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domingo, 27 de outubro de 2013

Elysium

Elysium - 2013. Escrito e dirigido por Neill Blomkamp. Direção de Fotografia de Trent Opaloch. Trilha Sonora Original de Ryan Amon. Produzido por Simon Kinberg. TriStar Pictures, Alpha Core, Media Rights Capital, QED International, Simon Kinberg Productions e Sony Pictures Entertainment / USA.


Em Distrito 9 (2009), seu filme anterior, o cineasta sul-africano Neill Blomkamp despertou a atenção do público e da crítica por conseguir, em um filme de ação, tecer contundentes críticas à desigualdade e à exclusão social. Através de metáforas muito bem construídas ele usou uma história de ficção científica, sobre invasão alienígena, para retratar os efeitos ainda existentes do Apartheid em seu país de origem. Mas, não sendo restrito à realidade específica da África do Sul, o filme acabou se tornando também uma metáfora do modelo de organização ainda vigente na maioria das grandes cidades, um modelo que culmina com o processo de favelização e com a formação de guetos, espaços não alcançados pelas políticas sociais, que se tornam uma espécie de refúgio para aqueles, uma grande maioria, que devido á própria condição se viu excluído do convívio com seus semelhantes.

Em Elysium (2013) o cineasta volta ao mesmo tema, abordando-o com a mesma inventividade, novamente o que ele nos apresenta é uma boa trama de ação e aventura, na qual as inúmeras referências às já citadas questões sociais acabam funcionando como uma denúncia à este modelo de organização, com isso ele abre margem para importantes reflexões sobre tais problemáticas e seus efeitos. O roteiro escrito por ele próprio nos conduz para uma realidade distópica, ambientada no ano de 2154, onde vemos reproduzidas algumas aberrações sociais decorrentes da ganância e da sede de poder alimentada por uma minoria que detém o controle social. Neste futuro sombrio, não tão distante da nossa própria realidade, podem ser percebidos inúmeros avanços tecnológicos, no entanto estes servem basicamente à duas funções: garantir os privilégios gozados pela minoria e exercer um controle social sobre a grande massa marginalizada.


Tais avanços tecnológicos possibilitaram a criação de uma plataforma espacial, a Elysium, um lugar restrito aos que detém o poder, um espaço livre da escassez e da violência que assolam a Terra e com a cura disponível para todas as doenças. Frequentemente expedições tentam invadir a plataforma, os nativos da Terra vão em busca do conforto que o lugar pode oferecer e da cura para males intratáveis. O planeta se transformou em uma espécie de colônia superpovoada capaz de oferecer mão de obra barata e os insumos necessários para a subsistência de Elysium; qualquer semelhança com a realidade de países do terceiro mundo não é mera coincidência, lembremos que o longa é na verdade uma contundente crítica a tal realidade - Como não ver nas incursões para a plataforma espacial uma clara referência à imigração ilegal para os países desenvolvidos? Como não relacionar as atividades da corporação retratada pelo filme à atuação de grandes multinacionais em países de condições econômicas, políticas e sociais instáveis ?


Desta opressora realidade surgem alguns heróis tortos, tão distópicos e condenáveis quanto o mundo ao qual pertencem. Diferente do herói trágico, cuja ventura era determinada por uma única falha de caráter, o herói distópico alcança alguma bem-aventurança devido à algumas poucas virtudes, que se destacam em meio à uma postura sujeita a ser condenada por diversos aspectos. Max (Matt Damon) e Spider (Wagner Moura) representam no filme este tipo de herói, o primeiro é um ex-ladrão de carros que se encontra em liberdade condicional, o segundo é o líder de um grupo de rebeldes que atuam como "atravessadores" entre a Terra e Elysium. Ambos se vêm envolvidos em uma mesma missão depois que Max sofre um grave acidente na fábrica em que trabalha, ele descobre que tem poucos dias de vida e decide ir para a plataforma espacial em busca de cura...


O reencontro de Max com Frey (Alice Braga), uma amiga de infância, faz com que ele questione suas motivações e prioridades e a situação muda completamente depois que ele e Spider descobrem que têm a posse de algo tão poderoso que é capaz de transformar a realidade nos dois mundos. Este mesmo poder é cobiçado pela cruel Delacourt (Jodie Foster), a responsável pela segurança de Elysium, ela, que planeja um golpe de estado contra o atual governante, alicia na terra o mercenário Kruger (Sharlto Copley), para realizar cá embaixo todo o seu serviço sujo (a composição de Kruger faz referência às autoridades de países pobres, que sacrificam os interesses de sua própria gente devido à subserviência aos interesses dos dominantes). Apesar de ter algumas pequenas reviravoltas, a trama se desenrola sem tanta ousadia ou experimentalismo, o que nos faz lembrar de estamos diante de um mero filme de ação, cuja a proposta é apenas proporcionar um entretenimento inteligente, dando ainda uma pequena margem para uma grande reflexão. 


Esperar de Elysium um tratado filosófico sobre a desigualdade social e a determinação das relações de poder é sem sombra de dúvidas um grande erro, esta definitivamente não é a sua proposta, o que fica evidente no tipo de ritmo que ele adota: rápido e pontuado por sucessivas cenas de combate físico. A trama peca, não por evitar o aprofundamento nas questões abordadas, mas por se render em alguns momentos a clichês que pouco contribuem para a narrativa e à sequências de notável apelo emocional, que não funcionam com tanta naturalidade. Isso certamente prejudica o filme, mas não o torna uma obra ruim ou descartável, afinal de contas o que se sobressai, tal como em Distrito 9, é a sua relativa diferenciação em relação às demais produções de seu gênero, o que corrobora a ideia de que o entretenimento para funcionar como tal não precisa ser desprovido de significações maiores e de inventividade.


Todo o elenco entrega boas atuações, convincentes e com arestas bem aparadas, Wagner Moura, contudo, vai além, ele empresta ao seu personagem trejeitos e maneirismos que enriquecem sua composição e fazem com que ele roube a cena em cada um dos momentos em que aparece, sua entrega à interpretação justifica cada um dos elogios recebidos por ele no Brasil e no exterior. O que também chama a atenção no filme é o visual, e isso acontece principalmente nas passagens nas quais são salientadas a pobreza e a devastação da terra. Trent Opaloch, que também fotografou Distrito 9, entrega aqui um excelente trabalho, que aliado à direção de arte, ajuda a compor um conjunto de imagens que remete a um futuro distante mas sem perder o link com a realidade de nossa própria época. O tom predominantemente amarelado e/ou metalizado, remete à pobreza, ao domínio exercido através da tecnologia e à escassez de água e de vegetação, o que reforça a impressão do quão inóspito é aquele lugar.


Elysium não merece ser visto apenas pela presença dos atores brasileiros, pensar desta forma seria negligenciar tudo aquilo que ele pode nos oferecer, seria portanto puro reducionismo. Ele vale a pena também pelo bom entretenimento que nos oferece (sua duração de quase duas horas passa em um piscar de olhos) e também pela reflexão que ele ao menos incentiva... Volto afirmar, Neill Blomkamp não é um dos melhores cineastas da atualidade, mas seu trabalho merece muito ser acompanhado bem de perto. 


Assistam ao trailer de Elysium no You Tube, clique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.


Confiram também aqui  no Sublime Irrealidade a crítica de Distrito 9,
também dirigido pelo Neill Blomkamp.

domingo, 21 de abril de 2013

Frankenweenie

Frankenweenie - 2012. Dirigido por Tim Burton. Escrito por Tim Burton, John August e Leonard Ripps. Direção de Fotografia de Peter Sorg. Música Original de Danny Elfman. Produzido por Tim Burton e Allison Abbate. Walt Disney Pictures / USA.


Frankenweenie (2012), apesar de ser um filme bastante irregular, é de longe o melhor trabalho do Tim Burton em anos, nele os elementos que caracterizam a marca autoral do cineasta aparentam estar em uma harmonia que não era vista desde A Noiva Cadáver (2005), curiosamente outra animação, o que não é por acaso. Burton tem demonstrado maior habilidade em um gênero no qual o exagero caricato da composição dos seus personagens e a superficialidade de suas histórias não constituem problemas tão graves quando notáveis. O roteiro do filme peca em alguns aspectos, que comentarei mais adiante, mas ainda assim ele consegue dar o suporte necessário para a narrativa, o que provavelmente não aconteceria caso se tratasse de um filme em live action, uma vez que naturalmente se espera um pouco mais de profundidade dramática de obras neste formato.

Ironicamente, a trama de Frankenweenie parece ter sido concebida tal como o cãozinho que é ressuscitado em sua história. Assim como o cachorro, o roteiro chama a atenção pelas colagens do qual é constituído e deixa aparente costuras e remendos que denotam o amadorismo, que caracteriza sua composição. Inúmeras referência à clássicos da literatura e do cinema de horror pipocam na tela a todo momento, o que à princípio até chega a ser algo interessante. É legal perceber, por exemplo, a influência dos cenários de O Gabinete do Doutor Caligari (1920), clássico do expressionismo alemão, na construção do sótão onde o garoto protagonista realiza suas experiências e a sátira bem humorada de lugares comuns do gênero, como o personagem soturno que relata uma lenda assustadora ou a revolta do povo contra um ser inocente acusado de trazer uma maldição.


A partir de determinado momento, no entanto, o roteiro perde toda a sua sutileza e as referência se tornam mais escrachadas, passando a chamar mais a atenção do que o desenrolar da trama em si. Isso não chega a tornar o filme ruim, mas tira dele aquilo que, em se tratando de Tim Burton, faria toda a diferença: a originalidade. Principalmente no último ato, tudo o que acontece parece ser justificado apenas pela tentativa de se fazer um diálogo com outras obras e com isso ganhar a simpatia do espectador, tal proposta até poderia ser considerada nobre se fosse usada com sobriedade, mas não é o que acontece. Percebe-se então muito daqueles que influenciaram Burton em seu estilo, enquanto a expressão de sua própria personalidade artística fica limitada a alguns dos elementos técnicos do filme. 


Victor Frankenstien (voz de Charlie Tahan) é um garoto tímido, de poucos amigos, cuja principal companhia é Sparky, seu fiel cachorrinho. Imerso em uma solidão autoimposta, ele aproveita o isolamento para dar asas à sua criatividade, ele transforma o sótão de sua casa em um verdadeiro laboratório, onde realiza experimentos científicos e põe à prova teorias aprendidas em sala de aula. O mote da trama surge quando Sparky morre em um atropelamento, Victor fica desolado e no afã de ter seu amigo de volta ele decide usar os conhecimentos adquiridos na escola para ressuscitá-lo. Ele desenterra o cachorro, costura seu corpo dilacerado e consegue, com a ajuda de uma descarga elétrica provocada por um raio (tempestades com raios são frequentes na cidade onde a história se passa), trazê-lo de volta do mundo dos mortos. 


Na primeira sequência do filme, Victor mostra para seus pais um filme amador que rodara tendo o cãozinho como protagonista, nesta passagem é praticamente impossível não ver no garoto e no contexto em que ele vive uma referência à infância do próprio Tim Burton, este viés autobiográfico poderia ter sido a grande sacada do filme, no entanto, ele se perde rapidamente, dando lugar às tentativas desajeitadas do cineasta de explicar a origem de sua marca autoralDrácula (1931)King Kong (1933)O Lobisomem (1941)Godzilla (1954)A Múmia (1959)Gremlins (1984)O Cemitério Maldito (1989) e Jurassic Park (1993) são alguns dos filmes aos quais Frankenweenie reverencia, o aspecto positivo que pode ser observado em meio à tantas citações é a nostalgia que nos salta aos olhos durante o desenvolvimento da trama, que tem um pé fincado nos clássicos do terror e outro nos filmes juvenis da década de 80. 


As citações usadas por Burton aponta para a humildade que ele demonstra ter ao reconhecer aqueles que o influenciaram, mas é através delas também que ele faz uma crítica sutil à Disney, a produtora do filme, a mesma que o demitiu nos anos oitenta por considerar o curta que daria origem a Frankenweenie sombrio demais (na ocasião ele ainda era apenas um animador). Em uma cena rápida é possível perceber que o filme Bambi (1942), um dos clássicos da produtora, está em cartaz em um cinema da cidade, segundo o próprio cineasta tal referência é apenas uma lembrança de que historicamente a trajetória da Disney também está maculada pela exploração de cenas inapropriadas para crianças. Em uma entrevista concedida à agência de notícias Reuters ele lembrou que a morte da mãe do Bambi é tão sombria quanto os temas explorados por ele em seus filmes.


A qualidade técnica de Frankenweenie é indiscutível, o que já esperado de qualquer filme do Tim Burton, mesmo dos mais facos. A animação em stop motion é muito bem realizada, o que pode ser percebido pela meticulosidade dos  movimentos dos personagens e pela riqueza de detalhes presente em cada fotograma do filme. O visual sombrio, muito bem elaborado, está condizente com a temática e a trama do filme, a fotografia em preto e branco destaca e potencializa a morbidez das ambientações, que parecem saídas de um conto do ultra-romantismo. A ausência de cor é mais um elemento que remete aos clássicos do terror das décadas de 20, 30 e 40. A trilha sonora do filme é outro aspecto técnico que merece ser destacado, as canções, que são muito bem usadas em seu desenvolvimento, conciliam tanto o viés sombrio quanto o cômico, gerando um resultado condizente com a proposta do roteiro de mesclar o horror à leveza das comédias infanto/juvenis. 


Como eu disse no início desta resenha, Frankenweenie, apesar de seus excessos e derrapadas, ainda é uma das melhores obras que o Tim Burton dirigiu nos últimos anos. O que preocupa é que mesmo tendo um considerável nível de qualidade, perceptível em vários de seus aspectos técnicos e artísticos, o filme ainda é incapaz de lançar uma luz de esperança sobre a obra do cineasta, que parece condenado a repetir à exaustão fórmulas já desgastadas... Felizmente, aqui não temos mais uma parceria entre Burton, Johnny Depp e Helena Bonham Carter, o que, convenhamos, é bom para todos! 

Frankenweenie não é uma obra-prima e está bem aquém do que se espera de um cineasta que já realizou obras como Edward Mãos de Tesoura (1990)Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (2003), todavia, ainda é uma boa pedida, principalmente para quem espera dele só um bom entretenimento, recomendo!


Assistam ao trailer de Frankenweenie no You Tube, clique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.


Confiram também aqui no Sublime Irrealidade as críticas de A Noiva Cadáver e Sombras da Noite, também dirigidos por Tim Burton!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Oblivion

Oblivion - 2013. Dirigido por Joseph Kosinski . Escrito por Joseph Kosinski, Karl Gajdusek, Michael Arndt e Arvid Nelson. Direção de Fotografia de Claudio Miranda. Música Original de Anthony Gonzalez, M.8.3 e Joseph Trapanese. Produzido por Joseph Kosinski, Peter Chernin, Dylan Clark, Barry Levine e Duncan Henderson. Universal Pictures / USA.


Oblivion (2013) é o tipo de filme cujo bom funcionamento depende mais do espectador do que de seus atributos próprios. Tê-lo assistido sem grandes expectativas certamente foi determinante para que eu o valorizasse por aquilo que ele é, um bom filme pipoca sem grandes pretensões. Teria sido um grande equívoco esperar dele algo além de um bom entretenimento, pois, ao contrário de alguns clássicos, aos quais ele presta reverência, ele não funciona como alegoria ou metáfora de um outro contexto, nem tão pouco nos incita à reflexões sobre as temáticas que aborda. Isso pode ser um problema, mas, como eu disse, é algo que depende de cada espectador e do que ele de antemão espera encontrar.

O longa dirigido por Joseph Kosinski cumpre com relativa facilidade aquilo a que se propõe, na verdade, o fato dele não ser uma produção tão pretensiosa acaba o favorecendo, acredito que quem reconhecer isso vai apreciá-lo com uma maior facilidade, tal como eu fiz. Apesar de ter algumas reviravoltas em seu desenvolvimento, ele não é um filme difícil de ser compreendido, seu ritmo rápido e as boas cenas de ação apelam para o sensorial, o que pode ter colaborado com uma das impressões que eu tive, a de que as suas duas horas de duração passaram em um piscar de olhos. Esta sensação de fluidez é ao ver essencial em um filme onde não há tanto espaço para análises e reflexões.


Fazendo jus ao rótulo de ficção científica, o roteiro de Oblivion transita por temas manjados do gênero, como invasão alienígena, viagem no tempo, clonagem, inteligência artificial e sobrevivência em futuro pós apocalíptico. Apesar de perpassar por tantas temáticas, a trama se desenrola sem grandes problemas, amarrando de forma satisfatória o emaranhado de assuntos em seu desfecho. O que impede o filme de alcançar um patamar que o coloque acima da média das produções do gênero são a falta de novidade, a relativa previsibilidade da história e o texto, que deixa muito a desejar em diversas passagens, por não conseguir sair do lugar comum e por deixar uma impressão de que houve uma grande preocupação em simplificar ao máximo uma narrativa promissora, mas que poderia desagradar o grande público por sua potencial complexidade.


Se por um lado a simplificação travestida de complexidade pode agradar o grande público, por outro, este mesmo nicho pode estranhar alguns aspectos, como por exemplo o fato do filme tomar, em determinado ponto de seu desenvolvimento, um rumo diferente daquele que ameaçava seguir em seu primeiro ato. Novamente, depara-se com uma situação em que a expectativa do espectador é determinante, uma vez que uma impressão errada sobre a história, que pode ser provocada pelo trailer ou pela sinopse, pode por a perder aquilo de bom que o filme ainda tem a nos oferecer: o entretenimento. Portanto, faz-se necessário deixar um pequenino spoiler disfarçado de alerta: Oblivion está mais para Minority Report (2002) e Missão Impossível (1996), do que para Guerra dos Mundos (2005).


No centro da trama de Oblivion, que se desenrola no ano de 2077, está Jack (Tom Cruise), um agente americano que foi incumbido de permanecer na terra após uma guerra, contra invasores alienígenas, que devastou todo o planeta. Sua função é manter uma estrutura de produção de energia funcionando, bem como, auxiliar na manutenção de robôs programados para o extermínio de invasores. A única pessoa com quem ele ainda mantém contato é Victoria (Andrea Riseborough), sua parceira, que o ajuda em suas missões, porém sem sair da base, onde vivem sozinhos. Ambos tiveram suas memórias apagadas antes de darem início à esta missão, eles foram convencidos de esta era uma necessidade para a realização do trabalho, do qual pessoas que estão em uma estação espacial na órbita da Terra dependem para conseguirem partir para uma lua de saturno, onde o restante dos sobreviventes já se encontram. 


Jack, no entanto, é o único que questiona a realidade na qual estão inseridos, visões desconexas o ligam a um passado do qual ele não consegue se lembrar por completo, este frágil elo que ele consegue manter com as memórias que lhe foram tiradas acaba determinando alguns de seus atos na história e mudando os rumos que ela toma no decorrer do filme. Há algo não tão bem explicado na missão que o incomoda e isso potencializa as reflexões que ele faz sobre sua própria natureza (adianto que não é nada de tão profundo). Objetos, como discos e um livro, que ele encontra em meio a ruínas ajudam a aguçar sua sensibilidade, em alguns dos melhores momentos do filme ele entra em contato com elementos que o transportam para o mundo de antes da invasão, estas passagens são interessantes por retratarem sua busca interior por traços de humanidade que ele aparentemente perdeu.


Referências à clássicos da ficção científica estão presentes em todo o desenvolvimento do filme, citações diretas ou indiretas, algumas não tão perceptíveis, prestam homenagens à obras como 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968)Alien, o Oitavo Passageiro (1979) e Planeta dos Macacos (1968). Apesar de não soarem em nenhum momento como plágio, tais referências acabam minimizando a originalidade de Oblivion, por nos lembrarem de que tudo aquilo que vemos nele não é novo, tratando-se apenas de uma reciclagem de fórmulas que outrora renderam obras de qualidade infinitamente superior à dele. Mas ainda assim tais citações constituem um aspecto interessante do filme e uma curiosidade à parte para os cinéfilos que as reconhecerão. 


As atuações não deixam a desejar, porém, também não possuem nada além do 'arroz e feijão' típico dos brokebusters. Tom Cruise, por exemplo, está bem, mas, mais uma vez o que chama a atenção é apenas a jovialidade que emana de sua figura, apesar de seus 50 anos, e não seu desempenho em si. Morgan Freeman e Melissa Leo aparecem em papéis importantes para a trama, porém destituídos de uma composição que evidencie a qualidade das interpretações que seriam capazes de oferecer. A fotografia dirigida pelo oscarizado Claudio Miranda é bem realizada, ela salienta bem a falta de vida no que sobrou do planeta e o isolamento do protagonista no primeiro ato do filme, mas, ela também não apresenta nada de tão extraordinário. Os efeitos visuais são bons o suficiente para nos convencer do realismo daquilo que vemos na tela, mas são só uma bonita embalagem para um conteúdo de atrativos parcos. 


Oblivion não é nem de longe um filme irrepreensível, como eu disse acima, ele possui problemas que o prejudicam e suas qualidades não são o suficiente para torná-lo uma obra digna de elogios tão calorosos. Todavia, ele funciona bem como um filme de aventura, daqueles superficiais e facilmente esquecíveis, mas que conseguem ao menos nos oferecer bons momentos de diversão e escapismo. Para aqueles acostumados a desligarem seus cérebros diante da tela (às vezes isso é necessário) certamente o longa de Joseph Kosinski será uma boa pedida, já os que repudiam este tipo de filme devem passar o mais longe possível dele... Eu o recomendo para os primeiros! 



Assista ao trailer de Oblivion no You Tube, clique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A Viagem

A Viagem (Cloud Atlas) - 2012. Escrito e dirigido por Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski, baseado no romance de David Mitchell. Trilha sonora original composta por Reinhold Heil, Johnny Klimek e Tom Tykwer. Direção de Fotografia de Frank Griebe e John Toll. Produzido por Tom Tykwer, Andy Wachowski, Lana Wachowski, Stefan Arndt e Grant HillCloud Atlas Productions, X-Filme Creative Pool, Anarchos Pictures, Ascension Pictures, Five Drops e Media Asia Group / USA | Alemanha | Singapura | Hong Kong.



A premissa da história contada por A Viagem (2012) é interessante, sua trama percorre épocas diferentes, retratando vários personagens e as consequências de suas interações, o roteiro tenta mostrar que de alguma forma todas as vidas estão ligadas no tempo e que algo feito no passado, ainda que em uma época remota, pode gerar efeitos através da repetição tanto no presente quanto no futuro. Ao contrário do que se tem dito, este não é um filme baseado na teologia espírita ou em qualquer outra que defenda a existência da reencarnação, o mito em torno do qual a trama gira não é o da existência de vidas passadas, mas o do eterno retorno, segundo o qual estaríamos condenados a repetir para sempre nossos próprios erros e acertos. A diferença é que no filme, o eterno retorno não é um fardo carregado pelos indivíduos, como apontado na teoria original, ele seria um carma de toda a humanidade e sendo assim os mesmos eventos continuariam a se repetir infinitamente mesmo após a morte daquele que o teria vivenciado em algum ponto da história. 

Porém, de acordo com roteiro, existem momentos em que este ciclo de repetição é quebrado, isto acontece quando indivíduos decidem romper com o determinismo de suas vidas e se aventurar em mundos que lhe são desconhecidos ou não tão familiares. O medo então insurge como o maior vilão da história, o amor como o fator de transformação e a criação artística (a música, a literatura e o cinema) como uma forma superior de transmissão, de  uma geração para outra, daquilo que é capaz de mover as pessoas que conseguiram subverter algo que já estava pré-determinado em suas existências. Não é atoa que em uma dada passagem  uma canção soe familiar para uma personagem que nunca tinham a ouvido antes, isto, que muitos confundiram com um indício da existência de vidas passadas, é na verdade uma constatação de que, ainda que vivendo em épocas distintas, pessoas diferentes podem ter um mesmo tipo de percepção ou reação diante de eventos semelhantes e estas sensações, quando expressadas através da arte podem proporcionar a identificação e através dela o autoconhecimento...


A narrativa que vai e volta no tempo a todo momento retrata seis épocas distintas, na primeira sub-trama, que se passa em 1849, um jovem advogado (Jim Sturges) confronta questões morais de seu tempo, diante das quais ele se vê compelido a tentar intervir em sua própria realidade, ele acolhe secretamente um escravo foragido (David Gyasi) no navio em que estava viajando, mesmo estando ciente das consequência que este ato poderia acarretar. Em 1936, um jovem músico bissexual (Ben Whishaw) se torna copista de um renomado maestro (Jim Broadbent), que está compondo sua obra-prima, o Sexteto de Cloud Atlas. Em 1973, uma jornalista (Luisa Rey) descobre, com a ajuda de um físico nuclear (James D'Arcy), um esquema para beneficiar empresas petrolíferas, que envolve um reator atômico e a ameaça de um provável desastre. Em 2012, um editor de livros (Jim Broadbent), que enfrenta sérios problemas financeiros, pede a ajuda do irmão (Hugh Grant) e este o interna contra sua vontade em uma casa de repouso para idosos. 


Em 2144, uma jovem que trabalha em uma rede de fast-food (Doona Bae) começa a ter noção de sua própria realidade após ter sua visão de mundo ampliada com a ajuda de um jovem revolucionário (Jim Sturgess), que arquiteta um golpe contra o governo junto com outros dissidentes. Na última época retratada, cujo ano só é revelado num ponto mais avançado da narrativa, um homem (Tom Hanks) vive uma vida  primitiva ao lado de sua família em uma aldeia, porém a chegada de uma viajante (Halle Berry), que parece vinda de outra época, transforma a noção que ele tem acerca do mundo à sua volta. A estranha salva a vida da sobrinha do aldeão, que estivera à beira da morte, e em troca ela pede que ele a conduza até o topo de uma montanha, um lugar sagrado para o povo daquele vilarejo... Todas estas tramas estão interligadas de alguma forma, porém, diferente do que muitos têm dito o roteiro não é complexo (o tema que ele aborda sim), é possível compreender com relativa facilidade cada uma das histórias, que chegam a parecer superficiais em determinados momentos por serem tão simplicistas. 


Todo o elenco principal de A Viagem interpreta mais de um personagem, por um lado isso chega a ser algo interessante, pois vemos o bom desempenho alcançado pelo atores e atrizes ao darem vida em um mesmo filme a pessoas diferentes, cada uma delas detentoras de personalidades e trejeitos próprios. Por outro lado, percebo este como um fator negativo, pois trata-se de um elemento que pouco contribui com a narrativa, uma vez que o paralelo criado entre as épocas retratadas não tem relação precisa com este aspecto, tal situação tem levado uma significativa parcela do público e da crítica a perder um tempo precioso durante a longa duração do filme tentando encontrar semelhanças e significados ocultos na comparação entre personagens vividos por um mesmo ator, como se este fosse o único indício de que as vidas deles estão interligadas. Ao assisti-lo, tome cuidado para não fazer o mesmo. 


Como eu disse, a abordagem do mito do eterno retorno constitui em si uma premissa interessante, no entanto o filme peca em alguns pontos ao defendê-la, um deles é na forma com que o seu roteiro amarra todas as histórias em seu desfecho, deixando claro qual é o elemento capaz de motivar a subversão do pré-determinismo, isso restringe a margem aberta para interpretações subjetivas, o que acaba sendo algo prejudicial em uma obra que tem pretensões artísticas tão ousadas. Dentre os pontos positivos, destaco a excelente montagem, que confere ao longa uma fluidez incrível e um ritmo que não é afetado pelas constantes idas e vindas no tempo. A fotografia e os efeitos visuais também merecem ser lembrados, eles dão ao filme uma estética que colabora com a narrativa e com construção de cada uma das épocas retratadas. A maquiagem é, dentre os aspectos técnicos, o mais irregular, em alguns momentos ela denota um grande cuidado e uma habilidade incrível, enquanto em outros ela deixa a desejar e isso acontece quando são cometidos exageros que ao meu ver foram totalmente desnecessários e facilmente evitáveis.


Os irmãos Wachowski assumem a direção em algumas das sub-tramas e Tom Tykwer nas outras, a diferença entre seus respectivos estilos pode ser notada naquilo que cada um deles escolhe destacar e na forma diferenciada com que conduzem a narrativa em cada um dos tempos diegéticos. Apesar de entregarem um trabalho satisfatório, que deixa evidente diversos elementos autorais, os cineastas merecem ser reconhecidos é pela ousadia de adaptar uma obra que fora considerada inadaptável. O agradecimento à Natalie Portman, presente nos créditos finais do filme, é justo, afinal foi ela quem  apresentou o livro de David Mitchell para os Wachowski durante as filmagens de V de Vingança (2006) e os convenceu de que adaptá-lo seria possível... 

Eu não incluiria A Viagem em minha lista pessoal dos melhores de 2012, mas reconheço que trata-se de uma obra que merece no mínimo ser conferida, de preferência sem grandes expectativas, com uma boa disposição para reflexão e sem a ideia errônea de que se trata de um filme sobre preceitos religiosos, pois isso definitivamente ele não é. Recomendo! 


Assistam ao trailer de A Viagem no You Tube, clique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

2001 - Uma Odisseia no Espaço

2001 - Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey) - 1968. Dirigido e Produzido por Stanley Kubrick. Escrito por Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke, baseado no livro de Arthur C. Clarke.  Direção de Fotografia de Geoffrey Unsworth. Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) e Stanley Kubrick Productions / USA | UK.


Um fenômeno interessante acontece com obras que não entregam uma interpretação de sua trama já pronta para os espectadores, alguns poucos valorizam o convite à reflexão e ao diálogo, enquanto outros (a maioria) passam a atacá-lo por não tê-lo compreendido. Tenho abordado este assunto em outras resenhas e em todas as ocasiões apontei como culpados a superficialização e o efemeridade que têm marcado a produção artística contemporânea. Por estarmos acostumados com obras que não nos incitam a reflexão, tendemos a repudiar aquelas que o fazem, como se estas fossem pretensiosas e estivessem tentado adotar para si um cunho intelectual que não têm. Todavia, penso que o único fator capaz de mensurar o nível intelectual de uma produção é o diálogo que cada um estabelece com ela, de tal diálogo podem surgir impressões e interpretações que vão além daquelas pretendidas pelos realizadores da obra em questão e é nesta ampliação de significados que se encontra a grandiosidade da apreciação artística. 

Quando um espectador ataca um filme por ele este complexo demais (geralmente o apontando como lento, chato, pretensioso ou pseudo-intelectual), o que na verdade ele quer é esconder sua própria incapacidade de dialogar com aquilo que viu. É realmente frustrante quando não conseguimos acompanhar o raciocínio de uma trama, ou quando não somos capazes de compreender a reflexão proposta ela (isso já aconteceu comigo várias vezes), mas a decepção que nos acomete não justifica qualquer tipo de ataque deferido contra a obra ou contra os seus realizadores. Chegamos então aonde eu queria; ao ponto em que começo a falar de minha experiência pessoal com 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968), clássico dirigido por Stanley Kubrick. Mas, antes de começar minhas considerações sobre ele, preciso deixar claro que, mesmo depois de assisti-lo três vezes, eu ainda não consegui compreendê-lo por completo, reconheço que a interpretação que ensaiei ainda é um tanto frágil e até inconsistente em alguns pontos, eu no entanto não vejo nenhum problema em reconhecer isso...


A narrativa de 2001 começa na pré-história e em sua primeira sequência vemos um grupo de ancestrais do ser humano dispersos em uma região, eles parecem tentar se comunicar, mas a agitação que eles demonstram com seus gestos indicam que esta ainda é uma tarefa difícil. Na segunda sequência, um animal selvagem ataca um dos hominídeos, e nenhum dos outros o ajudam. Uma terceira passagem mostra um embate físico entre dois grupos de primatas, nesta cena já fica claro que eles estão começando ter o domínio do uso de armas rústicas como ossos e pedras. Em um quarto momento, os hominídeos estão diante de um objeto (que será recorrente na trama) que lhes é totalmente estranho, estupefatos eles o contemplam e suas expressões são de dúvida e medo, neste momento eles se vêm compelidos a questionarem suas próprias realidades pela primeira vez e surge daí o primeiro lampejo de racionalidade. Após mostrar um outro conflito entre primatas (o que nos induz a crer que eles não se tornaram civilizados da noite para o dia) o filme faz um dos maiores saltos no tempo da história do cinema.


Após o corte somos levado ao ano de 2001 (visto sob a ótica de meados dos anos 60, ocasião que o filme foi escrito e filmado), período em que as viagens estelares e a exploração dos pontos mais longínquos do universo já tinham se tornado uma realidade. A partir deste ato o filme começa um processo narrativo que mostra o oposto daquilo que fora mostrado nas primeiras sequencias, o que vemos então é um lento processo de desumanização, que culmina com a sucumbência do homem frente à máquina. Se num primeiro momento a racionalidade era instigada nos primatas pela ameaça às quais estavam expostos e pelo contato com o desconhecido, no ano de 2001 a situação já é bem diferente, o homem não tem tantos perigos aos quais temer e a sua curiosidade já não é mais despertada tão facilmente. Interessante perceber que aquilo que é capaz de deixar a nós expectadores boquiabertos é encarado com naturalidade pelos personagens, que parecem agir como máquinas, como se estivessem programados para atuarem de tal modo. 


Da situação exposta acima surge uma das contradições mais interessantes da trama, nela o personagem mais humano é um robô, o HAL 9000, ele é egocêntrico, ambicioso e vingativo. Sua disposição em desobedecer e quebrar as regras para conseguir aquilo que ambiciona lhe confere uma profundidade dramática que não pode ser observada em nenhum dos outros personagens. Esta contradição é interessante porque é ela quem estabelece o principal parâmetro de comparação entre as duas épocas retratadas no longa. Se na alvorada da humanidade o homem ainda é um ser em formação, incompleto, que precisa descobrir o mundo para descobrir a si mesmo, já em sua alvorada ele, ainda incompleto, parece ter se auto imposto um limite. Através do advento da inteligência artificial ele confere a outrem o direito de pensar e tomar as decisões por ele, decretando assim o seu próprio fim como indivíduo... Neste processo para reencontrar a si mesma a humanidade precisará redescobrir a sua gênese e só então voltar a se perguntar sobre a estranheza do mundo à sua volta. 


O roteiro escrito por Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke é um dos aspectos mais primorosos do filme e sua genialidade está em abrir margem para as mais distintas interpretações e para uma quantidade de reflexões sem precedentes na história do cinema. Clarke, que já tinha publicado uma vasta bibliografia de ficção, trouxe, tanto para o filme, quanto para o livro, que foi escrito quase que simultaneamente, todo o seu conhecimento adquirido em anos de pesquisa sobre a corrida espacial e a origem do universo. Kubrick por sua vez trouxe a ousadia de filmar esta que ficaria conhecida como uma das produções mais complexas, impactantes e belas já filmadas, seu perfeccionismo pode ser percebido em cada aspecto do filme, da fotografia à direção de arte (que são sublimes), passando pela trilha sonora (que faz um excelente uso da música Also Sprach Zarathustra de Richard Strauss) e pelos efeitos visuais. 


Como eu disse, a minha interpretação de 2001 - Uma Odisseia no Espaço ainda é relativamente pobre, ainda têm vários elementos na trama que me parecem ganhar significados diferentes a cada vez que eu o revejo, fui tomado por reflexões distintas em cada vez que eu assisti e isto é simplesmente maravilhoso, pois ainda que me falte uma plena compreensão de sua trama, o diálogo que tive com ela já a torna para mim uma obra de grande valor artístico e intelectual. Na verdade a frustração que experimentei diante da estranheza de seu desfecho não diz tão somente sobre minha limitada capacidade de decodificá-lo, mas também sobre a aquilo que apontei como sendo a sua principal temática: O contato com aquilo que ainda nos é estranho impulsionando a busca por algo que nos caracterize como humanos e racionais... Nas três vezes que assisti o filme me senti tal como os primatas quando estes se viram diante do objeto desconhecido e assim como aconteceu com eles, o estranhamento me levou racionalização, o que me fez lembrar de que eu ainda era humano...


2001 - Uma Odisseia no Espaço talvez seja a mais importante obra de ficção científica desde Viagem à Lua (1902de Georges Méliès, direta ou indiretamente ele influenciou quase tudo que foi produzido pela sétima arte depois de seu lançamento e tal influência se deu principalmente pela quebra de paradigmas que ele representou no tocante à narrativa, pela sua grandiosidade artística e estética e pela excelência de seu aparato técnico; aspectos estes que possibilitaram que aquilo que fora antes imaginado pelo cineasta e pelo escritor ganhasse forma através de imagens detentoras de uma formidável exuberância. 2001 é uma obra de arte, um filme obrigatório para qualquer um se interesse por cinema ou que esteja disposto a ensaiar uma série de reflexões sobre a condição humana e aquilo que a caracteriza como tal. 


2001 - Uma Odisseia no Espaço ganhou o Oscar de Melhores Efeitos Visuais/Especiais, tendo recebido indicações também para os prêmios de Melhor Diretor, Roteiro e Direção de Arte. 

Assista ao trailer de 2001 - Uma Odisseia no Espaço no You Tube, clique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.

Confiram também, aqui no Sublime Irrealidade, as resenhas de Lolita (1962) também dirigido pelo Kubrick e de Stanley Kubrick – Imagens de Uma Vida (2001), documentário sobre a vida e a obra do cineasta. 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Prometheus

Prometheus - 2012. Dirigido por Ridley Scott Escrito por Jon Spaihts e Damon Lindelof, baseado nos personagens criados por Dan O'Bannon e Ronald Shusett. Direção de Fotografia de Dariusz Wolski. Música Original de Marc Streitenfeld . Produzido por David Giler, Walter Hill e Ridley Scott. Twentieth Century Fox,  Scott Free Productions e Brandywine Productions / USA | UK.


Prometheus (2012) acabou se tornando vítima de dois problemas, um deles inocente. O longa dirigido por Ridley Scott se autoproclamou um prequel de Alien – O Oitavo Passageiro (1979) e esta pretensão lhe  rendeu seu primeiro tropeço, o involuntário, afinal todos esperavam que o cineasta iria entregar uma obra no mesmo nível de qualidade atingido no primeiro filme do alienígena, que também fora dirigido por ele, no entanto o caminho trilhado nesta nova empreitada segue uma direção bem diferente daquela escolhida em 79. Neste novo filme o suspense foi praticamente descartado e o pouco que se tem do gênero simplesmente não funciona. Prometheus não consegue meter medo e tão pouco provocar em nós espectadores a sensação de claustrofobia outrora experimentada. Preciso deixar claro que não vejo isso como um problema, afinal o diretor não assumiu nenhum compromisso de rezar novamente pela mesma cartilha e é natural que este filme esteja dramaticamente e estilisticamente mais próximo de suas produções recentes do que de uma que ele realizou há mais de trinta anos.

A franquia de Alien, como um todo, sempre foi caracterizada pela apelo sensorial de seus filmes, as quatro produções que a compõem buscam, através da trama e do aparato técnico, despertar sensações em nós espectadores. Este fenômeno, no entanto, não se repete em Prometheus, simplesmente porque este não e  o objetivo dele, nota-se que ele se propõe a ser mais reflexivo e filosófico do que sensorial e neste aspecto está o seu segundo tropeço. Em uma clara tentativa de parecer grandioso, ele constrói sua trama tendo como alicerces questionamentos complexos acerca da origem do universo e da existência de Deus. Esta angulação, se tivesse sido bem explorada, poderia realmente tê-lo tornado um clássico contemporâneo, mas não é o que acontece. Personagens rasos e uma trama que passa rápido demais por determinados pontos não proporcionam uma abertura maior para a reflexão e as perguntas levantadas nos primeiros atos acabam se perdendo durante o desenvolvimento do filme ou sendo respondidas de forma simplória.


Um outro aspeto que esteve presente na franquia de Alien, principalmente em Aliens, O Resgate de James Cameron, é a questão da maternidade, em Prometheus esta metáfora é novamente revisitada, sendo personificada na trama pela cientista Elizabeth Shaw (Noomi Rapace), ela é a personagem feminina aparentemente destinada a substituir a tenente Ellen Ripley, interpretada pela Sigourney Weaver nos outros filmes. Naquele que seria o início de toda a história contada pela franquia, Elizabeth e Charlie (Marshall-Green), ambos arqueólogos, descobrem uma ligação entre pinturas rupestres de diversas épocas diferentes, encontradas em pontos distintos do globo. Nas gravuras analisadas por eles, homens apontam para algo semelhante à uma constelação, o que poderia ser, de acordo com a interpretação deles, um mapa. Seguindo esta trilha improvável, os cientistas embarcam em uma missão, idealizada e financiada por uma excêntrico milionário, que os leva ao planeta LV-223, o local para onde teoricamente as pinturas nas cavernas os guiavam.


A nave, chamada de Prometheus, em uma referência ao titã da mitologia grega que desafiou os deuses, parte com a missão de desvendar alguns dos segredos sobre a origem da humanidade, uma motivação que sempre guiou o trabalho de Elizabeth e Charlie. Além do casal de arqueólogos, estão a bordo a coordenadora da missão, Meredith Vickers (Charlize Theron), o capitão Janek (Idris Elba), o androide David (Michael Fassbender), além de outros cientistas, mecânicos, pilotos e técnicos. Para boa parte dos tripulantes a missão não tem sentido algum, eles estão lá apenas pelo dinheiro que lhes fora prometido e isto acaba determinando suas ações e reações após a aterrissagem no planeta até então desconhecido... 

O roteiro constitui cada um dos personagens de acordo com suas motivações e com o sentido que eles vêm ou não em tudo que os cerca, o problema é que tal constituição se torna falha à medida que as aspirações deles passam a não fazer sentido para nós expectadores. O contentamento da personagem principal com as respostas que ela dá a si mesma, por exemplo, é um tanto incondizente com sua curiosidade e a postura questionadora que a trama lhe atribui.


Ditos os pontos negativos, vamos agora aos positivos, aqueles que fazem a experiência de assistir o filme ser no fim das contas compensadora, ainda que frustrante em diversos aspectos. O ritmo da narrativa até que é bem conduzido, mas por ser rápido ele acaba sendo prejudicial à reflexão para a qual o roteiro tenta nos direcionar em alguns momentos, contudo ele faz com que a experiência de assistir ao longa seja agradável e isto faz com que o filme acabe funcionando ao menos como um bom entretenimento, o que não deixa de ser uma de suas propostas, vide o apelo à tecnologias como o 3D e o IMAX. 

A aparato técnico de Prometheus é muito bem realizado, sua fotografia e efeitos visuais produzem cenas belas, que salientam nos espaços abertos a grandiosidade do todo ao redor dos personagens, reforçando assim a ideia da insignificância do ser humano diante da imensidão do universo (aspecto que por sua vez não tão bem explorado pelo roteiro) e nos espaços fechados a sensação de encurralamento (que como eu disse, não chega a ser claustrofóbica, por não depender só da mise en scène). A direção de arte é outro aspecto que não deixa nada a desejar, a composição dos ambientes, principalmente a do interior da nave, é muito bem feita e possui diversas referências ao filme de 79.


O elenco, composto em boa parte por nomes de peso, também não deixa nada a desejar. Noomi Rapace e Michael Fassbender acabam se destacando dos demais, apesar de não apresentarem nada de tão extraordinário, eles estão bem e conseguem dar credibilidade para seus personagens, que no fundo é o que importa, principalmente tendo-se em vista que são personagens rasos e mau construídos, como eu já disse. 

Concluo portanto que Prometheus peca por tentar funcionar ao mesmo tempo como brokebuster e  como objeto de reflexão, é esta pretensão que o torna irregular e incapaz de agradar plenamente tanto um público mais exigente, que provavelmente considerará sua tentativa de ser filosófico uma farsa, quanto o público médio que tenderá a se dispersar nos momentos em que ele tenta parecer complexo... Mas, quando tento olhá-lo por uma outra perspectiva, quase me convenço de que quem pecou de fato fomos nós que acreditamos, mesmo contrariando todas as evidências, que o Ridley Scott produziria uma obra que superaria a mediocridade de boa parte de seus últimos filmes, como fomos tolos... 


Se você ainda não o assistiu e se dispuser a fazê-lo, recomendo então que se tente desvinculá-lo da franquia de Alien, principalmente do primeiro filme, uma vez que há pouca relação entre os tipos de abordagem que vemos neste e nos anteriores. Recomendo também que seja feita uma redução das expectativas previamente alimentadas, pois assisti-lo sem esperar muito o tornará bem melhor (eu sou testemunha disso). Não é um filme ruim, eu estaria sendo injusto se o classificasse como tal, ele apenas parece ter sido escrito por um daqueles tripulantes da nave Prometheus, para quem as perguntas existencialistas e suas possíveis respostas têm pouca ou nenhuma importância .. Contudo, recomendo!   


Assistam ao trailer de Prometheus no You Tubeclique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.


Confiram também aqui no Sublime Irrealidade as críticas de Alien, o Oitavo PassageiroAliens, o ResgateAlien³ e Alien - A Ressurreição.