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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Tão Forte e Tão Perto

Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud & Incredibly Close) - 2011. Dirigido por Stephen Daldry. Escrito por Eric Roth, baseado na obra de Jonathan Safran Foer. Direção de Fotografia de Chris Menges. Música Original de Alexandre Desplat. Produzido por Scott Rudin. Paramount Pictures, Scott Rudin Productions e Warner Bros. Pictures / EUA.


Achei que estivesse me tornando insensível por não ter sido tocado pela trama minimalista de Cavalo de Guerra (2011) de Spielberg, mas Tão Forte e Tão Perto (2011) de Stephen Daldry me provou que não. Enquanto o primeiro filme abusa da manipulação técnica para fazer chorar, o segundo emociona é pela  sensibilidade e humanismo pungente de sua trama. O roteiro, escrito por Eric Roth, baseado no livro de Jonathan Safran Foer, explora cada um dos personagens de forma não maniqueísta, tornando-os detentores de um realismo que aumenta ainda mais o impacto da trama. Outros filmes já foram feitos sobre o atentado de 11 de setembro, mas a maioria deles, ao contrário deste, focava a tragédia e não as suas consequências. Tão Forte e Tão Perto se despe de qualquer viés político na abordagem do tema e desenvolve a sua trama em uma ambiente quase intimista, conduzido pelo olhar de uma criança machucada e traumatizada pelo atentado.

Oskar Schell (Thomas Horn) é um garoto precoce e inteligente, mas que tem dificuldade em se relacionar com outras pessoas e medo de fazer coisas comuns, que todas outras crianças fazem, como brincar em um balanço, atravessar uma ponte ou usar o transporte público. Seu pai, Thomas Schell Jr (Tom Hanks), está sempre próximo a ele, constantemente lhe propondo jogos e brincadeiras que o levem de alguma forma a sair de seu estado de reclusão social. Porém no 11 de setembro de 2001, a vida do menino muda para sempre, sua família, que era até então normal e bem estruturada, foi despedaçada quando o segundo avião, também supostamente pilotado por terroristas da Al Qaeda, se chocou contra a segunda torre do World Trade Center. Thomas estava em uma reunião de negócios quando o prédio foi atingido naquela manhã. Após o choque do primeiro avião na torre ao lado, ele ainda teve tempo de falar com a esposa, que também estava no trabalho e de deixar mensagens para o filho na secretária eletrônica do telefone residencial; aqueles seriam os seus últimos recados para o menino... 


Se o Sol Explodisse, só daríamos conta oito minutos depois. Porque este é o tempo que leva para a luz chegar até a gente. Durante oito minutos ainda haveria claridade e ainda faria calor. Fazia um ano que meu pai morrera e eu sentia que meus oito minutos com ele estavam se esgotando...

Só depois de um ano o garoto decide abrir o guarda-roupas do pai, que a mãe (Sandra Bullock) mantivera fechado desde o “pior dos dias”. Lá ele encontra uma maleta, que estivera guardada no compartimento mais alto, junto com ela estava um vaso e dentro do vaso, um envelope contendo uma chave. Dentro maleta estavam coisas que o pai guardara por muito tempo, dentre elas um recorte de jornal com uma parte do artigo destacada com marca-texto, este fragmento dizia apenas: “Nunca desista de procurar”. Entendendo que talvez aquilo fosse uma mensagem do pai, deixada para ele, Oskar decide procurar a fechadura que poderia ser aberta pela chave que encontrara. A única pista que ele tem é o nome “Black”, escrito no envelope dentro do qual a chave fora achada. O garoto seleciona na lista telefônica todas as pessoas cujo sobrenome era "Black" e inicia então uma busca que percorrerá os cinco bairros de Nova Yorque.


Não demora muito e Oskar encontra um companheiro para suas buscas pela cidade, é um senhor idoso, o mais novo inquilino de sua avó (interpretado brilhantemente por Max von Sydow), que aparenta estar tão machucado pela vida quanto o ele. O "inquilino", como o menino o chama, não consegue falar e se expressa apenas escrevendo em um bloquinho de notas. A relação entre os dois é um dos melhores aspectos do filme, o primeiro “diálogo” entre eles é simplesmente fantástico. A cumplicidade que um encontra no outro, parece dar força a ambos para lidarem com seus respectivos problemas. O novo amigo substitui para Oskar a figura paterna, o menino passa a ver no velho os trejeitos do pai e isto os aproxima ainda mais. Um outra cena protagonizada por eles, que se passa em um metrô é também memorável...


Mesmo ao abordar uma temática tão forte e ao mesmo tempo melindrosa, o roteiro não força a barra em nenhum momento, nós expectadores não somos induzidos a sentir pena dos personagens, ou a vê-los por apenas uma das dimensões possíveis, a comoção que experimentamos é desenvolvida à medida que percebemos o quanto a história contada é real e antes de tudo universal. Ainda que suavizada pelo olhar do menino, que assume a função de narrador em diversas cenas, a trama fala de temas pesados, com quais nunca temos habilidade de lidar, ele fala da perda de entes queridos e do processo de superação pelo qual somos obrigados a passar... O filme ainda fala de culpa e de de ressentimento, mostrando que em muitas situações somos nós mesmos os culpados pelo não fechamento das nassa próprias feridas.


Cada um dos personagens com quem Oskar se encontra durante sua busca trazem consigo suas próprias dores e dramas pessoais e de alguma forma o menino acaba impactando em suas vidas e eles na dele, o que torna a história contada pelo filme uma espécie de processo de amadurecimento coletivo. Penso que o filme terá um efeito acentuado no público americano, afinal na trama o garoto vive um drama que não é só seu. A dor provocada pelo atentado ainda está encrustada na consciência coletiva daquele povo. Eles, ao verem a forma com que o menino lida com sua perda, provavelmente se sentirão acalentados, pois, mesmo que o longa não traga uma solução mágica para superar a dor, ele aponta um caminho, que não o do ressentimento ou o da vingança, é um caminho onde a força necessária para continuar vivendo é encontrada no apoio mútuo e no amor compartilhado.


Tão Forte e Tão Perto exige de nós expectadores uma boa dose de sensibilidade, pois só assim seremos capazes de compreender a grandiosidade desta obra e o sofrimento de cada um dos personagens. O filme não é fácil, por se tratar de uma história onde o sofrimento e a dor são quase uma constante, como uma grande ferida aberta incapaz de ser fechada de uma hora para outra. Sem o olhar sensível, enxergaremos apenas a personalidade por vezes irritamente do menino, ou a limitação senil do personagem de Max von Sydow e não a situação angustiante que eles vivem na história... Thomas Horn está excelente em sua atuação,  ele consegue dar ao seu personagem uma profundidade fantástica, demostranto uma grande desenvoltura em um papel bastante complicado. Sydow, o ator que já desafiou a morte para uma partida de xadrez em uma das sequências mais antológicas do cinema, aparece aqui em uma atuação memorável, mesmo não dizendo uma palavra durante rodo o filme, ele consegue nos arrepiar com a força e consistência de sua atuação.


O roteiro do filme é muito bem escrito, apesar de em alguns momentos lembrar o de Forrest Gump (1994) e o de O Curioso Caso de Benjamin Button (2008), também escritos por Eric Roth. Toda a trama é muito bem amarrada e cheia de sutilezas que são capazes de nos impactar de forma totalmente inexplicável. A edição não linear e narrações em off, são artifícios que se não usados da forma certa podem colocar tudo a perder, mas aqui eles funcionam da melhor maneira possível. A trilha sonora original assinada pelo premiado compositor francês Alexandre Desplat é ótima, ela ajuda a criar uma atmosfera melancólica, mas sem se tornar com isso opressiva ou massante. Tão Forte e Tão Perto é um filme belo, poético e sensível, para o qual infelizmente muitos torcerão seus narizes, eu contudo o vejo como uma obra prima, à altura da filmografia de Daldry. Sua indicação ao Oscar de Melhor Filme foi justa e ao meu ver inquestionável. Ultra recomendado!


Tão Forte e Tão Perto foi indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme e Melhor Ator Coadjuvante (Max von Sydow).

Assistam ao trailer de  Tão Forte e Tão Perto  no You Tube, clique AQUI !


25 comentários:

  1. Olá Bruno, eu sou a primeira a comentar? Com certeza eu vou assistir a esse filme junte Sandra Bulock, Tom Hanks, e ainda elogiado por vc! Bjos.

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    1. Ele é ótimo Luciana, foi um filme que dividiu a opinião da crítica especializada, mas eu gostei muito, é uma história de uma sensibilidade contagiante!

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  2. Uau!!! Dica ótima de filme essa. Bom saber que o cinema ainda reserva muitas obras desse nível.

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  3. Depois de tudo isso, não tem como não sentir vontade de assistir!

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    1. Assista sim, eu espero que ele cause em você o mesmo impacto que causou em mim!

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  4. Ah, eu já falei pra vc, lá no blogue, que me emocionei com o trailler que vc me mandou. Pensei, de primeira, que se tratasse daqueles filmes hollywoodianos cheios de clichês(e quem disse que eu não assisto esses?rs...), mas vc já me disse que não. Porém, deixou bem claro que é pra lá de emocionante. Preciso assistir!!

    bjks JoicySorciere => Blog Umas e outras...

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    1. Ele é o tipo de file que precisamos assistir desarmados, daí ele nos cativa de forma inexplicável com sua trama e personagens, filme lindo Joicy!

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  5. Essa troca entre as personagens, esse amadurecimento coletivo como escreveu, faz muita falta nos dias de hoje que é cada vez mais individualista. Se o filme conseguir mostrar bem essa ideia certamente já valeu a pena! Mas um para a lista...

    Abraços, Flávio.

    --> Blog Telinha Critica

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    1. Este é o melhor aspecto do filme Flávio, é legal perceber como ele vai na contramão do clima de tenção e desconfiança que vigorou no período pós atentado, o menino interage com os mais diferentes tipos de pessoas, afinal seus medos são outros... O roteiro, ao meu ver, tenta dizer que o medo do diferente e da ameça iminente de um novo ataque é tão bobo quanto os medos que o garoto precisa vencer na história...

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  6. Deu vontade de ver!Ótima crítica

    salpage.blogspot.com

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  7. Puxa, fiquei com super vontade de assistir. Parabéns, voce consegue aguçar a curiosidade do leitor, e nos prende no seu texto com muita facilidade. Valeu muito a pena passar por aqui

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    1. Obrigado Valquíria, eu também adoro teu blog, pena não ter dado para passar por lá nos últimos dias, pois estou numa correria enlouquecedora... Fico imensamente feliz que você tenha gostado!

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  8. Discordo de você quanto a War Horse, mas isso já é outra história.

    Estou para conferir este, gosto dos filmes do Daldry e fazia tempo que (ao menos pelo trailer)não vejo Tom Hanks em um projeto interessante.

    Roth é expert em adaptar jornadas internas e emocionantes misturando disfarçadamente com o estilo Road-movie.

    Max von Sydow tem uma quilometragem estupenda. Vamos ver se será reconhecido.

    Abç.

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    1. É um filme que tem causado divisão entre os críticos Rodrigo, alguns o amaram outros tantos o detestaram, eu porém estou junto com os primeiros...

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  9. filmes mesmo quando são pura ficção ainda podemos tirar lições e nos emocionar, vc não provoca só água na boca faz termos fome de assistir um filme! obrigada pelas sugestões! bj!

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    1. Fico até encabulado Shan-Tinha com tamanho elogia, fico hiper feliz que você tenha gostado, o filme é realmente lindo, não perca qualquer oportunidade de assisti-lo!

      Beijo grande, lhe espero por aqui mais vezes!

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  10. Zé, não sei se você gosta, mas tem tag lá no blog para você ! Te escolhi com muito carinho! (desculpe por comentar uma coisa que não tenha haver com o post)!
    http://sabrinnagomes.blogspot.com/2012/02/na-vibe-da-tag-11.html

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    1. Olá Sabrina!!!!
      Fico imensamente feliz e me sinto super honrado por você ter lembrado de mim, você já sabe o quanto eu gosto do teu blog e receber o selo é uma honra, mas eu não curto muito, não que eu não goste, é que às vezes acho que meu blog já está hiper congestionado visualmente, estou relutando em excluir alguns dos elementos de minha página, por isso acho que vou ter que recusar... ao menos por enquanto.. espero que você entenda...

      Beijão linda!

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  11. Olá, Bruno!
    O filme parece mesmo ser emocionante. Na verdade eu não entendo muito sobre filmes, acho que precisaria de séculos pra compreendê-lo com essa riqueza de detalhes com que você o descreve. Sou o tipo de pessoa que assiste filmes infantis até decorar as falas dos personagens ahuiahiahuiahahui
    O mais impressionante é que, do jeito que você descreve o filme, dá vontade de assistir, meus parabéns!

    Obrigada pela visita ao Ninho de Gato, volte sempre. :)

    Beijocas!

    Ismália .

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    1. Obrigada Ismália, voltarei sempre sim, estes dias foram um pouco corridos, mas assim que eu colocar as coisas em ordem eu volto ao ritmo normal e pode ter certeza que passarei por lá! Beijo grande!

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  12. Oi Bruno. Vim conhecer seu blog e adorei. Gostei muito também do texto sobre Tão forte, tão perto, que é um excelente filme. Se não for um problema para você, estou pensando em colocar um link no meu blog (viciodecinema.blogspot.com) para o seu. Ok?
    Um grande abraço!

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    1. Olá Tércio seja bem vindo!
      Já passei lá pelo seu também e já estou lhe seguindo, esta semana as coisas estão meio loucas, por causa da correria ainda não tive tempo de deixar nenhum comentário por lá... Valeu por ter linkado meu blog ao teu, você também já esta linkado aqui!

      Forte abraço! Seja bem vindo sempre!

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  13. Olá Bruno, blz?

    Pois eee....

    Tudo que vinha lendo até então sobre este filme era mega provocativo e negativo por parte de quem escreve, mas enfim encontrei seu texto! rsrssr

    Eu também gostei do filme, e vi, assim como senti enquanto assistia, um mega drama e um sentimento bastante profundo em sua narrativa.

    É o típico filme que adoro, em que devemos senti-lo, saboreá-lo a casa momento e esperar pelo ápice final.

    aí está o texto que escrevi sobre o filme: http://eaicinefilocadevoce.blogspot.com.br/2012/05/tao-forte-e-tao-perto-2011-antes-de-tao.html

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