Apenas Uma Vez (Once) - 2006. Dirigido e escrito por John Carney. Fotografia de Tim Fleming. Música de Glen Hansard & Markéta Irglová. Produzido por Martina Niland. Bord Scannán na Éireann; RTE, Sanson Films & Summit Entertainment / Irlanda.
“Pegue este barco que está afundando e tome o rumo de casa,
nós ainda temos tempo...
Levante sua voz esperançosa, você teve escolha,
agora você conseguiu...”
agora você conseguiu...”
E se apenas uma vez em toda nossa vida tivéssemos a oportunidade de encontrar a pessoa ideal capaz do nos completar e dar sentido para tudo o que fazemos? É sobre esta premissa um tanto clichê e romântica demais, que o roteiro de Apenas Um Vez (2006), escrito e dirigido por John Carney, se sustenta. Mas quem pensa que se trata de mais uma comédia romântica água com açúcar está completamente enganado. Este é um daqueles filmes geniais em sua simplicidade, com os quais raramente nos deparamos. E esta simplicidade não se restringe ao roteiro, está também na direção de arte, nos figurinos e até mesmo na câmera de mão instável, que capta todo o explendor e profundidade do minimalismo da trama. Pode parecer contraditório, mas as coisas simples costumam ser as mais complexas e assim sendo as que mais nos provocam as reações mais diversas.
Não pretendo entrar a fundo na questão sobre se Apenas Um Vez é ou não um musical, alguns o consideram um musical moderno, mas o fato é que, mais que na maioria dos filmes do gênero, as lindas canções compostas para o filme são o fio condutor que guiam a trama, ambienta os personagens e contextualizam a profundidade de suas relações. Eu sou suspeito para adentrar no assunto, uma vez que este é o estilo de música que mais tenho ouvido atualmente, mas não posse me furtar a tecer um comentário sobre a trilha sonora. Cada uma das 10 baladas indies que tocam no filme são como uma bomba que explode sobre nossas emoções, evocando por vezes o amor, a saudade ou a dor da perda, são elas que transformam o filme na belíssima obra de arte que é. John Carney, que fora baixista da banda The Frames, soube correlacionar com perfeita harmonia a história dos dois protagonistas e cada uma das canções executadas por eles.
“Dez anos atrás, eu me apaixonei por uma garota Irlandesa
Ela robou meu coração, mas transou com um cara que ela conhecia
E agora eu estou em Dublin com o coração partido
Um troxa de coração partido que conserta aspiradores...
Um dia vou voltar e conquistá-la, mas até lá sou apenas um trouxa...”
O roteiro mantém o foco sobre o relacionamento entre um rapaz (Glen Hansard – vocalista e líder do The Frames) e uma garota (Markéta Irglová) e na forma com que a música influencia e muda suas vidas. Ele trabalha com o pai ajudando-o a consertar aspiradores de pó em uma loja bem modesta, sua mãe faleceu a pouco tempo, por isso ele veio para Dublin, para dar o suporte e atenção que o pai viúvo precisava. Nas horas vagas ele toca violão em uma rua movimentada do centro da cidade para ganhar alguns trocados e é lá que ele por acaso conhece a garota (ambos permanecem anônimos durante o filme), ela é tocada por uma de suas canções melancólicas e percebe de imediato que eles compartilham sentimentos semelhantes. À medida que eles vão se conhecendo, ele descobre que ela também nutre a mesma paixão que ele tem pela música. Todos os dias ela, que é uma pianista sem piano, tira um tempinho no seu horário de almoço para tocar numa loja de instrumentos musicais, o dono, como bom cavalheiro que é, a deixa praticar nos instrumentos que estão à mostra. Ela é natural da República Checa e mora com a mãe e uma filha pequena em um prédio de imigrantes no subúrbio da cidade.
Os dois personagens, que são igualmente machucados pelas seus relacionamentos anteriores, encontram na música a afinidade que os aproxima, que os ajuda a curar suas dores e que lhes dá a força que pode impulsionar mudanças significativas em suas vidas. Nós, ao acompanharmos a formação daquilo que poderia vir a ser o embrião de uma ótima banda, nos sentimos transportados para uma realidade diferente, onde as coisas, ao que parece, tendem a dar certo no fim. Mas o filme não cai neste lugar comum, ele ganha um ponto extra, ao retratar os relacionamentos como são na realidade, sujeitos ao acaso e a situações que nem sempre podem ser controladas. O brilhantismo do roteiro pode estar é justamente na negação dos extremos dramáticos e dos artifícios usados em filmes do gênero (como o excesso de cenas de sexo por exemplo), o que não nos permite perder a sensação de que estamos diante de uma obra prima, singular em sua capacidade de inovar em um território já tão explorado.
Apenas Uma Vez acaba sendo também uma exaltação da amizade em sua forma mais pura, desprovida de nenhum interesse, tal sentimento pode ser visto no roteiro através do relacionamento entre os personagens e entre a cumplicidade que existe entre o diretor John Carney e os dois atores. Carney já conhecia Glen dos tempos em que tocaram juntos no The Frames e a admiração que o diretor tinha pelo amigo como músico, o motivou a convidá-lo para compor a trilha sonora para o filme. Daí foi um passo até ele perceber que o compositor era o mais indicado para viver o personagem que interpretaria as canções. Glen relutou mas aceitou, aquele que seria seu primeiro trabalho como ator, e foi dele a sugestão de convidar Markéta, que também não era atriz, para participar do longa. Nos extras do DVD Glen comenta que , ao contrário de outros atores que precisam fingir que se conhecem, eles que já eram amigos de longa data, precisavam fingir que não se conheciam. Tanto Glen quanto Markéta se saíram muito bem naquilo que parecia uma brincadeira de ser atores, a naturalidade de suas interpretações renderam dois personagens cativantes e memoráveis.
Em Apenas Uma Vez, a única coisa da qual senti falta, foi da alguns minutos a mais que pudessem prolongar a ótima experiência que o filme me proporcionou. É sem sombra de dúvidas um filme imperdível, capaz de mexer com nossos sentimentos mais profundos e de nos deixar com a alma à flor da pele. Com certeza só não provocará o mesmo efeito em quem está acostumado aos “romances” superficiais de folhetins globais, com desfechos padrões e entortados por convenções sociais. Agora, se você não tem uma pedra no lugar de um coração e além disso tem a sensibilidade artística para reconhecer lindas canções, corra atrás! Assista e escute!
Os dois personagens, que são igualmente machucados pelas seus relacionamentos anteriores, encontram na música a afinidade que os aproxima, que os ajuda a curar suas dores e que lhes dá a força que pode impulsionar mudanças significativas em suas vidas. Nós, ao acompanharmos a formação daquilo que poderia vir a ser o embrião de uma ótima banda, nos sentimos transportados para uma realidade diferente, onde as coisas, ao que parece, tendem a dar certo no fim. Mas o filme não cai neste lugar comum, ele ganha um ponto extra, ao retratar os relacionamentos como são na realidade, sujeitos ao acaso e a situações que nem sempre podem ser controladas. O brilhantismo do roteiro pode estar é justamente na negação dos extremos dramáticos e dos artifícios usados em filmes do gênero (como o excesso de cenas de sexo por exemplo), o que não nos permite perder a sensação de que estamos diante de uma obra prima, singular em sua capacidade de inovar em um território já tão explorado.
Apenas Uma Vez acaba sendo também uma exaltação da amizade em sua forma mais pura, desprovida de nenhum interesse, tal sentimento pode ser visto no roteiro através do relacionamento entre os personagens e entre a cumplicidade que existe entre o diretor John Carney e os dois atores. Carney já conhecia Glen dos tempos em que tocaram juntos no The Frames e a admiração que o diretor tinha pelo amigo como músico, o motivou a convidá-lo para compor a trilha sonora para o filme. Daí foi um passo até ele perceber que o compositor era o mais indicado para viver o personagem que interpretaria as canções. Glen relutou mas aceitou, aquele que seria seu primeiro trabalho como ator, e foi dele a sugestão de convidar Markéta, que também não era atriz, para participar do longa. Nos extras do DVD Glen comenta que , ao contrário de outros atores que precisam fingir que se conhecem, eles que já eram amigos de longa data, precisavam fingir que não se conheciam. Tanto Glen quanto Markéta se saíram muito bem naquilo que parecia uma brincadeira de ser atores, a naturalidade de suas interpretações renderam dois personagens cativantes e memoráveis.
Em Apenas Uma Vez, a única coisa da qual senti falta, foi da alguns minutos a mais que pudessem prolongar a ótima experiência que o filme me proporcionou. É sem sombra de dúvidas um filme imperdível, capaz de mexer com nossos sentimentos mais profundos e de nos deixar com a alma à flor da pele. Com certeza só não provocará o mesmo efeito em quem está acostumado aos “romances” superficiais de folhetins globais, com desfechos padrões e entortados por convenções sociais. Agora, se você não tem uma pedra no lugar de um coração e além disso tem a sensibilidade artística para reconhecer lindas canções, corra atrás! Assista e escute!
Apenas Uma Vez ganhou o Oscar de Melhor Canção Original em 2008 (por Falling Slowly).
Assista ao trailer de Apenas Uma Vez no You Tube ! (clique no link)
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Belíssimo texto para um filme maravilhoso!
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