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sábado, 23 de abril de 2011

Drácula de Bram Stoker

Drácula de Bram Stoker (Bram Stoker's Dracula) - 1992. Dirigido por Francis Ford Coppola. Roteiro de James V. Hart, baseado na obra de Bram Stoker. Direção de Fotografia de Michael Ballhaus. Música de Wojciech Kilar. Figurino de Eiko Ishioka. Produzido por Francis Ford Coppola; Fred Fuchs & Charles Mulvehill. Columbia Pictures / EUA. 

 

Filmes de vampiro? Não obrigado... De fato o tema ficou saturado e o cinema parece não conseguir mais se reinventar quando se trata de contar uma nova história sobre os chupadores de sangue. Nos últimos anos os nosferatus protagonizaram produções rasas e de baixíssima qualidade. A trilogia de Blade, a franquia de Anjos da Noite e o péssimo Rainha dos Condenados (2003) confirmam a falta de criatividade em torno da lenda, que ainda poderia dar a origem a muitos clássicos da sétima arte. A saga Crepúsculo, por outro lado, inova da pior forma possível, transformando os vampiros em criaturas meigas, astros pop, que ilustram bem o hype da modinha emo. Cada vez mais me convenço que os bons filmes de vampiros realmente são coisas do passado. Não me lembro bem de Entrevista com o Vampiro (1994 - que assisti já há muito tempo), mas estou certo de que Drácula de Bram Stoker (1992) é o último grande exemplar do gênero.

Francis Ford Coppola foi muito bem sucedido ao adaptar o clássico literário de Bram Stoker e o resultado foi um filme surpreendente, tanto visualmente, quanto pela trama, que inovou sem se desprender da história original. Coppola transportou o foco da narrativa, que no livro estava nos personagens humanos, para o próprio conde, que no filme ganha um passado, inspirado na história real de Vlad Tepes, o Empalador. O cineasta também dá dimensões maiores à história de amor de Drácula, que no livro tinha pouca importância. A presença do nome do autor no título do filme, que segundo o próprio Coppola, se deve à uma questão de reconhecimento daquele como co-autor do filme como um todo, não é a única reverência que o filme presta. Pude perceber, em cada uma das vezes que o assisti, fortes referências a Nosferatu (1922), clássico do realizador F. W. Murnau e do expressionismo alemão. Nosferatu teria sido a primeira adaptação do livro de Bram Stoker para o cinema, mas devido à questões relativas aos direitos autorais, teve que ser lançado com um nome diferente.


Francis Ford Coppola dá ao filme um visual impecável, ao reproduzir de uma forma aterradora os aposentos de Drácula e a região do Mar Báltico, onde está localizado seu castelo. Os efeitos especiais, produzidos por Romam Coppola, filho do diretor, remontam aos primórdios do cinema e a técnicas, que no ano do lançamento já estavam obsoletas. A assimetria dos cenários e o jogo de luz e sombras, que o filme explora ao dar vida própria à sombra do vampiro, também remontam ao expressionismo de Nosferatu. Os efeitos quase rudimentares utilizados, não prejudicam e sim colaboram com as reações que o filme pretende provocar. A sequência inicial que mostra a batalha do conde, ainda humano, como cruzado na guerra, é produzida usando uma antiga técnica chinesa, que usa o teatro de bonecos aliado ao manejo das sombras. Algumas imagens, capturadas em enquadramentos belíssimos, chegam a ser hipnóticas em alguns momentos e exploram o absurdo, para provocar reações de medo e estranhamento, como na cena em que uma gota cai para cima, ou naquela em que um rato anda de cabeça para baixo em uma calha.


Na adaptação, o conde romeno Vlad Tepes (Gary Oldman) volta para casa depois de uma esmagadora vitória em uma batalha das cruzadas, ao chegar em seu castelo e recebe a triste notícia de que sua esposa se suicidara ao receber uma mensagem falsa, que comunicava a morte do marido na guerra. A igreja se recusa a enterrar a suicida como uma cristã, por ela ser culpada de um pecado imperdoável. Vlad se enfurece contra o clero e contra seu próprio deus, ele não entende como pôde ser acometido por tamanha tragédia, mesmo depois de arriscar a própria vida em defesa do cristianismo na cruzada. Ele renega à igreja e ataca um crucifixo em um altar, que jorra sangue, do qual ele bebe, em sinal de blasfêmia. A partir de então ele é amaldiçoado e condenado à sede eterna e insaciável de sangue. Alguns séculos se passaram, somos transportados para Londres, no final do século 19, onde conhecemos o jovem agente imobiliário, Jonathan Harker (Keanu Reeves). Harker recebe a missão de viajar até a Romênia e fechar a venda de alguns imóveis com o excêntrico conde Drácula.

 

Harker é feito prisioneiro na mansão do conde, que mais tarde ele descobre se tratar do próprio Vlad Tepes, que continua vivo e atormentado por sua maldição. Drácula, ao ver a foto de Mina (Winona Ryder), a noiva do rapaz, passa a enxergar nela uma espécie de reencarnação de sua esposa Elisabetha. Drácula muda completamente sua aparência (como o faz diversas vezes durante o filme - justificando o Oscar de Melhor Figurino) rejuvenescendo, para assim se aproximar da moça. Mina, por trás de sua inocência, esconde o ardor do desejo sexual, que começa a descobrir junto com a sua melhor amiga, a fantasiosa Lucy (Sadie Frost), ambas seriam nesta condição vítimas fáceis para a sedução fatal do vampiro. Quando a vida de Lucy é colocada em risco por uma estranha doença, seu noivo, Lord Arthur Holmwood (Cary Elwes) e seu médico, Dr. Jack Seward (Richard E. Grant) recorrem ao Professor Abraham Van Helsing (Anthony Hopkins), que através de seus métodos nada ortodoxos, percebe os indícios da presença do vampiro em Londres. O restante do filme nos mostra a busca incansável de Drácula pelo amor que atravessou séculos e a luta de Van Helsing e dos outros homens para salvar a vida e a alma de Lucy e de Mina.

 

Se o filme tem um ponto fraco, este é a atuação medíocre de Keanu Reeves, mas o restante do elenco mantém o nível altíssimo da produção, destaque para a participação de Tom Waitts, como o psicologicamente perturbado R.M. Reinfield. Os figurinos, aspecto no qual, confesso, não costumo prestar muita atenção, realmente é algo marcante e faz jus ao Oscar que recebeu. O figurino ajuda a compor o visual fantástico do longa, que, como já mencionei, é o aspecto que mais se destaca. A trama, que deu à história original mais sensualidade, paixão e até um toque de lesbianismo, é o exemplo perfeito do que realmente é um bom filme de vampiro. Este consegue ser excitante, assustador e maldito, sem com isso precisar apelar para modismos para construir uma boa história. É um clássico do gênero, que parece pequeno perto de outras obras de Coppola, mas que é imperdível por toda a sua força e beleza! Recomendo (crepusculianos passem longe)!

Drácula de Bram Stoker ganhou os Oscars de Melhor Figurino, Maquiagem e Efeitos Sonoros, tendo sido indicado também na categoria de Melhor Direção de Arte.


Assista ao trailer de Drácula de Bram Stoker no You Tube ! (clique no link)


6 comentários:

  1. Filme excelente!Melhor filme de vampiros que já vi!

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  2. maravilhoso,nao canso de assistir!

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  3. Terror, erotismo, amor... Coppola faz um clássico moderno recíproco, provocante e poético.

    Assista "Entrevista Com o Vampiro" que também é fascinante.

    Abs.

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  4. Sabe que sou aaaaapaixoooonada pelo Drácula de Bram Stoker!? Isso aí sim é filme de vampiro. Não esses pseudoVampsTeen de Saga Crepusculo... me desculpe, mas tenho birra dessa saga(sim, já vi todas... rs). Onde já se viu um vampiro que não tem presas? rsrsrsrs... Sou uma FangBanger assumida! Vampiro pra mim tem que ser sanguinário, charmooooooso, sexy e com aquele jeitinho malvado de ser. :)

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  5. Oi J. Bruno, realmente o filme é maravilhoso e mostra uma visão bem romanceada do conde Drácula do livro, que de romântico não tem nada (o livro também é excelente). Concordo com vc, é uma boa adaptação, a fotografia e figurino são lindos e Gary oldman está fabuloso.

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  6. A figurinista Eiko Ishioka, vencedora do Oscar por este filme, morreu no último dia 21, ela tinha 73 anos...

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