The Rocky Horror Picture Show - 1975. Dirigido por Jim Sharman. Roteiro de Jim Sharman & Richard O´Brien, adaptado da peça The Rock Horror Show de Richard O´Brien. Fotografia de Peter Suschitzky & Richard O´Brien. Produzido por Michael White. Twentieth Century Fox / EUA.
O filósofo, antropólogo e sociólogo Edgar Morin conceituou como kitsch a arte que não instigava a imaginação e a crítica no indivíduo que se dispusesse a consumi-la, segundo ele, tal modelo “consiste em digerir previamente a arte para o consumidor. A obra kitsch já contém as reações do leitor ou espectador, dispensando maiores esforços perceptivos e interpretativos”. Esta era na visão de Morin a base de toda a produção da masscult (a cultura de massa), de acodo com sua visão o esquema funciona da seguiente forma: “A cultura de massa, mitologiza a realidade empírica; não obstante, mais profundamente ainda, incorpora a seus ritos profanos (...) a própria idéia-mãe das grandes religiões – a idéia de salvação individual. A 'felicidade' propiciada pelo consumo é um avatar dessublimizante dos impulsos soterológicos, salvacionistas, da alma moderna. Abandonando à religião as angústias existenciais, acomodando-se matreiramente com a censura de Estado e Igreja, a cultura de massa se entrega à busca da felicidade terra à terra”.
O filósofo, antropólogo e sociólogo Edgar Morin conceituou como kitsch a arte que não instigava a imaginação e a crítica no indivíduo que se dispusesse a consumi-la, segundo ele, tal modelo “consiste em digerir previamente a arte para o consumidor. A obra kitsch já contém as reações do leitor ou espectador, dispensando maiores esforços perceptivos e interpretativos”. Esta era na visão de Morin a base de toda a produção da masscult (a cultura de massa), de acodo com sua visão o esquema funciona da seguiente forma: “A cultura de massa, mitologiza a realidade empírica; não obstante, mais profundamente ainda, incorpora a seus ritos profanos (...) a própria idéia-mãe das grandes religiões – a idéia de salvação individual. A 'felicidade' propiciada pelo consumo é um avatar dessublimizante dos impulsos soterológicos, salvacionistas, da alma moderna. Abandonando à religião as angústias existenciais, acomodando-se matreiramente com a censura de Estado e Igreja, a cultura de massa se entrega à busca da felicidade terra à terra”.
The Rocky Horror Picture Show (1975), adaptação da peça de Richard O´Brien para o cinema, seria de acordo com esta visão um exemplo e tanto da "arte" kitsch. Este musical de 1975 não se propõe a discutir nenhuma teoria ou defender qualquer ponto de vista, ele se sustenta é nas reações que o “espetáculo” causa em sua platéia, no caso nós cinéfilos. A repetição, uma das primordiais características da cultura de massa, está presente no roteiro (cheio de referências rasas à própria masscult) e nas canções simples, fáceis de decorar e que perecem grudar em nossa mente durantes dias após a exibição do filme. Richard O´Brien, quando escreveu a peça parece ter rezado justamente pela cartilha criticada por Edgar Morin. O abandono das angústias existenciais e da religião, parecem ser a tônica que sustentou o roteiro superficial da peça e consequentemente o do filme. A felicidade terrena, que seria o alvo final da cultura de massa de acordo com Morin é explorada na trama através da banalização e vulgarização do prazer sexual.
Os virginais Brad (Barry Bostwick) e Janet (Susan Sarandon) formam um casal modelo de decência e de bons costumes. Numa noite de tempestade eles pegam a estrada para ir de encontro ao ex-professor de Brad, que seria segundo a letra de uma das canções o responsável pelo inicio do relacionamento deles. Após ser ultrapassado por diversas motocicletas na estrada, Brad percebe que está perdido e quando decide voltar, um dos pneus do carro fura e os deixam a pé e perdidos na escuridão da estrada. Eles decidem pedir ajuda em um castelo que fica perto dali (clichê maior impossível), mas acabam descobrindo que entraram numa fria maior ainda. O dono do castelo é o Dr Frank-N-Furter (Tim Curry, no papel que até Mick Jagger teve interesse em fazer), um travesti alienígena (que parece ter saído de uma banda de glan rock dos anos 70/80), que vem do planeta Transsexual, que fica na galáxia Transilvânia. Ele mantem um grupo de servos no castelo sombrio, dentre eles os irmãos Riff Raff (Richard O´Brien) e Magenta (Patrícia Quinn) e Columbia (Nell Campbell).
Os virginais Brad (Barry Bostwick) e Janet (Susan Sarandon) formam um casal modelo de decência e de bons costumes. Numa noite de tempestade eles pegam a estrada para ir de encontro ao ex-professor de Brad, que seria segundo a letra de uma das canções o responsável pelo inicio do relacionamento deles. Após ser ultrapassado por diversas motocicletas na estrada, Brad percebe que está perdido e quando decide voltar, um dos pneus do carro fura e os deixam a pé e perdidos na escuridão da estrada. Eles decidem pedir ajuda em um castelo que fica perto dali (clichê maior impossível), mas acabam descobrindo que entraram numa fria maior ainda. O dono do castelo é o Dr Frank-N-Furter (Tim Curry, no papel que até Mick Jagger teve interesse em fazer), um travesti alienígena (que parece ter saído de uma banda de glan rock dos anos 70/80), que vem do planeta Transsexual, que fica na galáxia Transilvânia. Ele mantem um grupo de servos no castelo sombrio, dentre eles os irmãos Riff Raff (Richard O´Brien) e Magenta (Patrícia Quinn) e Columbia (Nell Campbell).
Frank já vinha trabalhando há algum tempo numa espécie de Frankenstein, que lhe serviria como escravo sexual. O primeiro experimento deu errado e gerou o motoqueiro rocker, Eddie (Meat Loaf), a quem Frank desprezava. Brad e Janet são então convidados a pernoitar no castelo e presenciar o nascimento do fruto da segunda tentativa do experimento. Dr Frank, naquela noite, daria vida a Rocky (Peter Hinwood), loiro, musculoso e sem cérebro como seu criador o queria para lhe servir (!). A conclusão do experimento é o que motiva a festa, na qual os estranhos personagens do castelo se entregam aos mais despudorados prazeres carnais (que são apenas insinuados, nada de tão obsceno é mostrado no filme).
Dispensável dizer que após algumas das sequências mais absurdas e surreais do cinema, tanto Brad, quanto Janet, que dormiam em quartos separados, são seduzidos pelo Dr Frank, e acabam se entregando e perdendo a virgindade. Ambos acabam se rendendo ao prazer carnal oferecido pelo anfitrião. Enquanto esta trama louca é desenvolvida, nós como espectadores somos conduzidos como voyeurs, que apenas observam sem reflexão, uma vez que a história não propõe nenhuma. Nossa sensação de estranheza diante do absurdo, que chega ao seu limiar em algumas cenas, é amenizado apenas pelos números musicais, que parecem nos seduzir e hipnotizar, tal como acontece com o casal protagonista. Ao final do espetáculo, digo do filme, é impossível arriscar de imediato qualquer posicionamento com relação ao que acabamos de assistir. Eu o assisti pela primeira vez, e ao final cheguei à conclusão radical de que é um filme idiotizante e pedante em todos os sentidos. Mas ao mesmo tempo me flagrei cantarolando algumas de suas canções e acreditem se quiserem, voltei em algumas cenas diversas vezes para rever alguns dos números musicais.
Talvez a conclusão mais sensata a que posso chegar, seja a de que o abuso dos elementos, que classificariam The Rocky Horror Picture Show como um exemplo perfeito de arte kitsch, tenha sido justamente o fator que tenha o tornado tão celebrado por um grande número de fãs espalhados por todo o mundo. Ao contrário do que normalmente costuma acontecer com outras obras típicas da indústria cultural, o reconhecimento do filme não foi imediato - o lançamento na verdade foi um fiasco. Também diferente do que geralmente acontece com a masscult, o sucesso quando alcançado não foi passageiro, nem o tornou descartável. O filme detém até hoje o recorde de maior tempo em cartaz, tendo sido exibido todas as semanas em um cinema de Munique, na Alemanha, por mais de 27 anos. Curiosamente o tempo se encarregaria de torná-lo cult (contrariando todas as espectativas de quem presenciou seu lançamento), mérito que ainda não sei se pode ser atribuído aos seus realizadores.
The Rocky Horror Picture Show funciona como uma homenagem, em forma de paródia, aos filmes B de terror e ficção científica e à estética Glitter adotada por bandas de Hard Rock farofa, como Mother Clue, Poison e Ratt. O musical não vai muito além disso, vale ser visto mais pela sua estranheza e performances musicais do que por qualquer outra qualidade que geralmente procuramos em um filme. É inexplicável a forma com que canções como Touch-a touch-a touch-me, Time Warp e Sweet Transvestiti permanece em nossa memória e nos faz querer voltar a todo momento à cena em que são executadas. No fim das contas o filme ainda tem este mérido, o de ser horrivelmente viciante! Alguém me explique isso!!!
Dispensável dizer que após algumas das sequências mais absurdas e surreais do cinema, tanto Brad, quanto Janet, que dormiam em quartos separados, são seduzidos pelo Dr Frank, e acabam se entregando e perdendo a virgindade. Ambos acabam se rendendo ao prazer carnal oferecido pelo anfitrião. Enquanto esta trama louca é desenvolvida, nós como espectadores somos conduzidos como voyeurs, que apenas observam sem reflexão, uma vez que a história não propõe nenhuma. Nossa sensação de estranheza diante do absurdo, que chega ao seu limiar em algumas cenas, é amenizado apenas pelos números musicais, que parecem nos seduzir e hipnotizar, tal como acontece com o casal protagonista. Ao final do espetáculo, digo do filme, é impossível arriscar de imediato qualquer posicionamento com relação ao que acabamos de assistir. Eu o assisti pela primeira vez, e ao final cheguei à conclusão radical de que é um filme idiotizante e pedante em todos os sentidos. Mas ao mesmo tempo me flagrei cantarolando algumas de suas canções e acreditem se quiserem, voltei em algumas cenas diversas vezes para rever alguns dos números musicais.
Talvez a conclusão mais sensata a que posso chegar, seja a de que o abuso dos elementos, que classificariam The Rocky Horror Picture Show como um exemplo perfeito de arte kitsch, tenha sido justamente o fator que tenha o tornado tão celebrado por um grande número de fãs espalhados por todo o mundo. Ao contrário do que normalmente costuma acontecer com outras obras típicas da indústria cultural, o reconhecimento do filme não foi imediato - o lançamento na verdade foi um fiasco. Também diferente do que geralmente acontece com a masscult, o sucesso quando alcançado não foi passageiro, nem o tornou descartável. O filme detém até hoje o recorde de maior tempo em cartaz, tendo sido exibido todas as semanas em um cinema de Munique, na Alemanha, por mais de 27 anos. Curiosamente o tempo se encarregaria de torná-lo cult (contrariando todas as espectativas de quem presenciou seu lançamento), mérito que ainda não sei se pode ser atribuído aos seus realizadores.
The Rocky Horror Picture Show funciona como uma homenagem, em forma de paródia, aos filmes B de terror e ficção científica e à estética Glitter adotada por bandas de Hard Rock farofa, como Mother Clue, Poison e Ratt. O musical não vai muito além disso, vale ser visto mais pela sua estranheza e performances musicais do que por qualquer outra qualidade que geralmente procuramos em um filme. É inexplicável a forma com que canções como Touch-a touch-a touch-me, Time Warp e Sweet Transvestiti permanece em nossa memória e nos faz querer voltar a todo momento à cena em que são executadas. No fim das contas o filme ainda tem este mérido, o de ser horrivelmente viciante! Alguém me explique isso!!!
The Rocky Horror Picture Show foi a inspiração para o quinto episódio da segunda temporada do seriado Glee. Neste especial de halloween, a turma do coral New Directions causa polêmica ao tentar encenar o musical no colégio. O legal foi ver as canções originais sendo encaixadas e as números musicais adaptados ao contexto dos personagens da série.
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Hahahahhahahahhahahaha legal Brunão. Aqui está um filme B que foi feito pra ser filme B.
ResponderExcluirGostei da sua crítica mais uma vez.
Mas eu estava falando daqueles filmes que não queriam ser B mas são de tão ruins, hahahahahahhahahaha. Mas essa crítica aqui ficou muito boa mesmo!
Agora que passou a temporada de premiações, eu irei voltar a uma das premissas do Sublime Irrealidade que é a de revisitar algumas obras estranhas e outras já esquecidas, com certeza pintarão alguns B´s neste meio
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