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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Lua de Papel

Lua de Papel (Paper Moon) - 1973. Dirigido por Peter Bogdanovich. Escrito por Alvin Sargent, baseado na obra de Joe David Brown. Direção de Fotografia de László Kovács. Produzido por Peter Bogdanovich. The Directors Company / USA.

 

Addie (Tatum O’Neal) é uma garotinha de nove anos que ficou órfã com a morte da mãe, ela vive no estado americano do Kansas e não tem nenhum outro parente por perto. No enterro da mãe ela conhece Moses (Ryan O’Neal), que ela suspeita ser o seu pai biológico. Ao ser questionado pela menina sobre o assunto Moses apenas desconversa, ele é um vigarista que sobrevive aplicando pequenos golpes de cidade em cidade. O malandro usa o morte acidental da mãe da menina, que fora sua amiga, para ganhar uma boa grana. Ele consegue extorquir 200 dólares de um homem que teria sido o responsável pela morte acidental da mulher, na época da grande depressão, período em que a história do filme se passa, aquele valor era uma quantia considerável. Ao perceber o golpe de Moses, Addie reclama o dinheiro que seria dela por direito, com isso ele que já tinha gastado parte da grana, se vê obrigado a cumprir aquilo que prometera durante o enterro, levá-la para a casa de uma tia, sua única parente viva, que morava no Missouri.

Durante a viagem Moses percebe que ter a pequena por perto pode ser um bom facilitador na hora de aplicar seus golpes, pois ninguém desconfia de um homem acompanhado de uma menina com um sorriso tão cativante. De fato eles formam um boa dupla de golpistas. Alindo a lábia dele ao carisma dela eles conseguem tirar dinheiro de pessoas ingênuas com uma enorme facilidade. Dentre os golpes praticados por eles, o mais comum era o da bíblia de luxo, Moses identifica pelo obituário mulheres que tinham perdido os maridos recentemente, ele então ia até a casa da viúva dizendo que fora entregar um exemplar da edição de luxo do livro sagrado, que o falecido encomendara semanas atrás. As mulheres não resistem a aquele poderia ter sido o último presente de seus respectivos maridos, ainda mais quando viam os próprios nomes gravados em ouro (na verdade é uma tinta barata) na capa.

 

Não tem como deixar de notar a influência da época no roteiro do filme, apesar de não poder ser considerado uma obra de cunho autoral, o longa trás consigo algumas das característica que marcaram diversas produções americanas daquele período de efervescência. Ao invés de heróis, tal como em Bonnie and Clyde (1967), Lua de Papel (1973) tem dois contraventores como protagonista, com o agravante de que neste caso um deles é uma criança. O filme aborta qualquer noção de politicamente correto ao mostrar a menina fumando, mentindo e planejando golpes e furtos. Ao contrário do que poderia se esperar, o filme foi muito bem recebido pela crítica, o que elevou Tatum O’Neal ao status de celebridade mirim e rendeu para ela o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, sem dúvidas merecido, ela continua sendo até hoje a atriz mais jovem a ter recebido um Oscar.

 

O mais legal de Lua de Papel, é que ele consegue ser ao mesmo tempo nostálgico, melancólico, alegre e de uma leveza indescritível. Não tem como não se sentir cúmplice dos personagens durante a viagem, pois é, a lábia de Moses e o sorriso de Addie realmente funcionam. Só mesmo o fato de serem pai e filha na vida real para explicar a química entre Ryan e Tatum, ambos estão esplêndidos em seus papéis, principalmente a menina, que consegue encarar tomadas longas e diálogos complexos sem se perder. As carinhas que ela faz também merecem destaque a parte. A decisão ousada de fotografar o filme em preto e branco foi muito bem sucedida. Além de conferir ao longa uma estética que remeta à década de 30, época em que ele se passa, a fotografia ainda reproduz belíssimas imagens, com destaque para o céu enevoado que, devido ao contraste obtido pela lente da câmera, parece estar sempre anunciando uma tempestade.

 

Peter Bogdanovich, que só aceitou dirigir o longa depois uma recusa de John Wayne de protagonizar um faroeste que ele estava escrevendo, não tinha ideia de que Lua de Papel seria lembrado como uma das maiores obras de sua carreira, que não teve muitos pontos altos depois deste filme. No entanto a trajetória posterior mais complicada foi a de Tatum O’Neal, que como frequentemente acontece, não soube lidar com o estrelato que chegou tão cedo. Ela nunca mais experimentaria o estrelato alcançado quando tinha apenas 10 anos. Suas aparições na mídia a partir de então se deveram ao relacionamento que teve com Michael Jackson (ela foi sua primeira namorada), ao seu envolvimento com drogas pesadas e à sua relação conflituosa com o pai. Em sua autobiografia Tatum contou que teria sido molestada por um amigo de sua família e que por diversas vezes o próprio pai teria abusado dela física e psicologicamente.

 

Lua de Papel é uma excelente comédia, inusitada e deliciosa de se assistir. A qualidade visual alcançada graças a ótima fotografia dirigida e à direção de arte, aliada às ótimas atuações e ao roteiro, tornam este filme indispensável. Uma obra despretensiosa a qual o passar do tempo só favoreceu. Recomendo!

Lua de Papel ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (Tatum o´Neal) e foi indicado também nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Som.

Assistam ao trailer de Lua de Papel
no You Tube, clique AQUI !


3 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, vi o filme recentemente. E seu texto percorre bem a importância deste. Eu gosto deste trabalho, é um roteiro inocente e leve, mas autêntico, a direção é incrível! Tatum é cativante, pena que não se destacou mais e hoje em dia ninguém sabe quem é. abração e apareça no Apimentário! rs!

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  2. Belo e nostálgico. Ryan O'Neal merecia uma carreira mais longa... Bruno, acabo de linkar o seu blog. Abraços,

    O Falcão Maltês

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  3. o marcelo janot destacou no vídeo antes do filme o não politicamente correto de lua de papel e suas maravilhas. é lindo esse filme. beijos, pedrita

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