N° de acessos:

terça-feira, 19 de junho de 2012

Ladrões de Bicicleta

Ladrões de Bicicleta (Ladri di Biciclette) - 1948. Dirigido por Vittorio De Sica. Escrito por Vittorio De Sica, Cesare Zavattini, Suso Cecchi D'Amico, Oreste Biancoli, Adolfo Franci e Gerardo Guerrieri. Direção de Fotografia de Carlo Montuori. Música Original de Alessandro Cicognini. Produzido por Giuseppe Amato e Vittorio De Sica. Produzioni De Sica / Itália.


Certa vez o cineasta Roberto Rosselline afirmou que "o assunto do filme neorrealista é o mundo, não a história ou a narrativa", segundo ele "não há teses preconcebidas, porque as ideias nascem do assunto do filme", e "não há afinidade com o supérfluo e o meramente espetacular, mas a atração para o concreto". Tais afirmações definem perfeitamente aquela que é na minha opinião a melhor e mais importante obra do neorrealismo italiano, Ladrões de Bicicleta (1948) de Vittorio de Sica. Este filme, realizado com orçamento reduzido e muitas dificuldades, se tornaria uma das obras mais importantes da história da sétima arte e ajudaria a dar inicio à uma verdadeira revolução formal e estética, que ganharia ainda mais força nas décadas seguintes.

Antes de comentar o contexto social e político no qual o filme foi produzido e alguns de seus aspetos técnicas e artísticos, preciso falar sobre a intensidade com que ele me impacta, pois ela influenciará praticamente todo o restante deste texto. Provavelmente eu já comentei em outras resenhas que filmes que de alguma forma abordam a infância me tocam de uma forma diferente e foi o que aconteceu desde a primeira vez que assisti Ladrões de Bicicleta, que tem um garotinho como um dos personagens centrais. A relação do menino com o pai dele no filme me remete à minha relação com o meu avô, que foi a figura paterna que eu conheci, e isso me transporta para algumas memórias de minha infância, que eu prefiro não relembrar com tanta frequência, de uma forma muito bonita eu vejo no personagem do pai, a mesma angústia e a mesma determinação de lutar contra as circunstâncias que eu via em meu avô.


A minha comoção não me impede no entanto de observar os diversos aspectos que justificam a alcunha de clássico que atribuem ao filme, pelo contrário, a sensibilidade aguçada me ajuda a perceber pequenos detalhes que talvez de outra forma passariam despercebidos. Na crítica que escrevi de Roma, Cidade Aberta (1945) de Roberto Rossellini eu fiz um breve (muito breve) resumo do que foi o o neorrealismo italiano e de sua importância para outras escolas cinematográficas, para aqueles que ainda não estão familiarizados com o 'movimento' e suas características eu recomendo a leitura dos dois primeiros parágrafos da resenha (clique o nome do filme em destaque para acessá-la), pois  entender a situação pela qual a Itália passava na época em que o filme foi rodado é crucial para que se possa assimilar cada um de seus elementos narrativos. 

A trama do filme é relativamente simples, ela gira em torno de Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani), um homem que está em busca de emprego, e de sua família paupérrima. Já no início da história ele consegue um trabalho de colador de cartazes de cinema, mas para que possa assumir a vaga ele precisa de uma bicicleta. Maria (Lianella Carell), sua esposa, decide empenhar as poucas roupas de cama que eles tinham para assim conseguir reaver a bicicleta que fora empenhada anteriormente. Porém, no primeiro dia de trabalho de Ricci, alguém rouba o veículo enquanto ele estava distraído colando um cartaz, ao perceber a ação do ladrão ele tenta persegui-lo para tomar sua bicicleta de volta, porém o delinquente consegue fugir, desaparecendo em meio à multidão. Sem o apoio da polícia, Antonio decide procurar a bicicleta por conta própria, é então que começa sua jornada pelas ruas de Roma. Bruno (Enzo Staiola), seu filho de sete anos, o acompanha na busca.


Ao mostrar a jornada dos dois personagens em busca da bicicleta roubada, o filme mostra também, de uma forma quase documental, a realidade que a Itália enfrentava naquele período de reconstrução. Na maioria das cenas podemos perceber o grande número de pessoas que estão indo e vindo nas ruas, são em sua maioria homens de meia idade desempregados, ou ocupando sub-empregos; em meio á multidão vemos poucos jovens, uma óbvia consequência da guerra que terminara poucos anos antes, não por acaso o único personagem jovem que ganha destaque em uma das passagens do filme é um rapaz epilético (que provavelmente fora dispensado do compromisso militar por causa de sua doença). É possível perceber também um grande número de crianças vadiando pelas ruas, na maior parte das vezes pedindo esmolas. A degradação física da cidade é outro aspecto que chama a atenção.


Ladrões de Bicicleta não deixa de mostrar também o abismo existente entre as classes sociais, enquanto há uma quantidade enorme de desempregados e de homens e mulheres que se submetem a empregos inferiores às suas formações profissionais, há também aqueles que se fartam de comida e que gastam horrores nos melhores ambientes da cidade. A burocracia e a incapacidade do estado de garantir os direitos básicos da população agravam ainda mais a situação daqueles que não possuem recursos para se virarem sozinhos. Numa das cenas mais belas e emocionantes do filme, Ricci esboça uma satisfação contradizente com o desespero que o caracteriza ao levar o filho à uma pizzaria, ele compra algo para o menino comer com o dinheiro que sobrara do empenho das roupas, em uma outra mesa no mesmo local estão um grupo de pessoas aparentemente abastadas que esbanjam dinheiro com coisas que Ricci jamais poderia comprar.


Perto do final do final do filme, há uma sequência (que eu não pretendo comentar para não servir de spoiler) que mostra perfeitamente que nele não heróis ou vilões, são todos vítimas de uma realidade opressora que se sobrepõe a questionamentos morais e éticos, esta passagem, junto com o desfecho, comprovam que o importante no filme não é a trama em si, mas a forma com que serve de recorte de uma sociedade que se encontra em ruínas... Não sei se proposital ou não, mas há em Ladrões de Bicicleta uma referência irônica ao cinema escapista, que se contrapõe ao neorrealista; Antonio, como eu já disse, consegue o emprego de colador de cartazes de cinema, mas os filmes em si fazem pouco ou nenhum sentido para ele, o cartaz que ele colava no momento que sua bicicleta fora roubada era do filme Gilda (1946)o rosto da belíssima atriz Rita Hayworth, estampado nele, aparentemente não lhe despertava atração ou qualquer tipo de sentimento; sutilmente isso mostra o quanto o cinema que estava sendo reproduzido na Itália da época estava distante da realidade social do país.


Pode-se perceber também na narrativa de Ladrões de Bicicleta diversos elementos melodramáticos, a presença deles na verdade era uma das marcas do movimento neorrealista, no filme há por exemplo uma sequência na qual Antonio impede sua esposa de dar dinheiro à uma vidente que previra que ele conseguiria o trabalho, esta passagem nos induz a crer que as peripécias que lhe acometem a partir de então são decorrentes desta atitude (o que pressupostamente invalidaria a crítica social que o longa faz). Contudo o uso de tais elementos se dá de forma sóbria, deixando que o foco permaneça no realismo e não em tais elementos dramáticos, como acontece em diversas passagens do já citado Roma, Cidade Aberta (1945) de Roberto Rossellini.


Um dos aspectos artísticos que mais chamam a atenção no filme são as atuações, principalmente porque todo o elenco era composto de atores amadores, a verdade que percebemos em suas atuações vem de suas próprias vivências, eles estavam encenando algo que lhes era familiar e talvez por isso ele estejam tão bem e tão convincentes em seus respectivos personagens. Lamberto Maggiorani e Enzo Staiola estão extraordinários, eu ousaria dizer que boa parte do sucesso que o filme goza até hoje dentre diversos públicos vem da força de tais atuações, não tem como não se comover com o olhar tristonho e indagante do menino e com a expressão de desespero e desesperança esboçada pelo pai... Carlo Montuori, o diretor de fotografia, se valeu da iluminação natural para capturar as imagens externas e o resultado de seu trabalho foi soberbo, seus enquadramentos valorizam não só os personagens, mas também as locações, que emitem mensagens tanto quanto os diálogos. 

Ladrões de Bicicleta é um clássico absoluto, um filme que beira a perfeição e que não envelheceu mesmo depois de mais de 60 anos... É portanto ultra recomendado para todos! 


O filme ganhou o Oscar Honorário de Melhor Filme Estrangeiro, tendi sido indicado ao prêmio também na categoria de Melhor Roteiro.

Assistam ao trailer de Ladrões de Bicicleta no You Tube, clique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra,

Post dedicado ao amigo André Mansim, editor do blog Verdades e Bobagens, que foi quem me sugeriu que eu revesse este filme e publicasse a crítica dele aqui no Sublime Irrealidade.

39 comentários:

  1. Um filme maravilhoso. Vi há pouco tempo e já estou com vontade de rever.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O impacto que seu 'realismo' provoca é o que faz com que ele nos impressione a cada vez que o assistimos... realmente maravilhoso!

      Excluir
  2. Agora fiquei doido para ver!

    http://monteolimpoblog.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Assista sim Gabriel, é um filme obrigatório para qualquer cinéfilo!

      Excluir
  3. Oi Bruno,

    Tudo bem? Não conheço o filme, mas percebo que é um clássico em vários sentidos.

    Passo por aqui depois para ler com carinho a outra crítica, pois aquele filme me encanta.

    Beijos.

    Lu

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fique à vontade Luciana, estarei lhe aguardando... e não deixe de conferir este!

      Excluir
  4. Puxa Brunão! Arrepiei aqui.

    Rapaz, que bela resenha e que belos comentários. Parabens cara.

    Esse realmente é um dos melhores filmes que eu já vi na vida. Ele é maravilhoso. Na época fiz uma resenha no meu blog, mas eu sou juvenil quando falo de filmes, não sou profissional assim como é você!

    Parabens amigão!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado André e valeu pela dica, foi por tua causa que eu decidi revisitá-lo e publicar e resenha. Passarei lá no teu blog depois para conferir a sua resenha!

      Excluir
  5. Oi Bruno!
    Puxa que post rico em informações,gostei demais e como disse a Luciana...um clássico em vários sentidos.
    Um grande abraço!!!

    Bruno
    http://oexploradorcultural.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Poxa, que bom que você gostou Bruno e quanto ao filme, ele é sem dúvidas um clássico em todos os sentidos, percebemos ecos dele em diversas escolas cinematográficas que surgiram depois, inclusive no Cinema Novo Brasileiro...

      Excluir
  6. Comprei esse filme sem nem ao menos ter visto, pela indicação de um amigo. Não me arrependi, é uma obra singela e tocante. Merece, inclusive, uma revisão minha. Vi que você gosta muito, mas não confunda, José... Roma, Cidade Aberta é o filme mais importante do neorealismo, foi o que disseminou o movimento pelo mundo inteiro, e é até hoje o simbolo do mesmo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não é confusão Júlio, eu considero sim "Roma cidade Aberta" extremamente importante, deixei isso claro na resenha que fiz dele, no entanto ele é apenas o marco inicial do movimento, e isso por si só não o torna o mais importante, o impacto provocado pelo seu 'realismo' é bem inferior, principalmente pelo excesso de melodrama, que é na minha opinião o seu maior pecado... Tanto esteticamente, quanto no que se refere à subversão técnica, "Ladrões de Bicicleta" é, na minha opinião, bem superior...

      Excluir
  7. É um filme tão cru, tão puro, tão comovente que é impossível assistir sem sentir um impacto. De forma bem simples consegue tocar em pontos plausíveis, reais, vividos... Lindo e necessário.


    ;D

    ResponderExcluir
  8. Puro cinema! Obrigatório. "Ladri di Biciclette" é uma obra-prima incontestável. Belo resgate Bruno.

    De Sica no auge de sua criação.

    Abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Realmente obrigatório Rodrigo, assisti-lo é crucial para entender os rumos que o cinema tomou a partir de então! Obra prima!

      Excluir
  9. Estou ansiosíssimo por assistir a esse filme, o que farei em breve, já que pretendo fazer um especial sobre cinema italiano para o meu blog.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Luís, já tenho certeza de que você irá gostar dele, é um filme maravilhoso e capaz de nos impactar de uma forma assustadora! Assista o quanto antes!

      Excluir
  10. Olá Bruno, não assisti ainda este filme, mas vi o trailer e é admirável mesmo naquela época sem as grandes filmadoras e sem os recursos atuais a qualidade do filme é ótima. Com certeza irei assistir, pois quando vi o vídeo deu vontade de continuar assistindo. Parabéns pela super dica.
    beijos

    http://aquifofura.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Assista sim Shirley, tenho certeza de que ele lhe surpreenderá mais anida!

      Excluir
  11. Ladrões de Bicicleta é sem dúvida o melhor filme do Neorrealismo italiano e foi aquele que me despertou o interesse pelo ótimo Vittorio de Sica. Adoro a cena do garotinho na pizzaria!
    Até Fellini flertou com essa corrente cinematográfica com um excelente filme chamado A Trapaça. É imperdível!
    Abraços!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O Felline bebeu e muito da fonte do neorrealismo no inicio de sua trajetória como cineasta, percebo ecos daquele movimento até mesmo em "A Doce Vida", que mostra uma Itália bem diferente da mostrada em "Ladrões de Bicicleta"; vejo isso como uma influência do período que ele trabalhou como colaborador do Roberto Rossellini...

      Excluir
  12. Boa tarde, José Bruno.
    Já ouvi falar muito desse filme, mas nunca tive o privilégio de assisti-lo; mais um para obrigatoriamente ser visto com atenção.
    Assisti ao filme A Invenção de Hugo Cabret dias atrás, e fiquei impressionado com a beleza e sensibilidade do filme, realmente notável.
    Abraço, José Bruno.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Assista o quanto antes Jacques, tenho certeza de que você não irá se arrepender!

      "A Invenção de Hugo Cabret" é lindo, uma belíssima homenagem de Scorssese aos primórdios do cinema!

      Excluir
  13. Antes, quero agradecer por ter gostado e pelo comentário no meu protótipo de resenha. Nunca fui boa nisso kkkkkkkkkkkkkkkkk
    Depois, quero que assista ao filme, pois é realmente muito real, sabe. Eu gostei mais por isso. Relata a atualidade mesmo. Se muitos pais também pudessem assistir, seria ótimo.

    Ei, sobre esta sua resenha, o que dizer, né? Sempre perfeitas.
    Me interessei também por "Ladrões de Bicicleta", pois me parece muito antigo, porém atual. Achei intrigante e curioso. Preciso assistir.

    Beijo grande!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Assista sim Cléo, é um filme que você verá e dificilmente irá esquecer, ele é um desses que nos marcam para a vida toda... É sem dúvidas uma obra prima!

      Excluir
  14. Oi Bruno
    Suas resenhas beiram a perfeição, e esse filme parece realmente ser muito legal, não só porque você indica, mas porque até agora tem sido uma unanimidade nos comentários, já vai para minha lista.
    Bjão amigo e um ótimo domingo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Lucina!
      Coloque "Ladrões de Bicicleta" no topo de sua lista Lu, você não se arrependerá!!!
      Beijos carinhosos!

      Excluir
  15. Conheci seu site hoje e ao me deparar com um texto sobre Ladrões de Bicicleta fica impossível não ficar fã do seu texto e do site.
    Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Seja bem vindo Renato, fico feliz que você tenha gostado e espelho lhe ver por aqui mais vezes! Forte abraço!

      Excluir
  16. Bruninho,
    Ladri di biciclette!!!! (não você, o filme!) haha
    Neorealismo italiano em sua máxima expressão. Sem muito a acrescentar do que você já escreveu, apenas que nesta linha, embora mais recente, temos diversos títulos maravilhosos que não sei se você já abordou aqui no blog:
    Mediterrâneo, é um exemplo.Você o resenhou por aqui?
    É praticamente um pós-neo-realismo, haha se existe isso, este é o Mediterrâneo!
    Beijos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ainda não tive oportunidade de assistir "Mediterrâneo" Cissa, mas já vou colocá-lo na lista, se eu conseguir encontrá-lo, postarei a resenha depois de assistir!

      Beijos!

      Excluir
  17. Eu que não sou muito fã dos filmes europeus quando assisti Ladrões de Bicicleta fiquei encantado. A atuação do piá Enzo é perfeita e comovente o que deixa o filme muito mais interessante.
    Bruno, seu texto é sem dúvidas um dos melhores que já li abordando essa obra prima do cinema. Parabéns por sua profunda e perfeita análise.

    Grande Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Jefferson, fico muito feliz que você tanha gostado cara! Esta foi uma das resenha que mais curti escrever, é um filme que eu gosto muito e eu tentei passar para o texto um pouquinho do impacto que o filme me causou...

      Excluir
  18. Crítica muito bem feita, parabéns!

    ResponderExcluir
  19. Como é bom poder ler algo muito bem feito, com a perfeita escrita decorrente não só ao filme, mas a história pessoal.Não assisti o filme ainda, mas irei...Gostei muito das críticas que li e mais ainda lendo esta resenha - nível new york times - .
    Gostaria de aprofundar mais no filme, portanto, tu poderia me explicitar todos os aspectos históricos, culturais e políticos?
    Sei que o ocorrido - o filme - foi durante o final da Segunda Guerra Mundial, onde a Itália foi derrotada e houve uma enorme porcentagem de proletários.

    Valeu Bruno, fica com Deus.
    Ótimo trabalho!

    ResponderExcluir
  20. Muito boa a crítica. Captou a essência do filme. Deixo aqui uma dica, o podcast sobre cinema clássico, que acabou de debater este filme. http://filmesclassicos.com.br/2016/04/01/ladroes-de-bicicletas/

    ResponderExcluir