Um retrato seco, sarcástico e bem humorado do que é ser jovem,
partindo da perspectiva de quatro garotas de Nova York!
Uma série protagonizada por quatro garotas que fala sobre relacionamentos, amizades e as peculiaridades do universo feminino - Esta bem que poderia ser uma descrição de Sex and the City, série exibida pela HBO entre 1998 e 2004, mas não, esta é Girls, uma das mais recentes produções da mesma emissora, que vem arrancado calorosos elogios da crítica especializada. A referência à série que foi sucesso no início dos anos 2000 está escancarada já no episódio piloto da nova produção, o poster de Sex and the City aparece no quarto de uma das personagens e é o tema de um divertido diálogo, no entanto rapidamente descobrimos que a semelhança entre as duas produções é apenas aparente, Girls, apesar de transitar em um mesmo universo, é mais realista e seu humor mais ácido e contundente do que o da outra série.
Girls dificilmente despertaria a minha curiosidade com sua sinopse, temática e universo. Se não fosse pelos elogios feitos por um amigo, eu provavelmente não a teria visto por puro preconceito. No entanto, ao terminar a primeira temporada, que tem apenas 10 episódios de menos de meia hora, cheguei à conclusão de que tinha visto uma das séries mais interessantes da atualidade. Confesso que se não fosse pela falta de tempo eu me disporia a rever todos capítulos, tenho certeza de que eu iria gostar ainda mais de cada um deles. Atribui este meu crescente entusiasmo à forma com o roteiro trabalha cada uma das personagens centrais, inserindo-as em situações que revelam quem elas são de verdade, deixando à vista suas falhas, vícios e outras coisas que provavelmente Sex and the City não mostraria.
Pode parecer contraditório, mas é na ausência de glamour que está todo o charme da série, as garotas retratadas por ela não são beldades, não têm inteligência acima da média, não possuem empregos invejáveis e aparentemente não sabem lidar com seus relacionamentos, são, resumindo, garotas comuns que enfrentam os mesmos problemas que são conhecidos de tantas outras jovens da mesma faixa etária. Na série, Hannah Horvath (Lena Dunham), Marnie Michaels (Allison Williams), Jessa Johansson (Jemima Kirke) e Shoshanna Shapiro (Zosia Mamet) estão em busca de suas respectivas identidades, de um lugar no mercado de trabalho e de curtição, no entanto nada disso é tão simples de ser conquistado, como parecia ser em Sex and the City. Os relacionamentos conturbados nos quais cada uma delas se envolvem surgem como um reflexo das crises existentes também nas outras áreas de suas vidas.
A primeira sequência do episódio piloto mostra Hannah em um diálogo com seus pais em um restaurante, a conversa, que parecia até então descontraída, adquire um outro tom quando a decisão deles de cortar a mesada, que ela ganhava desde a época da faculdade, é anunciada. Desde que terminou a graduação de letras há cerca de dois anos, Hannah se manteve acomodada em um estágio não remunerado. Ela tem a ambição de ser uma escritora bem sucedida, a voz de sua geração, como ela mesma diz, no entanto sua inércia e baixa autoestima a impede de sair de sua zona de conforto e de assim criar oportunidades para que sua carreira possa deslanchar. Ela insiste em apostar em um 'namoro' com Adam Sackler (Adam Driver), um rapaz no mínimo esquisito, com quem ela se encontra ocasionalmente para transas descompromissadas; o relacionamento entre eles é um dos pontos altos da série, é interessante ver como ambos os personagens são transformados no decorrer da temporada.
Hannah divide um apartamento com Marnie, esta é, dentre as quatro personagens, a que tem a vida o mais próximo daquilo que que se tem como padrão de felicidade, ela é bonita (apesar de não ser nenhuma top model) e tem um relacionamento estável com um rapaz que a ama de verdade, no entanto ela não está feliz, ela não se sente realizada em seu trabalho de recepcionista em uma galeria de arte, nem em seu namoro, todavia, assim como Hannah, ela se mantém inerte por não ter coragem de intervir em sua própria realidade. Shoshanna, a dono do quarto com o pôster de Sex and the City, é ingênua e faz de tudo para tentar parecer descolada, coisa que ela definitivamente não é, Jessa, sua prima recém chegada da Grã-Bretanha é sua principal referência de comportamento. Jessa cursa filosofia e está fazendo intercâmbio nos Estados Unidos, ela é aparentemente a mais feliz do grupo, sua personalidade forte e sua autoconfiança a tornam um tanto diferente de suas amigas, mas no fundo tudo isso não passa de mera aparência.
Cada um dos personagens da série, inclusive os secundários, vão sendo moldados e trabalhados à cada capítulo, aquilo que à princípio nos parecia meros estereótipos é progressivamente desfeito para dar lugar à uma complexidade capaz de torna-los verossimilhantes e humanizados. Nos anseios de cada um deles, vemos reproduzidas as nossas próprias aspirações e isso faz com que de alguma forma acabemos nos identificando com eles, seja em suas frustrações ou até mesmo na forma com que cada um deles tenta lidar com seus dilemas e problemas do cotidiano. O roteiro, que é muito bem escrito, permite que a serie vá do drama à comédia com uma destreza incrível. Piadas, tiradas irônicas e gags físicas são encaixadas perfeitamente à trama conferindo à ela um ritmo bem conduzido que a torna ainda mais prazerosa de ser assistida.
Lena Dunham, que também dirige, escreve e produz a série, está ótima na pele de Hannah, ela é uma excelente atriz e isso fica evidente em diversas passagens da série - ao assisti-la preste atenção nas feições, no olhar e nos pequenos gestos da atriz. O restante do elenco também entrega desempenhos elogiáveis, o que desmente a provável acusação de que elas estariam na série devido tão somente à influência de seus pais (todas as garotas são filhas de influentes personalidades do meio artístico ou da TV). Dunham, Williams, Kirke e Mamet mostram ao que vieram e que se a carta de recomendações lhes abriram portas, elas têm talento o suficiente para mantê-las abertas por suas próprias contas. Vale destacar também a trilha sonora da série, que é composta por ótimas canções, que são muito bem usadas, principalmente no encerramento de cada episódio, que acontece sempre ao som de uma música diferente.
Recomendo que você se dispa do mesmo preconceito que tive em relação à série e permita que ela lhe cative aos poucos como fez comigo. Girls pode causar alguns estranhamento nos primeiros capítulos, mas tal estranhamento vem do fato dela nos apresentar algo bem diferente daquilo que esperávamos ver; este tipo de surpresa na TV já compensa cada um dos poucos minutos, que cada um dos episódios nos pedem... Já estou aguardando ansioso pela segunda temporada, que deverá estrear em janeiro de 2013.
Girls está indicada ao Emmy 2012 nas categorias de Melhor Série de Comédia, Atriz em Série de Comédia, Roteiro, e Direção - todas estas indicações para Lena Dunham.
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra,
Legal Bruno, ainda não conhecia, não assisto séries por que nunca lembro de acompanhar rsrs abraçoosss
ResponderExcluirNão sou muito dessas séries que falam sobre amigas e blah blah. Gosto de séries mais engraçadas ou de terror.
ResponderExcluirAbraços.
Bruninho,
ResponderExcluirtudo bem?
Nunca assisti a Girls, então, infelizmente, nem seria certo eu comentar sobre esse seriado, e nem mesmo sobre o paralelo com o outro seriado; mas assisti a praticamente todo Sexy and the city, e posso te afirmar que possui um tipo de humor e abordagem que me interessa deveras, aquele que parece ser superficial, mas não o é.
Certo que você falou sobre o glamour, (até ou principalmente, nos figurinos, postura das personagens), e que algumas coisas pareciam 'fáceis' demais, mas ao mesmo tempo, esse seriado falava diretamente às balzaquianas, no que me incluo, sobre uma série de questões comportamentais, de relacionamento.
Recordo que num episódio, uma das personagens compara sua coleção de sapatos (muitos), aos homens em que teve relacionamentos que não frutificaram, aparentemente é superficial, mas o próprio desvelar do roteiro, e a postura da personagem e sua fala, abrem muitas reflexões; mas suponho, de uma forma de abordagem diferenciada de girl, sim, existe o glamour, mas penso ser um tipo de abordagem que funciona, pois não exime a reflexão, apesar de 'aparentar' mais leve, e assim o é.
Mas gostei de conhecer um pouco de Girls, através de ti!
Beijos e ótimos dias!
Oi Bruno.
ResponderExcluirApesar de ainda não ter assistido já li muito a respeito dessa série.
De início até imaginei que fosse algo semelhante a Sex And The City mas fui percebendo que essa série retrata as coisas de formas mais realistas e abrangentes,diferentemente de Sex And The City,que explora o glamour,o luxo e que também abordou temas muito questionáveis como o consumismo.
Vou tentar assistir logo essa série para tirar melhores conclusões.
Abraço!
Bruno
http://oexploradorcultural.blogspot.com
Oi Bruno
ResponderExcluirSinceramente tive um certo preconceito ao zapear e ver essa série, mas agora com mais essa ótima crítica, eu até me arrependi de não ter assistido, não assisti também Sex and City, nem os filmes, eu tentei, mas dormi kkkkkkkk, quem sabe se estiver passando ainda, ou se tiver uma segunda temporada?
Bjão meu amigo. Fique com Deus!
Conheço pouco das séries modernas. Como tenho uma atração fatal por clássicos, estou sempre revendo velhas séries tipo ALÉM DA IMAGINAÇÃO, ARQUIVO X etc.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Olá, José Bruno.
ResponderExcluirAssim como tu, também tenho um certo preconceito (não sei se esse é bem o termo) com séries criadas para o público feminino, desde assistir Barrados no Baile, que mostrava adolescentes superficiais preocupadas com aparência e nada mais.
É bom saber que esse não é o caso desta série.
Abraço.
J. Bruno, tem um selo pra você lá no Gilberto Cinema. Vá pegar. Seu blog merece. Abraços.
ResponderExcluirNestes novos episódiosepisódios encontrar os protagonistas para a inevitabilidade de crescer, goste ou não, de frente para novas responsabilidades num mundo que nem sempre tratá-los como eles esperam.
ResponderExcluirÉ por estrear na última temporada! Vou sentir falta dela. É uma das minhas séries favoritas ea trilha sonora é muito bom em todas as estações. Acredito que a história de meninas alcançado personagens interessantes e profundas, sem descurar a pouco explorado na combinação de humor e tv drama. Eu compartilho os horários que têm Girls serie Homens, não se deixar levar por o nome também é para você.
ResponderExcluir