora em seu filme, Cameron no entanto segue um outro caminho, ele prefere explodir uma bomba atrás da outra, o que no fim das contas aproxima seu filme muito mais do gênero ação do que do suspense...


Em Aliens, O Resgate, Ellen Ripley (Sigourney Weaver), sobrevivente da Nostromo, a nave que fora atacada pelo Alien no primeiro filme, é resgatada após vagar a ermo pelo espaço, ao acordar ela descobre que 57 anos se passaram desde que ela se fechou em uma câmara de hibernação, o que fora mostrado no final do longa antecessor. Ela, mesmo traumatizada pelos acontecimentos que vivenciou, decide voltar em uma missão militar que vai até um planeta dominado pela criatura extraterrestre para tentar resgatar possíveis sobreviventes... O roteiro parece querer dar ao filme um significado maior, que vá além da mera questão de sobrevivência , que era o que impulsionava a personagem principal na história anterior. Nesta, Ellen ganha novas motivações, mais do que sobreviver ela agora quer proteger uma garotinha órfã, encontrada no planeta colonizado pelos aliens, partindo deste mote a trama mergulha em uma sequência de clichês, que só não põe tudo a perder porque as sequências de ação funcionam muito bem. 



Eu percebo nos filmes de Cameron, uma tentativa de fazer referências a questões sociológicas e políticas através da alegorização e da metaforização, em Titanic (1997), por exemplo, há a temática da divisão de classes (que impede o romance entre os personagens centrais durante boa parte do filme), já em Avatar (2009) o cineasta faz uma clara referência à guerra do Iraque (e aos conflitos motivados pela questão do petróleo no oriente médio), contudo em ambos os filmes tais angulações acabam se tornando nada mais que tentativas frustradas de dar às obras uma áurea mais intelectualizada, o que é impedido pela superficialidade dos personagens e das tramas nas quais estão envolvidos. Analisando Aliens, o Resgate a partir de tal ponto de vista, podemos ver nele uma intenção, mais um vez frustrada, de alegorizar a guerra (com claras referências ao Vietnã); forçando um pouco tal interpretação vemos na personagem de Sigourney Weaver uma recriação da consciência dos soldados americanos, que estariam buscando motivações pessoais para lutar em batalhas que não eram suas e por razões nas quais eles não acreditavam... 


Cameron parece não ter o mesmo receio que Ridley tinha de mostrar o monstrengo alienígena, afinal neste filme, a tecnologia o torna aparentemente mais assustador e convincente. Se não há mais porquê escondê-lo, ele, ou melhor, eles, então aparecerão em boa parte das cenas, em planos abertos e até em close-ups. Como eu disse anteriormente,  Aliens, o Resgate  se aproxima mais da ação do que do suspense, e dentre os filmes deste gênero, ao qual ele pode ser melhor associado, eu diria que ele é um dos melhores de sua década. Eu, mesmo não sendo uma grande fã do cineasta, tenho que reconhecer  que ele é um dos mais talentosos diretores do "cinemão" americano, ele com tamanha facilidade consegue nos envolver com a trama minimalista e nos fazer experimentar a sensações experimentadas a priori pelos seus personagens e é isto que torna seus trabalhos dignos de serem vistos, ainda que no fim das contas eles funcionem tão somente como bons filmes pipoca. 


Aliens, O Resgate, além  de sua excelência técnica, chama atenção pela boa atuação de Sigourney Weaver (que eu pessoalmente não julgo tão merecedora de uma indicação ao Oscar), porém o desempenho dela  chega a ser quase um contraponto quando comparado com o de parte do elenco secundário, como por exemplo o da atriz Jenette Goldstein, que tem uma atuação forçada e demasiadamente caricata (inexplicavelmente Cameron ainda a recrutaria para outras de suas produções)... Aliens, o Resgate não é nenhum clássico, nem chega ao nível qualitativo alcançado pelo primeiro de sua franquia, todavia ele merece ser apreciado por todos, mas tão somente por aquilo que ele realmente é, um típico filme cameroniano. Sim, eu o recomendo!


Aliens, O Resgate ganhou o Oscar nas categorias de Melhores Efeitos Especiais e Efeitos Sonoros, tendo sido indicado também nas categorias de Melhor Atriz (Sigourney Weaver), Direção de Arte, Montagem, Trilha Sonora e Edição Som. Ele recebeu uma indicação ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Sigourney Weaver). 

Assistam ao trailer de Aliens, o Resgate no You Tube, clique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra, 
portanto não devem ser consideradas spoilers!

terça-feira, 20 de março de 2012

Alien, o Oitavo Passageiro

Alien, o Oitavo Passageiro (Alien) - 1979. Dirigido por Ridley Scott. Escrito por Dan O'Bannon e Ronald Shusett, baseado no livro de Dan O'Bannon. Música Original de Jerry Goldsmith. Direção de Fotografia de Derek Vanlint. Produzido por Gordon Carroll, David Giler e Walter Hill. Brandywine Productions e Twentieth Century-Fox Productions / USA | UK.


São pouquíssimos os filmes de ficção científica que conseguem ultrapassar décadas sem se tornarem datados e consequentemente obsoletos, Alien, o Oitavo Passageiro (1979) de Ridley Scott é um destes, se por um lado o impacto dos sustos que ele provoca foi diminuído com o tempo, uma vez que algumas sequências hoje beiram o grotesco, por outro o suspense que conduz o seu ritmo permanece intacto, assim como a direção de arte, que mais de 30 anos depois, ainda consegue nos convencer de que a trama se passa de fato dentro de uma nave espacial, sem que esta se pareça com uma barca iluminada por pisca-piscas de natal. Apenas com algumas ressalvas, no que tange o visual dos personagens e o monstro propriamente dito, que nos remetem de imediato à época na qual o filme foi produzido, todos os outros aspectos fazem com que sejamos facilmente convencidos de que ele poderia ter sido filmado nos dias de hoje.

Alien realizou o elogiável feito de transpor os limites dos gêneros sob os quais sua trama está firmada, o terror e a  sci-fi., se tornando assim um venerado clássico cultque rendeu três continuações e mais alguns spin-offs caça niqueis. Todo o alarde em torno dele não é de todo injustificável, uma vez que ele vale a pena ser visto não só pelo fato de ter envelhecido bem, mas também pela sua inegável qualidade técnica e estética, pelos nomes envolvidos e pela excelente condução de seu suspense. 


Quase toda a trama de Alien se desenrola dentro da nave espacial Nostromo, que realiza uma espécia de arqueologia espacial, a embarcação é tripulada por 7 astronautas, figuras peculiares, cada um deles tem uma função específica na missão, da qual já estão de retorno. Eles estão já na rota de volta para a Terra, quando recebem uma mensagem, que não conseguem decifrar, vinda de um outro planeta, eles decidem pousar e investigar. Durante a missão de reconhecimento um dos astronautas é atacado por uma criatura que se gruda ao seu rosto, seus companheiros o socorrem e o levam de volta para a nave, deixando para trás o planeta desconhecido. Já na nave, após algumas tentativas frustradas da equipe, a criatura se desprende da face do homem e morre logo em seguida. Todos acreditam que a história está acabada e decidem continuar a viagem de volta, sem saberem que um novo tripulante está a bordo: o oitavo passageiro...


Em minha opinião, os melhores aspectos do filme continuam sendo a o peso da regência de Ridley Scott, a direção de arte e os efeitos visuais. Ridley é o responsável pelo filme não ter se tornado uma espécie de horror cômico, daqueles que chamam atenção mais pela sua falta de destreza em tentar nos assustar do que pelos seus atributos dramáticos e técnicos. A direção de arte e os efeitos visuais auxiliam à direção no árduo trabalho de fazer o longa se tornar aquilo que ele se tornou com o tempo: um clássico cultuado por diversas gerações de críticos e cinéfilos. Alien aproveitou da melhor forma possível a influência dos filmes de monstro e produções “B” das décadas anteriores, buscando nelas a temática, que seu roteiro sabiamente transformaria não tão somente em um terror convencional, mas em um intenso suspense psicológico...


A sensação de claustrofobia nos dutos e corredores escuros da Nostromo é indescritível, a ambientação neste caso causa mais apreensão que o próprio monstro. O alienígena raramente aparece em cena, o que torna menos risível sua imagem meio tosca (dada a tecnologia da época) e ainda aumenta o temor acerca de como e quando ele aparecerá novamente, fomentando desta forma o suspense da trama... Outro aspecto legal do filme é podermos através dele conferir o desempenho de atores, como John Hurt e Sigourney Weaver nos primórdios de suas carreiras; Hurt protagoniza uma das sequências mais memoráveis do filme e da história do cinema (a clássica cena do café da manhã), a Weaver interpreta aquela que é no mínimo uma das personagens mais importantes de toda a franquia... Contudo, as atuações em si não trazem praticamente nada de tão extraordinário.


Está prevista para 8 de junho deste ano, a estreia de Prometheus, obra mais recente de Ridley Scott, que promete ser uma espécie de prelúdio da franquia de Alien, este lançamente provavelmente provocará uma onda de revisitação à esta que foi a primeira obra a levar o monstrengo alienígena para as telas do cinema; aquele que embarcar nesta viagem espacial pela primeira vez irá se deparar com um dos filmes mais importantes e influentes do final dos anos 70, época prolífera de Hollywood, com um clássico bem envelhecido que continua funcionando maravilhosamente bem... Recomendo!


Alien ganhou o Oscar na categoria de Melhores Efeitos Visuais e recebeu 
uma indicação na de Melhor Direção de Arte.

Assistam ao trailer de Alien no You Tube, clique AQUI ! 

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra, 
portanto não devem ser consideradas spoilers!

sábado, 21 de janeiro de 2012

A Pele que Habito

A Pele que Habito (La Piel que Habito) - 2011. Dirigido por Pedro Almodóvar. Escrito por Pedro Almodóvar e Agustín Almodóvar, baseado na obra de Thierry Jonquet. Direção de Fotografia de José Luis Alcaine. Música Original de Alberto Iglesias. Produzido por Agustín Almodóvar e Esther García. El Deseo S.A., Canal+ España, Instituto de Crédito Oficial (ICO) e Televisión Española (TVE) / Espanha.


Existem alguns cineastas acerca dos quais só criamos boas expectativas, de alguma forma nossa relação com suas obras nos diz que dificilmente eles seriam capazes de nos surpreender negativamente. Este é o meu caso com os filmes de Pedro Almodóvar. Mesmo depois de tantos filmes ele não foi capaz de me decepcionar, reconheço que sua carreira tenha tido altos e baixos, mas no caso dele os “baixos” estão bem acima da média. Foi com este entusiasmo que comecei assistir A Pele que Habito (2011), seu mais recente trabalho. À minha expectativa foi ainda somada uma grande curiosidade, afinal este seria o primeiro flerte do diretor com o terror, gênero que convenhamos não tem muito a ver com estilo melodramático que lhe é característico.

A Pele que Habito, que é uma livre adaptação do livro Tarantula do escritor francês Thierry Jonquet, tem no centro de sua trama o excêntrico doutor Robert Ledgard (Antonio Banderas), um personagem claramente inspirado na clássica figura do cientista louco, ele é um cirurgião plástico que está trabalhando em uma espécie de segunda pele, esta mais resistente que a pele humana natural, a jovem Vera (Elena Anaya) é mantida reclusa em seu laboratório e lhe serve como cobaia em seus experimentos, só quem sabe da existência dela é Marilia (Marisa Paredes), a mulher que criou Robert e que fora trazida por ele para trabalhar como governanta em sua mansão após a morte trágica de sua esposa, a quem ele nunca conseguiu esquecer.


À principio tudo na trama nos leva a crer que ela se desenvolverá como uma história de terror convencional, no início o toque autoral de Almodáver se faz presente apenas na parte estética da obra, que é tão bem trabalhada quanto em seus filmes anteriores. Nesta primeira parte senti que faltava uma pincelada do estilo de caricato e por vezes exagerado do cineasta, algumas peças não encaixavam, tudo indicava que seria um apenas um bom filme e nada a mais que isso. No entanto a trama começa a se desenrolar, outros personagens são somados à ela, segredos começam a ser revelados e o passado dos personagens desnudado, aquilo que parecia estar deslocado, passa a fazer todo o sentido, ainda que da forma mais melodramática e exagerada possível, ai vem a certeza, estamos diante de um filme de Almodóvar!


Em A Pele que Habito o diretor cria uma espécie de metáfora do homossexualismo, um dos temas recorrentes em sua filmografia, no desenvolver da história ele faz uma desconstrução da ideia de estar preso em um corpo não condizente com sua sexualidade, para a partir daí colocar alguns tabus e convenções em xeque, tudo isso é feito de uma forma simbólica e sem panfletarismo, o que torna o filme ainda mais interessante. Não pretendo tecer aqui um comentário mais aprofundado sobre tal metáfora, pois para isso eu teria que revelar segredos da trama, o que tiraria todo o prazer de assistir ao filme... Se por um lado o roteiro expõe de forma quase subliminar suas abordagens, por outro ele já é bem direto, nós expectadores não somos poupados diante de cenas de violência sexual em condições que beiram o grotesco (a foto postada acima dá um claro exemplo disso)...


Em A Pele que Habito Almodóvar volta a trabalhar depois de anos com Antonio Banderas, ator que teve a carreira internacional deslanchada depois da parceria de ambos no excelente Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1987), o último filme no qual tinham trabalhado juntos fora Ata-me, rodado em 1990, há mais de 20 anos portanto. O elenco ainda conta com a presença mais que ilustre de Marisa Paredes, atriz com quem Almodóvar não trabalhava desde Fale Com Ela (2002). Tanto Banderas, quanto Paredes nos presenteiam com ótimas atuações, eles imprimem em seus respectivos personagens uma carga dramática digna dos melhores filmes do diretor espanhol. A bela Elena Anaya também tem um desempenho notável, ela interpreta um dos personagens mais complexos da trama... A fotografia e a direção de arte, são aspectos que praticamente dispensam qualquer comentários, pois já sabemos de antemão que o cuidado com o visual de seus longas é uma das principais marcas de Almodóvar.


A crítica especializada parece ter se descabelado para enquadrar A Pele que Habito em um gênero cinematográfico específico, o filme chegou a ser rotulado de noir (principalmente por causa do livro que lhe deu origem), terror, suspense psicológico, ficção científica e, lógico, melodrama... A verdade é que ele transita por todos estes gêneros sem se ater a nenhum deles. A complexidade de sua trama, que vai se desenvolvendo em camadas, ao mesmo tempo em que é o seu maior charme, também acaba sendo seu ponto mais frágil. A decisão de criar diversos focos narrativos chegou a ser apontada por parte da crítica como a responsável pela “irregularidade” do filme. Eu, no entanto, acredito que se esta irregularidade realmente exista, ela foi proposital e o intuito por trás dela seria tão somente o de gerar a sensação de desconforto que nós espectadores sentimos durante quase todo o filme, sensação esta que explicaria e  justificaria a declaração dada pelo diretor de que este seria um "terror, mas sem gritos ou sustos"...

A Pele que Habito não alcança, em minha opinião, o mesmo status qualitativo de obras primas de Almodóvar como Tudo Sobre Minha Mãe (1999), Volver (2006) e Carne Trêmula (1997), no entanto é um grande filme, um dos melhores de 2011, que merece sem dúvidas ser apreciado... Recomendo!


A Pele que Habito recebeu uma indicação ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, no Bafta ele concorre ao prêmio de Melhor Filme de Língua Não Inglesa

Assistam ao trailer de  A Pele que Habito  no You Tube, clique AQUI !
Não permita que este trailer (horrível) lhe desmotive!