Os Infiltrados (The Departed) - 2006. Dirigido por Martin Scorsese. Escrito por Willian Monahan, baseado no roteiro original de Siu Fai Mak e Felix Chong. Direção de Fotografia de Michael Ballhaus. Música Original de Howard Shore. Produzido por Graham King, Brad Pitt e Martin Scorsese. Warner Bros. Pictures / USA | Hong Kong.
Toda vez que me deparo com a notícia de que estão produzindo mais um remake de alguma obra de sucesso, a minha primeira reação é a desconfiança. Geralmente o erro cometido nessas situações é tentar melhorar obras às quais o tempo tornou intocáveis e impossíveis de serem melhoradas. Não tenho curiosidade nenhuma de assistir, por exemplo, ao remake de Oldboy (2003) e com certeza passarei longe da produção que tentará recontar a história de Akira (1987), um dos clássicos da animação japonesa. Porém, em algumas situações, os nomes envolvidos tornam o projeto digno de ao menos uma conferida. Não assisti Conflitos Internos (2002), o longa produzido em Hong Kong que teria dado origem o roteiro de Os Infiltrados (2006) e para ser sincero, quando assisti à esta refilmagem hollywoodiana no cinema, no início de 2007, eu nem tinha ideia de que se tratava de um remake.
Ao menos em Os Infiltrados o peso negativo de ser um remake não desfavoreceu em nada e o segredo pode estar naquilo que já mencionei no parágrafo acima: os nomes envolvidos. De um lado, por detrás das câmeras, temos ninguém menos que Martin Scorsese, que conforme reza a lenda só veio a assistir a versão original depois que seu filme já estava pronto. Não é exagero nenhum afirmar que Scorsese tem no currículo algumas das maiores obras primas do cinema americano na segunda metade do século XX, também não é exagero dizer que ele praticamente reinventou o jeito de fazer filmes de gangster. De outro lado temos um elenco composto por nomes como Leonardo DiCaprio, Matt Damon, Jack Nicholson, Mark Wahlberg, Martin Sheen e Alec Baldwin. Resumindo, são alguns dos mais respeitados atores em atividade sob a batuta de um dos mestres que ajudou a reinventar o cinema hollywoodiano, isto só poderia mesmo resultar em um enorme sucesso de público e de crítica e em uma boa quantidade de prêmios.
Ultra violência, tensão constante e paranoia permeando histórias sobre ganância, debilidade, glória e fracasso, estes têm sido temas recorrentes nos filmes de Scorsese. Os Infiltrados é a perfeita dosagem desta fórmula que transformou o cineasta em uma verdadeira lenda, cada um dos elementos mencionados estão presentes na trama se completando em uma perfeita harmonia, tal como em uma ópera trágica, que expõe seus personagens como peças em um tabuleiro de xadrez, para a partir daí criar uma expressão artística bela e ao mesmo tempo seca e indigesta. Em uma análise mais ampla, pode-se dizer que Os Infiltrados é um filme sobre estratégia, sai na frente quem tem a melhor tática, é assim na realidade violenta dos subúrbios de Boston, que o longa retrata com um realismo contundente. De um lado está a máfia, composta por homens sanguinários, capazes de qualquer coisa para manter o domínio que conquistaram, do lado oposto está a polícia, que tenta equilibrar justiça e corrupção, sendo tão sanguinária quanto aqueles a quem combate.
Na trama, Colin Sullivan (Matt Damon) foi adotado ainda criança por Frank Costello (Jack Nicholson), este um dos chefões da máfia irlandesa em Boston. Frank cuida da família e da educação do garoto com um único propósito, o de que ele se torne um oficial da polícia e passe, depois de então, a atuar como um espião da máfia no departamento. Billy Costigan (Leonardo DiCaprio) se forma na academia de militares no mesmo período que Colin, mas ao contrário deste, tudo indica que ele não terá uma ascensão rápida, nem conquistará facilmente o respeito dos colegas. Os parentes do lado paterno de Billy têm um extenso histórico criminal e ele durante boa parte da adolescência precisou conviver tanto com banda boa, quanto com a ruim de sua família, ele chegava a simular uma personalidade diferente a cada vez que ia passar o fim de semana no subúrbio, na casa do pai. Sua habilidade de transitar em meio a mafiosos e bandidos menores faz de Billy o homem certo para atuar como um infiltrado da polícia no meio dos criminosos, é isto o que lhe é proposto pelo chefe de polícia Oliver Queenan (Martin Sheen) e pelo sarcástico sargento Dignam (Mark Wahlberg).
Para que o plano esteja acima de qualquer suspeitas, Billy é condenado e preso por agressão, depois de algum tempo ele retorna às ruas sem ter mais nenhum vínculo legal com a polícia. Billy usa a fama de seus familiares para conseguir o respeito de Frank Costello e entrar para sua gangue. É então que o jogo realmente começa. O contexto violento do meio empurra os peões em direção ao território inimigo, algumas peças poderão ser sacrificadas, pois por mais que se iludam, elas não passam de simples peões. O cerco começa a se apertar para os dois infiltrados, pois tanto no departamento de polícia, quando entre os bandidos, surge a suspeita de que algum traidor estaria colocando o adversário em posição vantajosa. Ambos não conseguem esconder a angústia que os toma, Colin até tenta dissimular mas está tão temeroso a aturdido quanto Billy. Ambos são tomados por reflexões forçadas acerca de questões relacionadas à ética, à lealdade e à justiça.
Scorsese dá uma verdadeira aula de cinema, mesmo em meio à explosão da violência pode-se perceber a indiscutível qualidade que ele confere à sua narrativa. Algumas sequências do filme parecem já ter nascido clássicas como a cena que se passa em um consultório de psiquiatria e aquela que encerra magistralmente o filme. Montagem e fotografia ajudam a compor o impacto visual que grande parte do filme nos provoca. A trilha sonora potencializa ainda mais o air clássico que o filme aparenta ter, Rolling Stones está presente, o que não é novidade em filmes do diretor. É sublime o forma com que as canções são usadas nas sequências mais violentas, o que nos leva a pensar que estamos diante de um espetáculo artístico e não de atos tão brutais.
O elenco está muito bem, Matt Damon reafirma mais uma vez sua competência para papéis que exigem muito. Jack Nicholson dá o show habitual que dispensa qualquer comentários. DiCaprio, cujo o estilo de atuação continua me lembrando demais o de Marlon Brando (preste atenção em uma cena que acontece no banco traseiro de um carro e me diga que ela não é uma referência a Sindicato de Ladrões), está excelente, a carga dramática que ele confere ao seus personagens é indescritível. Mark Wahlberg (com um penteado que só não consegue ser mais ridículo do que o de Javier Bardem em Onde os Fracos não Têm Vez) foi privilegiado ao ter a oportunidade de viver um ótimo personagem, mas a impressão que fica é a de que era o ator errado, mas isso não prejudica em nada ao filme. O restante do elenco possui atuações menos marcantes mas nem por isso menos louváveis. Os Infiltrados é, na minha opinião, um dos melhores filmes de Martin Scorsese e um dos mais importantes da década. Se você ainda não assistiu, o que está esperando? Ultra recomendado!
Os Infiltrados ganhou os Oscars de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição, tendo sido indicado também na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Mark Wahlberg). No Globo de Ouro o filme ganhou o prêmio de Melhor Diretor e foi indicado nas categorias de Melhor Filme de Drama, Melhor Ator de Drama (Leonardo DiCaprio), Melhor Ator Coadjuvante (Jack Nicholson e Mark Wahlberg) e Melhor Roteiro (William Monahan).
Confiram também aqui no Sublime Irrealidade a crítica de Cabo do Medo,
também dirigido por Martin Scorsese.
Olá José Bruno, como vai?
ResponderExcluirDos diretores atuais do cinema pré fabricado de Hollywood, Scorsese é um dos meus preferidos.
Ele consegue colocar tensão e expectativa em cada mínimo diálogo, surpreendendo o espectador.
Gostei muito desse filme e, de todos os ótimos atores dele, gostei mais do Jack Nicholson.
Também não vejo os remakes e os prequéis com bons olhos, mas é necessário se reconhecer quando eles ficam realmente magníficos.
Valeu.
Concordo com vc q Scorcese da uma verdadeira aula de cinema, mas sabe q tb curto a obra oriental q originou esse filme, CONFLITOS INTERNOS, conhece?
ResponderExcluirMuito bom tb! Otimo texto, teu blog ta entre os favoritos q to sempre visitando. Abração!
Tu me deixaste curioso em relação a esse filme. Vi que é um cinéfilo e isso é muito bom, pois é através do cinema que a essência humana de descortina!!!
ResponderExcluirAbraço!!!
Ainda não assisti o original Celo, ainda vou o procurar para comparar as versões... Dilso tente assistir ao filme sim, estou certo que você não se arrependerá, compartilho a sua opinião sobre o cinema, acredito em um cinema através do qual o indivíduo se recrie e recrie o mundo à sua volta de acordo com sua própria bagagem de vivência... isso pra mim é arte!
ResponderExcluirAssisti a conflitos internos e depois aos infiltrados,e comparando os dois filmes, vejo uma brilhante atuaçõa de Di caprio, porém um roteiro eximio na produção de Hong Kong....gostei mis da primeira versão...abraço.
ResponderExcluirFilmão sim, de fato. Mesmo sendo inferior aos outros tantos clássicos do Scorsese. Sabemos que os Oscars foram tardios, mas não deixa de ser agradável, já que é um bom filme mesmo e muito bem delineado - direção, interpretações, roteiro provocativo. Gosto muito do desempenho de DiCaprio aqui, está sensacional e deveria ter sido indicado ao Oscar. Nicholson assusta, monstro de atuação, impecável. Mas, eu ainda prefiro os clássicos do Scorsese - "Taxi Driver" e "Touro Indomável" me marcou. Ah, acho "Ilha do Medo" uma obra-prima dele, melhor interpretação de DiCaprio até agora e foi bem subestimado por muitos cinéfilos e nem apareceu no Oscar, um absurdo! Te aconselho a ver os filmes mais femininos do Scorsese, "Alice não mora mais aqui", filme que deu o oscar de atriz a Ellen Burstyn e, claro, "A Época da Inocência", belo trabalho com Daniel Day-Lewis, Michelle Pfeiffer e Winona Ryder.
ResponderExcluirAbraço, belo post!
Parabéns pelo blog. Jà estou seguindo. Segue o Gilberto Cinema também. www.gilbertocarlos-cinema.blogspot.com
ResponderExcluirAbraços
Eu acabei não assistindo ao original, my bad!
ResponderExcluirMas, gosto muito do que Scorsese fez aqui.. A carga dramática que está em todo o filme só dá força as cenas violentas, gerando uma contextualização perfeita... É um excelente filme!
Ótima pedida!
Olha, estou com um novo blog além do nascida em versos: http://dietacinematografica.blogspot.com/
Se puder dar uma conferida... Agradeço!
;D
Gosto muito desse filme. Não conheço o original. Qdo assisti, na época em que estava em cartaz, fiquei vidrada. O tempo simplesmente passa voando durante o filme. Há sequer um momento de descontentamento pela obra. Possui um elenco impecável que só enriqueceu ainda mais a trama e com Scorsese "regendo esse concerto" o resultado só poderia ser excelente. Gostei muito. Está entre meus preferidos, sem dúvida!!
ResponderExcluireu adorei os infiltrados. beijos, pedrita
ResponderExcluirÓtimo filme. Confesso que demorei um pouco a entender quem era quem no inicio do filme, mas depois que pega o fio da meada ai a coisa fica interessante. É emoção do início ao fim, muito bom a sensação de suspense em saber quem descobrirá quem é o infiltrado primeiro. Adorei.
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