Sherlock - 2010. Dirigido por Paul McGuigan. Escrito por Steven Moffat, Mark Gatiss e Steve Thompson. Direção de Fotografia de Steve Lawes e Fabian Wagner. Música Original de Michael Price e David Arnold. Produzido por Eric Watson. BBC / UK.
Ele continua arrogante, egocêntrico e perfeccionista, porém o contexto de
suas histórias foi trazido do século XIX para os dias de hoje.
Sherlock Holmes, criado por Sir Arthur Conan Doyle, é sem dúvidas um dos personagens literários mais lembrados e cultuados em todo o mundo. Suas aventuras já foram adaptados diversas vezes para a televisão e para o cinema (são mais de 200 filmes). Para lembrar apenas os mais recentes, podemos citar a adaptação cinematográfica Sherlock Holmes (2009), na qual Robert Downey Jr interpreta o personagem principal, e o seriado House, que pode ser considerado uma livre adaptação da obra escrita. No ano passado, quando qualquer possibilidade de criatividade em torno do personagem parecia já estar esgotada e a ousadia de renová-lo parecia improvável, a BBC estreou a minissérie Sherlock (2010), produção que transportou Holmes e seu fiel escudeiro, o Dr. John Watson, para os dias atuais e os inseriu em um contexto que surpreendentemente não os descaracterizou nem tão pouco caiu no ridículo, como era bem provável de acontecer.
O Sherlock interpretado por Benedict Cumberbatch mais parece um jovem saído de uma banda de Indie Rock, o visual retro com estilo blasé contrasta com os cabelos desgrenhados e acentua a estranheza daquela figura que dificilmente consegue se relacionar com pessoas “normais”. Ele conserva a astúcia e perícia do personagem original, é incrivelmente inteligente e possui uma alta capacidade de dedução, o que deixa todos à sua volta boquiabertos. Tal como nos livros, ele cultiva o gosto pela música clássica e ainda toca violino. Porém algumas mudanças sutis podem ser percebidas no enredo e no personagem, que seriam decorrentes da influência da época atual, na qual a série foi produzida. Por exemplo: Nos escritos de Conan Doyle, o investigador era viciado em cocaína, droga liberada na Inglaterra do século XIX, na minissérie ele é dependente apenas dos adesivos de nicotina, que compensam a falta do tabaco, que ele abandonara recentemente. Outra “adaptação” diz respeito à personalidade de um dos inimigos de Sherlock, revelada no último capítulo da temporada.
Na série, tal como nas histórias que a originaram, Sherlock se vale de todo aparato tecnológico que tem à sua disposição, mas se na época em que os livros foram escritos a análise de impressões digitais era o que se tinha de mais avançado, hoje se tem muito mais, no entanto a tecnologia à qual ele recorre não possui nada de tão extravagante ou tão avançado, são apenas mensagens de celulares, GPSs, internet e quem diria, a televisão. Outro personagem que sofreu a inevitável influência da época do politicamente correto foi Watson (Martin Freeman), ele é o primeiro personagem a aparecer no primeiro capítulo da produção e, pasmem, o cenário é o da guerra no Iraque. Após ser ferido em combate, o jovem médico do pelotão volta para Londres, onde começa a procurar emprego e um lugar para morar, através de uma indicação ele chega até Sherlock, com quem começa a dividir o lendário apartamento localizado na rua Baker Street 221 B.
Watson fica impressionado com a capacidade de dedução do novo colega e seu interesse por ele só se faz aumentar quando começa a acompanha-lo em suas investigações. Geralmente Sherlock entra em cena quando a Scotland Yard não consegue resolver alguns casos, ele tem seus contatos na polícia e estes recorrem a ele quando se vêm diante de situações estranhas e complexas. Ele não cobra nada pelos serviços prestados, pois de alguma forma, o prazer de ver o caso resolvido compensa toda sua dedicação e esforço. Além do incrível poder de dedução, existe outro fator que torna Sherlock apto a mergulhar fundo nas situações que investiga, ele conhece o tipo de mente que se esconde por trás da maioria dos crimes e a explicação para isso é simples: Ele é um sociopata, um desajustado que possui o mesmo tipo de mente fria e calculista.
A primeira temporada teve apenas três capítulos, cada um deles com uma hora e meia de duração, o que justifica a classificação de minissérie, mesmo que esta tenha sido apenas a primeira temporada. Curiosamente eu só fui me dar conta de que cada episódio tinha mais de uma hora, quando estava assistindo à segunda parte. Sherlock possui um ritmo frenético que não permite que você desgrude os olhos da TV, se trata de suspense e mistério da melhor qualidade. A fotografia, os figurinos e a direção de arte são primorosos e compõem o belíssimo visual da série. Londres é quase uma personagem e as cenas filmadas ao ar livre são um atrativo á parte. Cumberbatch e Freeman estão muito bem em seus respectivos personagens. Sherlock pode deixar a parcela mais radical dos fãs dos escritos de Conan Doyle com uma pulga atrás da orelha, afinal se trata de uma releitura, mas posso garantir uma coisa, a minissérie vale a pena e talvez seja uma das melhores produções já feitas sobre Holmes. Se recomendo? Elementar meus caros leitores!
Você descreveu tão bem esta série que assistindo ao trailer fiquei com gostinho de quero mais.Achei interessante o visual do Sherlock,realmente é uma peça desajustada!Ficaria estranho ver um Sherlock CSI,portanto a BBC mandou muito bem em mantê-lo "básico".
ResponderExcluirAdorei!
Preciso vê-la, gosto dos personagens de Conan Doyle.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Seu texto descreve direitinho a minissérie (que agora é série, aparentemente). Ela é realmente muito bem feita. Só li um livro do detetive, mas eu achei os dois protagonistas muito bem caracterizados, Cumberbatch em especial, fez um Sherlock muito fiel. O seriados da BBC raramente desapontam.
ResponderExcluirMuito boa a resenha Zé Bruno!!! A Série é muito boa mesmo!!! ^^
ResponderExcluirPerfeita sua resenha, assim como é perfeita esse seriado. Deu uma releitura aos personagens de Doyle, sem perder a essência, como aquele filme podre do Robert D. Júnior e Jude Law, que deveria se chamar detetive bom de briga e não Sherlock Holmes. Mas, o Holmes é um personagem britânico não? Então não teria como os britânicos, sendo refinados, cultos e elegantes, não saberem fazer um bom seriado...
ResponderExcluirConcordo com você Lilli, a série é realmente bem superior ao filme, mesmo ao fazer uma transposição dos personagens para os dias atuais ela ainda consegue ser mais fiel à essência do livro de Doyle do que o longa...
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