As Sessões (The Sessions) - 2012. Dirigido e Escrito por Ben Lewin, baseado no artigo 'On Seeing a Sex Surrogate' de Mark O'Brien. Trilha sonora original composta por Marco Beltrami. Direção de Fotografia de Geoffrey Simpson. Produzido por Ben Lewin, Judi Levine e Stephen Nemeth. Such Much Films e Rhino Films / USA.
Acredito que não é nada fácil retratar de uma forma leve em um filme uma situação que é originalmente dramática, pois há sempre a possibilidade de que o drama se torne superficial e de que o impacto que poderia ser causado por ele acabe se perdendo na trama, isso aconteceu recentemente com o filme francês Intocáveis (2011), no qual a história real que o inspirou foi descaracterizada e reduzida a uma exaltação de uma simplicidade que não existe na vida real. O loga As Sessões (2012) correu o mesmo risco, no entanto a sutileza do roteiro e da direção de Ben Lewin fizeram com que nele a leveza fosse preservada sem que a carga dramática fosse prejudicada. Sua trama, que também foi inspirada por fatos reais, consegue nos emocionar e nos fazer rir em diversos momentos, mas sem deixar de ressaltar a condição do personagem central e as dores físicas e emocionais sentidas por ele.
Mark O'Brien (John Hawkes), o protagonista, teve poliomelite quando ainda era criança e a doença deixou graves sequelas em seu corpo. Com 38 anos, ele vive preso à uma cama móvel e respira com a ajuda de um pulmão de ferro, a doença no entanto não impediu que ele realizasse grandes feitos em sua vida, ele fez faculdade e se tornou um escritor respeitado. Uma coisa, porém, ele nunca conseguiu, conquistar uma mulher. Ele nunca teve uma vida sexual ativa, pois, além das restrições físicas impostas pela doença, ele ainda se submeteu a rígidos dogmas religiosos, que, através da culpa induzida, o afastaram de qualquer tentativa de se relacionar e de expressar sua sexualidade. A virgindade passa a lhe incomodar após ele dar início à uma série de entrevistas com desconhecidos para a produção de artigo sobre o sexo na vida de deficientes físicos (o mesmo texto que deu origem ao filme).
Mark se apaixona por Amanda (Annika Marks), sua acompanhante, mas ela se demite após ser surpreendida por um pedido de casamento. Frustrado, ele pede conselhos para Brendan (William H. Macy), o novo padre de sua paróquia, este compreende sua situação, mas sem saber o que dizer, ele lhe recomenda a busca por ajuda especializada, por algum profissional que trate problemas emocionais oriundo de questões da sexualidade. O'Brien então marca uma consulta com uma psicóloga e esta por sua vez lhe recomenda uma terapeuta do sexo, é então que Cheryl (Helen Hunt) entra em cena. Ela defende que seu trabalho não é uma forma de prostituição, afinal de contas ele possui um propósito nobre e ela garante que não o faz pelo dinheiro. A terapia que ela propõe se baseia em sessões intimas, nas quais ela tentar despertar o tesão e quebrar os traumas que impedem o paciente de ter uma vida sexual normal. A técnica pode ser resumida em: perca o medo de transar, transando!
A relação entre Mark e Cheryl é retratada com uma sutileza impressionante, colabora com isso o fato de ambos serem personagens cativantes e é interessante perceber os dilemas enfrentados pelos dois durante o tratamento (este é um dos melhores aspectos do filme), ele continua envolto pelas questões religiosas que lhe imputam culpa desde a infância e ainda tem que lidar com as já citadas restrições físicas; ela, por sua vez, ultrapassa limites que deveriam ter sido resguardados e acaba se envolvendo emocionalmente com o paciente, mesmo sabendo o perigo que isso representa para ambos... Ao contrário do que eu tinha imaginado à princípio, As Sessões não é um filme sobre superação (ao menos este não é o seu foco, ele é na verdade um filme sobre relacionamentos, não somente sobre o amor, mas também sobre a amizade e a cumplicidade.
No filme, os personagens secundários, apesar de não terem uma grande profundidade dramática, são bem tratados pelo roteiro e a construção de cada um deles está condizente com a abordagem do roteiro sobre os relacionamentos, temática que fica evidente nas interações entre o personagem central e o padre, nas quais a cumplicidade transcende o rigor cego dos dogmas católicos e até na relação entre ele (o protagonista) e Vera (Moon Bloodgood), a substituta da enfermeira Amanda, é legal perceber como ela luta contra o constrangimento que sente diante da situação a que se expõe para tentar ajudá-lo, levando-o para as sessões e sendo uma ouvinte paciente e boa conselheira.
Já Cheryl, é uma personagem um pouco mais complexa e dotada de profundidade dramática, o roteiro se preocupa em retratar também a vida familiar dela, ressaltando o seu distanciamento afetivo em relação ao filho adolescente e a ao marido, não por acaso, o primeiro não a chama de mãe, apenas pelo nome, e o segundo é retratado na maioria das cenas ao lado dela na cama, o que entendo como uma tentativa do filme de nos dizer que o casamento deles sobrevive tão somente por causa do sexo, uma vez que a comunicação entre eles é repleta de ruídos; talvez por isso ela enxergue em Mark qualidades que não vê no marido, nem em outros pacientes, como a sinceridade em relação aos próprios sentimentos, a sensibilidade e o carinho devotado.
Eu gostaria que As Sessões tivesse sido indicado ao Oscar também nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado e Ator, afinal é graças ao roteiro que ele consegue ser ao mesmo tempo leve, cativante e impactante, sem parecer falso ou superficial, e o John Hawkes está excelente, sua interpretação denota um ótimo trabalho de composição, que fica evidente pela sua empostação vocálica, pelas expressões faciais e até pela curvatura de seu corpo... A indicação da Helen Hunt ao prêmio da Academia, a única recebida pelo filme, foi justa, ela também tem um excelente desempenho, que fica evidente na naturalidade com que expressa os sentimentos de sua personagem e na coragem de se expor em cenas de completa nudez, mesmo já estando batendo na casa dos cinquenta (detalhe, ela continua linda), o que seria algo impraticável para muitas atrizes de sua idade.
Atribuo à direção e ao roteiro de Ben Lewin o fato de As Sessões não se perder em lugares comuns, como o apelo à comoção ou ao 'coitadismo', afinal o cineasta também foi vítima da polio quando criança. Apesar de suas sequelas serem amenas se comparadas às do personagem, sua vivência, também marcada pela dor proporcionada pelas restrições, contou muito para que o longa tivesse uma abordagem de certa forma enxuta e sem os exageros que poderia tê-la prejudicado tanto... O filme não é uma obra-prima, mas certamente merece ser visto e antes de tudo sentido por todos. Recomendo!
As Sessões está indicado ao Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Helen Hunt).
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.
Olá Brunão, tudo beleza meu amigo?
ResponderExcluirPuxa... Parace uma história forte essa aí desse filme hein!
Não é do tipo de filmes que eu gosto de assistir, mas a sua resenha deixa uma pulga atrás da orelha da gente. Parece que se a gente não assistir vai perder uma grande oportunidade, hahahahaha. Sei não!
Um abração meu amigo, e tenha uma semana abençoada!
Assisti AS sessões ontem e gostei bastante. Helen Hunt volta a boa forma e merecia o Oscar de coadjuvante.
ResponderExcluirDale Brunão! Voltamos a concordar! Rs o filme é muito massa e não é mesmo de superação! Também achei parecido com Intocáveis, não o enredo, mas o jeito leve e divertido de ser!
ResponderExcluirJ. Xará, estou com esse filme pra ver aqui. Mais um primor de texto. :)
ResponderExcluirBruninho, tudo bem?
ResponderExcluirVenho aqui algumas vezes, mas quando não assisto ao filme acho difícil comentar, este não assisti também, mas vi o trailler e achei interessantíssimo.
Só a Helen Hunt foi indicada???!...
Também achei que fosse um filme focado na superação, e me parece que essa personagem da Helen é excelente, e ela como uma super atriz deve ter dado conta do recado brilhantemente.
Outra coisa, fiquei imaginando como foi trabalhada a cena de sexo, mas como você disse que imperou a sutileza, estou supondo que foi tratada com bom gosto e sensibilidade como parece ser o personagem deficiente que pelo visto, em muito supera o marido dela.
Gostei, vou tentar assistir!
Beijos e ótimos dias!
Oi Bruno
ResponderExcluirÓtima crítica, como sempre! A Helen Hunt é uma ótima atriz, só por ela já vale o filme, mas a história me chamou a atenção. Eu assisti O lado bom da vida, e fiz a minha própria crítica do lado bipolar da coisa kkkkkkkkkkk.
Bjos. Fique com Deus!
Olá, José Bruno.
ResponderExcluirEu não gosto muito de filmes exageradamente dramáticos ou apelativos, que parece ser o caso deste, que trata de um assunto bem delicado.
Creio que é muito fácil uma história destas descambar para o sentimentalismo exacerbado, mas parece que isso não ocorreu.
Abraço.
Vi e gostei.
ResponderExcluirExatamente, como tu disse:"sinta o filme..".
Sou muito fã da HUNT(desde Mad about you) e não gostei nem um pouco dela não ter levado uma estatueta. Poxa, desde Melhor Impossível..Tá na hora,rs.
bjs