Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo (Seeking a Friend for the End of the World) - 2012. Escrito e Dirigido por Lorene Scafaria. Direção de Fotografia de Tim Orr. Música Original de Jonathan Sadoff e Rob Simonsen. Produzido por Steve Golin, Joy Gorman, Steven M. Rales e Mark Roybal. Anonymous Content, Indian Paintbrush e Mandate Pictures / EUA | Singapura | Malásia | Indonésia.
Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo (2012) pode parecer à primeira vista um filme despretensioso, porém, apesar da forma leve com que sua trama se desenvolve, ele aborda uma temática que é conhecida de muitos: a solidão afetiva. Não é a primeira vez que um roteiro usa a ameaça fim do mundo como metáfora para a ausência de sentido na vida, Melancolia (2011) de Lars Von Trier fez isso de forma sublime, no entanto desta vez a construção de tal figura de linguagem se dá de uma forma sutil, quase imperceptível para os expectadores mais desatentos. Muitos o acusarão de ser apenas mais um drama superficial com pitadas de romance e comédia e a verdade é que ele não foge muito disso, no entanto seu roteiro é o seu grande diferencial. Ele é muito bem escrito e está repleto de situações que discursam, algumas de forma quase implícita, sobre a carência de afeto.
Na primeira sequência do filme, Dodge (Steve Carell), um vendedor de seguros de meia idade, escuta no rádio do carro a notícia de que a última missão que tentava impedir a colisão de um meteoro com a Terra falhara, o fim do mundo estava decretado e era, a partir de então, uma questão de dias até que toda a vida fosse dizimada. Logo após o final da transmissão a esposa de Dodge o abandona sozinho no carro e aquele era o fim de um casamento que durara quase dez anos. Ele então se vê diante de uma situação totalmente inesperada, o entendimento de que há uma contagem regressiva para o fim e de que a segurança de sua vida fora totalmente violada o deixa cada vez mais melancólico. Sua angústia aumenta à medida em que ele descobre que provavelmente estará sozinho no dia da colisão.
Alguns dias depois, Dodge se encontra de uma maneira bem inusitada com Penny (Keira Knightley), uma vizinha que ele ainda não conhecia. Ela é uma imigrante inglesa que também está angustiada, ela acabara de terminar mais um namoro e ainda perdera o último voo que poderia a levar para junto de seus pais, o que a faz se sentir solitária e desamparada. Ela lamenta ter passado tanto tempo longe de sua família por conta de relacionamentos que sequer foram relevantes. Dispensável dizer que, mesmo tendo personalidades bem diferentes, Dodge e Penny acabam se identificando um com o outro. Ambos buscam algo que possa dar um significado maior para suas vidas, mas eles sabem que o tempo é curto e que o afeto, do qual tanto carecem, pode ser difícil de ser encontrado em meio a tantas pessoas que se entregaram à busca pelo prazer carnal ou à uma ilusão de proteção.
O interessante no filme é perceber como o anúncio do fim do mundo impacta cada um dos personagens, mesmo os secundários. Alguns não sabem, ou fingem não saberem, de nada do que está acontecendo, outros se acabam em festas regadas a drogas e orgias, enquanto outros preferem antecipar o fim ou acreditar na ilusão de que um abrigo será o suficiente para salvá-los do final trágico. Dodge e Penny transitam em meio a estes personagens mas sempre mantendo um relativo distanciamento, o que mostra o quanto eles estão deslocados em relação aos demais. Juntos eles partem em busca daquilo que cada um acredita ser a fonte da razão que buscam para seus últimos dias de vida e esta busca transforma o longa em um tradicional roadie movie, daqueles nos quais os personagens e suas visões de mundo são transformados no decorrer da narrativa.
Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo ainda consegue nos encantar pela nostalgia e pela simplicidade que permeiam todo o seu desenvolvimento, estes elementos são os responsáveis pela leveza que lhe é característica e que o torna tão bom de ser assistido. Steve Carell e Keira Knightley não entregam desempenhos espetaculares, mas ambos estão bem e emprestam aos seus respectivos personagens uma carga dramática sem tantos exageros, que encaixa perfeitamente com a proposta do filme. É legal perceber como a química que há entre eles é construída aos poucos, sem pressa, o que é no fim das contas condizente com a forma com que a trama se desenrola. A trilha sonora, um dos aspectos responsáveis pelo tom nostálgico do filme, é muito boa e traz canções que reforçam a melancolia vivida pelos personagens e a insustentável leveza de suas vidas.
Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo talvez não mereça um lugar na lista dos melhores do ano, no entanto ele já conquistou um pequeno espaço em minha memória afetiva, principalmente por estar tão afinado com reflexões e sentimentos que tenho experimentado nos últimos tempos. Não é nem de longe uma obra-prima, mas é um filme que merece ser conferido, porém, sem expectativas exacerbadas. Recomendo!
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.
Fiquei louco para ver esse filme depois que o descobri ao fazer o post dos 12 filmes sobre o fim do mundo lá no meu blog (http://monteolimpoblog.blogspot.com.br/). Depois de ler seu texto, ai q fiquei doido p ver msm!
ResponderExcluirJ. Bruno, mais um belo comentário rapaz. Estou com esse filme aqui só aguardando ser assistido. Acho que será o próximo. esse tema do fim do mundo e o que nós faríamos se soubéssemos da finitude ali na esquina é sempre interessante.
ResponderExcluirUm grande abraço meu camarada. Meu blog tá voltando na área. O B-Cine.
www.b-cine-b-cine.blogspot.com
Em breve pretendo postar esse filme também.
Oi Cinéfilo,
ResponderExcluirTudo bem?
Um filme fofo.
Na simplicidade consegue mandar seu recado e com certeza tbm ficará em minha memória afetiva :)
Será, que o seriado da Globo teve inspiração neste filme? hehe.
besos
http://www.cinefilosunivos.blogspot.com.br
Gosto dos filmes de Steve Carell, apesar dele sempre fazer papel de bobo, mas esse eu ainda não vi.
ResponderExcluirEu até gosto do Steve Carell, mas este filme realmente não me convenceu, acho que grande parte da culpa vem pela atuação bem chatinha da Keira.
ResponderExcluirOlá, José Bruno.
ResponderExcluirDo Steve Carell eu só gosto de Pequena Miss Sunshine e Os Sem Floresta (onde ele faz a voz do esquilo Hemmy), mas fiquei interessado no tema deste filme, já que ele é comum a todo mundo.
Abraço.