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terça-feira, 31 de julho de 2012

Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios

Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios- 2011. Dirigido por Beto Brant e Renato Ciasca. Escrito por Marçal Aquino, Beto Brant e Renato Ciasca, baseado na obra literária de Marçal Aquino. Direção de Fotografia de Lula Araújo. Trilha Sonora Original de Simone Sou e Alfredo Bello. Produzido por Fernando Fraiha e Renato Rondon. Cinepro DOT e Drama Filmes / Brasil.


O cinema nacional vive um momento de antítese, já comentei sobre isso outras vezes aqui no Sublime Irrealidade, mas este é um tema pertinente que precisa estar sempre em pauta, basicamente temos produzido dois tipos de filmes, aqueles voltados para o grande público, que são detentores de uma linguagem novelesca e de pouca relevância artística, e aqueles que já nascem fadados a transitar apenas pelo circuíto de festivais e mostras, por terem a distribuição prejudicada por não a agradarem o grande público. Estes dois modelos até há bem pouco tempo atrás estavam separados por uma barreira quase intransponível, a questão da acessibilidade. Grandes filmes eram produzidos e não conseguiam chegar a um público que pudesse de fato valorizar suas qualidades. Todavia este cenário está começando a mudar e a internet tem sido uma das grandes responsáveis por esta mudança. Esta produção, que esteve durante anos à margem, está sendo descoberta por um público maior, e este público, por mais que esteja disperso geograficamente, tende a se tornar um potencial mercado de consumo e como o cinema (mesmo o de arte) é uma a indústria, a formação de um novo mercado tende a gerar mudanças no cenário.

Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios (2011) se enquadra no segundo tipo de filme mencionado acima, apesar de ter sido relativamente privilegiado no tocante à distribuição, ele, assim como O Palhaço (2011) de Selton Mello (que também se enquadra neste tipo), recebeu diversas avaliação negativas por parte do público, apesar de terem sido, ambos, grandes sucessos de crítica. Este fenômeno mostra o quanto a audiência ainda está de certa forma presa ao modelo predominante e por isso qualquer subversão a este modelo é vista por ela como pretensiosismo ou tentativa de parecer cult. Este contexto continua prejudicar obras como esta de Beto Brant e Renato Ciasca, no entanto eu acredito que a transformação que está andamento tende no longo prazo a diminuir a influência que a opinião do público médio exerce sobre o processo de produção, não sei precisar ao certo qual será o resultado desta gradativa transformação no cenário, no entanto a vejo com bons olhos, pelo simples fato dele estar em andamento. [Pretendo ainda abordar melhor este assunto em uma outra oportunidade]


Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios passa longe de ser uma obra prima, contudo ele merece ser aplaudido de pé pelo simples fato de nos apresentar algo diferente daquilo que temos visto na grande maioria dos filmes nacionais. Ele não está completamente livre dos vícios característicos de nossa produção, mas nele até estes vícios são bem utilizados. Sua trama gira em torno de um triângulo amoroso que tem em suas pontas, o fotógrafo Cauby (Gustavo Machado), o pastor Ernani (Zécarlos Machado) e a ex-prostituta Lavínia (Camila Pitanga). 

A história se passa em sua maior parte em uma comunidade ribeirinha no Pará, é lá que Cauby conhece Lavínia, ela logo se torna sua musa inspiradora e modelo para suas fotografias e não demora até eles serem tomados por uma paixão tão lasciva quanto perigosa.  Lavínia é esposa de Ernani, um líder religioso que vem tentando incitar a população local a lutar contra o desmatamento e a se posicionar contra a atuação de grandes empresas que têm devastado a região.


A complexidade psicológica dos três personagens centrais do filme vai ficando evidente pouco a pouco. Através de flashbacks conhecemos a verdadeira história de Ernani e Lavínia, como eles se conheceram e como ele a ajudou a deixar para trás a antiga vida que ela levava antes deles se mudarem para o norte. Quando se conheceram, o pastor viu nela um pouco daquilo que ele mesmo fora em um passado não tão distante e isso o motiva a lutar para que ela seja liberta de cada um de seus tormentos. 

Cauby por sua vez é um homem inerte, seu olhar observador de fotógrafo é dentre as suas característica a que melhor o define, ele não está disposto a brigar por nada e em poucos momentos da história vemos ele reagir à um estímulo que não seja o sexual. Estes três personagens são impactados pelos seus relacionamentos, a interação os transforma de uma forma aparentemente irreversível e a narrativa desenvolve uma interessante metáfora para descrever tal transformação...


A questão ambiental, que serve de pano de fundo para a história, não pode ser analisada tão somente como uma tentativa do filme (ou do livro que o originou, que ainda não li) de parecer politicamente engajado, afinal ela se apresenta mais como uma metáfora dos relacionamentos entre os personagens do que como uma forma de protesto.

No filme, Lavínia é um objeto de cobiça. Ainda que por motivações diferentes, tanto Cauby, quanto Ernani, querem exercer domínio sobre ela, o primeiro apenas consegue enxergá-la (à princípio) como objeto de desejo e de inspiração, enquanto o segundo vê nela um caminho para a própria redenção. Em ambos os casos pode ser percebida a questão da posse, Cauby quer o corpo, Ernani a alma. Ao interagir com eles, ela insurge num primeiro momento como uma força desconhecida e incontrolável, o que fica evidente em duas sequências do filme, todavia esta força pouco á pouco se esvai, ela se enfraquece à medida que o domínio é exercido sobre si.


Um paralelo pode ser feito entre a degradação da natureza e a decadência física e psicológica que a ex-garota de programa vive na história: Ambas, Lavínia e a natureza, se levantaram como forças ameaçadoras, mais acabam se rendendo diante da dominação que lhes é imposta. Em uma de suas passagens mais belas, o filme mostra uma tomada área da região onde a história se passa, imagens da beleza natural do local contrastam com outras que mostram uma área já degradada, esta sequência antecede um outra que mostra a personagem Lavínia em um estado bastante deplorável (que por sua vez contrasta com a imagem dela nas primeiras cenas do filme), este é um dos trechos nos quais a metáfora que mencionei acima fica ainda mais explícita. Em outro momento, um dos personagens toma a a moça nos braços como se ela fosse uma posse que acabara de ser reavida, esta passagem nos remete à forma com que o homem se apropria da natureza para extrair dela todos seus recursos, sendo que ela não é propriedade sua.


Camila Pitanga está excelente na pele de Lavínia, sua total entrega à interpretação é simplesmente assustadora. A atriz, que é pura sensualidade, consegue expressar com um pungente realismo tanto a força quanto a fragilidade de sua personagem. Ela com sua beleza quase hipnótica consegue chamar a atenção para si a ponto de ofuscar todas as outras atuações. Gustavo Machado e Zécarlos Machado também estão muito bem, mas faltam a eles o mesmo tipo de entrega que percebemos na atuação da Camila. O desempenho do ator Gero Camilo, que aparece como um coadjuvante de luxo, também merece destaque, ele interpreta um jornalista (aspirante a poeta) amigo de Cauby, personagem que ajuda a pontuar algumas das diversas reflexões propostas pelo filme, é dele uma das citações mais emblemáticas do longa: "Santa é a carne que peca!"


Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios possui alguns pequenos problemas em seu roteiro que acabam o prejudicando, em diversos momentos ficam pontas soltas e a sensação de que determinadas situações poderiam ter sido melhor aproveitadas. Já no tocante à parte técnica, o filme não deixa nada a desejar, sua fotografia é muito bem trabalhada, o que resulta em imagens belíssimas, o bom uso das tonalidades de cores e a ênfase que se dá a algumas delas em determinadas cenas reforça ora o erotismo, ora a selvageria que nos remete à ideia da natureza não domesticada. A trilha sonora, que faz excelente uso da musicalidade regional, também merece destaque. 

Como eu já havia dito acima, Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios não pode ser considerado uma obra prima, mas não tenho dúvidas de que ele merece ser visto, principalmente por aqueles que já se desprenderam suficientemente do convencionalismo e da preguiça artística e intelectual do cinema mainstrean nacional, os demais provavelmente dirão que ele é chato... Eu, lógico, recomendo! 


Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios ganhou o prêmio de Melhor Atriz (Camila Pitanga) no Festival do Rio em 2011.

Assistam ao trailer de Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios no You Tube, clique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra,

domingo, 29 de julho de 2012

O Segredo dos Seus Olhos

O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de Sus Ojos) - 2009. Dirigido por Juan José Campanella. Escrito por Juan José Campanella e Eduardo Sacheri, baseado na obra literária de Eduardo Sacheri. Direção de Fotografia de Félix Monti. Trilha Sonora Original de Federico Jusid e Emilio Kauderer. Produzido por Juan José Campanella, Mariela Besuievski e Carolina Urbieta. Tornasol Films, Haddock Films e 100 Bares / Argentina | Espanha.


A primeira cena de O Segredo de Seus Olhos (2009) mostra o letreiro de uma das plataformas de um estação ferroviária, a câmera se move, capta de uma forma estilizada o vai-e-vem de pessoas naquele lugar e em seguida faz um close, que dura alguns segundos, no olhar de uma bela mulher. Um segundo personagem aparece em cena, ele pega uma maleta que está no chão e caminha em direção ao trem que está de partida; no segundo plano, ao fundo, vemos novamente a mulher dos olhos expressivos, entendemos então que se trata de uma despedida. A trilha sonora enfatiza a dor que este momento representa para cada um dos dois personagens. Um corte e já estamos na segunda sequência do filme; escritos em um caderno de espiral descrevem a cena que acabamos de ver. O escritor, aparentemente descontente com o texto, rabisca o que tinha escrito e rasga a página do caderno; ele é Benjamín Espósito (Ricardo Darín), o homem que vimos entrando no trem na primeira sequência. O enquadramento seguinte foca o rosto dele e salienta algumas rugas, entendemos então que bastante tempo se passou desde a despedida, sobre a qual ele estava escrevendo.

Em 1974 Benjamín Espósito era oficial de um juizado penal em Buenos Aires, ele atuava como perito quando foi incumbido de trabalhar em um caso que deixaria profundas marcas em sua vida e na de seus colegas. Na ocasião, ele relutou em aceitar a tarefa por ela ser responsabilidade de uma outra jurisdição do juizado, no entanto o juiz a manteve sob a sua responsabilidade. O caso em questão se tratava de um violento estupro seguido de morte. A vítima, Liliana Colotto (Carla Quevedo), fora atacada em sua própria casa, ao que tudo indica, por alguém a quem ela já conhecia e em quem ela confiava. Ao ver o corpo ensanguentado da jovem, Espósito não conseguiu ficar indiferente, ele abraçou o caso e decidiu se dedicar ao máximo a ele para fazer o culpado pagar pelo que fez. A obsessão dele pelo crime aumenta depois que ele conhece o bancário Ricardo Morales (Pablo Rago), o viúvo, cujo amor pela esposa se transformara em um pungente desejo de vingança. 


Para levar as investigações adiante, Espósito teve que enfrentar a intransigência do juiz e diversos problemas dentro e fora do juizado, mas para tal ele contou com a ajuda de seu subordinado, o oficial de justiça Pablo Sandoval (Guillermo Francella), e de sua superiora, a advogada Irene Hastings (Soledad Villamil) - é dela que ele se despede na primeira cena. Sandoval é o braço direito de Espósito, ele tem problemas com o alcoolismo, mas ainda assim é um servidor dedicado e amigo fiel. Irene, que chegara a pouco tempo no juizado, possui uma boa formação e um forte senso de justiça e de retidão, o que a leva a ter atritos com os colegas em determinadas situações.

25 anos depois da morte de Liliana Colotto, Benjamín Espósito, já aposentado, decide escrever um livro sobre o caso. Ele volta à repartição onde trabalhou e pede a ajuda de Irene para revisitar os dados do processo que foram arquivados. Ele tem a esperança de que juntos eles possam encontrar algo de novo que lhe permita juntar algumas peças que ficaram soltas no passado... A sua volta ao juizado no entanto esconde outras motivações, que estão além da pesquisa sobre o crime...


Há uma citação, frequentemente atribuída a Leonardo da Vinci, que diz que 'os olhos são a janela da alma', este aforismo pode ser usado para justificar a importância que os olhares tem na história. Num dado momento do filme Benjamín Espósito pondera: "Os olhos... falam! Os olhos falam demais. Melhor que se calem! Às vezes é melhor não olhar!". Nos olhares de cada um dos personagens, está contido de forma subliminar aquilo que, por medo ou por alguma outra motivação, eles não deixam transparecer, estes olhares também denotam uma característica comum a praticamente todos eles: a obsessão que nutrem por uma determinada coisa ou ideia, que varia de um para outro. Esta fixação é o que os determina como indivíduos e o que direciona cada uma de suas ações, a importância dela na trama fica evidente em uma fala do personagem Pablo Sandoval, ele defende: "As pessoas podem mudar tudo, de casa, de cara, de família, de namorada, de religião, de deus, mas há uma coisa que não podem mudar Benjamin. Não se pode trocar de paixão!"


Curiosamente, o único personagem que aparenta estar imune a tais obsessões é o próprio Benjamín Espósito, sua fixação pelo caso de Liliana Colotto não chega a ser obsessiva, afinal por 25 anos ele a tinha deixado de lado. Conforme ele mesmo conta, durante os anos que passaram desde que ele deixou a repartição, na qual ele trabalhava em 74, ele esteve 'distraído'. Ele se casou, se separou e teve várias namoradas, no entanto ele não conseguiu se realizar, permanecia a sensação de que algo lhe faltava, afinal ele não tinha uma paixão (ou obsessão) que lhe servisse de motivação, como ele mesmo disse, tudo era apenas distração. Ao se aposentar ele sente o peso de uma vida solitária e decide começar a escrever e não por acaso sua maior inspiração é o amor obsessivo que  Ricardo Morales nutria pela esposa, mesmo depois dela morta.


A excelente construção de cada um dos personagens e a profundidade dramática tornam a história contada no filme capaz de nos levar a reflexões sobre diversos temas e a obsessão é só um deles. Na trama algumas situações  fazem referência a fotos históricos do período em que a Argentina esteve sob um regime militar, o que pode ser observado na corrupção presente nas instituições públicas e na fragilidade do poder legislativo, tão bem retratadas no longa

O Segredo dos Seus Olhos é um filme universal e esta talvez seja sua melhor qualidade, não se trata de um filme de gênero ou de uma produção geograficamente restrita e isso faz com que identifiquemos com maior facilidade com os personagens e com os dramas vividos por eles. Outro ponto forte do filme, é o fato de ele não ser maniqueísta, seu roteiro evoca diversos questionamentos morais, sem no entanto adotar resoluções simplicistas para eles. A profundidade dramática afasta a história do melodrama e isso a torna mais séria, mais sem precisar para tal perder o sentimentalismo e a sensibilidade.


As atuações compõem outro ponto forte do filme, pude finalmente comprovar o já reconhecido talento do ator Ricardo Darín, ele está fantástico no papel do melancólico Espósito, sua composição do personagem salienta seu cuidado com as sutilezas, com os gestos contidos, com a entonação vocálica e principalmente com o olhar (o que já era de se esperar). A atriz e cantora Soledad Villamil também está muito bem no filme, é fantástica a forma com que ela, também através de sutilezas, se transforma ao interpretar a mesma personagem em tempos diferentes, enquanto no primeiro momento ela exala jovialidade e sensualidade, num segundo ela já deixa evidente um ar melancólico, que se aproxima daquele que percebemos no personagem de Darín. Guillermo Francella é outro grande destaque, sua destreza para interpretar as diferentes sensações e situações que seu personagem vive é realmente admirável. Pablo Rago e Javier Godino também estão ótimos.


O Segredo dos Seus Olhos também consegue ser maravilhoso em cada um de seus aspectos técnicos, o esmero que pode ser observado na composição da mise-en-scène, nos movimentos de câmera, na fotografia e na direção de arte perduram durante todo o filme, mantendo a beleza e a sutileza que podem observadas já nas sequências iniciais, conforme comentei no primeiro parágrafo. Cada um dos elementos técnicos do filme, que incluem também a trilha sonora, os figurinos e a maquiagem estão condizentes com a narrativa e com aquilo a que o filme se propõe, não havendo excesso ou mal uso de qualquer recurso.


Tentei ao máximo não tecer qualquer comparação entre o cinema argentino e o brasileiro, todavia não tenho como esconder que ao ver uma obra de tamanha excelência artística e técnica eu sinto um pouquinho de inveja dos hermanos

O Segredo dos Seus Olhos é um fruto de um cenário já amadurecido e consciente de seu poderio artístico,  é, sem exageros, uma obra prima, um filme que merece ser visto e revisto por todos. Ultra Recomendado! 

P.S. Ao assistir ao filme, não deixe de prestar atenção no espetacular plano-sequência que mostra uma perseguição em um estádio de futebol, o take dura por cerca de quatro minutos e constitui uma das melhores e mais memoráveis passagens do filme.


O Segredo dos Seus Olhos ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Assistam ao trailer de O Segredo dos Seus Olhos no You Tube, clique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.

Postagem dedicada ao amigo Cristiano Contreiras, que me deu um verdadeiro ultimato
para que eu visse este filme o quanto antes!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Pequeno Príncipe

O Pequeno Príncipe (The Little Prince) - 1974. Dirigido e Produzido por Stanley Donen. Escrito por Alan Jay Lerner, baseado na obra literária de Antoine de Saint-Exupéry. Direção de Fotografia de Christopher Challis. Trilha Sonora Original de Angela Morley. Paramount Pictures / USA | UK.

O musical foi um dos gêneros cinematográficos de maior sucesso nas primeiras décadas que sucederam o advento do cinema falado, durante os anos 30, 40 e 50 o gênero foi um dos grandes filões da indústria Hollywoodiana. Produções realizadas com orçamentos megalomaníacos faziam uma confluência de diversas expressões artísticas; teatro, ópera e arte circense se misturavam em verdadeiros espetáculos sonoros e visuais. Neste período todos os grandes estúdios investiram muito dinheiro em filmes que tinham retorno praticamente garantido, contudo, durante os anos 60 o cenário começou a mudar. Os sucessivos fracassos de bilheteria, que quase levaram algumas produtoras à falência, indicavam que o cinema precisava se reinventar e foi o que aconteceu, era chegada a vez de produções menos espetaculosas, mais realistas e de baixos orçamentos. Os recursos, que antes pareciam ilimitados, diminuíam e junto com eles a influência dos grandes estúdios no processo criativo. Começava a despontar, também em Hollywoody, um cinema mais 'jovem', dotado de um cunho mais autoral, que trazia influências do Neorrealismo Italiano e da Nouvelle Vague Francesa.

Stanley Donen foi um dos mais importantes cineastas deste período, ele, que vive até hoje, tem no currículo alguns verdadeiros clássicos da história da sétima arte, mas mesmo já sendo respeitado e tendo uma trajetória já consolidada ele não escapou de ser afetado pelo arrefecimento do gênero, ao qual sempre teve seu nome associado. Na década de 60 ele passeou por outras vertentes cinematográficas, como o suspense e a comédia romântica, mas sem alcançar o sucesso e o prestígio de outrora. Em 1974, depois de 16 anos, ele voltaria a dirigir um musical (o último tinha sido Damn Yankees! de 1958), esta nova incursão no gênero seria com O Pequeno Príncipe, adaptação da obra literária de Antoine de Saint-Exupéry.


Esta breve introdução serve para contextualizar e localizar cronologicamente o filme O Pequeno Príncipe na linha temporal do gênero ao qual ele pertence, isto para sustentar a minha afirmação (polêmica) de que ele é um exemplo perfeito da decadência criativa de um cineasta e do ostracismo de um determinado formato. A obra não possui sintonia estética alguma com a época na qual foi lançada e eu não consigo ver nela nada que sustente sua volta ao passado. Não se trata de um filme saudosista, nem há a pretensão de prestar homenagem à época a qual ele nos remete e a trama em si não depende deste formato para ser trabalhada. Esta discrepância estilística denota a falta de criatividade de Donen e sua tentativa de restabelecer seu prestígio voltando ao gênero que o consagrou. O problema é que no caminho desta 'volta' há inúmeros tropeços e ele não consegue chegar nem perto do sucesso de outrora.


O primeiro tropeço sofrido pelo filme está no processo de adaptação e na construção de seu roteiro, há uma tentativa exagerada de ser fiel à proza da obra literária e isto faz com que o filme perca toda sua propriedade como obra artística. Alan Jay Lerner, o roteirista, quase não foge do texto original e da sequência dos fatos narrados no livro e quando ele o faz é da pior maneira possível, eliminando personagens e situações de grande importância para a trama. Neste processo toda a aura da história contada por Antoine de Saint-Exupéry é perdida, o que faz com que o filme se torne superficial, ele não consegue nos emocionar e tão pouco nos conduzir às mesma reflexões que o livro nos inspira sobre temas diversos, como a infância, o apego ao 'visível' e as relações interpessoais.


O filme também tropeça naquilo que deveria ser o seu aspecto mais forte, as cenas de música e dança., a maior parte dos números são sofríveis e neste ponto fica mais uma vez evidente o quando o formato tinha se desgastado. As músicas não são ruins, todavia elas não possuem algo a mais, não há quase nenhuma emoção nelas, o que talvez seja culpa do excesso de tecnicismo das atuações (que é outro grande problema do filme). A sequência musical protagonizada por Gene Wilder, por exemplo, beira ao ridículo, aparentemente houve uma tentativa de fazer algo simples e que fosse de alguma forma cativante (desculpem o trocadilho), mas como eu disse, falta emoção e neste caso em especial falta também técnica, não do ator, mas da direção. Já a passagem encenada pelo lendário coreógrafo e diretor Bob Fosse é melhor estruturada, ele obviamente mostra maior destreza que Wilder para dançar e cantar, porém esta sequência em si peca por se alongar demais.


Na construção dos cenários do filme pode-se perceber outra discrepância em relação ao formato clássico, enquanto na época de ouro do gênero os filmes eram rodados não em locações, mas em enormes cenários construídos especificamente para este fim, em O Pequeno Príncipe há também pouquíssimas cenas filmadas em locações, mas não há cenários suntuosos, no longa são usadas técnicas de Traveling Mattes (montagens por composição) para inserir os personagens no ambiente diegético em que se encontram, o problema é que a técnica usada é bastante primitiva, mesmo para a época, o que realça a artificialidade da narrativa. A situação piora em algumas tomadas nas quais são usada lentes especias para passar uma ideia de diferenciação geográfica, isto para distinguir o lugar onde os personagens se encontram naquele momento dos demais, a pretensão foi boa, no entanto o resultado é visualmente horrível.


Apesar de tantos desacertos, o filme tem sim pontos positivos que merecem ser destacados, dentre eles o desempenho do ator-mirim Steven Warner, que interpreta o personagem central, sua atuação não tem nada de tão extraordinária, no entanto ele consegue nos cativar, façanha que nenhum outro ator realiza, nem mesmo Gene Wilder. Dentre os aspectos técnicos, vale destacar os figurinos dos personagens, todos muito bem feitos e condizentes com a imagem formada em nosso imaginário pelas aquarelas desenhadas por Saint-Exupéry, presentes na maioria das edições do livro. 


A história de O Pequeno Príncipe é narrada por um avidar (Richard Kiley) que caiu no deserto do Saara após um acidente, ela gira em torno do principezinho, o único habitante de um asteroide distante, que inicia uma viagem pelo universo em busca do contato com outras pessoas; ele passa por diversos planetas, onde encontra figuras peculiares, como o rei egocêntrico e o homem de negócios ganancioso, até chegar à Terra, onde por fim se encontra com o aviador em pleno deserto... Pessoalmente entendo este último encontro como uma metáfora para a busca da infância perdida, se o aviador é um alter-ego do escritor, o principezinho é a idealização da meninice e de sua magia e simplicidade; de acordo com minha interpretação, o deserto seria um período da vida adulta no qual nos vemos num conflito entre aquilo éramos e aquilo no que nos tornamos... 


Para quem nunca leu a obra literária, o filme pode parecer bonitinho, apesar de ser tecnicamente ordinário, afinal ainda que reduzida a uma trama superficial a história ainda continua bela e memorável, no entanto não recomendo que a opção pelo filme seja feita em detrimento da leitura do livro, afinal, como eu já havia dito, apesar de usar a obra de Saint-Exupéry como muleta, o longa de Stanley Donen não chega nem perto de atingir a sensibilidade e a poesia tocante do texto original. A minha conclusão é a de que o diretor deveria ter buscado reencontrar sua criança interior ante de meter a filmar esta adaptação. Difícil acreditar que este filme foi realizado pelo mesmo cineasta que co-dirigiu aquele que é na minha opinião o melhor musical de todos os tempos, Cantando na Chuva (1952)...


O Pequeno Príncipe foi indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Canção Original e Melhor Trilha Sonora Adaptada (categoria existente na época).

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A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.

Assisti a este filme na primeira exibição do Cineclube realizado no Centro Cultural Fezefaiz!

domingo, 22 de julho de 2012

Distrito 9

Distrito 9 (District 9) - 2009. Dirigido por Neill Blomkamp. Escrito por Neill Blomkamp e Terri Tatchell. Direção de Fotografia de Trent Opaloch. Trilha Sonora Original de Clinton Shorter. Produzido por Carolynne Cunningham e Peter Jackson. District 9, WingNut Films e Key Creatives / USA | Nova Zelandia | Canadá | África do Sul.


Há uma espécie de consenso no meio cinematográfico que diz que em determinados gêneros os filmes não precisam ser 'inteligentes' ou bem escritos para alcançar sucesso de público, basta que tenham um ritmo ágil e uma notável qualidade técnica. Muitos cineastas, principalmente os realizadores de filmes de ação, aparentam rezar por esta cartilha e isso elimina de suas obras qualquer valor artístico e estético que elas poderiam ter, restando apenas o estímulo visual, o resultado são produções de apelo meramente comercial, destituídas de um toque autoral e de uma maior profundidade dramática. No entanto de tempos em tempos, surgem cineastas que rasgam esta cartilha e ultrapassam as limitações criativas de tais tipos de filme, provando com isso que mesmo gêneros tidos como menores podem render excelentes obras.

O cineasta sul-africano Neill Blomkamp nos mostra em Distrito 9 (2009), seu primeiro longa-metragem, que um filme de ação pode ter ao mesmo tempo um bom ritmo, espetaculares efeitos especiais, relativa profundidade dramática e uma contundente crítica social. Seu trabalho não é uma obra prima, ele possui diversas arestas que poderiam ter sido melhor aparadas, mas ainda assim ele aponta para um caminho salutar, que tende a romper com algumas convenções e clichês (ainda que mantendo outros) e abrir espaço para um pouco de ousadia no que diz respeito à narrativa e ao roteiro... Distrito 9 nos remete à diversas outras obras que vão de Dança com Lobos (1990)A Mosca (1996), não há como negar que alguns de seus elementos dramáticos não são nada originais, no entanto eles possuem algumas características que os tornam e ao o filme, se não originais, no mínimo diferenciados.


A história de Distrito 9, que se passa na cidade de Joanesburgo, começa de uma forma um tanto não convencional, através de um pseudo documentário nós espectadores somos apresentados ao personagem central - o patético Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley) - e à situação que servirá de mote para o desenvolvimento do roteiro. Há cerca de 20 anos uma nave alienígena apareceu sobre a cidade sul-africana, e permaneceu lá como se estivesse estacionada, após três meses uma missão militar a invadiu e descobriu em seu interior um contingente enorme de alienígenas moribundos que foram trazidos para a superfície. Os ETs, após terem suas armas confiscadas, se tornaram indefesos e relativamente inofensivos. Por não conseguirem deixar a Terra eles acabaram ficando em um gueto da cidade, o Distrito 9, que com o passar do tempo se tornaria uma grande favela.


Os constantes atritos entre humanos e alienígenas apontam para um problema grave e de difícil solução, o estado tinha perdido o controle sobre a região habitada pelos 'camarões' (apelido pejorativo dado aos extra-terrestres) e melícias de nigerianos exerciam sua influência sobre eles através da venda de comida de gatos,(que eles consumiam como se fosse uma espécie de droga causadora de forte dependência). A solução proposta pelas autoridades foi a de levar os alienígenas para uma espécie de campo de concentração, localizado em uma região mais distante da cidade. A empresa Multinational United (MNU), onde Wikus trabalha, é contratada pelo governo para realocar a população de alienígenas e ele é nomeado para chefiar a missão. Ele, que fora promovido graças a influência exercida pelo seu sogro, vê tudo aquilo que conquistou desmoronar após o fracasso da missão. Sua situação no entanto tende a se complicar ainda mais, pois durante a incursão no Distrito 9 ele foi contaminado por um estranho liquido, que deu início à uma série de reações em seu corpo.


Como eu disse acima, o filme não está livre de clichês, porém estes são explorados de uma forma diferenciada daquela a que estamos acostumados, o que corrobora a originalidade conferida pelo argumento. Um exemplo disso se dá na transformação que o personagem central vive durante o filme, no início do desenvolvimento da trama ele é egocêntrico e preconceituoso, no entanto o contato direto com a realidade dos 'camarões' implica forte mudanças na maneira que ele vê a eles e a organização na qual ele trabalha. Este processo é similar ao que acontece com os personagens de Kevin Costner no já citado Dança com Lobos (1990) e com o de Tom Cruise em O Último Samurai (2003), porém diferente do que acontece neste outros dois filmes, Wikus não revê seus conceitos por admiração ou respeito à cultura alheia, mas tão somente por falta de opção e por culpa, o que nos leva a crer que seu egoísmo e seu preconceito permanecem intocados.


O subúrbio povoado pelos 'camarões' é uma óbvia referência ao gueto de Soweto e a segregação entre humanos e ETs uma alegoria perfeita do regime de Apartheid, que vigorou da África do Sul de 1948 a 1994. Distrito 9 no entanto não fica só nas referências, ele também tece uma contundente crítica ao preconceito e à segregação. Na história, não é só brancos que defendem a supremacia humana, negros também são favoráveis à criação do campo de concentração, eles também deixam aflorar seu ódio contra os diferentes e o roteiro dá ênfase a isso. O filme nos conduz à conclusão de que independente de quem esteja de um lado ou de outro, numa situação de atrito étnico o ódio cego sempre aflorará contra os mais fracos, aqueles que não têm condições de se defenderem e estes, por serem diferentes, serão considerados indignos de terem os mesmos benefícios e direitos que os demais...


O ator Sharlto Copley está muito bem no filme, ele interpreta de forma convincente cada uma das transformações que seu personagem vive no decorrer da história e cada um dos sentimentos que ele experimenta, que vão do ódio à dor, da culpa à frustração... Os efeitos especiais foram muito bem trabalhados (Peter Jackson era um dos produtores do filme, não poderia ser diferente), o que confere ao filme um maior realismo. Todavia Distrito 9 peca em alguns aspectos, um deles é o excesso de didatismo, que fica evidente pelas diversas inclusões de elementos que servem para explicar aquilo que estamos vendo, em raros momentos estes elementos colaboram de fato com a trama ou com a alegoria criada por ela. Outro problema é a constante alternância entre a câmera diegética e a não diegética, sendo que a primeira é aquela que acompanha o personagem central e registra imagens para o pseudo documentário e a outra é a câmera que não está inserida na narrativa, ou seja a convencional, esta alternância, que chega a ser incômoda, poderia ter sido usada à favor da narrativa, mas isso não aconteceu.


Apesar de seus pequenos deslizes, Distrito 9 pode ser considerado uma grande estreia, o debut de um diretor que merece ser observado com bastante atenção, eu já aguardo ansioso pelo seu segundo filme, Elysium, que deverá chegar aos cinemas em 2013 e contará com Wagner Moura, Matt Damon, Jodie Foster e Alice Braga no elenco

Concluo esta resenha, ressaltando o fato de que Distrito 9 é uma ficção científica cujo foco não está no ficcional,  mas na forma com que se constrói os relacionamos com aqueles que consideramos diferentes ou inferiores a nós, justamente por isso ele se torna tão recomendável, tanto como bom entretenimento quanto pela capacidade de nos levar a reflexões que transcendem sua própria história. Assistam! 


Distrito 9 foi indicado aos Oscar nas categorias de Melhor Filme, Roteiro Adaptado, Edição e Efeitos Visuais.

Assistam ao trailer de Distrito 9 no You Tube, clique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Pearl Jam Twenty

Pearl Jam Twenty - 2001. Escrito e Dirigido por Cameron Crowe. Direção de Fotografia de Nicola Marsh. Produzido por Cameron Crowe, Kelly Curtis, Andy Fischer, Barbara Mcdonough e Morgan Neville. Tremolo Productions e Vinyl Films / USA.


Cameron Crowe ainda não era um cineasta reconhecido quando se mudou para Seattle no final dos anos 80, naquela ocasião sua principal atividade ainda era a de colunista musical. Ele se tornara nos anos 70 o mais jovem colaborador da revista Rolling Stone e deste então ele trilhara um bem sucedida carreira no jornalismo cultural. Crowe foi para o noroeste dos Estados Unidos atraído pela prolífera cena musical da cidade natal de Jimi Hendrix, que começava a chamar a atenção da mídia e da indústria cultural. Neste período, ele teve contato com aquilo que seria o embrião do hype que a crítica especializada apelidaria de Grunge. Ele estava no lugar certo e na hora certa... em Seattle ele faria o seu primeiro filme, Digam o que Quiserem (1989), e a ebulição cultural  da cidade serviria de pano de fundo para o segundo, Singles - Vida de Solteiro (1992).

O fato de que Crowe conheceu de perto a cena musical da cidade, antes da explosão do Grunge, faz dele o cineasta mais indicado para contar, através de um documentário, a história de uma das bandas mais importantes surgidas naquele período, o Pearl Jam. A relação entre o cineasta e a banda sempre foi bastante amistosa, membros dela fizeram pontas em Singles, como integrantes da banda de um dos personagens centrais do filme e este mesmo personagem teve seu figurino montado basicamente com peças do guarda roupas de Jeff Ament, baixista do banda. A proximidade entre Cameron e os músicos contou muito para que Pearl Jam Twenty se tornasse um documentário quase passional, destituído de qualquer pretensão de ser imparcial ou de se ater a qualquer rigor jornalístico...


Eu diria que Pearl Jam Twenty é um filme de um fã para outros fãs da banda e justamente por isso a parcialidade dele não chega a ser um demérito. Para os fãs não há nenhum problema em ser parcial, desde que desta parcialidade resulte uma abordagem positiva. O documentário não se prende tanto à datas, mudanças de formação e coisas do tipo, ele não funciona tão bem como biografia e este é na minha opinião um de seus grandes acertos. O Pearl Jam sempre se manteve relativamente à margem da indústria fonográfica (ainda que seu primeiro disco permanecendo um tempo enorme nas paradas de sucesso), raramente seus integrantes concediam entrevistas e eles se tornaram conhecidos mais pelas suas atitudes do que por aquilo que diziam diante de câmeras e gravadores. Crowe no entanto quebra esta barreira difícil de ser transposta e nos apresenta para uma banda formada, não por rock-stars, mas por pessoas comuns, que trazem consigo seus próprios dramas e experiências da vida...


Outro ponto positivo do filme é que ele não comete o equívoco (muitas vezes cometido) de mostrar o Grunge como um movimento, ou como um sub-estilo musical. Crowe não despreza a influência , direta ou indireta, que as outras bandas de Seattle exerceram sobre o Pearl Jam, no entanto ele aponta a efervescência cultural da cidade apenas como uma cena musical, que é tão somente o que ela foi... 

Pearl Jam Twenty começa falando da importância de uma das bandas de maior sucesso no underground local antes do hype, o Mother Love Bone, que terminou após a morte prematura de seu vocalista, Andrew Wood, por overdose. O fim desta banda causaria um forte impacto na cena musical da cidade e uma onda de melancolia tomaria os integrantes remanescentes do grupo, dentre eles Jeff Ament e Stone Gossard, futuros integrantes do Pearl Jam. A experiência de ver o amigo agonizando funcionou como um rito de passagem para eles e influenciou diretamente no clima das músicas que eles compuseram naquele período.


Eddie Vedder, que não viveu esta experiência, chegou a Seattle trazendo seus próprios dramas em sua bagagem, ele era fruto de um lar despedaçado, o homem que o criara não era seu pai biológico e ele só descobriu isso quando seu progenitor já estava morto. Cameron Crowe destaca estes dois eventos no filme, a morte de Andrew Wood e o drama familiar de Vedder, pois deles sairiam a inspiração para algumas das músicas do primeiro disco da banda, que se tornariam verdadeiros clássicos. Ele dá continuidade a este tipo de abordagem que aproxima a vivência de cada um dos integrantes da obra produzida por eles.

Crowe ainda dá enfase no relativo distanciamento que a banda manteve do circuíto comercial e da grande mídia e a alguns eventos que marcaram sua trajetória, como a briga com a Ticketmaster pela redução dos preços dos ingressos de seus shows e a tragédia acontecida em 2000 em uma apresentação no  Festival de Roskilde na Dinamarca.


Os depoimentos presentes em Pearl Jam Twenty são em sua maioria de integrantes da banda e de pessoas próximas a eles, o que reforça a postura parcial e passional do filme, todavia Crowe não deixa de mencionar os maus momentos pelos quais a banda passou e crises internas que ela enfrentou, o que funciona como um interessante contraponto à abordagem predominante. 

O documentário está repleto de imagens raras (o que é característico do gênero), várias delas do início da banda, feitas pelo próprio Cameron enquanto ele ainda atuava como jornalista em Seattle, o que é sem dúvidas é um deleite para qualquer fã da banda, principalmente para aqueles que não viveram o início dos anos 90 e a explosão do Rock Alternativo de Seattle. Recomendo para os 'camisa de flanela' e para todos os demais que apreciem e valorizem a boa música! 

Assistam ao trailer de Pearl Jam Twenty no You Tube, clique AQUI !

Confiram também aqui no Sublime Irrealidade as críticas de Compramos Um Zoológico (2011) e Singles - Vida de Solteiro (1992), também dirigidos por Cameron Crowe!

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.