Vidas em Jogo (The Game) - 1997. Dirigido por David Fincher. Escrito por John D. Brancato e Michael Ferris. Música Original de Howard Shore. Direção de Fotografia de Harris Savides. Produzido por Ceán Chaffin e Steve Golin. Polygram Filmed Entertainment / USA.
Tire de um homem a ilusão de segurança que seu dinheiro e seu poder podem lhe oferecer e toda sua vida se transformará da noite para o dia; esta é a premissa que sustenta o roteiro de Vidas em Jogo (1997), filme que está cronologicamente situado entre duas das obra primas que ajudaram a consolidar o estilo e a marca autoral do cineasta David Fincher, a saber Se7en (1995) e Clube da Luta (1999). Falar sobre este filme não é uma tarefa fácil, uma vez que a menor revelação sobre seu roteiro pode estragar por completo e efeito dele sobre nós espectadores. Sua trama é similar a um carrinho de montanha russa, que após chegar ao cume, despenca em uma sequência enlouquecedora de loopings e reviravoltas, a partir das quais os trilhos parecem desaparecer deixando-nos totalmente à mercê, sem qualquer amenização que possa reavivar em nós a ilusão de estar seguro, que fora então perdida.
No epicentro da trama está o banqueiro Nicholas Van Orton (Michael Douglas), um homem solitário, arrogante e seco, que está completando 48 anos. O peso que o envelhecimento imputa sobre si é acentuado pelo fato de que nesta mesma idade o seu pai se jogou do telhado da mansão pertencente à família, a mesma onde ele continua morando. A chegada de seu aniversário o leva uma série de reflexões acerca de sua própria vida, ele começa então a se questionar o quanto estaria se tornado parecido com o pai suicida. A solidão e a melancolia o oprimem, contudo ele mantém a postura inflexível diante de seus empregados e subordinados. Nicholas continua confiante naquilo que suas posses e posição podem lhe dar, contudo um telefonema de seu irmão caçula, Conrad Van Orton (Sean Penn), a ovelha negra da família, anuncia a aproximação do topo da montanha russa e a queda que se seguirá...
A marca autoral de David Fincher está presente em toda a história, é perceptível a crítica que ele faz à alienação afetiva autoimposta por pessoas como o personagem central, que perderam completamente a noção do valor das coisas... Esta angulação que o roteiro dá ao filme pode ser interpretada como uma espécie de embrião da temática explorada em Clube da Luta, adaptação que o cineasta levaria às telas dois anos mais tarde. O que Vidas em Jogo propõe, ao nos induzir à uma reflexão a respeito da inércia de nossas próprias vidas, é uma desconstrução de todas as concepções que temos nós mesmos, ao fazer isso ele deixa algumas questão no ar: O que seria de nós se não fosse cada uma das coisas às quais nos amparamos em nossa busca pela realização e pela felicidade? Sem elas estaríamos condenados ao sofrimento ou isso acabaria abrindo os nossos olhos, possibilitando-nos descobrir assim o que fato é importante e essencial para nós?
Vidas em Jogo tem ótimas sequências de ação, contudo é o suspense angustiante de sua trama que o torna um filme imperdível e digno de ser colocado entre as obras primas de seu realizador. Com uma habilidade tamanha Fincher expande a tensão progressivamente, enquanto que o personagem principal é conduzido para aquele tipo de cenário tão característico de seus filmes, o submundo. A excelente fotografia dirigida pelo premiado Howard Shore ajuda a compor tal ambientação, à medida que a história avança, os cenários vão sendo tomados pelas sombras, que se tornam uma alegoria perfeita do estado psicológico do personagem... Algumas situações do filme (que obviamente não pretendo descrever) chegam a parecer absurdas, mas ainda assim elas acabam funcionam bem, não diminuindo em nada a grandiosidade da obra como um todo. Michael Douglas e Sean Penn estão ótimos, em atuações competentes e precisas; Douglas apoiado pelo elenco secundário, que também é bom, não deixa a peteca cair em nenhum momento.
Injustamente, Vidas em Jogo parece ter se tornado uma obra esquecida e deslocada na filmografia de David Fincher, um fenômeno estranho dada a sua excelente qualidade. Curiosamente ele demorou quase dois anos (isso mesmo, dois anos) para estrear nos cinemas nacionais e mais um bom tempo para ser lançado em DVD e hoje ele está praticamente esquecido por boa parte do público (a dificuldade de achar fotos dele na rede é uma clara evidência disso). Se você ainda não o viu, saiba que está perdendo um excelente filme, que certamente lhe impactará com seu suspense e suas reviravoltas. Ao assisti-lo tente não prestar atenção tão somente nas cenas de ação ou no drama do personagem principal, procure enxergar também as críticas sociais e as reflexões propostas pelo seu roteiro, pois são elas que o tornam digno de ser chamado de um verdadeiro filme de Fincher, um de seus melhores na minha opinião! Ultra recomendado!
Confiram também aqui no Sublime Irrealidade as críticas de A Rede Social e de Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres, também dirigidos por David Fincher!
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra,
portanto não devem ser consideradas spoilers!
Do Michael Douglas eu gosto do "Um Dia de Fúria"
ResponderExcluirAcho que esse filme é quase que unanimidade. Mas pra dizer a verdade, não gosto muito dele e dos filmes que ele faz. Admito que algumas vezes são bons filmes, mas não simpatizo com ele.
Abração
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Site Oficial: JimCarbonera.com
Rascunhos: PalavraVadia.blogspot.com
Eu também não sou um grande fã dele Jim, mas reconheço que em "Vidas em Jogo" ele está ótimo!
ExcluirAbração!
Gosto muito do trabalho do Michael Douglas e acredito que esse filme seja bom só pela sinopse e critica, mas eu particularmente ainda não vi, mas tô querendo ver!
ResponderExcluirNão deixe de assisti-lo Alysson, é um filmaço!
ExcluirAs reviravoltas da trama são o melhor do filme, que como você bem escreveu, é um trabalho de Fincher pouco lembrado.
ResponderExcluirAbraço
É uma injustiça o fato de ele ter caído no ostracismo!
ExcluirVi esse filme no cinema. Faz tempo. Mas lembro que gostei muito. Um verdadeiro quebra-cabeças.
ResponderExcluirGrande abraço,
O Falcão Maltês
É sim Antonio, deve ter sido uma experiência e tanto assisti-lo no cinema...
ExcluirOi Bruno,
ResponderExcluirTudo bem? Não vi esse filme, mas gosto demais de Fincher. Essa reviravolta tão bem colocada por vc na sua crítica a partir da inercia que nos cerca, me fez refletir na minha crônica de hoje em que sinto esse falta de si e o olhar distante.
Beijos e parabéns pelo sucesso do seu blogue que considero muito em todos aspectos que concerne a um crítica original
Obrigado Luciana!
ExcluirAh, não deixe de assistir o filme, sua temática tem tudo a ver com o tema da sua crônica!
Da filmografia do Fincher, eu gostei mesmo foi do clube da luta. Mesmo com aquela polêmica, do cara que atirou no cinema ( A noticia foi usada em marketing para DVD do filme)o filme é surpreendente e mostra a apatia da sociedade atual. Acho que em vidas em jogo, ele segue o mesmo estilo. vi o trailer, e agora que li sua postagem , vou procurar para assistir. Hoje é aniversario do Tarantino né ?
ResponderExcluirAbraço moderador querido !
Obrigado pela força !
Dá para se fazer um paralelo e tanto sobre "Vidas em Jogo" e "Clube da Luta", no fundo estão falando sobre a mesma coisa...
ExcluirBoa noite, José Bruno.
ResponderExcluirVi esse filme uns 10 anos atrás na Globo, eu acho, e achei simplesmente ótimo.
Michael Douglas vive um milionário que aos poucos se tornou um alienado, e o que ocorre no filme o muda radicalmente.
Filme obrigatório.
Abraço, José Bruno.
Olá Jacques, ele é ótimo mesmo!
ExcluirSobre a história, é mais ou menos como eu disse, tire de um homem sua ilusão de segurança e ele se transforma!
Eu simplesmente sou apaixonado pelos filmes do Fincher, ele tem um olhar mais obscuro sobre a humanidade, mas, ainda assim, é cuidadoso em explorar também o que há de mais interessante dentro dessa sociedade tão estranha. Enfim, é um diretor que tem um estilo próprio e leva sua visão bem contundente. Esse aí é uma obra magnífica, um filme, como dito, bem subestimado e desconhecido. Pouca gente indica e valoriza, uma pena. Acredite, sou mais esse que CLUBE DA LUTA, por exemplo. Sean Penn numa boa participação, mas Michael Douglas aqui é menos chato e convence demais. Gosto muito da obra! Deu vontade de rever. abs
ResponderExcluirEu não o considero superior ao "Clube da Luta", apesar de ser uma das melhores obras de Fincher, mas compartilho sua opinião sobre os filmes e o estilo de cineasta!
ExcluirOi Bruno
ResponderExcluirComo eu disse na Blogosfera, esse filme é ótimo, eu sou suspeita, pque eu eu acho o Michael Douglas e o Sean Penn o máximo, e a história é muito bem tramada, vc pensa que....., não vou contar, o final é surpreendente.
Bjão e uma ótima semana.
http://ashistoriasdeumabipolar.blogspot.com.br/
Realmente surpreendente Luciana!
ExcluirGente.. não lembro de ter visto este filme!!!
ResponderExcluirSerá que deixei passar?
Adicionando em minha lista dos "por ver"
;D
Já nos primeiros minutos de duração do filme eu já tive a noção do erro que foi não tê-lo assistido antes! Não perca tempo Karla, assista logo!!!
ExcluirEu não assisti esse filme, aliás... já tem algum tempo que não consigo assistir um bom filme, e passar por aqui sempre me deixa com "água na boca" rsrs...
ResponderExcluirQueria aproveitar pra dizer que indiquei seu blog pra responder um meme lá no Apenas Palavras. Se não quiser ou puder participar, não tem problema, viu? Não sinta-se obrigado, fique a vontade.
http://palavrasdevalquiria.blogspot.com.br/2012/03/meme-das-onze-coisas.html
Beijos, meu querido Bruninho. Fica com Deus.
Olá Valquíria,
ExcluirMe sinto honrado por você ter me escolhido para responder o meme, eu tenho lido as entrevistas dos outros colegas que já responderam e estou achando muito legal... mas prefiro não fazê-lo aqui, se eu tivesse um outro blog que fosse mais pessoal, mais sobre mim, eu com certeza o faria...
Ah, não deixe de ver este filme, tenho certeza de que você vai gostar!
Beijão linda!
Assisti esse filme há muiiiiito tempo! Nem lembrava... aliás,confesso que não lembro muita coisa dele.
ResponderExcluirEi, como andam as coisas por aí? Tenho sentido sua falta no facebook... :/ Espero que esteja tudo bem!
bjks
Tirando a correria e o estresse, está tudo bem sim Joicy, brigado pela preocupação, este fim de semana eu aproveitei para colocar bastante coisa em dia, pouco a pouco eu estou voltando ao meu ritmo normal e interação!
ExcluirBeijão!
Esse é um dos poucos Fincher que não vi. Aparentemente, estou perdendo um grande filme, certo?! Michael Douglas é também sensacional. Vou atrás de Vidas em Jogo, com certeza. Fincher, afinal, é Fincher.
ResponderExcluirAssista logo Júlio!
ExcluirÉ um filmaço, eu tenho certeza de que você vai gostar!
Esse filme é vazio e só se sustenta pelo suspense. Mas o pior de tudo é falta de verossimilhança. Como sabiam que ele iria atirar no irmão? E depois de atirar, como sabiam que ele se jogaria do edifício? Não faz sentido algum. E como que se faz um trote e arrisca a vida da pessoa daquela forma, jogando o cara no mar dentro de um carro?
ResponderExcluirTive o privilégio de ver esse filme no cinema. Sensacional.
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