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sábado, 9 de julho de 2011

Educação

Educação (An Education) - 2009. Dirigido por Lone Scherfig. Escrito por Nick Hornby, baseado no livro de memórias de Lynn Barber. Direção de Fotografia de John de Borman. Música Original de Paul Englishby. Produzido por Amanda Posey e Finola Dwyer. BBC Films / UK|USA.

 

Lembro de um episódio que aconteceu quando eu estava no primeiro ano do ensino médio, aquele fora o primeiro ano em que tivemos aula de filosofia e boa parte parte da turma, que sonhava com os vestibulares parcelados, se questionava sobre a importância de estudar aquela matéria, que o professor lecionava sem muita empolgação. De fato as aulas iam se tornando cada vez mais chatas, até que um grupo de alunos foi reclamar na direção: “Por que, enquanto os alunos de escolas particulares faziam testes simulados e se preparavam exclusivamente para o vestibular, nós temos que perder tempo estudando filosofia?” A diretora da escola veio até a nossa sala e tentou explicar a postura do colégio com mil justificativas, dentre elas a de que a função da escola não era preparar os alunos, tão somente para um vestibular, o objetivo seria a preparação para a vida. O tempo passou e a filosofia pela qual eu viria a me apaixonar seria bem diferente daquela aprendida nos tempos de escola, porém a certeza, de que a preparação para a vida vale mais que qualquer vestibular, só se fez confirmar. 

Lembrei este acontecimento, que já estava quase apagado de minha memória, ao assistir Educação (2009). Este belíssimo filme de Lone Scherfig tem a sua trama construída sobre as diferenças que existem entre a educação institucionalizada e o aprendizado oferecido pelo mundo, este adquirido pela experiência. A história, inspirada em fatos reais, foi baseada no livro de memórias da jornalista britânica Lynn Barber, ela era uma adolescente no início dos anos 60, cujo principal objetivo era ingressar na Universidade de Oxford, mas seus planos mudam completamente quando ela passa a vislumbrar o conhecimento oferecido pela vivência, como algo mais importante e verdadeiro que as teorias estudadas no colégio conservador.

 

No filme, a protagonista Jenny Millar (Carey Mulligan), inspirada em Barber, é uma garota de 16 anos, inteligente e detentora de uma aguçada sensibilidade artística, ela é uma das melhores alunas de sua classe, o que justifica o fato de seus pais e sua professora apostarem muito em seu futuro. No entanto uma reviravolta começa a acontecer em sua vida quando ela conhece o sedutor David Goldman (Peter Sarsgaard). David conquista Jenny com sua lábia e com seu estilo de vida extravagante, fazendo a rever suas prioridades e experimentar uma passagem forçada da adolescência para a vida adulta. As experiências que ela começa a viver com ele, que incluem eventos culturais e viagens, são a materialização de tudo aquilo que ela sempre sonhou. Ele leva um vida burguesa de luxo e consumismo, e seu status social convencem até mesmo Marjorie (Cara Seymour) e Jack (Alfred Molina), os rigorosos pais de Jenny.

 

Percebe-se deste o início, que a angulação dada à história parte do ponto de vista da garota, o que chega a nos passar uma falsa ideia, no inicio do filme, de que os fatos relatados foram idealizados demais e que os personagens são demasiadamente maniqueístas, mero engano provocado pelo olhar. O filme vai se desenvolvendo aos poucos e da mesma forma vamos conhecendo melhor os interesses e os intuítos de cada um dos personagens. O olhar de Jenny, que nos cunduz durante o filme, é dotado de inocência e inconsequencia, mas mesmo assim ele consegue nos oferecer uma perspicaz abordagem dos fatos e da época em que eles acontecem, a posição da menina é similar à de uma sonhadora que sem questionar demais se deixa ser conduzida pelo fluxo dos acontecimentos que se atropelam de uma hora para outra em sua vida.


Não há dúvidas de que seria um pecado enorme revelar aqui qualquer coisa sobre o desfecho e a resolução do conflito criado na trama, mas independente da escolha feita por Jenny, sobre qual o melhor modelo de educação a ser seguido, eu, imerso nas reflexões que o filme despertaram, cheguei à conclusão de que o mal da educação institucionalizada é o fato de ela ser construída apenas como um trampolim para determinados objetivos (no caso do filme, ingressar em Oxford) e não como uma preparação para a vida e para para leituras diferenciadas da realidade, que possibilitem a intervenção do indivíduo em sua própria história. Por outro lado, a educação oferecida pelo mundo pode ser muito mais cruel e as experiências que trazem consigo amadurecimento e sabedoria, também podem trazes dores e sofrimento.


A diretora Lone Scherfig fez parte do movmento cinematográfico que ficou conhecido como Dogma 95, que surgiu na Dinamarca e teve como principais representantes Lars von Trier e Thomas Vinterberg. O Dogma 95 propunha um cinema mais realista e menos comercial. Lone, em entrevista à Folha de S. Paulo, disse que levou um pouco da influência desta escola para o filme Educação, segundo ela “Há um pouco de Dogma aqui e ali. Um pouquinho de improvisação, mas bem de leve, acho que essa sensibilidade e essa inocência, além do fato de o filme não ser escorregadio ou superproduzido, é uma honestidade com a qual eu fico feliz. E acho que tem a ver com Dogma." Creio que posso afirmar que o currículo da diretora contou muito para que o filme atingisse seu objetivo, sem se perder em moralismos e melodramas, que aqui seriam dispensáveis. 


Carey Mulligan, Alfred Molina e Peter Sarsgaard fazem bonito em seus respectivos papéis e no elenco secundário também tem boas atuações, que conseguem dar mair força e realidade ao ótimo roteiro. A reconstrução cenográfica de época também foi muito bem sucedida, o que fica perceptível pelos figurinos, cenários e direção de arte. A trilha sonora, que fugiu ao lugar comum e aos clichês daquela década, também merece ser destacada. Educação não é um longa que eu consideraria “imperdível”, mas é um filme belo e inteligente que vale a pena ser visto e que com certeza não irá decepcionar os cinéfilos que curtem boas histórias, amparadas por grandes atuações e uma parte técnica quase impecável. Recomendo!


Educação foi indicado aos Oscars de Melhor Filme, Atriz (Carey Mulligan) e Roteiro Adaptado.

Assistam ao trailer de Educação no You Tube, clique AQUI !


2 comentários:

  1. Antigamente não era assim, mas hoje são poucas as escolas que nos preparam para a vida e não para uma única prova que faremos no final de nosso ano escolar.

    E é essa a maior lição que acredito que o filme tente passar.

    O exemplo de suas aulas de filosofia tem tudo a ver. Gostei.

    Abs.

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  2. Bru,
    Realmente, o filme nos brinda com a tal preparação para vida de um jeito previsível e lírico.
    Gosto deste filme que tem um 'Q' de sensualidade e ternura.
    bjs

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