Branca de Neve e o Caçador (Snow White and the Huntsman) - 2012. Dirigido por Rupert Sanders. Escrito por Evan Daugherty, John Lee Hancock e Hossein Amini. Direção de Fotografia de Greig Fraser. Música Original de James Newton Howard. Produzido por Sam Mercer, Palak Patel e Joe Roth. Roth Films e Universal Pictures / USA.
Revisitar contos clássicos tem sido uma forte tendência em Hollywood, esta onda, que recomeçou a relativamente pouco tempo, propõe uma releitura das histórias já conhecidas, dando a elas em alguns casos um toque de comédia, em outros um tom mais realista. Já era de se esperar que a história da Branca de Neve, um dos contos de fadas mais conhecidos em todo o mundo, ganhasse uma nova versão, contudo ela acabou rendendo, não uma, mas duas novas adaptações. Uma com ares de comédia romântica, Espelho, Espelho Meu (2012), e outra com uma abordagem mais séria e sombria, Branca de Neve e o Caçador (2012). Ainda não assisti a primeira e confesso que não tenho pressa de fazê-lo, já a segunda, que é o objeto desta desta resenha, é um filme medíocre, fácil de se esquecer e mal sucedido em sua proposta.
O roteiro escrito por Evan Daugherty, John Lee Hancock e Hossein Amini parece querer abraçar um mundo do tamanho da Terra Média, sem se contentar com uma bruxa má, um príncipe encantado, um espelho mágico e um grupo de sete anões, a trama ainda apela para um exército fantasma, fadas, duendes e um bom número de outros seres fantásticos. O grande problema é que em meio a tanta magia falta tempo para explorar melhor cada um dos personagens e assim torná-los ao menos um pouco mais cativantes. O excesso de fantasia ainda prejudica a angulação mais séria, para a qual a narrativa tende em diversos momentos, colocando a perder aquilo que o filme poderia ter tido de mais interessante.
No princípio da história, uma rainha é ferida por um espinho ao tocar uma rosa, seu sangue respinga na neve e neste momento ela diz que queria ter uma filha que tivesse a pele branca como a neve, os lábios vermelhos da cor de sangue e ainda os cabelos pretos como o ébano. Seu desejo é realizado com o nascimento de sua primogênita, a quem ela ela dá o nome de Branca de Neve... Algum tempo depois a rainha morre, deixando a filha ainda pequena, o pai da menina, ainda angustiado pela perda da esposa, se vê obrigado a enfrentar um exército que aproveitara o momento de fragilidade para invadir seu reino. Após vencer a batalha, o rei resgata Ravenna (Charlize Theron), uma linda mulher que era mantida como prisioneira pelos invasores. Perdidamente apaixonado, o rei toma Ravena como esposa; não demora muito e ela revela seu verdadeiro propósito, ela mata o monarca e assim assume o controle sobre os súditos e as posses reais.
Durante o reinado de Ravena, todas as redondezas do castelo são tomadas pelas trevas e durante todo este período Branca de Neve é mantida presa em uma masmorra... À medida que cresce, a princesa vai se tornando cada vez mais bonita, até o dia que Ravena, ao inquerir seu espelho mágico, descobre que a enteada se tornara mais bela do que ela. Ao se ver ameaçada a rainha decide matar Branca de Neve, mas antes a jovem consegue escapar e se refugiar em uma floresta sombria que fica nas cercanias do reino. Inconformada com a fuga, Ravena envia um caçador até a floresta para perseguir e matar sua enteada. A partir deste ponto, a trama do filme começa de fato a ser desenvolvida, porém de uma forma totalmente previsível, é possível antecipar tudo o que irá acontecer nos atos seguintes, até mesmo os pontos que diferem da versão mais conhecida da história.
Na constituição da personagem central estão alguns dos maiores pecados do filme e não estou falando do fato de a Kristen Stewart ser considerada mais bela que a Charlize Theron na trama, o que é um absurdo, falo da dissonância que há entre a imagem que o roteiro tenta construir em torno dela e algumas de suas atitudes. É no mínimo estranho o fato de alguém que é tido como puro de coração ser egoísta o suficiente para abandonar outros personagens que precisam de ajuda para salvar sua própria pele; neste caso o erro não está na atitude da personagem em si, mas no roteiro, se ele pretende nos convencer de que a protagonista é de fato pura, ele não pode permitir que ações dela mesma contestem esta premissa. Outras falhas, similares a esta, tornam os personagens ainda mais superficiais e empobrecem a trama. A situação se agrava quando do nada surgem maldições antigas (que ninguém sabe de onde veio), poderes de cura (que ora funciona, ora não) e romances pessimamente explorados (que remontam ao triângulo amoroso de Crepúsculo)...
Não vou ser radical a ponto de dizer que Branca de Neve e o Caçador é um completo desastre, afinal ele tem alguns pontos que são sim bastante positivos, no tocante à técnica ele é um filme relativamente bem feito, ele não tem nada de espetacular, mas também não deixa nada a desejar. Sua fotografia é bem trabalhada, bem os como os figurinos e a direção de arte. Já nas atuações não há nada que mereça ser destacado, a Charlize Theron está bem, mas seu desempenho não tem nada de tão sobrenatural que justifique o 'oba-oba' feito por parte da crítica. Já a Kristen Stewart parece ter religado o piloto automático, no qual se manteve durante a franquia de Crepúsculo, ela não faz feio, a verdade é que esta é uma atuação que exige pouquíssimo do talento que eu sempre defendi que ela tem, penso que boa parte da culpa pelo seu desempenho medíocre esteja na má construção de seu personagem, detalhe que já mencionei acima.
Branca de Neve e o Caçador tropeça em suas próprias armadilhas, ele é fantasioso demais para ser realista e sério demais para ser considerado uma aventura despretensiosa. Ele não passa de um caça-níquel irregular em quase todos os aspectos artísticos, sinceramente não consigo apontar nada nele que o torne digno de ser conferido, afinal a técnica por si só não justifica uma recomendação entusiasmada. Sendo assim, indico apenas para quem não tiver outra opção melhor de entretenimento...
Assistam ao trailer de Branca de Neve e o Caçador no You Tube,
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra,
Discordo muito do seu texto. Acho que o filme tem uma boa visão madura e sombria, por vezes densa, da tal lenda e conto que permeia a mente de todo mundo. Gostei da "pegada" e da forma como o roteiro colocou os mesmos pontos "clássicos" da trama, mas sob um novo verniz mais dark. Acho que o filme tem muitos pontos positivos, mesmo não sendo algo memorável ou obra-prima. É um bom entretenimento, blockbuster que funciona. Theron, sem dúvida, é o maior atrativo com uma atuação forte e bem feita - de fato, é impossível acreditar que Stewart é mais bela que ela, mas isso é um detalhe tão pequeno, que não compromete a obra em nada. Certamente, todo mundo sabe que Theron é mais bela e se o roteirista ou diretor quis a atriz no elenco, ele correu esse risco da comparação. Acho que a "beleza" é mais algo do âmago e de alma, não só física, como todo mundo superficialmente costuma analisar nessa obra. O Chris, apesar de uma interpretação que lembra muito o Thor, se sai bem, acho que o filme não tem esse indício de "romance a la Crepúsculo, emulando um trio, como você colocou" - pelo contrário, evita até se firmar em fórmulas-chaves como usar o romance meloso pra conquistar uma plateia mais adolescente. Nem beijo tem do casal, eles mal se "direcionam sentimentalmente", pra falar a verdade, o filme até pecou nisso, não quis desenvolver um senso mais romântico pois se preocupou mais na questão da luta da rainha má com a Branca de Neve. Gosto também da bela trilha sonora de James Newton Howard, da fotografia e de algumas cenas. A tal sequência do troll soa descartável mesmo, mas eu gosto. Bonita mesmo é a sequência que Branca acorda e sai andando pela floresta com os animais em volta, é de uma beleza plástica possível e um momento interessante do filme. Acho que Kristen não está ruim, ainda que nada excepcional, mas defende bem a personagem, principalmente no final quando incita lá o discurso pra uma batalha em busca da rainha e do reino perdido...enfim, eu curti demais o filme. Deplorável mesmo é aquela versão tosca com Julia Roberts. Abs
ResponderExcluirConcordo com alguns pontos de seu comentário Cris e até defendi eles no texto, no entanto, não vejo profundidade na obra, há sim uma tentativa frustrada de parecer sombrio e denso, o que não acontece de fato. Também não acho que a questão da beleza entre as atrizes, por sí só comprometa o filme, no texto eu disse "e não estou falando do fato de a Kristen Stewart ser considerada mais bela que a Charlize Theron na trama, o que é um absurdo". Concordo com você sobre o fato de a beleza estar no âmago da alma, mas os roteiristas não, lembre-se das mulheres com cicatrizes em suas faces, que estão assim para parecer feias. Achei a cena do discurso bem fraca...
Excluirverdade.. eu adoro esse filme e ele tem um ponto de vista bem sucedida ...
ExcluirAmigo li uma obra chamada O Massacre dos Gatos e o primeiro capítulo aborda como os contos foram sendo alterados ao longo da história....isso fez eu pegar um certo medo dessas visões comerciais.
ResponderExcluirSendo sincero estou fugindo dessas leituras americanas sobre contos infantis......viva a originalidade dos contos no principio da história. kkk
Abraços
Renato...
ExcluirSempre fui aprecidor de fábulas infantis e a estrutura lógica oculta nas entre-linhas desse gênero. E um dia em minhas andanças literárias fui descobrindo meio sem querer, que até o mais clássico dos contos dos irmãos Grimm (Chapeuzinho Vermelho) em seus primórdios, já sofria desse "mal" chamado releitura. Porém, para minha surpresa, depois de também ler um livro sobre a ciência por trás da magia, descobri que inclusive o conto original era composto por elementos nada infantis que sempre passaram despercebidos por mim. O conto possuia em sua essência uma mensagem subliminiar muito sutil, mas ainda presente de uma situação madura. Assim com o tempo, o conto original foi destilado através dos anos até chegar na versão mais comercial possível. A melhor na minha opinião. Mas isso é uma conclusão particular, após acompanhar o processo evolutivo da mesma história impressa por autores diferentes e principalmente em épocas diferentes. Onde eu quero chegar, afinal de contas? Estamos vivendo numa época comercial como nenhuma outra houve; não descarte em primeira mão as releituras por serem releituras, mas por serem releituras mal traduzidas narrativamente. As vezes as nuances de um filme ou livro baseado em algum classico, apesar de ser usado como refência, remetem de forma subliminiar ao momento em que vivemos agora. Alguns remakes que vemos hoje, podem ser apenas um de muitos outros que ainda poderão ser criados a partir de uma obra em comum. Pessoalmente acompanho na medida do possivel esses trabalhos, com ou sem expectativa, apenas por me agradar pelos detalhes que traduzem a época em que estão sendo realizados. Como já dizia aquele velho deitado: aprender não ocupa espaço.
abraço Renato
abraço Bruno...
e obrigado por suas visitas ao blog: marcelokeiser.blogspot.com.br
Pois é Bruno, mas um cine pipoca que em menos de 1 ano estará completamente esquecido...
ResponderExcluirÉ lamentável a qualidade de alguns filmes recentes, muito barulho por nada....
Abração
Bruninho, meu querido, estou relutante quanto a este filme há tempos! Sabe quando vc quer, mas não quer ver!?!? rsrsrs... pois é. No começo, quando lançou, fiquei até interessada, mas logo depois a vontade desapareceu.
ResponderExcluirbjks :)
Ahhh, depois dê uma passadinha lá no Umas e outras. Gostaria de, se possível, ver sua participação num desafio que apresentei. É só responder nos comentários mesmo... Rápido e fácil. bjks :)
ExcluirJoicySorciere => CLIQUE => Blog Umas e outras...
Se esse, mais sombrio, é facilmente esquecível, o outro, mais cômico, se esquece imediatamente após tê-lo visto. Pelo menos foi assim comigo.
ResponderExcluirGostei do texto, ele cumpriu com o intento de não me motivar a acompanhar essa trama.
Abraços.
Eu fui correndo até o cinema pra ver esse filme e acabei me decepcionando.
ResponderExcluirConfesso que esperava mais dele,achei a escolha da protagonista errônea,ela não possui carisma e muito menos talento.
O filme é claro,não é de todo ruim,eu curti bastante o papel defendido por Charlize Theron,e as cenas em que ela aparece são magníficas.Ela soube transmitir sua "maldade" através do olhar e por sua postura cênica,uma outra coisa que contribuiu bastante para dar vida a Rainha Má foi o seu figurino...deslumbrante.
Gostei do post Bruno.
Abraço!
Bruno
http://oexploradorcultural.blogspot.com
Ixi... se vc não gostpu eu acho que tô fóra também, hahahahahahahha.
ResponderExcluirBela resenha Brunão!
Olá, José Bruno.
ResponderExcluirSó pela bagunça que é a página desse filme no Filmow dá pra ver que ele é bem fraco.
Não gosto do trio Crepúsculo como atores, e até ver algum filme realmente bom deles, vou continuar criticando.
Uma série que quero assistir é Once Upon a Time (que dizem que é cópia da excelente hq Fábulas, da Vertigo), que também pego carona nessa revisitação atual aos contos de fada.
Abraço.
adorei o filme ! ;
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