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quarta-feira, 23 de março de 2011

Meu Amigo Totoro

Meu Amigo Totoro (Tonari no Totoro; となりのトトロ) - 1988. Dirigido e escrito por Hayao Miyazaki. Música de Joe Hisaishi. Produzido por  Toru Hara. Tokuma Japan Communications Co. Ltd.; Studio Ghibli & Nibariki / Japão.


Vivi boa parte de minha infância nos anos 90 e como grande parcela de minha geração, fui marcado pelos animes que chegavam aos montes no Brasil através, principalmente, da extinta TV Manchete. Os desenhos japoneses, com sua linguagem diferenciada da dos demais, passaram desde então a fazer parte de meu imaginário. Creio que por causa deles, hoje muita coisa da cultura nipônica não nos parece demasiadamente estranha. No entanto, mesmo caindo na graça de alguns poucos canais de televisão por aqui, o gênero, durante muito tempo, não teve tanta expressão no cenário mundial do cinema, com raras exceções como Akira (1988), a maioria dos animes que iam parar na telona eram apenas "especiais" das séries que já passavam na televisão. Hayao Miyazaki, foi um dos responsáveis pela disseminação do anime no cenário cinematográfico ocidental a partir dos anos 80. Sua produção mais aclamada, A Viagem de Chihiro (2001), ganhou o Oscar de Melhor Animação e voltou os olhares de críticos e cinéfilos para as suas obras mais antigas.

Meu Amigo Totoro (1988) é o quarto longa de Miyazaki e tal como A Viagem de Chihiro ambienta sua história sobre as fantasias e aventuras da infância. Se seu longa de 2001 rendeu comparações com o clássico literário de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, o de 1988 também não está livre de tais analogias, e no caso deste existe referências mais latentes à obra do escritor inglês. A fórmula, que já foi usada também em outros longas como O Menino do Pijama Listrado (2008), O Labirinto do Fauno (2006) e em Onde Vivem os Monstros (2009), é composta por histórias fantásticas que envolvem crianças que, guiadas pela imaginação, adentram realidades paralelas. As alegorias do mundo surreal as ajudam a lidar com as mudanças que acontecem em suas vidas reais. Mas afirmar que nestes filmes o fabuloso é materializado apenas de uma fértil imaginação infantil seria uma tremenda fala de sensibilidade e de noção poética. Assim como os personagens, eu prefiro a magia do mundo fantástico ao descolorido da realidade.


Ao remontar o universo infantil em Meu Amigo Totoro, Miyazaki constrói uma verdadeira poesia visual e sonora. As traços característicos dos animes que já conhecemos estão presentes, porém muito melhor trabalhados que nos desenhos que costumávamos ver nos finais de tarde na TV. Cada sequência é desenhada com uma enorme riqueza de detalhes, quem enchem nossos olhos com a sutileza de lindas paisagens e ambientações. O equilíbrio e interação entre as cores é fantástico (o que não é novidade, uma vez que os orientais culturalmente têm uma grande preocupação com o significado das cores) e ajuda a compor o contexto sentimental e poético de diversas cenas. A contextualização com diversos elementos da cultura e do folclore japones conferem um lirismo ainda maior à animação.


Na apaixonante história, o professor universitário Kusakabe, muda com suas duas filhas, Satsuki de dez anos e Mei de quatro, para um vilarejo no interior do Japão, o intuito dele é estar mais perto da esposa, mãe das meninas, que está internada em um hospital próximo à localidade. Em nenhum momento o filme deixa claro qual é a situação da enferma, temos apenas uma noção de seu quadro médico, indicada pela preocupação das meninas e pelo tempo, aparentemente longo, que ela já está internada. Ao chegar na nova vizinhança, as meninas descobrem que a casa onde vão morar é assombrada por espíritos, os Makure Kurosuke, entidades do folclore japonês. Ao explorar a casa que parecia já estar há um bom tempo abandonada, elas têm o primeiro contato com os Susu Ataki, fantasminhas que assumem a forma de bolinhas pretas de fuligem. Apenas as duas meninas conseguem ver os fantasmas, mas o pai em nenhum momento deixa de alimentar aquilo que pode ser fruto da imaginação e da inocência delas.


Numa sequência que lembra, e muito, uma passagem de Alice no País das Maravilhas, Mei persegue dois espíritos e acaba caindo em uma fenda aos pés de uma grande tamareira, é neste mundo dentro da árvore que ela conhece Tororu (Trol em japonês), que seria uma espécie de guardião da floresta. Mei não consegue pronunciar o seu nome e passa o chama-lo de Totoro. O monstrão não assume características humanas na história, permanecendo similiar a um bichinho de estimação, ele se comunica apenas por grunhidos e parece dormir a maior parte do tempo, mas ainda assim percebemos, já neste primeiro encontro, que uma grande afinidade surgiu entre ele e a pequena menina.


Totoro de certa forma ampara o amadurecimento forçado de Satsuke e simboliza as descobertas de Mei sobre o ciclo da vida, que compreende nascimento, crescimento e morte. As meninas se chocam com a realidade acerca da finitude da existência quando passam a temer a perda da mãe, tal choque é desenvolvido no filme sem muitos atenuantes, mas entorpecidas pela fantasia, as pequenas encontram na própria natureza e no aconchego da família o acalento para os seus medos e as respostas para alguns de seus questionamentos. Ao retratar etapas da realação do indivíduo consigo e com a natureza, Meu Amigo Totoro me lembrou Sonhos (1990) de Akira Korosawa, que constroi sua trama sobre premissas similares, que relatam as etapas não só da infância, mas de todo o ciclo da vida.


A dicotomia entre realidade e fantasia, que se misturam, traz de volta, ao menos nos minutos de duração do filme, toda a beleza e poesia da infância perdida. O filme nos transporta para a época em que acreditávamos em fantasmas e que um simples passeio por um jardim poderia ser uma inesgotável fonte de descobertas. Através da visão de Satsuke e Mei, vemos e recordamos da fase mais contemplativa de nossa vidas, que há muito foi levada pela embrutecida realidade do cotidiano. Neste aspecto o filme é um verdadeiro presente, pois é capaz de nos trazer de volta sensações tão puras, com uma incrível intensidade emocional. Eu particularmente sempre sou tocado de forma sublime por filmes que de alguma forma abordam a simplicidade e a inocência da infância e neste meu impeto saudosista foi elevado ao extremo em um misto de melancolia e estonteante felicidade.

Meu Amigo Totoro também me fez lembrar algo dito no prefácio de O Pequeno Príncipe de Exupéry, que explicava que aquele não se tratava de um livro para crianças, justamente por trazer a mensagem da infância, que os pequenos ainda não perderam e sabem de có e salteado. Acho que posso afirmar o mesmo sobre este longa de Miyazaki, a mensagem singela que este filme esplendido traz precisa ser compreendida por toda a gente grande, que ao amadurecer perdeu a capacidade imaginativa e contemplativa ao constituir interpretações do mundo. É um filme lindo, uma obra prima, assistam e não se arrependerão!


Assista ao trailer de Meu Amigo Totoro no You Tube ! (clique no link)

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Um comentário:

  1. eu acabei de assistir essa animação e assim achei o seu blog. eu adorei esse, amei chiriro. fiquei conhecendo como vc disse, por matérias depois q ganhou o oscar. estou feliz q os canais max da hbo estão passando vários desse diretor. quero ver os outros. beijos, pedrita

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