Submarine - 2011. Dirigido por Richard Ayoade. Escrito por Richard Ayoade, baseado no romance de Joe Dunthorne. Direção de Fotografia de Erik Wilson. Música Original de Alex Turner e Andrew Hewitt. Produzido por Ben Stiller, Marj Herbert, Andy Stebbing e Mary Burke. Film4, Wales Creative IP Fund, Warp Films e Red Hour Films / UK | USA.
Fui convencido a assistir Submarine (2010), mais pela trilha sonora, que tem canções do Alex Turner, vocalista e guitarrista do Artic Monkeys e do The Last Shandow Puppets, do que por qualquer outra coisa. Não sabia sequer a sinopse do filme, quando um amigo me convidou para assisti-lo. Sem nenhum exagero, este filme foi uma das melhores coisas que poderia ter me acontecido naquela noite fria de ontem. De uma forma assustadoramente perfeita, o filme parecia estar em sintonia com meu estado de espírito e o resultado disso eu simplesmente não consigo explicar, só posso garantir que foi muito bom. O filme, apesar de não trazer nada de novo ou de tão excepcional, consegue ser cativante e tocar algo de sensível que temos dentro de nós e nos deixar com a alma à flor da pele e uma gostosa sensação ao final da exibição.
Certamente não é um filme que agradará a todos, mas é uma grande pedida para quem está com os olhares atentos à produção atual do cinema indie. Os atrativos são os mesmos presentes em outros filmes similares como Ghost Word (2001) e A Pequena Miss Sunshine (2006), e incluem personagens caricatos, dotados tanto de vícios quanto de virtudes, histórias não convencionais e uma pequena dose de experimentalismos. Creio que a maior vantagem deste tipo de filme seja a de que eles já nascem desprovidos da pretensão de agradar a todo mundo, o que dá maior liberdade de criação aos seus realizadores e ao elenco. De fato a despretensão é um dos trunfos de Submarine, que se apresenta como nada mais que um filme sobre descobertas e desventuras da adolescência, mas que consegue ir muito além de tudo isso, não pelos temas em que toca, mas pela forma com que os aborda.
Submarine é contado pela perspectiva de Oliver Tate (Craig Roberts), um garoto que está vivendo uma ebulição de sentimentos e sensações, típicos de sua faixa etária, ele tem poucos amigos na escola e sofre com o bulling por ser considerado diferente. Ele está apaixonado por Jordana Bevan (Yasmin Paige), uma menina tão estranha quanto ele, em suas palavras ela seria “uma garota moderadamente impopular, cujo único problema são os eczemas de pele”. A vida pode não está tão fácil para Oliver na escola, mas é em casa que ele se vê na obrigação de enfrentar problemas bem maiores. Seu pai, Lloyd Tate (Noah Taylor) se tornou depressivo e não percebe que seu casamento está preste a acabar, a mãe Jill (Sally Hawkins) tenta dissimular sua própria angústia e o fracasso de sua vida familiar a empurra para um relacionamento extraconjugal com Graham (Paddy Considine), um guru new age que se mudará para a vizinhança.
Oliver consegue conquistar Jordana, à princípio ela se aproxima dele apenas para se vingar de um ex-namorado que a traíra, mas com o tempo ela passa a admirá-lo, mesmo que dificilmente reconheça isso. Eles conseguem desenvolver um cumplicidade raramente vista, o que chega a incomodar os outros garotos da escola, que não acreditam em relacionamentos duradouros. O conflito que norteia a trama surge quando Oliver descobre que terá que escolher entre dar atenção para sua namorada, que tem problemas até mais graves que os dele, ou se dedicar a salvar o casamento dos pais, que dado o estado em que se encontra parece uma missão quase impossível. Os problemas se multiplicam principalmente porque Oliver são se abre, nem com Jordana, nem com seus pais, nem com mais ninguém.
A forma com que o roteiro brinca com as situações partindo da visão do personagem é a melhor sacada do filme, situações complexas como o perdão, a depressão e a perda não se tornam leves de uma hora para outra, mas ao menos se tornam mais fáceis de serem encaradas quando vistas pelo olhar de um adolescente cheio de criatividade e curiosidade. Em uma das sequências mais legais do filme, Oliver tenta imaginar como a notícia de sua morte repercutiria em meio aos seus colegas de escola, em outra cena ele enumera motivos que o possam impedir de desistir de sua própria vida, não passa de uma brincadeira, mas é no contexto da história uma clara evidência da forma com que o lar conturbado influencia na vida dele. As dores, os medos e incertezas que Oliver enfrenta o tornam muito mais que mero personagem de um romance adolescente, ele, Jordana e todos os outros personagens secundários são dotados de uma profundidade que vai muito além de suas falas, estando visível em suas atitudes, olhares e expressões.
As atuações de Craig e Yasmin merecem destaque à parte, apesar de jovens eles estão muito bem e apresentam desempenhos acima da média, em cada cena basta olhar para seus rostos para saber o que existe no mais profundo de seus personagens, tal fenômeno também ocorre cada vez que Noah e Sally entram em cena, mas no caso deles isso não é nenhuma novidade. A fotografia e as locações conferem ao filme um visual muito bonito e a direção de arte é impecável. Curioso, mas tal como o amigo com quem assisti ao filme comentou, Submarine parece atemporal, pois em nenhum momento fica claro em que época ele passa, pois apesar do visual retro que remete aos anos 60 ou 70, objetos e situações indicam que se trata de uma época mais próxima da atual, eu prefiro acreditar que isso foi proposital... A trilha sonora, como eu já esperava, é fantástica e cada uma das seis canções compostas por Alex Turner são belíssimas e casam perfeitamente com as cenas nas quais são encaixadas. Submarine é sem dúvidas uma ótima pedida. Recomendo!
Excelente sua resenha, J. Bruno.
ResponderExcluirVocê escreve de uma forma leve e descontraída, o que ajuda o leitor a se interessar pelo filme, mesmo que não o conheça.
Gosto de filmes com personagens deslocados, como esse, e, desde que não sejam dramas exagerados, acho que filmes como este valem a pena.
Eu desconhecia completamente este filme, mas fiquei curioso.
A Joicy me indicou o excelente Filmow, que estou aprendendo a usar e me parece ser uma ótima ferramenta para se fazer amigos.
Valeu pela visita ao Relativa Seriedade e um bom final de semana pra você.
MUITO BOA ESSA SINOPSE. REALMENTE VAI VALER A PENA ASSISTIR O FILME. ABRAÇOS.
ResponderExcluirbruno, link indicado nos melhores da semana. http://blogsdecinemaclassico.blogspot.com/2011/11/links-da-semana-de-14-2011.html
ResponderExcluirabraço
Sabe que não conferi ainda este filme...
ResponderExcluirMas, pelos elementos e comparações.. acho que sou do grupo das pessoas que se agradam!
;D
Eu assisti o filme, e faço minha as palavras do autor do texto, descreveu perfeitamente o filme. É o tipo de filme q não traz nada de "novo ou de tão excepcional" mas é um filme muito cativante, a trilha sonora, além d ser linda no estilo indie, se encaixa perfeitamente com o filme.
ResponderExcluirConcordo
ExcluirConcordo em muitos pensamentos seus.
ResponderExcluirE acredito que essa habitualidade da direção de arte,em não explicar a época que a história passa, é feita no intuito de mostrar que todos os sentimentos, irracionalidades e enigmas da adolescência são atemporais. Tanto na década de 60/70, quando no século XXI os jovens passam pelas mesmas descobertas, com algumas diferenças, é claro.
Você conseguiu transmitir e descrever o filme de uma forma tocante e genial :) vim do futuro pra dizer que o que eu li foi perfeito! Filme maravilhoso :)
ResponderExcluirVOCÊ DESCREVEU O QUE EU NãO CONSEGUI. SENTI MINHA ALMA A FLOR DA PELE. A MENINA COM AQUELE JEITO MISTERIOSO E A TROCA DE OLHARES ENTRE O CASAL, AS LOUCURAS DE POR FOGO EM TUDO.O ESPIRITO DA ADOLESCÊNCIA E DA DESCOBERTA, FOTOGRAFIA E TRILHA SONORA TUDO FASCINANTE.
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