Sem Destino (Easy Rider) - 1969. Dirigido por Dennis Hopper. Escrito por Peter Fonda, Dennis Hopper e Terry Southern. Direção de Fotografia de László Kovács . Música de Hoyt Axton, Mars Bonfire, Roger McGuinn e Jimi Hendrix. Produzido por Peter Fonda, William Hayward, Bert Schneider e Bob Rafelson. BBS, Columbia, Pando e Raybert / EUA.
Os anos 60 representaram um período de declínio na história do cinema americano, enquanto o mundo passava por uma ebulição cultural e política, Hollywood ainda tentava sobreviver às custas dos grandes épicos e de musicais espetaculosos. A dissonância das produções americanas com relação ao contexto da década faria com que os olhares de parte do público e da crítica se direcionassem para os filmes de arte e autorais, que vinham da Europa e de outras partes do mundo. O período de crise no entanto fora positivo, as baixas bilheterias dos filmes que seguiam um modelo tradicionalista, abriria espaço para uma leva de novos cineastas, que inovariam na forma de contar as histórias e nos temas abordados.
Sem Destino (1969) é um dos maiores exemplos da fase de renascimento do cinema hollywoodiano. O filme teve um orçamento baixíssimo, se comparado ao de outras produções do período, e conseguiu um sucesso de público e crítica, que nem seus realizadores esperavam, rendendo centenas de vezes o custo de sua produção. O filme foi um dos primeiros a mostrar os Estados Unidos sob uma nova ótica, focando a realidade da gente simples, de vilarejos pobres e de comunidades alternativas, expondo através de seu roteiro a hipocrisia da sociedade americana, que apesar de se gabar de ser livre, não conseguia aceitar o diferente e o libertário.
“[Eles] não têm medo de vocês, mas do que vocês representam... Para eles vocês representam a liberdade... é legal, mas falar e vivê-la são duas coisas bem diferentes. É difícil ser livre quando se é comprado e vendido no mercado. Mas nunca diga a ninguém que ele não é livre, porque ele vai tratar de matar e aleijar para provar que é... Eles falam sem parar de liberdade individual mas, quando vêem um indivíduo livre, ficam com medo...”
“[Eles] não têm medo de vocês, mas do que vocês representam... Para eles vocês representam a liberdade... é legal, mas falar e vivê-la são duas coisas bem diferentes. É difícil ser livre quando se é comprado e vendido no mercado. Mas nunca diga a ninguém que ele não é livre, porque ele vai tratar de matar e aleijar para provar que é... Eles falam sem parar de liberdade individual mas, quando vêem um indivíduo livre, ficam com medo...”
A citação acima é dita por um dos personagens em um momento de reflexão induzida pelo consumo de drogas, no entanto ela é extremamente lúcida e ilustra bem o posicionamento contestador do filme. O preconceito que parece estar intrínseco à natureza social do americano fica evidente em diversas cenas e leva a história a um desfecho trágico. O filme também foi ousado ao abordar temas polêmicos como o sexo livre e o consumo de drogas sem nenhuma censura. Numa das cenas mais loucas do filme, os personagens principais tomam LSD na companhia de duas prostitutas em um cemitério. Cada um tem uma viagem diferente, que expõe medos e sentimentos que até então eles tentavam esconder. Reza a lenda que todo o consumo de maconha mostrado no filme é real e que a substância era consumida tanto pelo elenco quanto pela equipe de filmagem.
A história do filme é bem simples, e começa quando a dupla Billy (Dennis Hopper) e Wyatt (Peter Fonda) ganham uma boa grana, por transportarem cocaína através da fronteira com o México (curiosidade: o receptador da droga é interpretado pelo lendário produtor musical Phil Spector). Com o dinheiro em mãos eles decidem viajar de moto pelos Estados Unidos, em busca de experiências e de liberdade. Eles viajam em direção a Nova Orleans, onde acontecerá o festival Mardi Gras (uma espécie de carnaval americano), mas eles não se prendem a uma rota específica, nem se atêm a questões de datas e horários. Em uma das pequenas cidades interioranas por onde passam, eles são presos por acompanharem um desfile, mas conseguem sair da cadeia com a ajuda do advogado George (Jack Nicholson), este se junta a eles na viagem de motocicleta. George é um playboy que rejeita as normas e os padrões impostos por sua família e pela sociedade, vem dele boa parte do discurso ideológico do filme.
Sem Destino foi fruto de uma parceria despretensiosa entre Hopper e Fonda, o projeto independente foi levado em frente mesmo com descrença até dos amigos mais próximos da dupla. O elenco era constituído apenas por novatos e por amadores e eles não tinha um roteiro pronto, a trama foi sendo escrita à medida que as filmagens eram feitas. Sem estúdios, a estrada foi o principal cenário. Convenções, como não filmar contra a luz do sol e não deixar em que reflexos expludam na imagem capturada, foram subvertidas. Seria uma das primeiras vezes que o cinema americano teria anti-heróis como protagonistas, primeira vez também que um nu feminino seria mostrado sem nenhum pudor. Sem Destino inauguraria o conceito de Road Movie e o cinema americano nunca mais seria o mesmo, as portas já estavam abertas para Coppola, Spielberg, Scorsese e outros realizadores que dariam continuidade à transformação iniciada.
Talvez a maior revolução que o filme tenha feito no cinema dos Estados Unidos, seja a abertura para obras nas quais os produtores não eram tidos como os responsáveis pela criação, eram os ecos da Nouvelle Vague Francesa e do Néorrealismo Italiano chegando à Hollywood, como uma semente do cinema autoral. A valorização da direção e das atuações compensariam os baixos gastos com a parte técnica e tornaria o cinema mais realista e menos pomposo e glamouroso. Por falar em atuações, as de Sem Destino são excelentes, Dennis Hopper, Peter Fonda é Jack Nicholson estão formidáveis em seus papéis. A grandiosidade da obra é completada pela ótima trilha sonora, que inclui alguns dos maiores ícones da contra-cultura dos anos 60, como Jimi Hendrix, The Band e The Byrds. A clássica Born to be Wild do Steppenwolf se tornaria o hino de uma geração e seria entoada até hoje nos encontros de motociclistas mundo afora. O filme se tornaria então um ícone da contracultura e do movimento hippie, um verdadeiro clássico que merece, e muito, ser assistido!
Sem Destino foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro e Ator Coadjuvante. Em Cannes o filme ganhou o prêmio de Melhor Diretor Estreante, tendo sido também um dos indicados à Palma de Ouro.
vi esse filme no primeiro ano da faculdad, achei bastant interessant, ainda mais por fazer jus a td oq estavamos estudando no momento,mas nao gostei do final '-' .
ResponderExcluirgrande beijo e uma otima semana!!!
http://cabecafeminina.blogspot.com