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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O Garoto de Liverpool

O Garoto de Liverpool (Nowhere Boy) - 2009. Dirigido por Sam Taylor-Wood. Escrito por Matt Greenhalgh, baseado no livro de memórias de Julia Baird. Direção de Fotografia de Seamus McGarvey. Música Original de Alison Goldfrapp e Will Gregory. Produzido por Robert Bernstein, Kevin Loader e Douglas Rae. Ecosse Films, Film4, UK Film Council , Aver Media e North West Vision / UK |Canadá.


Cinebiografias, princiaplemente as de grandes artistas ou personalidades históricas, me deixam com uma pulga atrás da orelha. Afinal nunca sabemos que angulação será dada àquela história, que nós muitas vezes já conhecemos de antemão. Nestes casos o mais comum é criar-se uma idealização da(s) peronalidade(s) biografada(s), tal idealização tem a ver com o processo de criação ou de manutenção do mito. Uma obra que ousasse destruir um mito já consolidado correria o risco de não ser bem aceita por aquele que tende a ser o seu público mais entusiasta, os admirados daquela personalidade acerca da que o filme discorre. Esta situação se torna uma faca de dois gumes, afinal a simples manutenção do mito, anteriormente criado, não tem em si valor artístico algum e se o mito é desfeito de forma severa a obra pode se tornar alvo de acusações e consequente descrédito. Se tal situação já é por si só complicada, imagina então quando a personalidade de quem se pretende falar é ninguém menos que John Lennon, o homem que transcendeu todas as noções de mito. A diretora estreante Sam Taylor-Wood encarou este desabio e entregou uma das melhores cinebiografias dos últimos tempos.

O Garoto de Liverpool (2009) não tem a intenção de narrar a fase áurea do músico, alcançada após a beatlemania, nem tão pouco contar sua tragetória rumo ao sucesso. A verdade é que o nome Beatles nem é  sequer citado em nenhum momento do filme, afinal a trama deste se desenvolve é durante a conturbada adolescência de John Lennon (interpretado por Aaron Johnson), época em que ele ainda tinha pouco da personalidade contestadora e politizada que viria a adotar mais tarde. O roteiro, escrito por Matt Greenhalgh, o mesmo roteirista do excelente Control (2007), é baseado no livro de memórias de Julia Baird, meia de Lennon, que na ocasião ainda era uma criança. O foco narrativo do filme não é o lado artístico, nem o intelectual do futuro beatle e sim seu relacionamento instável com sua tia Mimi (Kristin Scott Thomas), e com sua mãe, Julia (Anne-Marie Duff).


John Lennon fora criado pelos tios, Mimi e George (David Threlfall), um típico casal da classe média inglesa. Ele mantém um bom relacionamento com o tio, que é permissivo e complacente com sua rebeldia juvenil, mas com a tia a situação é bem diferente, na relação entre eles os atritos ficam mais aparentes que o amor e o respeito, ela é fria e disciplinadora, o que o mantém constantemente distanciado dela. Com a morte repentina do tio, mostrada ainda no início do filme, surgem os dois conflitos em torno dos quais o trama será desenvolvida: O acirramento das desavenças entre John e Mime e o reaparecimento da mãe, que ele ainda não conhecia. Julia aparece no dia do enterro de George, ela observava a cerimônia de longe para não ser notada, ao vê-la o rapaz já tem a certeza de que se trata de mãe, em seguida ele descobre que ela não morava tão longe, o que facilitaria sua tentativa de aproximação, que ele faz contrariando a vontade da tia. O restabelecimento do relacionamento que nunca existiu se dá de forma tranquila, ele passa a idolatrar a mulher e ela aparenta querer recuperar todo o tempo que passou longe dele...


É a mãe quem apresenta o Rock´n´Roll para Lennon, ela lhe ensina os primeiros acorde no banjo e o verdadeiro significado do estilo, “sexo”, segundo ela. Ele abandona a escola e passa a se dedicar só aos ensaios tendo a própria mãe como mentora. Não demora muito e ele decide convidar alguns amigos da escola e montar a sua primeira banda, o The Quarrymen, que seria uma espécie de embrião dos Beatles. Em uma das apresentações do grupo John seria apresentado a um garoto franzino de apenas 15 anos, chamado Paul  (Thomas Brodie Sangster), este logo entraria para banda e formaria com Lennon uma das parcerias mais férteis e lendárias da história da música pop... Mas esta já é uma outra história.


A relação de John com a sua mãe a princípio parece ser um antagonismo de vivência dele com a tia, enquanto esta é rigorosa e controladora, a progenitora é libertária e inconsequente. A medida que a história avança, segredos vão sendo revelados e eles causam um impacto profundo na imagem que John tinha até então de sua mãe e de sua tia. O desenrolar da trama, nos mostra que os personagens não são tão estereotipados e unilaterais quanto o início do filme nos induz a crer, nenhum deles é tratado como vilão ou herói, nem mesmo Lennon e isto acaba sendo o maior trunfo do filme. O roteiro não desfaz o mito, contudo também não o alimenta, o John Lennon mostrado na fita é um garoto como qualquer outro de sua idade. Sua rebeldia juvenil, apesar de não ser sem causa, o torna de certa forma distante da imagem do artista nato e do militante pacifista que comumente associamos a ele. No filme ele não passa de um jovem em um duro processo de amadurecimento e de aprendizado, que ainda que forma indireta iria contribuir para a formação daquilo que ele viria a ser no futuro...


As atuações de Kristin Scott Thomas e Anne-Marie Duff são na verdade são o melhor aspecto do filme, ambas estão ótimas em seus respectivos papéis. Seus personagens, apesar de caricatos, são bem construídos e bem explorados na trama e o bom desempenho delas os dão uma dimensão ainda maior.  Aaron Johnson não faz feio, mas também não nos mostra nada de excepcional, seu personagem acaba sendo amparado pelo contexto dramático no qual está inserido. Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora é encantadora, rock`n`roll puro e da melhor qualidade! Os figurinos e a direção de arte também merecem destaque, eles ajudam a tornar o filme ainda mais belo. Os fãs mais xiitas de Lennon podem não gostar da forma com que o ídolo foi representado no filme, contudo acredito que os outros certamente terão a mesma impressão positiva que eu tive. O Garoto de Liverpool não é uma obra prima, mas é sem dúvidas um grande filme, capaz de encantar representantes dos mais diversos públicos... Recomendo sem restrições!


Assistam ao trailer de O Garoto de Liverpool no You Tube, clique AQUI !


29 comentários:

  1. Olá Brunão tudo bem?

    Rapaz você fez aqui mais uma grande crítica sobre um filme normal! Você é mestre nisso. Consegue enxergar coisas que nós não conseguimos. Parabens!

    Pra falar a verdade eu não gosto muito do Lenon, acho que ele foi o maior culpado junto com a Yoko pelo final da banda, e ouvi entrevistas do George falando que ele não gostava de dar espaço para que este incluísse suas músicas nos dscos da banda. Também acho que as melhores canções dos Beatles foram compostas na sua maioria só pelo Paul, mas inegavelmente a gente sabe que o Lenon tinha um talento enorme.

    Valeu pela leitura e pela crítica muito bem elaborada Brunão, você é craque nisso!

    Eu tinha a curiosidade de ver uma crítica sua sobre filmes B ou trash, aqueles filmes muito ruins mas que acabam divertindo. Pense nisso!

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    1. Eu sou do contra André rsrsrssr
      Acho que os Beatles acabou na hora certa, lembro de um artigo maravilhoso que li há um tempo atrás, se não me engano em alguma das edições passadas da Revista Piauí, que falava sobre os últimos anos de Lennon, a conclusão que o articulista (que era biográfo de Lennon) chegou foi a de que ele, quando optou pela separação da banda, queria uma única coisa: vida familiar tranquila, neste período ele já não tava mais tão ativo em sua militância política o que comprova tal teoria... ninguém pode culpá-lo por querer isso...

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  2. Achei muito interessante sua visão sobre o filme. Vc expressa muito bem coisas que muitas vezes não percebemos. Parabéns!

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  3. achei esse filme bem legal, até superou um pouco da minha expectativa, pois normalmente filmes biograficos tende a deixar um pouco a desejar.John não é meu Beatle favorito, mas a vida dele sempre me causou curiosidade, acompanho em revistas e sites a história dele e tudo mais e não poderia de deixar de ver esse filme também :)

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    1. Ele também é o meu favorito do "Fab Four", gosto da militância política em prol do pacifismo e da coragem que ele teve de colocar um fim na banda no momento certo, antes que eles virassem covers de si mesmos, afinal nem eles estariam imunes a isso...

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  4. Pois é, não é uma obra-prima, mas também me conquistou. Apenas os fãs mais xiitas reclamaram de alguns detalhes errados, mas paciência, né? Acho que ele cumpre seu papel.

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    1. É justamente por não ter pretensões tão megalomaníacas que ele funciona tão bem...

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  5. O filme parece ser bem interessante.
    Confesso que ainda não assisti. Mas vou ver se consigo arrumar um tempinho e parar para conferir.

    BjO
    http://the-sook.blogspot.com/

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  6. é eu também tenho alguns receios com filmes biográficos. Nunca sabemos muito bem a intenção do autos. Se é elevar o protagonista a um nível que não merece ou denegrir a imagem de um mito.

    Sobre o john eu resumo em duas fases: A/Y - D/Y

    Ele era um cara antes da yoko e foi outro depois. Ela e o boleteiro do guru que tentou dar uma moral espiritual pro lennon e pros Beatles, foderam com tudo.

    Abração

    ----
    Site Oficial: JimCarbonera.com
    Rascunhos: PalavraVadia.blogspot.com

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    1. Acho que a banda acabou na hora certa Jim, com toda sinceridade é legal ver o Rolling Stones tocando com garra 50 anos depois de sua formação, mas acho que eu não gostaria de ver os Beatles fazendo o mesmo, vivendo às custas de seus sucessos do passado (pois convenhamos, os Stones lançaram ótimos álbuns nas últimas décadas, porém o carro chefe de seus shows continua sendo o repertório antigo)

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  7. Como assisti esse filme há um bom tempo (lembro que nem tinha título em português ainda), não posso opinar direito. Mas o que lembro é que fiquei revoltado com o ET que nomearam de Paul McCartney e o fato do filme ser só mais qualquer sobre um jovem rebelde, com os mesmos clichês, mas, como é John Lennon, recebeu uma atenção incrível. Boas cinebiografias se tornam cada vez mais raras. Uma lástima!

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    1. kkkk O pior Júlio é que o moleque é acara do paul quando tinha aquela idade!

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  8. Mais um filme que não viiiiiii! :/

    José Bruno, acredita que acabei suspendendo Escafandro e a borboleta da lista? Ficará para depois... mas, foi por uma boa causa. Meu primo locou um filme e me emprestou para ver antes de devolver. Aí tive que priorizar! Depois eu falarei qual filme é.(olha o suspense!rs)... mas, já adiando. É perfeitooooooo!!!

    Já voltou ao trabalho? Só retornarei amanhã!

    bjks

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    1. Estarei aguardando ansiosamente teu post sobre ele Joicy!!!!

      Me prometa também que não vai deixar de ver "O Escafandro e a Borboleta"...

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  9. Oi Bruno,
    Gostei da crítica, você ressaltou os pontos positivos do filme, principalmente a atuação do elenco. Pra mim,esse filme é muito mais uma tragédia pessoal de um filho que queria atenção da mãe, tanto que mais tarde Lennon falaria disso. Achei-o um solitário, para o qual a música era sua Arte, sua diversão com os amigos. O filme é bonito, com uma bela direção de arte e fotografia e, por isso, já é uma homenagem a esse imortal que foi Johnn Lennon.
    Abs
    Madame

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  10. Oi José Bruno, ótimo texto! Gostei muito do filme, claro que não é totalmente fiel a alguns fatos, mas concordo com vc, cumpre muito bem o seu papel.

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    1. Olá Carol!!!!
      O filme me deixou curioso para ler o livro escrito pela irmã do John, vou procurá-lo, vai ser uma forma de eu ver um outro lado sobre a mesma história...

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  11. Também gostei do filme, achei que consegiu trazer uma perspectiva nova e foi inteligente na escolha...
    Sem falar da trilha sonora, neh?!

    ;D

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  12. Existe uma ver~so em mangá do filme o é ssó onome que é igual?

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    1. Eu não conheço o mangá, mas provavelmente são só homônimos...

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  13. Seja la quem postou esse criativo comentario, eu acho que tem um manga com o mesmo nome sim,agora ahistoria pode ser ouTra.

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  14. Um dos filmes mais chatos que assisti. Meu Deus que Jhon Lennon chato, antipático e rebelde sem causa aquele!!! Aviso.... Passem longe que e bomba.

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