N° de acessos:

segunda-feira, 7 de março de 2011

A General

A General (The General) - 1927. Dirigido por Buster Keaton & Clyde Bruckman. Roteiro de Al Boasberg & Clyde Bruckman. Fografia de Bert Haines & Devereaux Jennings. Música de Robert Israel & Willian P. Perry. Produzido por Buster Keaton & Joseph M. Schenck. United Artists / EUA.

 

A vida às vezes, ou na maioria delas, é injusta. Pessoas são imortalizados e veneradas por suas capacidades, habilidades e criatividade, enquanto outras de igual ou superior valor são esquecidas ou simplesmente confinadas em circuítos povoados apenas por poucos amantes da arte, pensamento ou técnica que desenvolveram. Qualquer um que tenha um mínimo de interesse por cinema se lembra de pelo menos uma cena de algum dos filmes de Charlie Charplin, mas poucos são os que conhecem, ou que se quer ouviram falar em Buster Keatom. Este foi considerado durante muito tempo uma espécie de rival de Charplin na ocasião do cinema mudo, o que na realidade não era verdade, eles se respeitavam e mantiveram uma duradoura relação de amizade. Apesar de ambos serem verdadeiros gênios da comédia, os seus estilos eram bem diferentes um do outro. Keaton, ao contrário de Charplin, não explorava o humor rindo de si mesmo, seus personagens eram sérios e as cenas cômicas eram produzidas por eles não conseguirem lidar com seus próprios fracassos.

As Gags (saltos, quedas, corridas e acrobacias) eram o artifício cômico mais explorado por Buster Keaton, que fora artista de circo durante a infância e a adolescência, se apresentando em trio com seus pais. Seus personagens, diferentes dos de Charplin, não expressavam com feições seus sentimentos e emoções, mantendo constantemente uma mesma expressão facial, o que fez com que Buster ficasse conhecido como “o homem que nunca ri”. Muitos consideram o ator/diretor uma espécie de precursor do método conhecido como “experiência Kuleshov”, que consiste na inserção de um rosto impassível em contextos diferentes. Mesmo não sendo alterada, a expressão facial parece se adaptar a cada uma das situações que se seguem. O espectador é induzido a acreditar, pela forma com que as imagens foram editadas, que o rosto expressa o sentimento que ele próprio teria diante da circunstância formada pelas imagens apresentadas em sequência. Buster Keaton ao usar deste artifício consegue construir um humor, no qual o espectador colabora emprestando seu próprio imaginário ao personagem e seu contexto, isso potencializa as reações hilariantes às sequências de gags.

 

A General (1927) é considerado por muitos o melhor filme de Keatom, nele o ator interpreta Johnny Gray, um jovem maquinista que vive no sul dos Estados Unidos na época da guerra civil americana. Johnny tem duas paixões, a locomotiva General (que dá nome ao filme) e a encantadora Annabelle Lee (Marion Mack). O maquinista tenta se alistar para lutar pelo sul na guerra, mas é dispensado pois os alistadores do exército entendem que ele é mais útil trabalhando com a locomotiva do que lutando como soldado. Annabelle fica decepcionada ao saber que seu namorado não vai pra guerra, ela acha que por covardia ele fugiu do alistamento. Johnny tem a chance de provar sua coragem quando a jovem é raptada junto com a locomotiva, ele parte sozinho em para salvar as duas amadas, seguindo em outra locomotiva pelos trilhos que levam em direção ao norte. O filme pode ser dividido em duas partes, a primeira inclui o prólogo e a perseguição de Johnny aos sequestradores da General e de Annabelle, na segunda ele tenta voltar para o sul viajando na locomotiva que recuperou com na companhia de sua namorada, que passa o admirar.

 

A história de A General foi inspirada em fatos que realmente aconteceram durante a guerra civil americana, e Buster Keaton sonhava em usar a verdadeira General, mas teve que se contentar com outra locomotiva. A excentricidade de Keaton fez deste um dos filmes mais caros da época do cinema mudo, em uma das cenas um locomotiva é totalmente destruída ao despencar de uma ponte que cai, os gastor foram enormes também com a quantidade enorme de figurantes contratados. Apesar do grande investimento, o filme não foi na época um grande sucesso de crítica e público. No ano seguinte Buster faria seu primeiro filme falado, que também não conquistaria muito sucesso e reconhecimento. Keaton jamis conseguiria atingir novamente o padrão de qualidade de seus filmes mudos. Ele foi resgatado do ostracismo, em que já se encontrava, em 1959 ao estrelar, junto com o amigo Charplin, o tocante Luzes da Ribalta.

 

Apesar de ter sido filmado há mais de 80 anos A General, que foi um dos primeiros road movies (ou deveria dizer railroad movie), consegue a façanha de não nos parecer tão datado. A crítica especializada já o considerou um dos filmes que conseguiram chegar o mais perto da perfeição em toda a história do cinema. A General é magistral em termos de humor, suspense, construção de personagens, estética, técnica e reconstituição histórica. É uma verdadeira obra prima, que está no mesmo patamar de Em Busca do Ouro (1925) e Luzes da Cidade (1931), sem sombra de dúvidas é um dos clássicos mais importantes e influentes de toda a história da sétima arte. É impossível não se divertir com as ótimas cenas de ação e comédia que compõem o filme do início ao fim, é uma ótima pedida. Ultra recomendado!


Assista ao trailer de A General no You Tube ! (clique no link)
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário