N° de acessos:

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Pearl Jam Twenty

Pearl Jam Twenty - 2001. Escrito e Dirigido por Cameron Crowe. Direção de Fotografia de Nicola Marsh. Produzido por Cameron Crowe, Kelly Curtis, Andy Fischer, Barbara Mcdonough e Morgan Neville. Tremolo Productions e Vinyl Films / USA.


Cameron Crowe ainda não era um cineasta reconhecido quando se mudou para Seattle no final dos anos 80, naquela ocasião sua principal atividade ainda era a de colunista musical. Ele se tornara nos anos 70 o mais jovem colaborador da revista Rolling Stone e deste então ele trilhara um bem sucedida carreira no jornalismo cultural. Crowe foi para o noroeste dos Estados Unidos atraído pela prolífera cena musical da cidade natal de Jimi Hendrix, que começava a chamar a atenção da mídia e da indústria cultural. Neste período, ele teve contato com aquilo que seria o embrião do hype que a crítica especializada apelidaria de Grunge. Ele estava no lugar certo e na hora certa... em Seattle ele faria o seu primeiro filme, Digam o que Quiserem (1989), e a ebulição cultural  da cidade serviria de pano de fundo para o segundo, Singles - Vida de Solteiro (1992).

O fato de que Crowe conheceu de perto a cena musical da cidade, antes da explosão do Grunge, faz dele o cineasta mais indicado para contar, através de um documentário, a história de uma das bandas mais importantes surgidas naquele período, o Pearl Jam. A relação entre o cineasta e a banda sempre foi bastante amistosa, membros dela fizeram pontas em Singles, como integrantes da banda de um dos personagens centrais do filme e este mesmo personagem teve seu figurino montado basicamente com peças do guarda roupas de Jeff Ament, baixista do banda. A proximidade entre Cameron e os músicos contou muito para que Pearl Jam Twenty se tornasse um documentário quase passional, destituído de qualquer pretensão de ser imparcial ou de se ater a qualquer rigor jornalístico...


Eu diria que Pearl Jam Twenty é um filme de um fã para outros fãs da banda e justamente por isso a parcialidade dele não chega a ser um demérito. Para os fãs não há nenhum problema em ser parcial, desde que desta parcialidade resulte uma abordagem positiva. O documentário não se prende tanto à datas, mudanças de formação e coisas do tipo, ele não funciona tão bem como biografia e este é na minha opinião um de seus grandes acertos. O Pearl Jam sempre se manteve relativamente à margem da indústria fonográfica (ainda que seu primeiro disco permanecendo um tempo enorme nas paradas de sucesso), raramente seus integrantes concediam entrevistas e eles se tornaram conhecidos mais pelas suas atitudes do que por aquilo que diziam diante de câmeras e gravadores. Crowe no entanto quebra esta barreira difícil de ser transposta e nos apresenta para uma banda formada, não por rock-stars, mas por pessoas comuns, que trazem consigo seus próprios dramas e experiências da vida...


Outro ponto positivo do filme é que ele não comete o equívoco (muitas vezes cometido) de mostrar o Grunge como um movimento, ou como um sub-estilo musical. Crowe não despreza a influência , direta ou indireta, que as outras bandas de Seattle exerceram sobre o Pearl Jam, no entanto ele aponta a efervescência cultural da cidade apenas como uma cena musical, que é tão somente o que ela foi... 

Pearl Jam Twenty começa falando da importância de uma das bandas de maior sucesso no underground local antes do hype, o Mother Love Bone, que terminou após a morte prematura de seu vocalista, Andrew Wood, por overdose. O fim desta banda causaria um forte impacto na cena musical da cidade e uma onda de melancolia tomaria os integrantes remanescentes do grupo, dentre eles Jeff Ament e Stone Gossard, futuros integrantes do Pearl Jam. A experiência de ver o amigo agonizando funcionou como um rito de passagem para eles e influenciou diretamente no clima das músicas que eles compuseram naquele período.


Eddie Vedder, que não viveu esta experiência, chegou a Seattle trazendo seus próprios dramas em sua bagagem, ele era fruto de um lar despedaçado, o homem que o criara não era seu pai biológico e ele só descobriu isso quando seu progenitor já estava morto. Cameron Crowe destaca estes dois eventos no filme, a morte de Andrew Wood e o drama familiar de Vedder, pois deles sairiam a inspiração para algumas das músicas do primeiro disco da banda, que se tornariam verdadeiros clássicos. Ele dá continuidade a este tipo de abordagem que aproxima a vivência de cada um dos integrantes da obra produzida por eles.

Crowe ainda dá enfase no relativo distanciamento que a banda manteve do circuíto comercial e da grande mídia e a alguns eventos que marcaram sua trajetória, como a briga com a Ticketmaster pela redução dos preços dos ingressos de seus shows e a tragédia acontecida em 2000 em uma apresentação no  Festival de Roskilde na Dinamarca.


Os depoimentos presentes em Pearl Jam Twenty são em sua maioria de integrantes da banda e de pessoas próximas a eles, o que reforça a postura parcial e passional do filme, todavia Crowe não deixa de mencionar os maus momentos pelos quais a banda passou e crises internas que ela enfrentou, o que funciona como um interessante contraponto à abordagem predominante. 

O documentário está repleto de imagens raras (o que é característico do gênero), várias delas do início da banda, feitas pelo próprio Cameron enquanto ele ainda atuava como jornalista em Seattle, o que é sem dúvidas é um deleite para qualquer fã da banda, principalmente para aqueles que não viveram o início dos anos 90 e a explosão do Rock Alternativo de Seattle. Recomendo para os 'camisa de flanela' e para todos os demais que apreciem e valorizem a boa música! 

Assistam ao trailer de Pearl Jam Twenty no You Tube, clique AQUI !

Confiram também aqui no Sublime Irrealidade as críticas de Compramos Um Zoológico (2011) e Singles - Vida de Solteiro (1992), também dirigidos por Cameron Crowe!

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.

24 comentários:

  1. Oi,Bruno!!
    Como eu já te falei, eu atualmente não tenho ido ao cinema!!....
    Mas, não poderia deixar de vir aqui, pra desejar um Feliz Dia do Amigo.
    Bjs,Soninha.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pra você também Soninha!!!
      Não é atrasado porquê todo dia é dia do amigo!

      Excluir
  2. Ola,passei para desejar um bom fim de semana e dizer que tenho apreciado bastante teu ótimo blog.Abraços.

    ResponderExcluir
  3. Grande Bruno, como estais? Bem, confesso não gostar do Pearl Jam, daquela onda toda do início dos anos 90 só consegui gostar de pouquíssimas bandas deste movimento, e o Nirvana foi a melhor coisa que aconteceu, mas pra quem gosta da banda, esse filme é um adendo.

    Abração.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Reconheço a importância do Nirvana, mas não a acho nem de longe uma das melhores da cena de Seatle, até porque ela não fazia parte da cena... Alice in Chains e Pearl Jam são, na minha opinião, bem superiores ao Nirvana, porém sem o mesmo apelo comercial...

      Excluir
  4. Ah eu não conheço a banda mas vi que foi muito influente né? Vou pesquisar mais sobre!O filme parece ser ótimo.

    Beijao cinéfilo! , www.spiderwebs.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O filme é ótimo Sabrina, não deixe de vê-lo e de escutar a banda!

      Excluir
  5. Muuuuuitas bandas apareceram em Seatle nesse mesmo período, e algumas como Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains, Sundgarden e Mudhoney acabaram tendo algum destaque e ganharam a grande mídia!
    Mas como você falou, isso não foi um movimento, pois se você for ver as bandas diferiam muito entre sí... Não foi igual o movimento punk de São Paulo no começo dos anos 80! Se você ainda não assistu eu te indico "o melhor documentário musical e cultural do Brasil", na minha humilde opinião, que se chama BOTINADA, é facil de achar nas lojas de discos ou na inernet.

    Bom esse filme aí que vc resenhou, realmente parece que vale a pena da gente assistir e se ele realmente for honesto em falar apenas da cena de Seatle sem endeuzá-la como muitos fazem, isso vai ficar melhor ainda!

    Eu tenho uma tese:
    As bandas de Seatle são mais ou menos, nem o Nirvana é tão maravilhoso quanto dizem. Mas elas só alcançaram a grande mídia americana e consequentemente a mundial, porque eles estavam vivendo um buraco negro do rock naquele momento! Qual banda fazia sucesso? Qual das grandes bandas estavam numa época criativa?
    Hahahahahahaha essa é aminha tese! E isso aconteceu de cinco anos pra cá no Brasil onde devido ao nosso buraco negro, o Restart e bandas desse "baixo" calibre ganharam seu lugar na mídia!

    Ainda bem que estão perdendo espaço agora, e ainda bem que o som Underground nuuuuuunnnnnca vai se acabar!

    Um abração meu amigo!

    Ixi... Falei demais!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu gosto muito da cena de Seatle André, mas não daquilo em que a mídia a transformou. Gosto muito de Alice in Chains, de Pearl Jam e diversas outras bandas, já o Nirvana, eu acho uma banda superestimada, que sequer fez parte da cena e pegou carona na onda por fazer parte do cast do selo Sub Pop...

      O 'Botinada' é realmente ótimo André, comprei o DVD original assim que ele foi lançado!

      Excluir
  6. Nossa, gostei, quero muito ver, tenho grande admiração pelas bandas grunges, e esse doc pelo q to lendo deve tá muito fera.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Assista sim, acho que você realmente irá gostar muito!!!

      Excluir
  7. Legal a dica, estou curioso para assistir, assim como o documentário sobre o Metallica que também acabai deixando de lado.

    Não sou crítico musical, longe disso, mas depois da explosão do rock nos anos oitenta, o último cenário que me chamou a atenção foi Seattle nos início dos anos noventa.

    Como o André citou acima, Mudhoney, Nirvana, Soundgarden, Alice in Chains, Temple of Dog, Screaming Trees, Stone Temple Pilots foram os expoentes.

    Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Expoentes, esta é palavra certa, afinal a cidade tinha inúmeras outras bandas com grande potencial criativo, que foi deixada de lado quando a indústria cultural passou sua peneira e levou o que lhe convinha do cast da Sub Pop... Acho que a cena de Seatle foi a última a ter esta representatividade (mais geográfica do que estética em sua similaridade) porque a partir de então, as distâncias foram se tornando menores e hoje com a conectividade, oferecida pela internet, não mais tanto sentido falar de cena localizada...

      Excluir
  8. Não sou muito ligado em música, sinceramente, nem conseguiria assistir! abraços, Bruno!

    http://monteolimpoblog.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sendo assim, acho que você realmente não iria gostar dele...

      Excluir
  9. Olá!Boa noite!
    Tudo bem,Bruno?
    ... você me lembrou...soube quando assisti "Tudo acontece em Elisabethtown", que Cameron Crowe, foi jornalista e escrevia para algumas publicações, inclusive para a Rolling Stones. Este não assisti ainda,sobre o rock alternativo de Seattle... deve valer a pena dar uma "visu"!
    Bom domingo!
    Abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vale a pena sim Felisberto e assista também o ótimo "Quase Famosos", filme dele inspirado no período que ele trabalhou como colunista da Rolling Stone...

      Excluir
  10. Bruninho,tudo bem?
    Excelente resenha crítica a tua.
    Não assisti a este documentário, e, sinceramente, pouco sei ou ouvi de Pearl Jam, mas já li bastante sobre Grunge e posso te afirmar, em quase 100% dos textos, colocam o Grunge como movimento, sim; mas faz todo sentido o que você colocou e a abordagem de Crowe.
    Outra coisa que achei bem interessante foi o fato dele ser jornalista, e aqui ter uma abordagem parcial; ou seja, o contraste de profissão versus paixão; e sei o quanto é difícil por experiência própria.
    Beijos e ótimo domingo!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu nem vejo esta questão da parcialidade como algo negativo, desde que tal postura seja esclarecida e não velada, até porquê eu não acredito que exista de fato uma imparcialidade plena... Lhe recomendo o documentário Cissa, vai ser uma boa forma de você conhecer mais sobre o Pearl Jam, não sobre a biografia (que não é o foco do filme), mas sobre a musicalidade da banda, que é ótima!

      Excluir
  11. Olá, José Bruno.
    Eu curto Pearl Jam desde o primeiro álbum, Ten e não sabia da existência desse documentário.
    Do Cameron Crowe eu quero muito ver Quase Famosos, que me parece ser uma grande homenagem ao rock and roll.
    Abraço, José Bruno.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Assista tanto ao documentário quanto "Quase Famosos" Jacques, ambos são imperdíveis. "Quase Famosos" é ótimo e tem uma trilha sonora maravilhosa!

      Excluir
  12. Assisti a esse documentário, é quase que um concerto dentro de um documentario, muito rico em informações, confesso que me impressionei com a qualidade do filme e de como foi dirigido pelo Diretor.

    Para quem gosta da Banda é um prato cheio, para quem não curte muito, vale pelas informações e do ótimo conteúdo que se propoe o Filme, bem antes da formação Pearl Jam a história começa com boas abordagens, e realmente o PJ chegou aos seus 20 anos por ser uma Banda honesta, vale a pena conferir...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, seja bem vindo!

      Realmente a direção do Cameron Crowe contou muito para o resultado final, ele soube dar ênfase ao que era importante e apenas passar por aqueles fatos aos quais outros cineastas teriam se apegado... É esta honestidade da banda que a torna tão louvável, junto é lógico com sua musicalidade... Vale a pena sim!

      Excluir