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domingo, 22 de maio de 2011

Lady Vingança

Lady Vingança (Chinjeolhan geumjassi) - 2005. Dirigido por Park Chan-wook. Roteiro de Chan-wook Park & Seo-Gyeong Jeong. Direção de Fotografia de Chung-hoon Chung. Música de Seung-hyun Choi. Produzido por Cho Young-wuk; Lee Chun-yeong e Lee Tae-hun. CJ Capital Investment – Platina Filmes / Coréia do Sul.

 

Vingança não é meu tema favorito, mas o fato é que o assunto já rendeu ótimas histórias e ótimos filmes, tanto que ao produzir uma nova trama focada no assunto os clichês se tornam quase inevitáveis. Comumente o que vemos em filmes do gênero, com raras exceções, são apenas variações daquela que talvez seja a mais clássica dentre as histórias de vingança, a de O Conde de Monte Cristo, obra literária escrita por Alexandre Dumas no século XIX. Escapar dos moldes e estrutura de narração do romance de Dumas é por si só um feito para quem se aventure em escrever qualquer coisa que seja sobre o tema. Park Chan-wook, cineasta sul-coreano, decidiu correr o risco ao filmar não um filme, mas uma trilogia sobre a vingança. 

A primeira produção foi Mr. Vingança (2002que ainda não assisti), este foi seguido por Oldboy (2003 – imediatamente transformado em clássico cult) e Lady Vingança (2005). A primeira vez que assisti Oldboy sofri um verdadeiro choque, eu, que esperava um filme fraco de artes marcais, me deparei com uma trama forte e ousada e uma beleza estética incrível, mas a verdadeira surpresa foi a reviravolta que o filme dá perto do final, que justifica a posição de alguns críticos que classificaram o filme como “moralmente agressivo”.

 

Park Chan-wook conseguiu com genialidade explorar a violência brutal e transformá-la em beleza e a mais cruel vingança na mais angelical poesia. A forma com que a ultra-violência é trabalhada nos filmes, sem poupar os espectadores, remete à estética e à polêmica de filmes como Laranja Mecânica (1971) de Kubrick e Cães de Aluguel (1992) e Pulp Fiction (1994) de Tarantinio. Apesar do tema e da abordagem não serem novos no cinema, o realizador produziu filmes únicos, detentores de um poder que raramente se vê no cinema contemporâneo, no qual a violência já está mais do que banalizada. 

Oldboy foi para mim, alguns anos atrás, a primeira amostra do cinema sul-coreano e um trampolim para um mergulho na produção daquele país, o que na verdade não foi um fato isolado, qualquer com um minimo de conhecimento sobre a sétima arte ao menos já ouviu falar deste segundo filme da trilogia. Já conhecendo o estilo de Chan-wook, eu já sabia o que esperar de Lady Vingança... Porém mais uma vez eu fui surpreendido, este, que é o terceiro filme dentre os três, não é tão bom quanto o segundo, mas é um ótimo filme.

 

Antes de qualquer coisa, é preciso deixar claro que Lady Vingança não é um filme indicado para qualquer um, afinal poucos estão preparados para digerir e encarar produções tão contundentes. O roteiro não linear ainda dificulta o entendimento da trama que, apesar de não ser tão complexa, exige uma dose extra de atenção, principalmente no início. Os mais puritanos com certeza não irão gostar do desfecho da história, que tende para o estilo “no love, no glory”. A sensação ao final do filme não é tão incômoda se comparada àquela provocada pelo desfecho de Oldboy, ela chega a perturbar apenas pelo ideia de que deveria ser, devido ao peso dos acontecimentos, mais incômoda do que na realidade foi. 

Ainda não consegui compreender se existe um propósito maior por trás dos filmes, mas arrisco a pensar que se existe um, este seria o de nos levar a uma reflexão acerca de nossos próprios atos e de nossa natureza, mostrando a forma com que tentamos justificar nossos erros: buscando uma redenção que não conseguimos conceder aos outros.

 

Lady Vingança conta a história de Lee Geum-ja (Lee Young-ae), uma mulher que confessa um crime brutal que não cometeu, por se sentir ameaçada pelo verdadeiro culpado. O crime foi o assassinato de uma criança de 5 anos e o responsável foi o companheiro de Lee. Ela é condenada a 13 anos de prisão e passa todo este tempo arquitetando uma vingança. Na cadeia ela conquista a admiração e a confiança das outras detentas, que a ajudam a colocar seu plano em prática. No decorrer do filme, através de flashbacks, vamos compreendendo os pequenos detalhes da trama, que no final fazem toda a diferença, como o que realmente levou a moça de apenas 19 anos a assumir a culpa e o castigo pelo crime, do qual era inocente. 

Podemos perceber claramente a evolução, pela qual Lee passa à medida em que vive os acontecimentos mostrados no filme, esta evolução também será determinante na hora dela tomar a decisão final sobre a condução de tudo que havia planejado. No fim das contas percebemos que o tipo de redenção que ela busca realmente só pode ser alcançado através da vingança e que esta, neste contexto, pode ganhar uma áurea quase angelical de justiça e espiação.

 

Lady Vingança possui ainda uma fotografia maravilhosa, que abusa tanto de cores fortes quanto de cenários sombrios, se valendo também de enquadramentos não convencionais, que transformam cada fotograma em uma individual obra de arte. A edição, que conta muito para que o filme funcione tal como deve, é surpreendente e consegue nos inserir na loucura e desconexão dos fatos atordoantes do filme. Se fosse linear, com certeza a história não conseguiria os mesmos efeitos, necessários para criar o suspense psicológico que se desenvolve durante o andamento da história. 

As atuação também merecem destaque, o que se percebe é que cada um dos atores realmente mergulharam em seus respectivos personagens, conseguindo desta forma manter o alto nível da produção, mesmo nas cenas mais difíceis... Ao assistir preste atenção na sequência em que Lee tenta provar sua culpa na reconstituição do filme, creio que nestas cenas tenha um pouco da ideia que Chan-wook talvez queira passar com filme: a de que a violência pode transcender à sua condição de fato-social e se transformar em uma necessidade quase compulsiva de uma sociedade que a cultua como forma de espiação. Recomendo apenas para os cinéfilos mais ousados!


Assistam ao trailer de Lady Vingança no You Tube, clique AQUI !
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Um comentário:

  1. Ótima crítica, você escreve muito bem.
    É um bom filme que vale a pena ser conferido, até por respeito ao trabalho de Park Chan-wook. Mas é quase inevitável fazer a comparação com os outros anteriores da trilogia, mesmo não tendo conexão histórica, tendo em comum só o tema. “Lady Vingança” tem um excelente enredo, porém, quem já viu os primeiros da revanche, sentirá falta de um ingrediente de muita importância. Os anteriores, mormente “Old Boy”, acertarem em cheio no dinamismo, prendendo a atenção e não deixando cair na monotonia, “Lady Vingança” parece não usar esse recurso, sei que parece engraçado, mas tinha a sensação que estava vendo um filme com clima pós-guerra, um drama de passos lentos, não que seja chato, entretanto, a sedução (embora feminina) fica bem aquém. Em minha opinião, nesse filme só faltou mesmo o dinamismo, pois o restante é excelente. Aí faço a pergunta: Por que “Lady Vingança” ficou tão distinto dos outros da trilogia? Seria a vingança feminina? Que elas agiriam de maneira menos brutal e ao mesmo tempo mais doce, com mais rosas, com mais sensibilidade? Ficaria menos realista se criasse a imagem de mulher brutal, monstruosa, feia ou aquela que nunca perde a beleza e paradoxalmente destruída por dentro? Como seria se fosse uma “Old Girl”?
    Faltou “Old Girl” em “Lady Vingança”.

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