Sherlock Jr. - 1924. Dirigido por Buster Keaton & Roscoe “Fatty” Arbuckle. Roteiro de Clyde Bruckman & Jean C. Havez. Direção de Fotografia de Byron Houck & Elgin Lessley. Música de Myles Bolsen, Sheldon Brown, Beth Custer, Steve Kirk & Nik Phelps. Produzido por Joseph M. Schenck & Buster Keaton. Metro Pictures / EUA.
Acho que já falei bastante de Buster Keaton na resenha que fiz de A General (1927 – clique no link para conferir). Resumindo o cara era um gênio e se tornou um ícone e um dos percursores do humor cinematográfico, sendo referência direta ou indireta para tudo o que o gênero viria a produzir. Quando assisti A General um dos aspectos que mais me chamou a atenção foi o fato de o filme não parecer tão datado, apesar de ter sido filmado há mais de 80 anos. Sherlock Jr. (1924) me surpreendeu e me conquistou pelos mesmos dotes que o primeiro. Lá estão as gags impressionantes, o humor físico que se constrói através dos desastres sofridos pelo personagem principal e toda a áurea lúdica do cinema que ainda engatinhava como expressão artística.
Sherlock Jr. conta a história de um pobre projecionista de cinema que sonha em ser detetive. Logo após os créditos iniciais e antes de começar a desenrolar a trama, o filme já nos adverte “Há um antigo provérbio que diz: 'Não tente fazer duas coisas ao mesmo tempo e esperar equidade de ambas'”. O personagem principal, ao que parece não respeitou este ensinamento, mesmo durante o horário de trabalho ele perde tempo imerso em livros/manuais que ensinam técnicas de investigação e de dedução. O rapaz está apaixonado por uma moça rica e ambiciosa, um dia após ir a casa dela para cortejá-la ele acaba sendo vitima de uma armação, sendo acusado de roubar um relógio de pulso do pai dela. Ele é expulso de lá e ao voltar para o trabalho no cinema acaba adormecendo na cabine de projeção e sonha que entrou no mundo cinema, onde passa a ser o detetive Sherlock Jr.
A sequência em que ele entra na tela (algumas décadas antes de A Rosa Púrpura do Cairo de Woody Allen) é uma das mais clássicas e emblemáticas. Ele demora para se adaptar e ser aceito na nova realidade, após sua entrada no filme, o cenário começa a mudar rapidamente, o deixando-o em situações e lugares bem adversos. Após vencer esta incompatibilidade, ele descobre que nesta outra realidade há um novo caso a ser desvendado. Ele precisa descobrir quem é o verdadeiro ladrão de um colar de pérolas. É ai que a verdadeira diversão do filme começa, são hilárias as sequências em que os bandidos tentam se livrar do detetive e aquela na qual este se mete numa persiguição maluca para pegar o culpado e salvar uma moça que é levada como refém. As cenas que Buster protagoniza são espetaculares e um verdadeiro feito, se levada em conta a limitação das tecnologias da época, ele, que não usava dublês em seus filmes, chegou a fraturar um osso do pescoço durante a gravação de uma das cenas.
Sherlock Jr. é um daqueles clássicos que transcendem a história que contam, a época em que foram produzidos e as ideologias de seus realizadores. O filme, que tem pouco mais de 40 minutos, já foi estudado à luz da sociologia, pela dicotomia entre as classes representadas no filme, e da psicologia, pela manisfestarão do duplo de Buster, que personifica no mundo do cinema, aquilo que seu personagem não consegue ser ou fazer em sua realidade. Teorização à parte, o que vale mesmo é o ótimo entretenimento que o filme proporciona. Esta é uma ótima comédia, divertidíssima e atemporal, uma boa pedida para os dias frios do inverno que já nos bate à porta. Recomendo!
Assistam Sherlock Jr. completo no You Tube, clique AQUI !
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Confiram também, aqui no Sublime Irrealidade, a resenha crítica de
A General, outro clássico co-dirigido e estrelado por Buster Keaton
(clique no link) !
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