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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Sombras da Noite

Sombras da Noite (Dark Shadows) - 2012. Dirigido por Tim Burton. Escrito por Seth Grahame-Smith e John August, baseado no roteiro televisivo de Dan Curtis, escrito para a série homônima produzida nos anos 60. Direção de Fotografia de Bruno Delbonnel. Música Original de Chris Lebenzon. Produzido por Johnny Depp, Christi Dembrowski, David Kennedy, Graham King e Richard D. Zanuck. Warner Bros. Pictures, Infinitum Nihil, GK Films, Zanuck Company, Dan Curtis Productions e Tim Burton Productions / USA.


Sinceramente eu não sei o que esperar de Frankenweenie (2012), filme do Tim Burton que estreia no Brasil no próximo mês, de certa forma isso é bom, simplesmente porque a obra do cineasta se tornou nos últimos anos uma mera repetição de tipos e fórmulas. Sombras da Noite (2012), fruto de mais uma parceria de Burton com o ator Johnny Depp, reforça esta constatação. Não é um filme de todo ruim, principalmente se comparado com a obra anterior do cineasta, o medíocre Alice no País das Maravilhas (2010), no entanto, ele peca nos mesmos pontos em que outros filmes recentes do mesmo diretor pecaram e dentre estes pontos o mais fraco é o roteiro. Adaptada da série homônima exibida pela TV americana nos anos 60, a história mescla o terror à comédia, sem no entanto funcionar em nenhuma das duas frentes. O trâmite entre gêneros distintos, que já foi uma habilidade de Burton, é hoje o seu calcanhar de Aquiles. 

A narrativa de Sombras da Noite começa em 1752, quando a família Collins se muda de Liverpool na Inglaterra para os Estados Unidos. Barnabas (interpretado na vida adulta por Depp) era então uma criança, ele era muito apegado aos pais,  Joshua e Naomi, que sempre lhe ensinaram sobre o valor da família. Já em solo americano, os Collins prosperam no ramo de frutos do mar e criam um verdadeiro império em torno do qual a cidade de Collinsport é edificada. Já adulto, Barnabas inicia um relacionamento com Angelique (Eva Green), a empregada da família, contudo ele a abandona depois de se apaixonar por Josete (Bella Heathcote), a quem escolhe para ser sua esposa. Angelique revela sua verdadeira natureza ao descobrir que fora traída, usando truques de feitiçaria ela mata os pais de Barnabas, conduz Josete ao suicídio e transforma se próprio amado em um vampiro, para em seguida atiçar a cidade contra ele e enterrá-lo vivo, acorrentado em um caixão


Quase duzentos anos depois, precisamente em 1972, Barnabas é acidentalmente despertado. Ao se ver livre ele percebe que está em mundo bem diferente daquele que conhecera. Ele então tenta se reaproximar de seus descendentes, quatro deles ainda vivem na cidade. Elizabeth Collins (Michelle Pfeiffer) é a nova matriarca da família, que agora está falida e vivendo em ruínas, ela o recebe com receio e desconfiança. É  Elizabeth quem luta para manter os parentes unidos apesar das adversidades, ela vive com a filha adolescenteCarolyn (Chloë Grace Moretz), com o sobrinho David (Gulliver McGrath) e com o irmão Roger (Jonny Lee Miller), pai de David. No antigo castelo construído pelo pai de Barnabas moram ainda a psiquiatra de David, Dra. Julia Hoffman (Helena Bonham Carter), a empregada recém contratada, Victoria Winters (Bella Heathcote), e outros dois serviçais.


Nos anos 70, Barnabas se depara com uma espécie de continuidade da história que vivera cerca de duzentos antes, todavia, este novo cenário é bem diferente e o estranhamento diante de tudo lhe causa um enorme choque, neste ponto da drama está o aspecto mais legal do roteiro. A trama brinca com o fato de que mesmo um vampiro seria incapaz de ser tido como diferente em uma década povoada por personagens tão excêntricos e bizarros. Em uma das sequências, o músico Alice Cooper aparece interpretando a si mesmo em um baile, o personagem central não consegue distinguir o que de fato ele é e o confunde com uma mulher, esta cene rende uma das melhores tiradas do filme. Outras piadas criadas em torno da confusão de Barnabas são engraçadas, no entanto elas só funcionam em um primeiro momento do filme, se tornando depois repetitivas e cansativas... A verdade é que na segunda metade pouca coisa no filme funciona.


Da metade para o final do filme a impressão que fica é a de que o fio da meada foi perdido, há uma nítida pressa em dar um desfecho para história que possa relacionar cada um dos fatos que vieram à tona nos primeiros atos. A desenvoltura observa na apresentação de cada um dos personagens, simplesmente desaparece dando lugar à uma sequência de ações desajustadas que prejudica o desenvolvimento da história e coloca a perder tudo que já tinha sido edificado. A sequência final beira ao ridículo, denunciando assim o problema que tem sido comum também a outros dos últimos filmes do Tim Burton: apesar de ter personagens interessantes o roteiro demonstra que não sabe o que fazer com eles e sendo assim, a saída é inseri-los em uma realidade alterada, ora sombria, ora burlesca, que busque se sustentar apenas pelo aparato técnico da produção.


A atuação do Johnny Depp no filme é um indício claro daquilo que já venho defendendo a bastante tempo, a parceria dele com Burton já deu o que tinha que dar, ele não está mal, contudo a repetição de mais um personagem excêntrico, que se assemelha a tantos outros que ele já viveu, pelos diversos trejeitos e maneirismos, é extremamente prejudicial para ele como artista, uma vez que seu nome está cada vez mais associado a tais tipos. Na constituição de seu Barnabas Collins não há ousadia, apenas mais do mesmo escondido embaixo de alguns quilos de maquiagem. A situação também se repete com a Helena Bonham Carter, que por sua vez se encontra neste filme em uma posição bem mais desconfortável do que a de Depp, seu personagem raso não lhe permite demonstrar o talento que tem. 


Ainda no tocante às atuações, os destaques ficam por conta da Eva Green, que está muito bem na pela da vilã, e da Michelle Pfeiffer, que transcende a mediocridade de sua personagem e entrega um desempenho bastante convincente. Como é comum nos filmes do Tim Burton, o aparato técnico é de uma qualidade quase irrepreensível,  a começar pela trilha sonora, que é fantástica, passando pelos figurinos, maquiagens e direção de arte, até chegar na fotografia dirigida pelo Bruno Delbonnel (que tem no currículo obras como O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001) e Across the Universe (2009)), todavia, volto a afirmar que a excelência técnica por si só não é o suficiente para se fazer um bom filme. 

Concluo, portanto, que Sombras da Noite não é uma obra totalmente dispensável, contudo ele não chega nem perto de atingir as expectativas alimentadas pelos nomes envolvidos. E definitivamente ele não parece ser um filme do mesmo cineasta que já concebeu obras do calibre de Edward Mãos de Tesoura (1990)Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (2003).


Assistam ao trailer de A Troca no You Tube
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A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra,

11 comentários:

  1. Concordo com tudo o que disse... Não é ruim ou dispensável, mas ficou bem abaixo das expectativas!

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  2. Oi Bruno,

    Tudo bem? Achei esse filme uma tanto limitado, além de chato. Não há uma sequência nas falas. Mas vale a atuação da Eva.

    Beijos.

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  3. Olá Brunão, meu amigo, tudo bem aí?

    Rapaz, eu não gosto de filmes com esse tipo de história, acho que nem se você falasse que era bom demais eu iria ver, hahahahahaha. Mas agora que vc falou que é mais ou menos... Definitivamente não assistirei!

    Um abraço meu amigo, tenha um lindo dia!

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  4. Oii Bruno, acho que vou gostar, mesmo se não for lá essas coisas e nem o meu estilo de filme, ver Depp atuando já salva e compensa rsrsr Estive ausente uns dias mas estou retornando hj! Abraçosssss

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  5. Adoro Tim Burton e consequentemente Johnny Depp, mas ainda não vi essa pérola.

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  6. As críticas não foram das melhores, mas ainda pretendo conferir.

    O universo de Burton sempre merece uma espiada pelo menos.

    Abraço

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  7. Não é dos melhores Burton, mas vale a pena vê-lo.

    O Falcão Maltês

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  8. Olá, José Bruno.
    Esse é mais um dos filmes deste ano que acabaram desapontando.
    Também sou da opinião que a parceria Burton/ Depp já deu o que tinha de dar, e que o talentoso ator deveria se dedicar a papéis mais sólidos e sérios, que ele e seus fãs merecem.
    Abraço.

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  9. Gostei da resenha!
    Saudade de ver o Deep de antigamente:Cry Baby,Chocolate,Janela Secreta...
    Tim Burton é sempre bom(pelo menos pra mim) rs.
    bjs

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  10. Discordo neste ponto com você Bruno: o filme me diverte por completo (até mesmo Depp). Estava receoso com ele e pensava que iria ser mais um repetição abaixo da média de Tim Burton, no entanto, foi uma grata surpresa. É claro que é injusto compará-lo com os clássicos Edward Mãos de Tesoura, Ed Wood ou Batman. "Sombras..." é um filme maroto e perfeito para uma matiné. Virou moda as críticas negativas a Burton, tudo bem, ele cometeu erros, mas nada que justifique falar somente mal do trabalho do cara.

    "Sweeney Todd", pelo menos na minha opinião, foi ótimo. O maior equívoco de sua carreira foram mesmo as novas versões para Alice, Planeta Dos Macacos (principalmente) e o fraquinho A Fantástica Fábrica de Chocolates (e toda vez que revejo este filme sei o quanto o original é bom e não envelhece).

    "Frankenweenie" é na verdade um roteiro antigo que ele desenterrou. O curta metragem em live action já era legal. Acho que você deve apreciar mais.

    Abração!

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  11. Olha, meu caro, devo dizer que reparto contigo a mesma preocupação em torno de "Frankweenie", já que Tim Burton é sinônimo de repetição há muito tempo. E aqui com esse "Sombras da Noite", acho que ele atinge o fundo do poço. Sou um dos poucos, mas o acho ainda inferior a "Alice", que como vc diz, é realmente medíocre.
    Neste exemplar, o tédio impera e nada realmente funciona, a despeito dos atributos técnicos, que nem necessariamente é um mérito todo do diretor.
    Achei "Sombras da Noite" terrivelmente escrito e massante por tentar jogar para todos os lados e fracassar em todos eles. Esperamos que Burton saia dessa falta de criatividade que padece e venha nos presentear com filmes que transcendam o visual e seja narrativamente mais relevante.

    Abraço!

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