Um Método Perigoso (A Dangerous Method) - 2011. Dirigido por David Cronenberg. Escrito por Christopher Hampton, baseado no livro de John Kerr. Música Original de Howard Shore. Direção de Fotografia de Peter Suschitzky. Produzido por Jeremy Thomas. Recorded Picture Company (RPC), Lago Film, Elbe Film e Talking Cure Productions / UK | Alemanha | Canada | Suiça.
Um Método Perigoso (2011) foi a primeira obra que assisti (confesso) da filmografia de David Cronenberg e esta primeira impressão foi um tanto negativa... O filme torna mesquinho e enfadonho o seu propósito megalomaníaco de abordar o surgimento da psicanálise e os atritos entre seus dois maiores percursores, Sigmund Freud e Carl Jung, o resultado disso é em diversos pontos simplesmente vergonhoso. O longa tropeça em praticamente todos os riscos que correm as cinebiografias e adaptações. O mais evidente dos problemas é a falta de ritmo e de uma linguagem própria. O roteirista e dramaturgo Christopher Hampton, que tem no currículo obras elogiáveis como Ligações Perigosas (1988) e Desejo e Reparação (2007) demonstra aqui uma notável falta de habilidade em fazer a transição da linguagem teatral (ele já tinha adaptado o livro para os palcos) para a cinematográfica, o que chega a ser estranho tendo-se em vista sua extensa carreira. Os personagens são todos excessivamente caricatos e seus diálogos parecem ter tido a complexidade amenizada para facilitar assim o entendimento do público médio. Tal conjunto de erros torna o filme cansativo e facilmente esquecível.
O ponta pé inicial da história contada pelo filme é a internação da jovem Sabina Spielrein (Keira Knigthley), que sofre de histeria, em um manicômio, lá ela é submetida a um método tido como inovador, uma terapia baseada apenas na conversação, quem ministra o tratamento é o jovem psiquiatra Carl Jung (Michael Fassbender). Ele não deixa de nutrir uma espécie de fascínio pela condição da moça, que apesar de estar mentalmente perturbada, se mostra cordial e inteligente. Sabina é quem servirá de ponte para o desenvolvimento da relação de amizade e colaboração entre Jung e Sigmund Freud (Viggo Mortensen), este havia lançado com suas pesquisas as bases do tratamento que estava sendo colocado em prática em Sabina. Freud passa a ver em Jung uma espécie de discipulo, alguém capaz de dar continuidade às suas ideias e colaborar com o difícil processo de aceitação da psicoterapia por parte da comunidade médica da época.
O tratamento de Sabina se mostra muito bem sucedido, as crises histéricas dela diminuem e ela aprende a lidar melhor com seus fantasmas, a recuperação lhe permite ingressar na faculdade de medicina e desta forma seguir alguns dos caminhos percorridos pelo seu psicoterapeuta... Os conflitos dramáticos de Um Método Perigoso começam a ser delineados quando a relação entre Jung e Freud se torna conflituosa, pela discordância de seus respectivos pensamentos e teorias, enquanto a de Jung com Sabina se torna perigosamente próxima, pela atração que começa a surgir entre eles, situação que leva o médico a contundentes dilemas éticos, que envolvem seu casamento e sua carreira... O mote é plausível e sem dúvidas poderia ter rendido um resultado bem melhor, no entanto não é o que acontece, toda a complexidade e profundidade que a trama poderia ter tido se perde frente a personagens mal estruturados, diálogos superficiais e situações irrelevantes.
Eu que antes do filme estava preocupado de me perder durante a explanação de temas com os quais não tenho tanta familiaridade, acabei me decepcionando, afinal não tem como se perder diante de algo tão reducionista e mastigado. De inteligente as conversações entre os personagens não têm nada, para quem conhece um mínimo do pensamento de Jung e Freeud, aquilo que o filme mostra não é nem um feijão com arroz... Me pergunto qual teria sido o público alvo que esta produção se propoz a alcançar, uma vez que leigos sobre o assunto, provavelmente ficarão indiferentes e os já iniciados perceberão a canastrice daquilo que lhes é mostrado. Talvez o tempo se encarregue de torná-lo obrigatório, mas apenas como atividade em planos de ensino e em grades acadêmicas de faculdades de psicologia de quinta categoria, talvez não por acaso a história pareça ter sido escritas por professores de tais tipos de instituição...
A bela Keira Knigthley parece ter se perdido em uma atuação que lhe exigiu algo que aparentemente está além da suas atuais capacidades, seu esforço é visível, porém ele se torna irrisório, uma vez que ela parece não ter encontrado a verdade de sua personagem, atuando apenas de forma mecânica sem experimentar aquilo que ela de fato estaria sentindo. Fassbender e Mortensen estão bem, mas seus personagens não ajudam, o Freud do filme, por exemplo, parece estar constantemente posando para uma de suas fotos mais famosas (estereotipação maior impossível), o que se pode notar não só pela pose, que é quase uma constante, mas também pela expressão facial, pelo figurino e pelo charuto entre os dedos... A atuação mais plausível do filme, na qual ainda pode ser percebido um “q” de verdade, é a de Vincent Cassel, que interpreta Otto Gross, um psicoterapeuta controverso que se coloca, seguindo a orientação de Freud, na condição de paciente de Jung...
Um Método Perigoso é um ótimo exemplo de algo sobre o qual tenho falado já há algum tempo, que a cinebiografia como gênero constitui um dos piores aspectos do cinema contemporâneo. Com raras exceções, o que se pretendo com elas é aproveitar o renome das personalidades biografadas como uma espécie de garantia de atenção do público e da crítica. A minha constatação é a de que a obra de Cronenberg não é uma exceção (por mais que ela tente sê-la), ela é um triste exemplo da citada regra. Todos os outros prováveis propósitos do filme são postos a perder e o que sobra é apenas a pretensão de explorar os conceitos e a mitificação criada em torno biografados. Pois é, faltou destreza e habilidade para evitar os tropeços, que já são previamente anunciados nestes casos... Recomendo o filme apenas para um daqueles dias em que realmente não se tem nada melhor para fazer, caso contrário, não perca seu tempo!
Um Método Perigoso estreou no Festival de Veneza, onde concorreu ao Leão de Ouro. Ele ainda recebeu uma indicação ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Viggo Mortensen).
Esta resenha não traz revelação da trama que não estejam já presentes na sinopse,
no trailer do filme ou nos fatos históricos que o inspiraram.
Ola meu caro,
ResponderExcluirJá estava preparando o caderninho para anotar uma possível sugestão de filme para o meu sabadão, mas como disse que o filme é por vezes cansativo, que a complexidade das personagens foi minimizada para melhor entendimento do público em geral e para não perder meu tempo se tiver algo melhor para fazer, então seguirei seu conselho...
Abraços Flávio.
--> Blog Telinha Critica <--
Olá Flavio,
ExcluirTem uma boa leva de filmes maravilhosos sendo lançados em DVD e já disponíveis para download na rede (olha a desobediência civil ai), sendo assim, reafirmo o que disse na resenha: não perca tempo com "Um Método Perigoso"!
Forte abraço amigo!
Uma pena que um filme não seja tudo aquilo que imaginava após ler o seu texto. Bom, de qualquer forma eu preciso conferir. A filmografia do Cronenberg é replete de ótimos e bons filmes, alguns excelentes como "A Mosca", não nego que é o meu favorito por gostar muito de filmes B de monstros trágicos!
ResponderExcluirViggo fez com ele os excelentes Senhores do Crime e Marcas Da Violência.
"Scanners" é outra pérola...enfim confesso que fiquei cabisbaixo ao ler sua crítica.
Abração.
A minha opinião não é uma unanimidade, outros críticos o adoraram enquanto outros tiveram uma opinião bem mais negativa que a minha... Eu na verdade achei uma pena que um mote tão bom rendeu um roteiro tão medíocre e reducionista...
ExcluirGostei dos teus comentários. Assistirei em breve!
ResponderExcluirJá estou curioso para saber sua opinião sobre ele Marcel!
ExcluirOi Bruno
ResponderExcluirQue pena que vc não indica esse filme, eu provavelmente assistiria, porque tem a ver comigo, vc tá ligado né? Também, como não é filme hollywdiano provavelmente nem passará aqui na minha cidade. Como sempre uma ótima crítica de cinema.
Bjão.
http://ashistoriasdeumabipolar.blogspot.com
Obrigada Luciana! Ah, creio que em breve você o encontrará nas locadoras!
ExcluirOi Bruno,
ResponderExcluirBom dia! Tinha uma ideia diferente desse filme e entendia que além de conceitos referentes a psicanalise, contemplaríamos no filme os detalhes individuais de interpretações e um bom roteiro. Concordo que com essa descrição, o filme ficará relegado aos planos de curso de Psicologia.
Bom domingo! Beijos.
Pois é Luciana, acho isso uma pena, como já disse acima, o roteiro conseguiu prejudicar um mote que tinha a possibilidade de gerar ótimos resultados...
ExcluirNossa!! Que auto critica... falou tão bem, tão bem, que não me deu vontade de ver o filme. Um dos filmes que mais me decepcionou e que todo mundoooo descorda de mim é o Cisne Negro, filme chato e melancolico, personagem fraca e louca, mas tá na moda os vilões.
ResponderExcluirDepois vou ver se alugo pra dar uma olhada!! Talvez vc não gostou mas eu goste!! Bjs
Acho que nem vou te contar que me identifiquei muito com o drama vivido pela personagem de "Cisne Negro", principalmente no tocante à autocobrança de perfeição e a pressão do meio, que valoriza resultados e não os esforços... Acho que a melancolia é um dos melhores aspectos do filme... ah, escrevi a resenha dele quando o assisti no cinema, confira depois aqui no blog...
ExcluirHmm, interessante análise sobre o filme. Por mais que você detone ele, ainda estou ansioso para conferir, pela equipe envolvida no projeto. Já está pertinho de estrear no Brasil, aí eu vou poder ver e avaliar melhor!
ResponderExcluirPois é Julio, acho que no fim das contas, acho que eu fui um dos únicos dentre meus amigos e contatos mais próximos que não foi convencido pelo roteiro do filme. Mas não tem jeito, ele simplesmente não funcionou comigo...
ExcluirOutro grande momento de Cronenberg.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Vou ter que discordar de ti Antonio...
ExcluirOlá,Bruno.Eu ainda não assisti o filme,e não tenho interesse em assistir,pois não sou muito fã desse gênero.
ResponderExcluirÓtima crítica!
Eu até gosto do gênero, o meu problema foi com roteiro e com a criação de cada um dos personagens... Fico imensamente feliz que você tenha gostado!
ExcluirDe produções cinematográficas com sucesso na disciplina de psicologia. Pessoalmente esta questão e hipnose são dois que eu adoro ver em produções deste tipo. Eu trago série O Hipnotizador, onde se pode ver a história de um homem enigamtico, revelando segredos e memórias inimagináveis foram esquecidos por esta prática. O que eu recomendo iguais.
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