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domingo, 31 de julho de 2011

Fanny e Alexander

Fanny e Alexander (Fanny och Alexander) - 1982. Escrito e dirigido por Ingmar Bergman. Direção de Fotografia de Sven Nykvist. Música Original de Daniel Bell. Produzido por Jörn Donner. Cinematograph / Suécia|França|Alemanha.

 

Na época da faculdade, quando conseguimos que a biblioteca da instituição liberasse os DVDs de seu acervo para empréstimos, um dos primeiros filmes que peguei foi O Sétimo Selo (1956), aquele seria o meu primeiro contato com a obra de Ingmar Bergman. O impacto que o filme me causou foi algo que até então eu não tinha experimentado, eu já tinha assistido outros filmes autorais e considerados “difíceis” pelo senso comum, no entanto nenhum destes tinha ido tão longe quanto aquele foi, nenhum fora tão icônico, filosófico e ao mesmo tempo belo e perturbador. Minha admiração e respeito pelo talento e estilo singular do diretor sueco só aumentaria após eu assistir outras de suas obras primas como Morangos Silvestres (1957) e Persona (1966).

É praticamente impossível tecer qualquer análise sobre a filmografia de Bergman sem correlacioná-la à sua própria vida, pois em cada um de seus filmes há um pouco de seu pensamento e principalmente de seus sentimentos, artista e arte se misturam em produções que fazem jus ao rótulo de “cinema de arte”, o que não quer dizer que suas obras sejam facilmente rotuláveis, pois transitam por gêneros distintos, que vão da comédia ao drama, sem se perder pelo caminho, como frequentemente acontece. O estilo de Bergman ficaria marcado pelo forte teor filosófico e existencialista de seus filmes, alguns o acusam de ser pessimista e de estar completamente desacreditado na humanidade, o que não é de todo uma verdade. O onirismo de seus trabalhos, os transformam em alegorias da realidade observada e/ou vivenciada, e como tal eles podem indicar um caminho ou uma saída, que nem sempre se baseiam em preposições realista ou racionais.

 

De todos os filmes de Bergman, Fanny e Alexander (1982) talvez seja aquele em que a presença de seu eu lírico esteja mais evidente, é também a mais “acessível” de suas obras, mas isso não a torna menor ou menos complexa que os outros longas que citei acima. Tal como Fellini fez em Amarcord (1973) e Giuseppe Tornatore em Cinema Paradiso (1988), Bergman recorreu à memórias da infância para a construção da trama. O cineasta carregou por toda a sua vida as marcas da repressão religiosa, que vivenciara em casa na sua meninice, seu pai era um pastor luterano, que o castigava constantemente, principalmente lhe imputando sentimentos de culpa acerca de pecados. O autoritarismo do pai destruiria a relação entre eles. Viria da quebra deste vínculo familiar a principal motivação da descrença do cineasta nas instituições religiosas e de seus questionamentos acerca da natureza divina.

 

Na história, o menino Alexander (Bertil Guve) é uma espécie de alter-ego de Bergman, ele vive com os pais e a irmã Fanny (Pernilla Allwin), em um imenso casarão que pertence à sua avó materna. Seu avô fora o diretor do teatro da cidade e após a morte dele, o seu pai assumiu a administração. Toda a família está direta ou indiretamente ligada ao teatro e Fanny e Alexander têm uma vida cheia de amor, carinho e tudo o mais que uma criança poderia querer. A repentina morte do pai, no entanto muda completamente a vida dos meninos. A mãe deles se casa com um severo bispo Luterano, que a trata a partir de então como uma serva e as crianças como prisioneiros, quando ela percebe o erro cometido ao se casar de novo, já é tarde demais para tentar voltar atrás. Os tempos bons que ficaram para trás se tornam cada vez mais distantes. Apenas Alexander tem dentro de si uma rota de fuga, que pode o levar de volta para os tempos de alegria.

 

O desfecho do filme é carregado de significados não aparentes e simbolismos, tão presentes em toda a filmografia do diretor. O constante entrelaçamento de sonhos e realidade expõe a visão artística de Bergman, que nos revela um olhar do cineasta/menino sobre sua própria vida e sobre a arte. Em uma entrevista ele chegou a comentar: “O privilégio da infância é podermos transitar livremente entre a magia da vida e os mingaus de aveia, entre um medo desmesurado e uma alegria sem limites (...) Eu sentia dificuldade para distinguir entre o que era imaginado e o que era real...” Uma das características da infância, que Bergman conseguiu preservar em sua obra, é a imaginação de uma outra realidade, que possa substituir a realidade de fato, por uma outra, mais lúdica, poética e que possa representar um significado maior que o vazio existencial. Não é Exagero dizer que Ingmar Bergman é o próprio cinema, ninguém mais que ele personificou tão bem o que pode ser que seja a sétima arte.

 

Ingmar Bergman é essencial para qualquer um que se diga cinéfilo e Fanny e Alexander é uma boa pedida para quem ainda não se aventurou pela riquíssima obra deste gênio do cinema. A fotografia e a direção de arte do filme são impecáveis, o que o confere uma beleza estética estonteante, porém este não é o foco do filme, apesar de ser uma obra completa, sua beleza visual faz pouca diferença para a trama, que nos convida a observar não o exterior, mas o interior de cada um dos personagens, os cenários e locações seriam, quando muito, uma extensão do corpo e da alma dos personagens que os habitam. Não sei dizer se Fanny e Alexander representou realmente uma despedida de Bergman do cinema como o dizem alguns críticos (depois deste filme, até sua morte em 2007, ele só produziu obras para a TV), mas é de fato uma das melhores representações do que de fato é o cinema. Recomendadíssimo!


Fanny e Alexander ganhou o Oscar nas categorias de Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Fotografia, Melhor Figurino e Melhor Direção de Arte, tendo sido indicado também nas categorias de Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original. O filme ainda ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, tendo também uma indicação ao prêmio na categoria de Melhor Diretor.


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terça-feira, 26 de julho de 2011

Foi Apenas um Sonho

Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road) - 2008. Dirigido por Sam Mendes. Escrito por Justin Haythe, baseado na obra de Richard Yates. Direção de Fotografia de Roger Deakins. Música Original de Thomas Newman. Produzido por Bobby Cohen e Sam Mendes. DreamWorks Pictures / EUA|UK.

 

Nos anos 40, no período do pós-guerra, o ideal do sonho americano, que fora concebido na década anterior, ganhava força. O país tinha se beneficiado muito com o desfecho do conflito entre Aliados e o Eixo, uma sensação de esperança começava a surgir no consciente coletivo e o fantasma da resseção econômica já não amedrontava tanto. O sonho americano renovava as forças e dava sentido para um povo castigado pela crise pós 1929. Este conceito abstrato de realização consiste na ideia de que na América qualquer um pode ser um vencedor, subir na vida e alcançar uma felicidade plena. O reaquecimento da economia transportara para o consumo quase todo o ideal de auto-realização, que se resumia em ter uma família perfeita, uma casa no subúrbio, um carro na garagem e um bom emprego. Posteriormente tal ideal se fundiria à ética protestante e, no mundo capitalista globalizado, transcenderia as fronteiras dos Estados Unidos nasceu, se espalhando também pelos países culturalmente influenciados pelo Tio Sam.

Apesar de ter sobrevivido durante décadas, o sonho americano é um ideal bastante frágil, pois a realização plena almejada dificilmente pode ser encontrada em bens compráveis, no entanto a ilusão coletiva faz com que isso apenas impulsione ainda mais o consumismo, tornando o padrão de posses a ser alcançado maior, a cada vez que o padrão anterior for atingido. O resultado deste círculo vicioso é facilmente perceptível na sociedade atual, que como nunca fomenta o surgimento de neuroses, motivadas por uma constante falta de realização de alguns indivíduos e pela frustração destes com aquilo que tinham idealizado. Certamente este tema renderia uma artigo á parte, mas creio que este não seja o momento, adentrei superficialmente no tema para falar de Foi Apenas um Sonho (2008), filme que considero um dos melhores e mais importantes da primeira década do presente século.

 

Sam Mendes, ao adaptar o livro de Richard Yates, escrito em 1961, tinha uma noção precisa do quanto a história ainda estava incrivelmente atual. O longa fala justamente da fragilidade do sonho americano, que comentei acima, e sutilmente faz uma contundente crítica ao “american way of life”. Em Beleza Americana (1999), Mendes teceu uma crítica ácida à hipocrisia de um povo que vive de aparências, pautado apenas por aquilo que o próximo poderia pensar de si. Neste as maquiagens sociais continuam sendo alvo da contestação do cineasta. Em oposição ao casal central, que vivencia a decadência do frágil ideal, são retratados outros personagens que vivem uma vida aparentemente tranquila e realizada, mas isso somente porque aceitam o próprio conformismo e se valem da abnegação como saída para enfrentar a realidade.

 

A história gira em torno dos Wheeler, uma família que tem tudo aquilo que qualquer outro americano sonharia em ter, uma bela casa com um grande jardim, um carro e dois filhos saudáveis, no entanto eles não estão realizados. O sonho de April Wheeler (Kate Winslet) era ser atriz, porém seus planos são frustrados quando ela descobre que não tem nenhum talento para a atuação. Frank Wheeler (Leonardo DiCaprio) segue os passos do pai, trabalhando em uma corporação que não lhe dá grandes expectativas. April é a primeira a se sentir incomodada com a vida que estão levando, ela não se encontra naquilo que construiu e há muito tempo que não se sente mais “viva”. Ela convence o marido a tomar uma decisão radical para salvar o casamento e suas próprias vidas, eles venderiam a casa e o carro e se mudariam para Paris, lá ela conseguiria um trabalho como secretária e ele teria tempo para descobrir o que realmente gostaria de fazer.

 

A vida em Paris surge então como uma oposição ao ideal do sonho americano, quando April propõe a venda dos bens que adquiriram para custear a mudança, ela está indo contra tudo aquilo que a sociedade em que vive valoriza. O plano é tido como ilusório e infantil e eles se tornam o alvo de críticas e de gozações de seus vizinhos, amigos e colegas. De fato são propósitos imaturos, mas ninguém consegue enxergar além disso, dentre todo o circulo social em que estão inseridos, eles são os únicos que conseguem enxergar que a vida que estão levando também é ilusória, e que pensam em fazer alguma coisa para mudar isso. Quando a mudança já era tida como certa, April descobre que está grávida e Frank recebe uma proposta de promoção no trabalho, é então que começam os conflitos.

 

Foi Apenas um Sonho é um filme para ser visto e “lido” nas entrelinhas, cada um de seus personagens trazem consigo uma enorme carga de significação, que ajuda a desenhar o contexto e que explica a situação aflitiva e angustiante que o casal está vivendo. A fragilidade e a efemeridade das ilusões que estão vivenciando são materializadas na figura de uma personagem, uma garota que se vê enganada e abandonada após ter se entregue a um homem que mal conhecia, ele sem cerimônias apenas bate a porta do apartamento, deixando-a sozinha após uma transa casual, que ela acreditava que pudesse ser o começo da realização de seus sonhos. O curioso também é que apenas um dos personagens consegue fazer uma leitura coerente daquilo que April e Frank estão vivendo, ele é John Givings (Michael Shannon), o filho da vizinha do casal. John é tido como louco, e acabara de sair de um hospício, ele não consegue se adaptar por ser agressivo e inoportuno.

 

Em uma das cenas mais fortes do filme, Jonh expõe toda a fraqueza e fragilidade dos Wheeler, em um discurso desafiadoramente crítico e carregado de lucidez. Voltando-se para Frank, ele diz: “O que aconteceu Frank? Deu para trás? Decidiu que ficará melhor aqui? Percebeu que é mais confortável aqui no velho vazio sem esperança?” A verdade incomoda e faz doer e a dor é tão profunda que pode levar a consequências terríveis, que vão de uma simples apatia à consequências mais extremas. Em um tom de ironia, o final do filme, carregado de simbolismo, mostra qual a solução mais simples para os questionamentos feitos por Frank e April, contudo a solução mais simples nem sempre é a melhor ou a mais coerente, no fundo ela pode ser apenas um tipo de fuga, que se apresenta em alternativas que podem ir da simples negação da verdade até a tomada de decisões que podem não ter mais volta.


A falta de realização e o sentimento de incompletude e de não pertencimento têm sido males que assolam cada vez mais o mundo pós-moderno, este mesmo vazio existencial já serviu de inspiração para a construção de roteiros ou de obras que deram origem a filmes belos, dolorosos e fortes, como o já citado Beleza Americana de Sam Mendes, Clube da Luta (1999), As Horas (2002), Ghost Word (2001) e Encontros e Desencontros (2003), talvez seja este o mau deste século... Foi Apenas um Sonho é também uma prova incontestável do talento de Leonardo e de Kate, ambos estão estupendos no filme, ela dá um show e nem precisa falar para expressar tudo aquilo que sua personagem está sentindo, é de assustar a forma com que ela entrou de corpo e alma em sua atuação, na minha opinião o Oscar que ela ganhou em 2009, deveria ter sido por esta atuação, que é enormemente superior ao seu trabalho em O Leitor (2008). Só não indico este filme maravilhoso, para quem espera encontrar nele uma espécie de continuação de Titanic (2007), para os demais é simplesmente imperdível!


Foi Apenas um Sonho foi indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Michael Shannon), Figurino e Direção de Arte. O filme ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz - Drama (Kate Winslet), tendo sido indicado a este prêmio também nas categorias de Melhor Filme - Drama, 
Melhor Diretor e Melhor Ator - Drama (Leonardo DiCaprio).


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domingo, 24 de julho de 2011

Sem Destino

Sem Destino (Easy Rider) - 1969. Dirigido por Dennis Hopper. Escrito por Peter Fonda, Dennis Hopper e Terry Southern. Direção de Fotografia de László Kovács . Música de Hoyt Axton, Mars Bonfire, Roger McGuinn e Jimi Hendrix. Produzido por Peter Fonda, William Hayward, Bert Schneider e Bob Rafelson. BBS, Columbia, Pando e Raybert / EUA.

 

Os anos 60 representaram um período de declínio na história do cinema americano, enquanto o mundo passava por uma ebulição cultural e política, Hollywood ainda tentava sobreviver às custas dos grandes épicos e de musicais espetaculosos. A dissonância das produções americanas com relação ao contexto da década faria com que os olhares de parte do público e da crítica se direcionassem para os filmes de arte e autorais, que vinham da Europa e de outras partes do mundo. O período de crise no entanto fora positivo, as baixas bilheterias dos filmes que seguiam um modelo tradicionalista, abriria espaço para uma leva de novos cineastas, que inovariam na forma de contar as histórias e nos temas abordados.

Sem Destino (1969) é um dos maiores exemplos da fase de renascimento do cinema hollywoodiano. O filme teve um orçamento baixíssimo, se comparado ao de outras produções do período, e conseguiu um sucesso de público e crítica, que nem seus realizadores esperavam, rendendo centenas de vezes o custo de sua produção. O filme foi um dos primeiros a mostrar os Estados Unidos sob uma nova ótica, focando a realidade da gente simples, de vilarejos pobres e de comunidades alternativas, expondo através de seu roteiro a hipocrisia da sociedade americana, que apesar de se gabar de ser livre, não conseguia aceitar o diferente e o libertário.

 

[Eles] não têm medo de vocês, mas do que vocês representam... Para eles vocês representam a liberdade... é legal, mas falar e vivê-la são duas coisas bem diferentes. É difícil ser livre quando se é comprado e vendido no mercado. Mas nunca diga a ninguém que ele não é livre, porque ele vai tratar de matar e aleijar para provar que é... Eles falam sem parar de liberdade individual mas, quando vêem um indivíduo livre, ficam com medo...

A citação acima é dita por um dos personagens em um momento de reflexão induzida pelo consumo de drogas, no entanto ela é extremamente lúcida e ilustra bem o posicionamento contestador do filme. O preconceito que parece estar intrínseco à natureza social do americano fica evidente em diversas cenas e leva a história a um desfecho trágico. O filme também foi ousado ao abordar temas polêmicos como o sexo livre e o consumo de drogas sem nenhuma censura. Numa das cenas mais loucas do filme, os personagens principais tomam LSD na companhia de duas prostitutas em um cemitério. Cada um tem uma viagem diferente, que expõe medos e sentimentos que até então eles tentavam esconder. Reza a lenda que todo o consumo de maconha mostrado no filme é real e que a substância era consumida tanto pelo elenco quanto pela equipe de filmagem.

 

A história do filme é bem simples, e começa quando a dupla Billy (Dennis Hopper) e Wyatt (Peter Fonda) ganham uma boa grana, por transportarem cocaína através da fronteira com o México (curiosidade: o receptador da droga é interpretado pelo lendário produtor musical Phil Spector). Com o dinheiro em mãos eles decidem viajar de moto pelos Estados Unidos, em busca de experiências e de liberdade. Eles viajam em direção a Nova Orleans, onde acontecerá o festival Mardi Gras (uma espécie de carnaval americano), mas eles não se prendem a uma rota específica, nem se atêm a questões de datas e horários. Em uma das pequenas cidades interioranas por onde passam, eles são presos por acompanharem um desfile, mas conseguem sair da cadeia com a ajuda do advogado George (Jack Nicholson), este se junta a eles na viagem de motocicleta. George é um playboy que rejeita as normas e os padrões impostos por sua família e pela sociedade, vem dele boa parte do discurso ideológico do filme.

 

Sem Destino foi fruto de uma parceria despretensiosa entre Hopper e Fonda, o projeto independente foi levado em frente mesmo com descrença até dos amigos mais próximos da dupla. O elenco era constituído apenas por novatos e por amadores e eles não tinha um roteiro pronto, a trama foi sendo escrita à medida que as filmagens eram feitas. Sem estúdios, a estrada foi o principal cenário. Convenções, como não filmar contra a luz do sol e não deixar em que reflexos expludam na imagem capturada, foram subvertidas. Seria uma das primeiras vezes que o cinema americano teria anti-heróis como protagonistas, primeira vez também que um nu feminino seria mostrado sem nenhum pudor. Sem Destino inauguraria o conceito de Road Movie e o cinema americano nunca mais seria o mesmo, as portas já estavam abertas para Coppola, Spielberg, Scorsese e outros realizadores que dariam continuidade à transformação iniciada.

 

Talvez a maior revolução que o filme tenha feito no cinema dos Estados Unidos, seja a abertura para obras nas quais os produtores não eram tidos como os responsáveis pela criação, eram os ecos da Nouvelle Vague Francesa e do Néorrealismo Italiano chegando à Hollywood, como uma semente do cinema autoral. A valorização da direção e das atuações compensariam os baixos gastos com a parte técnica e tornaria o cinema mais realista e menos pomposo e glamouroso. Por falar em atuações, as de Sem Destino são excelentes, Dennis Hopper, Peter Fonda é Jack Nicholson estão formidáveis em seus papéis. A grandiosidade da obra é completada pela ótima trilha sonora, que inclui alguns dos maiores ícones da contra-cultura dos anos 60, como Jimi Hendrix, The Band e The Byrds. A clássica Born to be Wild do Steppenwolf se tornaria o hino de uma geração e seria entoada até hoje nos encontros de motociclistas mundo afora. O filme se tornaria então um ícone da contracultura e do movimento hippie, um verdadeiro clássico que merece, e muito, ser assistido!


Sem Destino foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro e Ator Coadjuvante. Em Cannes o filme ganhou o prêmio de Melhor Diretor Estreante, tendo sido também um dos indicados à Palma de Ouro.


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sábado, 23 de julho de 2011

Irreversível

Irreversível (Irreversible) - 2002. Escrito e dirigido por Gaspar Noé. Direção de Fotografia de Benoît Debie e Gaspar Noé. Música Original de Thomas Bangalter. Produzido por Christophe Rossignon. 120 Films, Eskwad, Grandpierre, Les Cinémas de La Zone, Nord-Ouest Productions, Rossignon e Studio Canal / França.

 

NÃO RECOMENDO IRREVERSÍVEL! Antes de escrever qualquer outra coisa sobre este filme de Gaspar Noé, é preciso deixar isso bem claro. Além de ser do tipo “não recomendável para qualquer um”, o longa não justifica, ao menos em minha opinião, o status de obra prima, que alguns lhe atribuem, apesar de ser sem dúvidas um dos filmes mais ousados que já assisti, Noé avançou limites até então intransponíveis no cinema. Resguardadas as devidas proporções, o efeito deste foi semelhante ao provocado pelo lançamento de O Último Tango em París (1972) de Bertulucci. Irreversível (2002) é polêmico, forte, nojento e incômodo, como nem Lars Von Trier jamais foi, nem em seus filmes mais pesados. Na ocasião de seu lançamento o filme dividiu as opiniões da crítica especializada, uns o consideravam um atentado contra tudo que se tinha como aceitável e outros o reconheceram como pura arte. 

Duas sequências brutais do filme entrariam para a história: a primeira é um espancamento que acontece já nos primeiros minutos, o agressor destrói o rosto de um homem com golpes dados com um extintor de incêndio; na segunda, uma personagem é violentada, em uma passagem filmada em apenas um take, com mais de 10 minutos de brutalidade. Apesar do peso de cenas deste tipo, este não foi o aspecto que me incomodou, a minha decepção foi motivada pela perda do ritmo a partir da segunda metade do filme. A narrativa criada é linear, porém contando os fatos da trás para frente, com constantes cortes que nos levam aos acontecimentos antecedentes. Tal proposta é louvável, porém ao contrário de Chistopher Nolan, que conseguiu dar ao ótimo Amnésia (2000que também é desenvolvido ao reverso) dois clímax, um no início e outro no final, Noé mantém o ápice de sua história apenas nos primeiros takes.

 

Da metade para o final, a câmera inquieta que girava ensandecida pelas locações se tranquiliza, a trilha sonora construída com fragmentos sonoros estranhos vai se normalizando, passando a ideia de que a “viagem” acabou, ou ainda não tinha começado. O filme se torna então menos incômodo, mas também menos atrativo, Gaspar Noé começa o processo de desconstrução dos seus personagens, o que poderia ser a melhor parte do filme, se transforma em algo vazio, sem muitas novidades. O que se percebe é que a montagem foi valorizada em detrimento da trama, que se fosse um pouquinho mais complexa, poderia afastar ainda mais os cinéfilos da obra. O cineasta pecou, no meu modo de ver, por não levar também a história em si até o limiar da experimentação.

 

A história de Irreversível começa com o espancamento que já mencionei acima. Nesta sequência, Marcus (Vincent Cassel) entra em uma boate gay a procura do estuprador de sua namorada, a bela Alex (Monica Bellucci), ele se envolve em uma violenta briga e iria se dar muito mal se não fosse salvo pelo amigo Pierre (Albert Dupontel), que ataca o homem com o extintor de incêndio. À medida que a história avança/retrocede, vamos conhecendo um pouco sobre cada um dos três e compreendendo a sequência de acontecimentos que levaram ao final trágico. O chato é que a trama não passa disso, como disse, o clímax está apenas no início. A história abre caminho então para reflexões acerca do tempo, do destino e da consciência, o que até salva esta segunda metade do filme de ser completamente descartável.

 

Gaspar Noé escolheu filmar no formato 16mm, para assim ter mais liberdade de movimentação com a câmera, que poderia ser bem menor e mais prática do que alguns dos modelos usados na captação do formato mais comum, o de 35mm. Noé usa requintes de crueldade para provocar o desconforto de quem assiste ao filme. Nas primeiras cenas a câmera gira, como se quisesse nos colocar na mesma perspectiva do personagem que ela persegue, os movimentos rápidos e aparentemente entorpecidos aumentam a sensação de incômodo, o que parece ter sido a principal intenção do diretor. A trilha sonora também é usada com o mesmo intuito, em algumas sequências a cena é preenchida com um ruído baixo e grave, gravado na frequência de 28Hz, que pode causar náuseas e tontura em quem ficar exposto à ele por muito tempo.

 

Ao contrário do que alguns críticos entusiastas previram acerca das opiniões sobre o filme, o meu pensamento sobre ele não foi determinado pela brutalidade de suas cenas. Eu nem o considero, como fizeram alguns que o criticaram, um motivador ou banalizador dos tipos de violência que retratou, apenas acredito que ele poderia ter sido melhor e mais grandioso em termos de conteúdo. Concluo portanto que Irreversível é ousado, agressivo e até brilhante em alguns momentos, porém sem conseguir nos livrar da sensação de que algo de muito importante está faltando...


Irreversível foi indicado à Palma de Ouro em Cannes


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Indicados ao Emmy Awards 2011


No dia 18 de setembro acontecerá, no Teatro Nokia em Los Angeles, a cerimônia de entrega dos prêmios da 63° edição do Emmy Awards. A premiação é uma espécie de Oscar da TV americana e está dividida em 64 categorias. A seleção dos indicados e a escolha dos vencedores são feitas pela Academia de Artes e Ciências Televisivas. Dentre os favoritos desta edição estão as séries Glee, Modern Family e Mad Men (esta com 19 indicações) e a minissérie Mildred Pierce (com 21 indicações). A cerimônia deste ano terá como apresentadora a atriz Jane Lynch (a treinadora Sue Sylvester, de Glee), que ganhou no ano passado o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante em Série de Comédia. Confiram abaixo os indicados às principais categorias:

Melhor série dramática
Mad Men – AMC
The Good Wife – CBS
Friday Night Lights – DirecTV
Game of Thrones – HBO
Boardwalk Empire - HBO

Melhor série de comédia
Glee – Fox
Modern Family – Fox
The Big Bang Theory – CBS
The Office – NBC
30 Rock – NBC
Parks and Recreation – NBC

Melhor elenco de série dramática
Mad Men
The Good Wife
Boardwalk Empire
Game of Thrones
The Killing

Melhor elenco de série de comédia
Glee
Modern Family
30 Rock
The Big C
Nurse Jackie

Melhor ator de série dramática
Hugh Laurie – House
John Hamm – Mad Men
Michael C. Hall – Dexter
Kyle Chandler – Friday Night Lights
Steve Buscemi – Boardwalk Empire
Timothy Olaphant – Justified

Melhor ator de série de comédia
Jim Parsons – The Big Bang Theory
Johnny Galecki – The Big Bang Theory
Steve Carrel – The Office
Alec Baldwin – 30 Rock
Matt LeBlanc – Episodes
Louis C. K. – Louie

Melhor atriz de série dramática
Elisabetg Moss – Mad Men
Julianna Margulies – The Good Wife
Connie Britton – Friday Night Lights
Mariska Harigtay – Law & Order: SVU
Mireille Enos – The Killing
Kathy Bates – Harry’s Law

Melhor atriz de série de comédia
Melissa McCarthy – Mike & Molly
Tina Fey – 30 Rock
Edie Falco – Nurse Jackie
Laurie Linney – The Big C
Amy Poehler – Parks and Recreation
Martha Plimpton – Raising Hope

Melhor ator coadjuvante de série dramática
John Slattery – Mad Men
Josh Charles – The Good Wife
Alan Cumming – The Good Wife
Peter Dinklage – Game of Thrones
Walton Goggins – Justified
Andre Braugher – Men of a certain Age

Melhor ator coadjuvante de série de comédia
Chris Colfer – Glee
Ed O’Neill – Modern Family
Jesse Tyler Ferguson – Modern Family
Eric Stonestreet – Modern Family
Ty Burrell – Modern Family
Jon Cryer – Two and a Half Men

Melhor atriz coadjuvante de série dramática
Christine Baranski – The Good Wife
Archie Panjabi – The Good Wife
Christina Hendricks – Mad Men
Michelle Forbes – The Killing
Margo Martindale – Justified
Kelly Macdonald – Boardwalk Empire

Melhor atriz coadjuvante de série de comédia
Jane Lynch – Glee
Jane Krakowski – 30 Rock
Kristen Wiig – Saturday Nigh Live
Sofia Vergara – Modern Family
Julie Bowen – Modern Family
Betty White – Hot in Cleveland

Melhor direção para série dramática
Boardwalk Empire eps. Piloto – Martin Scorsese
Boardwalk Empire eps. Anastasia – Jeremy Podeswa
The Killing eps. Piloto – Patty Jenkins
Game of Thrones eps. Winter s Coming – Tim Van Patten
The Borgias eps. The Poisoned Chalice/The Assassin – Neil Jordan

Melhor direção para série de comédia
30 Rock eps. Live Show – Beth McCarthy-Miller
Modern Family eps. Slow Down your Neighbors – Gail Mancuso
Modern Family eps. Halloween – Michael Alan Spiller
Modern Family eps. See you Next Fall – Steve Levitan
How I Met your Mother eps. Subway Wars – Pamela Fryman

Melhor Minissérie ou filme para TV
Too Big to Fail – HBO
Mildred Pierce – HBO
Cinema Verite – HBO
Downton Abbey – PBS/BBC
The Kennedys – ReelzChannel
The Pillars of the Earth – Starz

Melhor reality show ou programa de competição
Dancing with the Stars
Project Runway
American Idol
Top Chef
So You think you can Dance
The Amazing Race

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