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sábado, 8 de outubro de 2011

Estômago

Estômago - 2007. Dirigido por Marcos Jorge. Escrito por Fabrizio Donvito, Cláudia da Natividade, Lusa Silvestre e Marcos Jorge. Direção de Fotografia de Toca Seabra. Música Original de Giovanni Venosta. Produzido por Marco Cohen, Cláudia da Natividade e Fabrizio Donvito. Zencrane Filmes e Indiana Production Company / Brasil | Itália.

 

Com ressalvas, acho que posso dizer que Estômago (2007) é um dos melhores filmes nacionais que vi nos últimos tempos. Mas a verdade é que eu não tenho assistido muitos. Antes de começar minha crítica do filme, vamos á algumas considerações: Tenho uma opinião sobre o cinema brasileiro, que até pode ser confundida com preconceito, quando se trata na verdade de um conceito já formado, a nossa produção é pobre, muito pobre. Temos uma carência enorme e ela não é de bons atores, de bons diretores ou de bons técnicos, trata-se de uma necessidade urgente de uma revolução nas formas de produção e distribuição das obras, que quebre alguns paradigmas, subverta algumas regras e torne o circuíto ao menos um pouco mais homogêneo. 

Você pode me contra-argumentar dizendo: “E Tropa de Elite e Cidade de Deus não contam?” Não, eles não contam porque são exceções. O nosso circuíto cinematográfico está dominado por poucos profissionais e produtoras e apenas esta minoria de olimpianos têm acesso aos financiamentos à produção e às leis de incentivo, o que dificulta a chegada de obras produzidas fora deste circuíto às salas de projeção. Além deste, existem muitos outros problemas, não necessariamente menores, como a não diferenciação entre linguagens de TV e cinema (vide produções da Globo Filmes) e o abuso de gêneros e temas já saturados como cinebiografias, favelização e estética da fome (aqui se incluem os filmes protagonizados por nordestinos estereotipados).

 

Estômago não é na minha opinião um filme maravilhoso, mas ele se destaca por estar ao menos um nível acima da maioria das obras geradas pelo cinema tupiniquim e também por se tratar de uma coprodução entre Brasil e Itália, o que o ajudou a conseguir recursos sem depender exclusivamente dos incentivos nacionais, isso possibilitou-o a entrar com firmeza em um meio tão competitivo e dominado por tão poucos. Outro ponto positivo é a ausência de atores consagrados da TV, aqueles que nem sempre conseguem fazer com habilidade a transição de linguagens. João Miguel, que interpreta o personagem principal, traçou o caminho inverso do trilhado pela grande maioria, ele começou no cinema antes de ir para a TV (ele fez parte do elenco da novela Cordel Encantado), quando Estômago foi lançado em 2007, ele já tinha no currículo obras elogiadas como Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) e O Céu De Suely (2006).

A trama de Estômago se desenvolve em dois tempos distintos, que estabelescem entre si uma relação de causa e consequência, a história gira em torno de Raimundo Nonato (João Miguel), ele é um retirante nordestino que chega na cidade grande sem dinheiro e sem ter onde ficar. Ele consegue um emprego em um buteco “pé sujo”, onde ajuda fritar salgados e preparar pratos simples em troca de comida e hospedagem, não demora até ele ser descoberto por Giovanni (Carlo Briani), o dono de um restaurante fino, que reconhece seu talento e o leva para trabalhar consigo. Giovanni ensina para Raimundo os segredos da culinária e arte de preparar um bom prato. Neste ponto o filme chega a lembrar Perfume – a História de Um Assassino (2006), pois tal como no longa de Tom Tykwer, em Estômago o personagem principal é oriundo de um meio totalmente hostil, até que descobre ser o portador de um verdadeiro dom. Em ambos os casos a descoberta do talento não os tornam de imediato mais sociáveis ou aceitos pelos outros.

 

O paradigma entre a poesia, a beleza e a imundice remete à estética da fome (aqui começam alguns dos pontos fracos do filme) e transforma o o personagem central em um tipo estereotipado, já reproduzido pelo cinema nacional em dezenas de outros filmes. Ele é o inocente nordestino que vem tentar a vida em um grande centro e acaba caindo nas armadilhas do destino e vivendo suas peripécias. Testemunhamos através de sua trajetória a reconstrução do mito do bom selvagem e da ideia de que o indivíduo é naturalmente bom e que o que o corrompe é o meio onde ele está inserido. No filme o contexto torna o personagem cada vez mais embrutecido e sua simplicidade, ora vista como algo positivo, torna-se então o canal para o desenvolvimento de atitudes brutais e violentas, de alguma forma a ingenuidade do personagem o impede de interpretar suas próprias atitudes pelos seus reais significados.

 

O filme explora ainda o banditismo, outro tema também recorrente em nosso cinema, ao desenvolver a segunda história, que acontece paralelamente à primeira. A construção do roteiro não linear é um ponto positivo para o filme, apesar de que este recurso não traz em si nenhuma novidade e bem ou mal ele foi usado na maioria dos filmes nacionais que tiveram projeção nos últimos anos, o diferencial deste é que nele a montagem colabora e a não linearidade funciona muito bem. O que definitivamente não funciona é a ambientação desta segunda história (melhor não comentar muito sobre ela), os personagem que a povoam são os mesmos tipos que já vimos e revimos em Carandiru (2003), Cidade de Deus (2002), na primeira parte de Tropa de Elite (2007) e em tantos outros que vieram depois, o que convenhamos, já está mais do que saturado!

 

Com tantos aspectos negativos, você deve estar se perguntando o que salva o filme de estar nivelado aos seus similares. Eu diria que é o resultado final, ao serem colocados prós e contras na balança, o lado dos aspectos positivos fica ligeiramente mais pesado. O elenco principal do filme esta muito bem, com destaque para o ator João Miguel e para a atriz Fabiula Nascimento que vive a prostitura Íria, a fotografia é muito bonita, a trilha sonora é muito bem usada e os enquadramento e movimentos de câmera conferem ao filme um ar blasé que chega contrastar com a história contada, mas que também funcioan perfeitamente. O final do filme, apesar de não fugir do que já estava previsto, ainda consegue nos surpreender positivamente. Concluo portanto que Estômago vale a pena e eu o recomendo, apesar de não ser a obra prima que a crítica especializada disse que era... é apenas um bom filme de estreia...


Assistam ao trailer de Estômago
no You Tube, clique AQUI !


9 comentários:

  1. Este filme é otimo....recomendo.

    passa lá que tem postagem e seu ultimo comentario foi muito interessante

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  2. Não sabia a existência desse filme vou procurar assistir.

    Seguindo seu blog ;)


    www.mais1km.com

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  3. Nunca vi mas pretendo ver

    Seguindo seu blog ..

    amandalamonier-aprendaqui.blogspot.com

    aprenda um pouco cmg tbm ;)

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  4. Opa, post indicado ao links da semana.
    http://blogsdecinemaclassico.blogspot.com/2011/10/links-da-semana-3-9-de-outubro.html

    Amanhã tem blogagem coletiva sobre a Julie Andrews. Caso tenha um texto, gentileza me passar o link!
    beijos!

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  5. Obrigada pela lembrança. Tenho andado sem inspiração ultimamente.
    Hoje que eu postei um textinho de desabafo...
    O seu blog que está ótimo. Parabéns!

    Beijos

    Luiza Vinhosa
    mardeinquietacoes.blogspot.com

    (Não sei porque não consegui comentar aqui com meu perfil do google...)

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  6. Gostei da sua crítica e sua reflexão sobre o cinema brasileiro. Em partes, concordo contigo. Para cada um Tropa de Elite ou o ótimo Domésticas, existem trinta Se eu fosse Vc. Abs!

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  7. realmente estômago é ótimo. adoro esse filme. beijos, pedrita

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  8. Baixar o Filme - Estômago - http://mcaf.ee/kjaug

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  9. Brunão,

    Hoje, resolvi ler mais um cadim dos filmes que vi e palpitar,rs.
    Vi estômago e gostei.
    O final é LINDOOOOOOOOOOOOOOOO , hehe.
    E cá pra nós, nosso cinema é pobre ao extremo. Sempre com aquela meia dúzia de atores: Wagner Moura, Camila Pitanga,Fernanda Montenegro....
    Temática dos nosso filmes sempre permeiam a fome, miséria, corrupção policial, podridão política(com o devido pano quente) prostituição, futebol, cerveja e sexo(muito sexoooooooooo) ah! só faltaram as Bananas, yes nós temos!

    Cara, é de doer né?
    Depois, perguntam :
    Por que, vocês 'babam ovo' para os americanos, hollywood?
    Respondo: Não! Meu caro amigo, não babamos apenas pelo cinema americano e sim, pelo francês, iraniano,indiano,italiano...

    bjs

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