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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ilha do Medo

Ilha do Medo (Shutter Island) - 2010. Dirigido por Martin Scorsese. Escrito por Laeta Kalogridis, baseado na obra literária de Dennis Lehane. Direção de Fotografia de Robert Richardson. Música Original de Robbie Robertson. Produzido por Martin Scorsese e Mike Medavoy. Phoenix Pictures, Appian Way Productions e Sikelia Productions / USA.


Ainda não sei explicar a má recepção de Ilha do Medo (2010) por boa parte do público e da crítica. O filme parece ter simplesmente passado batido, sem grandes efeitos, até mesmo por aqueles que consideram Martin Scorsese um dos maiores cineastas em atividade. Antes de assistir ao filme, eu cheguei a ler uma resenha que apontava a “falta de intimidade do diretor com o gênero suspense” como a culpada pelo seu aparente insucesso, esta é uma constatação um tanto equivocada, em primeiro lugar porque afirmar isso é negar a existência de Cabo do Medo (1991), na minha opinião um dos melhores filmes de Scorsese e um clássico do gênero, segundo porque rotular Ilha do Medo tão somente como suspense é simplesmente reduzi-lo à apenas uma das vertentes narrativas pelas quais ele transita. A trama mescla elementos de filmes de guerra, policial, noir, drama e suspense psicológico e o resultado é uma obra de inegável qualidade, que consegue nos prender e nos surpreender de uma forma arrebatadora.

O roteiro, baseado no romance de Dennis Lehane, explora mais uma vez a fragilidade da linha conceitual que separa a sanidade da loucura e mergulha no mais profundo da mente humana para de lá trazer à tona os piores fantasmas. A história está centrada em Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio), um agente do FBI que recebe a missão de ir até uma ilha, onde funciona um manicômio judicial, para tentar encontrar uma das pacientes mais perigosas que estava desaparecida, ela supostamente fugira de uma cela de onde seria impossível escapar. Antes de chegar a ilha, Teddy é apresentado ao seu novo parceiro, Chuck Aule (Mark Ruffalo), que o acompanhará durante as buscas. A paciente a quem eles procuram é Rachel Solando (Emily Mortimer), ela é uma maníaca depressiva que afogou seus três filhos durante uma crise psicótica, seu sumiço misterioso intriga a todos e só faz aumentar a suspeita de que coisas estranhas acontecem naquele lugar.


A instituição sediada na ilha desenvolve tratamentos alternativos para tentar reabilitar criminosos psicóticos que se encontram impossibilitados de serem reinseridos na sociedade devido aos seus comportamentos altamente agressivos. O clima opressivo do lugar reascende em Teddy conflitos internos provocados por traumas de seu passado, ele nunca conseguiu superar as barbáries que vivenciou quando esteve na guerra, nem a perda da esposa, que morrera em um incêndio criminoso. O contato com os internos parece torná-lo cada vez mais parecido com um deles, ele é então tomado por forte dores de cabeça e por constantes visões de sua falecida esposa e dos horrores que vivera no campo de batalha, com isso ele se torna cada vez mais agressivo com todos à sua volta. A recusa dos administradores da instituição de lhe conceder acesso irrestrito a todos os aposentos, corrobora sua suspeita de que aquele lugar se aproxima mais de um campo de concentração do que de um hospital para criminosos mentalmente perturbados.


A administração e funcionários do lugar parecem estar dispostos a dificultar ao máximo o andamento das investigações. O enigmático Dr. Cawley (Ben Kingsley), o diretor da instituição, aparenta estar constantemente escondendo algo dos agentes, no entanto é o sarcástico Dr. Naehring (Max von Sydow), quem mais intriga Teddy, este associa sua figura sinistra à dos oficiais nazistas com quem se encontrara na guerra durante a tomada de um campo de concentração. Pouco a pouco mistérios vão sendo revelados e descobrimos então o que realmente teria levado o investigador federal à ilha. Por se tornarem uma espécie de ameaça a tudo que é feito naquele hospital, Teddy e Chuck passam a ser vistos como obstáculos por aqueles que os receberam, é então que eles descobrem que não conseguirão sair daquela ilha tão facilmente. O limiar entre a loucura e sanidade praticamente desaparece depois que uma forte tempestade deixa a ilha sem eletricidade, libertando todos os pacientes de suas respectivas “celas”.


Cheguei a ter uma impressão negativa no início do filme, as atuações, com exceção a de Leonardo DiCaprio, me pareciam forçadas demais, como se faltasse naturalidade nos diálogos e como se os personagens estivessem deslocados da trama, na qual deveriam estar inseridos, o decorrer do filme prova que isso não é um fato nem um pouco negativo, pelo contrário, aí está um dos melhores aspectos do filme e a verdadeira genialidade de cada um dos atores do elenco principal... vou parando por aqui para não correr o risco de revelar nenhum detalhe mais importante sobre a trama. O suspense, que remonta ao estilo Hitchcockiano, é durante todo o filme amparado pela belíssima fotografia, que torna o lugar ainda mais soturno, e pela trilha sonora, que dita o ritmo com uma sonoridade dissonante , densa e angustiante.


Ilha do Medo pode parecer uma obra menor quando comparado aos clássicos de Scorsese, mas não se engane, ainda assim este é um ótimo filme. A explicação para isso, talvez seja a de que o diretor buscou as referências certas para construção de tudo que vemos no longa, desde a trilha sonora, à direção de arte, passando pela temática e pelo tipo de abordagem. O filme foi muito bem sucedido ao tentar recriar uma época, com todo um contexto como pano de fundo, que remonta de acordo com o próprio Scorsese ao período do macartismo e da caça às bruxas na década de 50. Leonardo DiCaprio está fantástico como sempre, seria mera repetição dizer aqui que ele é um dos melhores atores do mundo em atividade. Ben Kingsley, Max von Sydow, Mark Ruffalo, Emily Mortimer e Michelle Williams (que interpreta a esposa de Teddy) também estão muito bem em seus personagens... Como eu jé disse, é apenas com o desenrolar da trama que passamos a ter uma noção do real desempenho de alguns deles. Ilha do Medo é sem dúvidas uma ótima pedida, evite ler muita coisa sobre o filme antes de assisti-lo e apenas se entregue às emoções diversas que ele pode lhe causar! Recomendo!


Assista ao trailer de Ilha do Medo no You Tube, clique AQUI !

Confira também aqui no Sublime Irrealidade as resenhas críticas de
Cabo do Medo, e de Os Infiltrados,
obras primas de Martin Scorsese!


18 comentários:

  1. Muitas palavras pra resumir apenas uma coisa: Assistam pois é BOM, muito eu diria.

    Gosto de filmes que envolve a psicologia, que conseguem nos fazer acreditar que é verdade e depois que a verdade é a mentira. Não sou perito em filmes, mas deste eu gostei muito, parabéns pela palavra

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  2. Ótima crítica. Ilha do Medo é meu Scorsese favorito do século XXI, não negro. Revendo fica cada vez melhor. O final, ao contrário do que muitos indicam, acho ambíguo e possibilita 2 interpretações, alguns dizem que dá uma resposta absoluta. Inclusive, procuro ir pelo caminho contrário, acho que ele é realmente são e que tudo conspirou contra ele. Posso estar sendo cabeça dura, já que esta foi minha primeira interpretação, mas acho mais interessante.
    www.lumi7.com.br

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    1. Também tirei esta conclusão a primeira vez que assisti, então assisti mais uma vez e vi que é o contrário.

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    2. É um filme ótimo, eu adorei e indiquei a alguns amigos. Rs

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    3. Eu acredito que ele era sao.
      Acho absurdo tudo oque aconteceu.
      Nenhum diretor ou psiquiatra de um manicomio deixaria solto um "paciente" de alta periculosidade,aponto dele explodir um carro, se arriscar nas pedras ,nas tempestades e agredir outras pessoas ,com o proposito de uma experiencias sem garantia de sucesso.

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  3. Eu adorei esse filme... simplesmente amei! Numa época em que o suspense se tornou algo tããão previsível, ainda temos coisas interessantes como A ilha do medo.

    Ps. Estava com saudades de ler suas resenhas... sabe que adooooro visitar meus amigos blogueiros né!? É sempre um prazer vir aqui... apesar da correria!rsrsrsrs

    bjks JoicySorciere - Blog Umas e outras...

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  4. A pareceria entre Scorsese e Di Caprio vem rendendo ótimos filmes.

    Quem é fã de filmes de suspense precisa ver.

    parabéns pelo blog!

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  5. Gostei muito desse filme. Achei perfeito. Não entendo porque foi tão desprezado.

    O Falcão Maltês

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  6. É um bom filme, isso é fato, mas não me dá vontade de rever, achei q algumas cenas, principalmente qd se revelam as coisas muito fortes, lembro q me deu uma sensação ruim q não tenho vontade de sentir de novo...heheh...Teu texto tá muito bom, como de praxe. Grande abraço meu camarada!

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  7. Lembro-me perfeitamente da terrível sensação de assistir o final. Esse aí entrou no meu top 20 de 2010 e é extremamente bem filmado pelo mestre Scorcese. Parabéns pelo belíssimo blog J. Bruno e pela força lá no meu B-Cine. Um grande abraço.
    www.b-cine-b-cine.blogspot.com

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  8. Grande Bruno,

    Essa semana uma amiga aqui da cidade, (que não é cinéfila)disse que viu esse filme,adorou e me indicou, eu confesso que não vi e nem conhecia,pois como me reservo a ver somente filmes antigos, muitas das vezes deixo passar a oportunidade de ver boas produções recentes.... confesso que seu texto me despertou ainda mais a vontade de assisti-lo, e vou faze-lo, abração cara, parabéns pelo Blog, sempre ótimo, e não deixe de me visitar.... bom final de semana

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  9. Tá, tá e tááá!

    Gosto do filme, ok?
    DiCaprio, eca.
    rs
    bjs

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  10. melhor critica que li sobre o filme, está de parebens, a linguajem usada na critica é boa e de facil entendimento e de bastante conteudo!!! o filme tambem é muito bom, obra prima, porem eu acho que daqui a uns 10anos ele terá um melhor reconhecimento

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  11. Melhor crítica sobre o filme de toda a internet!!!! Parabéns!!!

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  12. Simplesmente ótimo...difícil ter um filme com tamanho suspense...

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  13. O diretor Martins Scorcese busca fazer uma homenagem aos filmes que tratavam do tema loucura nos anos 30/40. Ele ambienta o filme àqueles anos e coloca a questão - muito comum ao cinema impressionista - quem são os loucos afinal? Além do poder que os médicos psiquiatrias poderiam exercer sobre seus pacientes - demonstrado pelos pacientes acorrentados numa inocente jardinagem. No inicio do filme, ao chegar a ilha, os dois policiais são recebidos por uma guarda desconfiada e no trajeto de jipe uma música inquieta acompanha os personagens, tipo dos filmes B de uma determinada época.A loucura parece estar em tudo, nos guardas, médicos alemães e pacientes sombrios. Loucos cuidando de loucos? Esse clima sombrio não sei se está no livro que deu origem ao filme pois não o li.

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  14. O diretor Martin Scorcese brinca de fazer uma homenagem aos filmes que tratavam do tema loucura nos anos 30/40. Ele ambienta o filme àqueles anos e coloca a questão - muito comum ao cinema expressionista - quem são os loucos afinal? E o poder quase absoluto que os psiquiatrias poderiam exercer sobre seus pacientes naquela época - demonstrado pelos loucos acorrentados enquanto realizam um inocente trabalho de jardinagem. Logo no inicio do filme, ao chegar a ilha, os dois policiais são recebidos por uma guarda hostil meio sinistra. No trajeto de jipe até o hospital uma música inquieta e nervosa - dos filmes B daquele cinema "noir" - acompanha o trajeto dos escoltados. A loucura parece estar em tudo,na paisagem, nos guardas, médicos alemães (nazismo?) e pacientes. Loucos cuidando de loucos? Esse clima sombrio não sei se está no livro que deu origem ao filme. Esse tributo talvez seja a beleza e, também, a fraqueza de A Ilha do Medo, embora a perfeita reconstituição daquele cinema. Mas não é aquele cinema. E mais por isso será lembrado embora a produção impecável.

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