A Árvore da Vida (The Tree of Life) - 2011. Escrito e dirigido por Terrence Malick. Direção de Fotografia de Emmanuel Lubezki. Música Original de Alexandre Desplat. Produzido por Brad Pitt, Grant Hill, Sarah Green e Dede Gardner. Brace Cove Productions, Cottonwood Pictures, Plan B Entertainment e River Road Entertainment / USA.
“Os homens ensinaram que a vida segue dois caminhos, o caminho da natureza e o caminho da graça. Você tem que escolher qual dos dois irá seguir. A graça não atende a indulgências, atende ao desprezo, esquecimento, indiferença... aceita insultos e golpes. A natureza busca somente a sua satisfação e não a satisfação dos outros.”
A graça e a natureza... Passei os últimos tempos imerso em profundas questões acerca do porquê de algumas situações que eu estava vivendo, confesso que não sei lidar bem com o sofrimento, tenho dificuldade de compreender e aceitar coisas que são inerentes à nossa existência. Diante de tais situações me rendi à uma das questões mais antigas da humanidade: “se Deus é amor, por que então ele permite o sofrimento?”. Foi justamente neste período que me deparei com um passagem bíblica, que me incomodou durante meses, ela está no livro de Jó e diz “Porque ele faz a chaga, e ele mesmo a liga; ele fere, e as suas mãos curam”. Demorou para que eu chegasse perto de uma compreensão acerca de tudo isso e tal discernimento só potencializou o efeito que A Árvore da Vida (2011) exerceu sobre mim.
A reflexão que Terrence Malick propõe com esta película, resguardada as devidas proporções, é semelhante à esta que forçadamente experimentei. Fica evidente que o livro de Jó foi uma das principais fontes de inspiração para a construção da trama, que alegoriza de forma magistral o relacionamento entre o homem e Deus. Através de narrações e conduções de fluxo de pensamentos em off, personagens questionam suas próprias condições e a existência de um criador capaz de os ama-los e de os perdoar apesar de seus defeitos. A pequenez do ser humano diante da grandiosidade do universo é usada, assim como na história de Jó, para ilustrar o quão insignificante seria um indivíduo, diante de tudo que existe. Malick recorre a uma citação do livro bíblico para abrir o filme. Na passagem “Onde estavas quando eu lançava os fundamentos da terra”, é como se Deus, do alto de sua onipotência, colocasse Jó em seu devido lugar no universo, afinal quem era ele para questionar o angustiante silencio de seu criador.
O mais belo do filme, é a distinção que ele faz em sua trama entre a natureza e a graça. A natureza seria a condição original humana, que torna cada indivíduo egoísta e indiferente às questões alheias, já a graça seria uma espécie de completa doação, de total entrega ao outro, é a graça que definiria a relação entre Deus e os homens. Mas se Deus é gracioso, voltamos então à questão original, porque há sofrimento? A relação familiar dos O`Brien tenta nos guiar até a resposta, ou então à outras inúmeras questões envoltas no assunto. A Senhora O`Brien (Jessica Chastain), que alguns apontam como uma personificação da graça, é uma mãe cuidadosa e permissiva, ela zela pelo lar e se dedica, em total entrega, ao marido e à família. O Senhor O´Brien (Brad Pitt), diferente dela, é mais rigoroso, chegando a ser autoritário em alguns momentos, de acordo com a interpretação comum ele seria a personificação da natureza. Eu no entanto vejo de forma diferente, acredito que o casal seria na verdade a personificação de dois aspectos da natureza divina, de um lado o amor incondicional, cheio de aconchego, e de outro a disciplina, que apesar de sua dureza, seria guiada também pelo amor e pela graça.
No epicentro da história estão Jack (Hunter McCracken na infância), R.L. (Laramie Eppler) e Steve (Tye Sheridan), os filhos dos O`Brien, eles levam uma vida normal, semelhante a de qualquer outra criança fruto de uma família americana de classe média alta nos anos 50, eles passam o dia entre a escola e as brincadeiras no jardim e nas redondezas da enorme casa onde moram. Jack, o primogênito, passa a se sentir desprezado desde o nascimento do segundo filho do casal, mesmo sendo ainda muito pequeno, ele sente ciúmes do irmão e desenvolve um comportamento violento e arredio, o que seria ao meu ver a verdadeira personificação da natureza no filme. A trama reencontra Jack (Sean Penn na vida adulta) 50 anos mais tarde, ele se tornou um arquiteto bem sucedido, mas nunca superou a morte prematura de um dos irmãos. É o plantio de uma árvore no pátio do suntuoso prédio onde trabalha que o leva a mergulhar em reminiscências de sua infância.
A Árvore da Vida percorre um espaço de tempo ainda maior que o coberto por 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968) de Stanley Kubrick, sua trama volta na criação do universo, mostrada à luz da teoria darwinista da evolução, para ao final chegar no que seria uma espécie de fim do mundo. O filme é todo preenchido com belíssimas imagens, captadas com uma sensibilidade estonteante, cada fotograma é simplesmente perfeito no tocante à fotografia e consegue provocar mais efeitos do que um diálogo normalmente poderia induzir. Nós espectadores somos conduzidos à uma viagem de sensações, sentimentos e filosofia, a qual eu não encontro nenhum similar á altura na história do cinema. Mas o filme não é apenas uma sequência de belas imagens, como alguns reducionistas taxaram, ele possui uma trilha sonora simplesmente maravilhosa e as atuações são poderosíssimas, Hunter McCracken merecia, na minha opinião, ao menos uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, sua entrega ao personagem é impressionante.
Terrence Malick conseguiu realizar um filme que simplesmente beira a perfeição, ele é arte e filosofia da primeira á última sequência. A maestria do diretor fez com que o risco de que o filme se tornassem um panfletário religioso fosse definitivamente eliminado. Ao assistir ao filme percebe-se que em nenhum momento ele estará tentando “vender” uma determinada verdade, acerca dos temas que aborda, ele se torna desta forma similar a um livro de filosofia, cujo o interesse é mais provocar a reflexão acerca de determinado assunto do que apontar respostas definitivas. Para mim, assistir A Árvore da Vida foi uma experiência única e maravilhosa, que tentarei repetir em pouco tempo, antes que ela comece a se apagar de minha mente, no entanto não sei se posso indicar o filme para todos sem restrições. Apesar de não ser um filme de tão difícil compreensão, ele será melhor apreciado por aqueles que já estiverem familiarizados com o tipo de questionamento por ele levantado, creio que isso explique o porquê de ter ocorrido uma evasão maciça do público no meio da projeção, em diversas salas onde o filme foi exibido. Recomendo para aqueles que tenham sensibilidade o suficiente para apreciar uma verdadeira obra de arte!
A Árvore da Vida ganhou a Palma de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cannes.
também escrito e dirigido por Terrence Malick.
Vi duas vezes seguidas. Fiquei comovido. Um dos melhores filmes do ano.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Bruno, otimo texto rapaz, anda vendo tantos filmes qt eu...hehehe...assisti esse no cinema e foi uma experiencia unica. Gostei muito e assim como o amigo Antonio tb fiquei emocionado, esse não é um filme para qq um, lembro q algumas pessoas sairam da sala no meio da exibição e uma senhora fez um escandalo com um dos funcionarios do cinema dizendo q não tinha pago para ver globo reporter....kkkk....essa foi a melhor. Pena de quem não deu chance para essa obra-prima, desde seu lançamento um dos melhores do ano. Grande Abraço!
ResponderExcluirPois é Celo, comecei a mostrar algumas cenas do filme para um amigo e a namorada dele, quando olhei para o lado ele já estava cochilando... não se passaram nem 5 minutos. Para mim, ele foi bombástico, acho que não vou esquece-lo tão cedo, é do tipo de filme que não se esgota após a exibição, a reflexão que ele nos propõe, acredito, me acompanhará pois dias...
ResponderExcluirCoincido contigo en que la película nos hace reflexionar acerca de Dios y de la vida misma que llevamos. Como dice Antonio, una de las mejores películas del año.
ResponderExcluirQuando fui rever este filme, pegando ele na locadora de umas amigas, me perguntaram... e aí, o que vc acha do filme?
ResponderExcluirRespondi para elas, a pergunta seria para quem recomendar o filme. Eu, como você, amei cada detalhe da reflexão filosófica, religiosa, existencialista, psicológica feita aqui. Mas, sei que muitos não gostam da ideia de partir do princípio para no fim não se ter uma conclusão simples.
Seu texto exprime muito bem o filme...
Para mim, que me vi retratada no estado de graça, o melhor do ano!
;D
Esse filme foi muito "crucificado" injustamente! Belíssimo! Infelizmente a maioria das pessoas não conseguiram apreender sua essência! Pelas bandas de cá, os cinemas lotaram, acredito que por causa dos artistas famosos que participaram do filme, mas ao saírem das salas, grande parte das pessoas se mostraram decepcionadas! Algumas saíram xingando... verdade verdadeiríssima!
ResponderExcluirBjks http://jlmilinha.blogspot.com/
Olá, gostei muito da sua visitinha lá no blog, espero que volte mais vezes.
ResponderExcluirO "poema" na verdade, não é. Entende? Eu fiz daquele jeito, justamente pra conseguir rimar, mas minha internet caiu e eu não consegui terminar. (e lá está eu rimando mais uma vez.) haha Mas então, como eu estava dizendo, justamente por causa das rimas, eu achei que ficou meio clichê. Mas como eu me considero diferente dos demais, às vezes o clichê me atrai, tenho uma quedinha por ele sabe como? haha
Mas olha, de verdade, obrigada dela dica. É o que eu sempre digo, críticas construtivas, serão sempre muito bem-vindas.
A propósito, gostei bastante do seu cantinho e com certeza voltarei mais vezes. Parabéns!
Volte sempre que quiser, será muito bem 'recebido' por lá!
:)
eu acho que esse filme é para ser degustado com tempo.....há que se ver mais de uma vez para digerir tudo o que ele oferece.
ResponderExcluirna minha interpretação é um filme que fala de amor,de família,de deus...
Jessica Chastain me impressionou bastante, e confesso que chorei diversas vezes na sala de cinema diante da grandeza daquelas cenas aparentemente tão sem sentido.
Ainda não decifrei o filme por completo,e essa é minha meta...mas de qqr forma,recomendo fortemente!
bjks
Essa experiência que o Malick propoz em A Árvore da Vida e que o Trier conduziu em Melancolia , é uma verdadeira jornada introspectiva - que realmente traz inúmeros questionamentos sobre nossa existência. Parabéns pelo ótimo texto.Abs. Flavio
ResponderExcluirOlha eu aqui de novo... hahahahahha, olho gordo naããããããããoooo! Kkkkk... Sabe dee uma coisa, acho que todos nós vivemos momentos felizes... é como escrevi no comentário acima, para o Manfio e os demais amigos. Desejo que vc tenha tudo que busca. Bjks :)
ResponderExcluirse quiser entre http://aquelejeitoc.blogspot.com/ se gostar comenta*
ResponderExcluirgostei mto bjs*
O roteiro do filme é maravilhoso, e não vi o filme ainda, mas vou conferir e tentar baixar na net para assistir, ótima dica Bruno.
ResponderExcluirAbração pra ti.
Vou te confessar; ainda não vi este filme, apesar de ter muita curiosidade. Por mais que as produções sejam bem feitas, eu tenho um certo receio ao assistir filmes atuais. São poucos os que me comovem. Mas agora, depois de ler o seu texto, não vou mais perder tempo!
ResponderExcluirAmei a resenha...mais um filme que não vi ainda. Mais adoro o Brad. hehe Saudades de suas visitas :/ Beijão ! www.spiderwebs.tk
ResponderExcluirUm ótimo texto para um excelente filme. Para contribuir na discussão, segue o link: http://bauderesenhas.wordpress.com/2011/11/16/a-arvore-da-vida/
ResponderExcluirSImplesmente magnífico, sensível, tão profundo que tem o dom de tocar na vida da gente e nós levar à uma reflexão sobre a vida, sobre Deus e tudo que envolve o verdadeiro sentido do amor incondicional de uma mãe e toda os complexos afetivos familiares.
ResponderExcluirÉ tão rico e complexo que sempre que vejo aprendo algo novo.
SImplesmente magnífico, sensível, tão profundo que tem o dom de tocar na vida da gente e nós levar à uma reflexão sobre a vida, sobre Deus e tudo que envolve o verdadeiro sentido do amor incondicional de uma mãe e toda os complexos afetivos familiares.
ResponderExcluirÉ tão rico e complexo que sempre que vejo aprendo algo novo.