Reino Animal (Animal Kingdom) - 2010. Escrito e dirigido por David Michôd. Direção de Fotografia de Adam Arkapaw. Música Original de Antony Partos. Produzido por Liz Watts. Screen Australia e Porchlight Films / Austrália.
Se eu precisasse resumir minha experiência de ter assistido Reino Animal (2010) em apenas uma palavra, eu escolheria “decepção”... O filme tem boas atuações? Sim! A direção é precisa? Sim! Ele tem bons momentos de tensão? Sim! A visão melancólica e negativista e um fator positivo? Sim! Mas então o que teria feito o filme passar bem longe da expectativa que eu então criara? Penso que seja em parte por causa do roteiro, que apresenta algumas falhas quase gritantes e em parte pela badalação criada em torna da atuação de Jacki Weaver, que convenhamos, apesar de ser muito boa, se perde em meio à falta de uma base consistente que possa sustentar seu personagem. O filme marca a estreia do diretor e roteirista David Michôd, que não faz feio na direção, no entanto no roteiro ele se deixa levar pelo aspecto mais marcante da história, deixando assim de aparar algumas arestas, o que denota a carência significativa de uma linguagem mais amadurecida.
No início deste ano, quando o filme estava concorrendo ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, os olhares de críticos e cinéfilos se voltaram para ele, e não faltaram comentários exaltados, como o de que este seria uma espécie de O Poderoso Chefão de saias ou o de que a antagonista do filme seria uma das personagens mais odiáveis dos últimos tempos, pela sua sagacidade e crueldade. Na minha humilde opinião, ambas afirmações são completamente infundadas, para defender meu posicionamento, preciso apresentar meu ponto de vista acerca da trama do filme. Mas antes de tecer qualquer comentário sobre a história contada no longa, preciso, para não correr o risco de ser injusto, lembrar que se trata de um filme, que apesar das falhas, merece algum crédito por ter se originado fora do circuíto Hollywoodiano e por ter conseguido significativo sucesso nos festivais em foi apresentado e até mesmo no mainstrean da sétima arte.
A trama é construída em torno de uma família que está completamente envolvida com a criminalidade em uma cidade australiana. Toda a história é contada partindo da perspectiva de Joshua “J” Cody (James Frecheville), um jovem de 17 anos. Na primeira sequência do filme, ele perde a mãe vítima de uma overdose de heroína, sem outra alternativa ele pede a ajuda da avó, Janine “Smurf” Cody (Jacki Weaver), que o leva para morar com ela e os 3 tios dele, Andrew “Pope” Cody (Ben Mendelsohn), Craig Cody (Sullivan Stapleton) e Darren Cody (Luke Ford). Todos eles são extremamente perigosos e estão envolvidos com o tráfico local, com assaltos e outros crimes. Apesar de estar em família, “J” não consegue se tranquilizar nem botar um pingo sequer de confiança na avó e nos tios. Desde que ele era pequeno, sua mãe tentou o manter afastado da família dela, mas por sua própria causa ele estava agora sob a tutela de seus parentes.
O filme quase consegue ser brilhante ao estabelecer uma analogia entre a situação enfrentada por “J” e a lei da sobrevivência no mundo animal. Ele precisa se amparar em alguém mais forte para se manter a salvo, no entanto ele não sabe ao certo de quem precisa se salvar, se é da polícia ou se é de sua própria família. A situação piora quando Barry 'Baz' Brown (Joel Edgerton), um assaltante amigo da família, é morto por policiais. Pope, o mais velho dos tios de “J” é covarde e doentio, combinação que o torna bem mais perigoso que seus irmãos, é ele quem arquiteta um plano para vingar a morte de Baz. Numa emboscada, ele e os irmãos matam dois policiais que faziam a ronda noturna. É neste momento que o detetive sargento Nathan Leckie (Guy Pearce) aparece em cena, ele é a antítese perfeita daquilo que a família Cody representa, ele é ético, preza pela justiça e consegue manter um bom relacionamento familiar apesar do estresse e da responsabilidade inerentes ao seu trabalho.
Vamos então ao meu ponto e vista: O filme não deixa claro a gravidade dos crimes cometidos pela família Cody, mas a impressão que fica no fim das contas é a de que eles não passavam de bandidos pequenos, vagabundos metidos em pequenos delitos e não uma rede criminosa organizada, que justificasse a comparação com O Poderoso Chefão ou a mobilização policial que vemos no filme. Se por outro lado, tais crimes fossem assim tão graves, por que então eles não tinham sido pegos antes. Em um dado momento “J” comenta que um de seus tios seria capaz de cortar a garganta de alguém para não ser pego durante um assalto, tudo indica que, mesmo sendo capaz, ele nunca tinha feito isso. Não parametrizar as ações da família/quadrilha é a falha mais evidente de Reino Animal, mas ela não é a única. “J” é muito inocente para quem conviveu em um ambiente hostil com uma mãe drogada, à ponto de presenciar a morte dela por overdose. Outra dúvida surge, se ela, a mãe dele, queria realmente protege-lo de sua família, por que então não o protegia de si mesma?
A matriarca Smurf não mete tanto medo assim e como eu já disse ela é um personagem que carece de fundamentos. É atribuída a ela uma inteligência que ela não aparenta ter e sua crueldade é mais uma consequência do cerco que se fecha contra ela do que uma característica inerente à sua personalidade. No tocante às atuações, considero a de Ben Mendelsohn, superior a de Jacki Weaver, ele tem uma expressão facial fantástica e, apesar de ser o mais franzino dos irmãos, ele consegue pelo olhar provar que é um sujeito perigoso, que precisa ser temido. Se Smurf é a leoa que rodeia o bando para o proteger dos ataques de inimigos, ele é o leão que descontrolado é capaz de sacrificar a própria família para se manter vivo e escapar das garras de seu predador. Este personagem inserido em um roteiro melhor escrito poderia ter rendido um filme infinitamente melhor... Reconheço que Reino Animal não é um filme ruim, muito pelo contrário, como já disse ele tem bons momentos, porém ele me decepcionou...
Reino Animal recebeu o Grande Prêmio do Jurí – World Cinema no Festival de Sundance, o maior festival de filmes independentes dos Estados Unidos. O filme ainda recebeu indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Jacki Weaver).
Ainda não assiti,mas senti que é um filme cheio de tensão ... essa ''mãe diabólica'' me chamou a atenção....Mais um que vai para minha lista.Vou assistir e dizer se me decepcionou ou não.De início,despertou minha curiosidade!
ResponderExcluirbeijo!
Eu ainda não assisti esse filme.Parabéns pelo blog!
ResponderExcluirNossa, mas você entende mesmo de filmes, hem!?
ResponderExcluirNão tenho esse conhecimento todo no que concerne à sétima arte... Contudo confesso que gostei muito de suas digressões sobre a obra em questão... Escreves muito bem!!!
Adorei vir aqui!!!
Tive a mesma sensação que você ao assistir. Mas com o tempo o filme foi crescendo na minha cabeça e comecei a dar valor à ele, acho hoje interessante e visceral. Quem sabe ocorra o mesmo você, né...
ResponderExcluirObrigado pela visita e pelos elogios Dilso, fico muito feliz que você tenha gostado!
ResponderExcluir.
Pois é Julio, não descarto esta possibilidade, isso já aconteceu comigo diversas vezes, só para citar um exemplo, lembro que odiei "Closer" quando o assisti pela primeira vez, hoje ele é um de meus filmes favoritos... mas não tenho como negar, que ao menos neste primeiro contato, o filme me decepcionou... Obrigado pela visita e pelo comentário, volte smepre!
Acho um bom trabalho, mas não perfeito como muitos apontaram. Eu não me decepcionei, mas esperava um filme bem mais visceral já que foi comparado com a obra-prima O PODEROSO CHEFÃO. Concordo muito com teu texto, ainda que você pareça ter detestado, rs. abs
ResponderExcluirDetestado? Não longe disso, o filme é massa, melhor do que muitos outros do gênero... Talvez se tivesse o assistido, sem nunca ter ouvido falar dele, minha reação fosse diferente...
ResponderExcluir"...não é um filme ruim, muito pelo contrário, como já disse ele tem bons momentos, porém ele me decepcionou..."
J. Bruno, eu ainda não assisti esse filme (nossa, minha lista está crescendo)... que raio de cinéfila estou me tornando!? Acho que nunca fiquei tanto tempo sem assistir filmes, como ando ultimamente. Mas, esse dano será reparado!
ResponderExcluirBom, voltando ao filme em questão... é pééééssimo qdo nossas expectativas ficam além do resultado, né!? Eu já passei por isso.
Vou conferir o filme para tirar minhas conclusões, pois sua resenha de deixou curiosa para assistí-lo, apesar de sua "aparente" decepção!
bjs JoicySorciere - Blog Umas e outras...
Oi J. Bruno, tô igual minha amiga Joicy, pra nós que somos professoras o fim de ano é bem apertado, mas, esse filme com certeza vai entrar pra minha lista de quero ver, vc me deixou bem curiosa. Depois te falo se gostei...Adoro o Blog e estarei sempre por aqui. Bjo!
ResponderExcluirExpectativas atrapalham meu caro Bruno.
ResponderExcluirBom, ainda não conferi este filme e fiquei intrigado com sua decepção. Só me resta assistir.
Abs.
Ainda não assisti esse, mas vem sendo bem comentado. Vou anotar para dar uma conferida, seu texto me aguçou a curiosidade. Abs!
ResponderExcluir