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sábado, 4 de dezembro de 2010

Anomia


Foi difícil tomar a decisão de não ter mais que acreditar, e de eliminar cada uma das causas, pelas quais poderia valer a pena lutar. Esta foi a decisão que tomou em meados do segundo semestre do ano passado (2009). Seria para não mais sofrer. Aquele tinha sido um ano angustiante, foi frustrante no tocante a todos os seus projetos, sufocante em todos os compromissos de trabalho e estudos, sua auto-cobrança crescia e ele ainda se afundava em um sofrer que chamava de amor.
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À primeira vista a anomia lhe pareceu ser o posicionamento mais inteligente, talvez fosse, mas naquele momento não pode imaginar o que mudanças tão profundas em sua forma de interagir com as circunstâncias poderiam trazer consequências que lhe marcariam e que lhe trariam um novo modelo de aprendizado, um tanto menos dolorido que a frustração.
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O que estava por vir parecia ser uma nova fase caracterizada pelo anseio que brotava dentro de si, uma vontade enlouquecida de se divertir a qualquer custo, sem metas, sem rumos e sem nenhum objetivo final. Seria a partir de agora cada dia de uma vez. Mas teria ele coragem para viver em cada um de seus limites?
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Ele queria estar ao mesmo tempo nas ruas de Manhattam, em um café em Paris ou em qualquer outro lugar onde o fôlego lhe faltasse pelo fascínio da beleza estonteante do novo. No entanto continuava preso em sua vida medíocre, amargurado pelo tédio dos finais de semana ou pela rotina dos dias de trabalho.
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Os sonhos que descartou lhe furtaram a esperança, ele teve medo de assumir riscos e os custos do divertimento poderiam ser altos demais. Preferiu então se recolher dentro de seu casulo, alheio ao mundo, indiferente a tudo à sua volta. A falta de objetivos lhe trouxe uma paz descolorida, o que não lhe contentou, a apatia lhe submergiu em melancolia e poderia o levar a mais profunda depressão.
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Tal como o personagem Marcello Rubini em "A doce Vida", ele passou a transitar dentre o mundo que não era o seu e passou a preencher o seu vazio com a velocidade dos acontecimentos desconexos de seus dias, a rapidez não lhe permitia pensar e de certa forma isso lhe era favorável, pois lhe oferecia uma fuga abstrata para tudo o que existia de real em sua vida, realidade que talvez ele já não pudesse ou não tivesse coragem de mudar. Estava tudo morrendo.
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sábado, 25 de setembro de 2010

Um bom lugar pra ler um livro....




Uma nova marcha

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Uma quantidade significante de líderes religiosos se converteram, por ocasião das eleições, em conselheiros políticos, estão dizendo para seus rebanhos em quem não devem votar, com alegações de que determinado candidato defende ou não algo que seria contrario à sua teologia.
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Apesar de eu não ter nenhum apreço pela política partidária, ou por algum dos candidatos, tal fato tem me preocupado. O que está em jogo não são questões teológicas, são principalmente questões políticas e ideológicas, como distribuição de renda, reforma agrária, direitos de minorias, liberdade individual, entre outros. Ao contrário da igreja primitiva descrita em Atos, os membros da igreja de hoje não estão dispostos a perder seus privilégios e dividir seus bens com outros à medida que alguém tenha necessidade.
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Que um grande números destas instituições defendem posturas neo-liberais e o conservadorismo de direita não nos resta dúvidas, porém nos deixamos enveredar por estes discursos e assim deixamos de ter uma postura crítica com relação a tudo que está acontecendo, acreditando que tais "pregações" são de todo imparciais, ou até mesmo direcionadas por Deus.
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O mais assustador entretanto é que diante deste contexto as "igrejas" se posicionam até mesmo contra princípios bíblicos, basta conferir vídeos de pregações que circularam no You Tube nas últimas semanas, onde tais líderes aponta acusações sem nenhum ou com pouco teor de FATO e VERDADE. Romanos 1.28-32 mostra a postura bíblica sobre os caluniadores.
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Curiosamente, tal manifestação vinda de alguns setores da igreja católica em conjunto com denominações da igreja evangélica, me fez lembrar uma outra mobilização que aconteceu no nosso passado recente. Em 1964 a "Marcha da Família com Cristo pela Liberdade" reuniu cerca de 500 mil pessoas em passeata. Alienados a grande maioria dos participantes nem sabia contra o que realmente estavam se posicionando. Talvez, nos dias de hoje o desfecho seja diferente, mas as manifestações de 64 ajudaram abrir caminho para o que os militares chamaram de "revolução"... nós entretanto conhecemos como DITADURA...
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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Bomba! Não me diguem em quem não devo votar!

Tenho recebido uma quantidade enorme de e-mail/scraps/mensagens dizendo pra votar ou não em fulano ou beltrano por que este é a favor de tal grupo ou idéia, ou este vai proibir ou liberar alguma tal atitude... Apesar do meu pouco apresso por política partidária, tenho chegado à conclusão de que realmente não estamos preparados para a democracia. Não conseguiremos viver como indivíduos livres enquanto não entendermos que a nossa verdade pode não ser a verdade do outro e que o bem social depende de que cada um possa ter o direito de viver sua "verdade" desde que esta não desrespeite leis ou prejudique o próximo...

Corremos o risco de eleger políticos autoritários e de tendencias fascistas, que ao invés de se preocuparem com problemas urgentes da sociedade, levantam bandeiras em torno de temas polêmicos e fazem lobbies na esperança de que isso garantirá sua vitória nas urnas....
O que está em jogo é muito mais que nossas opiniões pessoais sobre determinado assunto, temos problemas urgentes como desigualdade social, sistema de saúde, violência urbana, drogas e tantos outros.

A tal democracia que vivemos hoje está longe, muito longe, de ser um ideal de sociedade, porém foi fruto da resistência de pessoas que lutaram contra uma ditadura no passado, além de cometermos o grande erro de substituir a democracia participativa pela representativa ainda trilhamos a contramão de tudo que conquistamos como sociedade.

O nossa "povo heróico" parece sentir falta do cabresto da ditadura, só pode... Podemos estar certos e convictos de nossas ideologias, ou de nossas crenças religiosas, mas não é o Estado quem tem que dizer para aqueles que não compartilham de nossas opiniões que eles estão "errados". Democracia pressupõe liberdade do indivíduo de agir de acordo com suas crenças e deve garantir a estes a liberdade de viver de acordo com elas. Ah e vale lembrar que vivemos num estado laico... por enquanto!



domingo, 21 de fevereiro de 2010

A ANTITESE - Paradigmas em CheqUe (Mate)

.Era ainda o segundo semestre do primeiro ano de faculdade, ainda nutríamos a ilusão de seríamos algo mais que meros reprodutores de mensagem guiados por editores e donos de jornais comprometidos com interesses alheios. Neste período cursávamos a disciplina de antropologia cultural, as disciplinas de basa do curso, como esta, reforçavam em mim o gosto pela comunicação como ciência social, já de início eu começava a perder o gosto pelo jornalismo. Foi para esta disciplina que foi pedido uma atividade extra-classe que me encheu os olhos... deveríamos fazer um “etnografia”, baseada na observação de um grupo, de uma “tribo” ou de como as pessoas se comportam em determinada situação.

Minha primeira idéia foi de acompanhar um velório de um desconhecido (por nós) na capela municipal... Já era um pouco tarde quando percebemos (o trabalho seria realizado em dupla) que a disponibilidade de tempo e a imprevisibilidade do evento relacionado oa tema impediria o intento. Uma outra colega, com intuitos evangelísticos, nos convidou para um evento em sua igreja, nesta ocasião eu já estava sensibilizado por muita coisa que dizia respeito à essência da fé cristã... juntamos o útil ao agradável... No dia do evento partimos para a cidade vizinha onde tudo aconteceria. Vale ressaltar que o trabalho seria um fiasco. Eu não consegui manter o distanciamento necessário, tudo aquilo já tinha me cativado, o outro colega já trazia alguns conceitos pré-estabelecidos que também dificultariam a observação...

Definitivamente não conseguiríamos fazer um trabalho de qualidade como esperávamos, mas para os padrões da faculdade o que entregamos mereceu 23 pontos em 25. O ano letiva na faculdade acabou, mas minha relação com a igreja só estava começando. A partir daí muita coisa em minha vida também mudaria, o contato com novas pessoas e com uma nova visão, tanto no meio acadêmico quanto na igreja me libertariam de antigos pré-conceitos e abririam meus olhos para muitas possibilidades, que até então eu não havia contemplado. Depois disso o movimento punk, que embalara meus últimos anos, foi ficando pequeno demais. Eu queria me expandir, ir além... fiz concursos e acabei me tornando bancário...

O tempo passou, o curso superior de jornalismo foi concluído com um “q” de arrependimento. Definitivamente eu não me identificaria com uma rotina de redação de jornal de interior, tão pouco com a de um dos “jornalões”. Meu interesse começou já no final do curso a se voltar para a comunicação empresarial. Este acabou sendo o tema de meu trabalho de conclusão de curso que também ficou bem aquém do que eu pretendia, principalmente pela desmotivação que se abateu sobre mim e pela péssima orientação que recebi (ou que deixei de receber) durante o processo de conclusão.
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Foi neste contexto que envolvia o tumultuado último semestre da faculdade e uma fase de intensa ansiedade, que decidi eliminar pela raiz alguns de meus fatores de estresse. É este o momento em que coloco em prática a teoria etnográfica que deveria ter usado lá no já longinquo ano de 2006, como citei no princípio deste texto. Desta vez não cometeria o mesmo erro, eu precisaria ter distanciamento, para não comprometer minha observação. Sabia que não seria fácil pois a situação a ser analisada era minha própria vida com toda sua complicação. Começava ai mais um processo dialético, eu criei minha própria antítese.
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O primeiro tópico a ser analisado/questionado, seria, talvez por ironia do destino, minha relação com a igreja, tive que tomar coragem para isso, pois ao mesmo tempo que me parecia necessário, também me parecia uma questão de fé, era como se eu tivesse colocando minha relação com Deus em cheque, isso me assustava, neste período eu me distanciei da igreja como instituição, me tornei menos frequente nos cultos por quase 2 meses. O afastamento possibilitaria repensar as experiências vividas em quase 3 anos. Assim pude perceber que em grande parte a minha angústia vinha de tentar ser o mais parecido com um determinado modelo e de tentar sem sucesso me enquadrar em um padrão de vida com o qual eu pouco me identificava.

Percebi que eu tentava fazer coisas pra agradar a Deus, quando isso, todo cristão, deveria saber é algo totalmente impossível, pela nossa total imperfeição, na condição de meros humanos. Não pretendo entrar neste texto em questões teológicas, talvez em um próximo, mas biblicamente o que nos torna aceitáveis diante de Deus é o sacrifício feito por Jesus na cruz e não nossos próprios atos. Isso parece fácil de assimilar, mas não o é, pois sempre queremos sentir que estamos no controlo, quando quem realmente deveria estar é Deus. A minha observação da vida na igreja como instituição me levou a algumas conclusões, que listarei a seguir.

Percebi que o medo de não agradar a Deus tem levado muita gente a negar seus próprios sentimentos e a não se abrir com pessoas ao seu redor, na maioria das vezes por medo que o outro conclua que o sofrimento descrito seja indício de uma vida em pecado ou em desconformidade com as normas e preceitos da instituição;

As pessoas se tornam superficiais pois não são o que realmente são, e se envolvem em um conjunto de aparências que visam provar aos demais o quanto se é espiritual. Os comprimentos na chegada e ao final de cada culto são exemplo claro disso. Salda-se não por se ter uma boa relação com a outra pessoa mas pelo pedido do pastor que geralmente diz: “abrace pelo menos x pessoas antes de sair”, todos estes ritos, acabam tornando o ambiente familiar e agradável à primeira vista, mas com o tempo tudo se torna demasiadamente robotizado, e em dado momento a necessidade de relacionamento verdadeiro fala mais alto;

A igreja, como instituição muitas vezes reproduz a ética do sistema vigente, no que diz respeito à sua estrutura e à busca pela realização material e social, o que motiva muitos de seus membros. A busca incessante por metas, objetivos materiais e santidade, seria a principal causa da quantidade e casos de pessoas se sentindo não realizadas e até com depressão e outras doenças psicológicas dentro da igreja;

A ética da vitória e do triunfalismo também têm sido equívocos das instituições religiosas, prega-se, na maioria das vezes para ganhar fiéis, a idéia de que a vida à luz do evangelho é uma vida sem problemas ou dificuldades, quando na verdade a “vida nova” oferecida pelo evangelho vai muito além de nossas mazelas e nossas vaidades. Entende-se Jesus como uma espécie de “seguro” que garante o sucesso de nossos planos pessoais, profissionais e espirituais;

A noção de certo e errado e tolerável e intolerável ira mudar de instituição para instituição. Existirão congregações onde os homens só usam calças, outras onde vícios são tolerados, aquelas que condenam televisão e outras que compram canais. Os princípios adotados por cada “igreja” são acatados tendo em vista o tipo de público que se quer atingir, segmentação. Entretanto cada uma denominação terá algo pra condenar e um inimigo palpável e visível a quem apontar, enquanto uma repudia certo grupo outras os aceita mas repudia os demais;

A pior conclusão a que cheguei é a de que tais fenômenos observados acabam distanciando as pessoas de Deus e de Seu amor Verdadeiro. E esta aproximação, na verdade, é a única coisa da qual precisamos... Só o que devemos fazer é confiar Nele, pois como diz a palavra “o mais Ele fará”. É Ele quem nos transforma, é Ele quem nos conduz e não nossa vontade... Mas às vezes é tão difícil compreender a Graça, e só por isso sofremos tanto....

Sinto que desta vez, apesar de ainda não tê-lo concluído, o trabalho me trouxe uma grande satisfação, pois sinto que ele foi permitido por Deus apenas para que eu possa reconhecer o Seu Amor infinito, incondicionalmente. Independente se estou frequente nos cultos, ou se tenho um ministério bem sucedido aos olhos das pessoas, Jesus será sempre o mesmo e Seu amor por mim, terá a mesma intensidade. Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas... Estou saindo do controle...
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FRUSTRAÇÕES


De repente percebe-se que todo o caminho andado, as noites de sono perdidas em onirismos e devaneios a lugar nenhum levaram. De volta ao ponto de partida sem nada a mais, a não ser a dor da experiência. E ainda subtraída a habilidade de acreditar em novas investidas... Bom seria se pudesse ao menos transformar frustrações e dor em arte, em poesia, mas tudo é tão sombrio tão sem sentido... Em meio a um turbilhão de mensagens, de códigos, de pessoas vãs indo e vindo, ouve se um pedido pra parar, um pedido não atendido, que talvez pudesse levar pra longe a amargura das horas vazias, que tiraria da alma todo e qualquer querer, qualquer vontade que de tão utópica a fizesse sofrer... mas no final das contas são só sentimentos