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sábado, 12 de fevereiro de 2011

A Rede Social

A Rede Social (The Social Network), 2010. Dirigido por David Fincher, escrito por Aaron Sorkin, baseado no livro de  Ben Mezarich e produzido por Kevin Spacey. Columbia Pictures / EUA.


Olha, você provavelmente será uma pessoa com muito sucesso em PCs... Vai passar pela sua vida pensando que as garotas não gostam de você, porquê você é um nerd... Eu quero que saiba do fundo do coração que isso não é verdade. Será porque é um idiota.

Com estas palavras a namorada de Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) coloca um fim no relacionamento dos dois, na primeira cena do filme A Rede Social (2010). Neste diálogo já fica claro algumas características de Mark, o personagem principal. Ele divaga sobre vários assuntos ao mesmo tempo, não consegue olhar nos olhos da namorada e sequer percebe o que ela está dizendo. Curiosamente Zuckerberg, este rapaz sem nenhum carisma, é hoje o cara com maior número de “amigos” em redes sociais e o mais jovem bilionário do Vale do Silício, sendo dono de uma fortuna estimada pela revista Forbes em 6,9 bilhões de dólares.

A decepção com o fim do namoro e a frustração de não ser aprovado em nenhum Final Club (agremiações seletas de estudantes em Harvard), fez Zuckerberg se fechar em seu quarto no alojamento da universidade e “criar” o embrião do que viria a ser o Facebook. Como todos já devem saber, a produção do site não foi nem um pouco tranquila. A ideia de criar uma rede social, como um grupo onde se deveria ser aceito, fora originalmente dos irmãos Winklevoss (Armie Hammer) em parceria com Divya Narenda (Max Minghella), estes pediram a Mark para trabalhar na programação do site. Após aceitar o convite o nerd desapareceu e parou de responder às tentativas de contatos do gêmeos. Quando estes deram conta, o The Facebook já estava no ar e já era um sucesso entre os alunos de Harvard.


Conforme mostrado no filme, Divya Narendra e os irmãos Winklevoss, foram apenas os primeiros a serem passados pra trás por Zuckerberg. A próxima vítima seria o “melhor amigo”, o brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield), que teve sua participação na empresa reduzida de 35 %, para 0,05 %, depois de assinar documentos sem os ler. Saverin, que já tinha investido bastante dinheiro na ideia, foi substituído no cargo de diretor financeiro por Sean Parker (Justin Timberlake), já famoso por ter sido o co-criador do Napster, um dos primeiros sites de compartilhamento de músicas.  Parker empolgou Zuckerberg com seu papo, aconselhou-o a tirar o “the” do nome do site e a se mudar para a Califórnia, estratégias que podem ter ajudado, e muito, no marketing de empreendimento. Sean Parker também seria colocado para escanteio posteriormente, mas para isso nem seria preciso da ajuda de Mark, ele mesmo cuidou de fazê-lo sozinho.

Todos também já devem saber que a briga entre as partes envolvidas na criação do Facebook foi parar no tribunal. À medida que o roteiro avança, os “amigos” de Zuckerberg formam fila para garantir na justiça suas devidas fatias na empresa. A estória de A Rede Social se desenvolve por meio de flashbacks, a cada depoimento dos envolvidos, a trama volta no tempo para registrar os acontecimentos, conforme são contados. O roteiro do filme, escrito por Aaron Sorkin, foi baseado no livro Bilionários por Acaso: a Fundação do Facebook, uma história de sexo, dinheiro, genialidade e traição de Bem Mezrich, este por sua vez se baseou nos depoimentos colhidos durante os processos para escrever sua obra, trabalho feito com a supervisão de Eduardo Saverin.


O que mais me intrigava era imaginar o que de tão legal tinha este filme, para arrancar tantos elogios da crítica e do público. Por já ser fã dos trabalhos de David Fincher, eu já sabia que não iria me decepcionar, e isto aumentava ainda mais minha curiosidade. Assistindo ao filme, pude comprovar que na trama não tem muita coisa além do que a maioria dos "conectados" já deve saber sobre a criação do site e os processos que a sucederam. No filme não se encontra muito daquilo que a geração 2.0 (minha geração) mais procura: novidade. O principal destaque do filme é o texto, o roteiro foi muito bem escrito e consegue nos empolgar mesmo quando os personagens adentram em discussões sobre algorítimos e outros assunto ilustrados com termos técnicos. O brilhantismo do roteiro sustenta a forma com que a escritora inglesa Zadie Smith classificou a rede social, no artigo quero ficar na geração 1.0: “um filme sobre pessoas 2.0, feito por pessoas 1.0.


A Rede Social chegou a ser comparado a Todos os Homens do Presidente (1976), pelo ritmo em que o roteiro se desenvolve e ao clássico Cidadão Kane (1941), pela falta de escrúpulos e de ética do personagem principal, enquanto constrói seu império. Eu ousaria dizer que este filme será visto no futuro como um dos melhores "retratos" da geração Y, com um belo closer sobre seus personagens e seu estilo de vida. Se com Clube da Luta (1999), Fincher ilustrou a decadência da geração X, com este ele leva às telas a ascenção da geração Y, que apesar do estilo imediatista e despudorado, se mantém sobre os mesmos princípios que Tyler Durden (Personagem de Brad Pitt em Clube da Luta) denunciava e tentava destruir. Mark Zuckerberg é de certa forma a personificação do que a nossa sociedade mais valoriza. Ele é o jovem empreendedor que antes dos 20 anos consegue delinear o que seria um carreira de sucesso e se destaca dos demais como o vencedor. O fato e que ele passa por cima dos outros para edificar tudo isso, não é relevante, é só um detalhe. Cansamos de ler a frase maquiavélica que diz que “o fim justifica os meios”.


A maior ironia que ficou atrelada a este longa, é a de que um sujeito com pouca, ou nenhuma, habilidade social tenha sido o criador do maior fenômeno dos relacionamentos nos últimos tempos. No fundo Mark não passa de um garoto, em quem o desejo de ser sempre o vencedor, ditou normas para uma conduta de vida. Ele não se conforma em não fazer parte de nenhum dos Final Clubs da Harvard e para compensar isso cria seu próprio mundo, onde ele como o primeiro participante, jamais necessitaria de aprovação. De certa forma o Facebook e outras redes sociais têm um pouco da personalidade de Mark e dos tipos de relacionamentos que ele constrói.


A Rede Social é um filme que com certeza merece ser visto, mas na minha opinião ele não alacança a maestria de outras produções de David Fincher, como o Clube da Luta (1999) e Zodíaco (2006). O filme merece louvores principalmente pelo roteiro, mas as interpretações também merecem destaque. Eisenberg está perfeito no papel de Zuckerberg. O ator conseguiu reproduzir até mesmo o olhar vazio e perdido de Mark. O rosto sem expressão e as sobrancelhas que nunca se mexem, detalhes marcantes do jovem nerd, também foram representados com perfeição. Timberlake foi muito elogiado pela sua interpretação de Sean Parker e Andrew Garfield que faz Eduardo Severino, também está ótimo.
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A Rede Social está indicado em 8 categorias do Oscar: melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor diretor, melhor ator (Jesse Eisenberg), melhor fotografia, melhor edição, melhor trilha sonora e melhor mixagem de som. O filme ganhou o Globo de Ouro nas categorias de: melhor filme - drama, melhor diretor, melhor roteiro e melhor trilha sonora original, tendo sido indicado ainda para os prêmios de melhor ator (Jesse Eisenberg) e melhor ator coadjuvante (Andrew Garfield).


Assista ao trailer de A Rede Social no You Tube (clique no link).

Verdades e intrigas sobre o roteiro¹

FILME: Zuckerberg começa a se interessar por redes sociais para chegar perto das meninas disputadas, depois de tomar um fora de uma namorada.
REALIDADE: Zuckerberg está com a mesma namorada, Priscilla Chan, desde antes da criação do site. E, claro, nega o interesse em outtras meninas.

FILME: Dustin Moskovitz, colega de Zuckerberg, é apenas um personagem secundário que participou da fundação do site.
REALIDADE: Dustin Moskovitz foi muito mais importante no desenvolvimento do site do que o brasileiro Eduardo Saverin, destaque no filme.

FILME: Mark Zukerberg tem um  cartão de visita assinado "I`m the CEO... bith" (" Eu sou o CEO... vaca").
REALIDADE: Bem, Mark Zukerberg realmente tinha um cartão de visita assinado "I`m the CEO... bich". Ponto pro filme.

1- Fonte: Revista Super Interessante N° 285 de dezembro de 2010.
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3 comentários:

  1. A Rede Social ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado (Aaron Sorkin), Edição (Kirk Baxter e Angus Wall) e Trilha Sonora (Trent Reznor e Atticus Ross).

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  2. "A mair ironia que ficou atrelada a este longa é a de que um sujeito com pouca, ou nenhuma, habilidade social tenha sido o criador do maior fenômeno dos relacionamentos nos últimos tempos."

    Fenômeno de relacionamentos NA INTERNET. Justamente as pessoas que tem mais dificuldades de se relacionar com as outras no dia-a-dia são as que mais encontram na internet um local onde elas conseguem estabelecer vínculos sem manter um contato direto.

    Ótimo post!

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