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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A Noiva Cadáver

A Noiva Cadáver (Corpse Bride) - 2005. Dirigido por Tim Burton e Mike Johnson. Escrito por Tim Burton, Carlos Grangel, John August, Caroline Thompson e Pamela Pettler. Direção de Fotografia de Pete Kozachik. Música Original de Danny Elfman. Produzido por Tim Burton e Allison Abbate. Warner Bros. Pictures, Tim Burton Animation Co., Laika Entertainment, Patalex Productions, Tim Burton Productions e Will Vinton Studios / USA | UK.


Os últimos filmes em live action dirigidos pelo Tim Burton foram verdadeiros fracassos de crítica, eles deixaram a impressão de que o cineasta tinha perdido sua criatividade e embarcado em uma série de reconstruções de uma mesma fórmula, que diga-se de passagem já estava desgastada há bastante tempo. Filmes como Alice no País das Maravilhas (2010) e Sombras da Noite (2012) derraparam em um aspecto que fora no passado um dos grandes diferenciais da filmografia do cineasta: o roteiro. Em ambos os casos prevaleceu a a percepção de que os malabarismos técnicos, que eram realmente dignos de elogio, serviam apenas para camuflar as várias irregularidades e convencionalismos proporcionados pela trama. Sendo assim, não é de se estranhar que na animação o diretor consiga resultados mais expressivos, uma vez que neste gênero um texto minimalista e sem tanta profundidade acaba funcionando melhor. Frankenweenie (2012), que comentarei em outro texto, é uma prova disso; mas esta não é a primeira vez que ele acerta em um longa neste formato, em A Noiva Cadáver (2005), o objeto desta resenha, ele fez um excelente uso da estética que sempre foi recorrente em sua obra e o resultado foi, ao menos para mim, surpreendente.

No filme de 2005 Burton conseguiu reunir vários dos elementos que caracterizaram sua marca autoral e que o tornaram conhecido em meados dos anos 80, lá estão o flerte com o sobrenatural e a influência do ultra-romantismo e da estética gótica. No filme ele destila um senso de humor ácido, que não destoa em momento nenhum da aura soturna que a história tem. É interessante perceber a forma com que o roteiro desmonta algumas convenções sociais e critica outras, tudo de uma forma leve e sem qualquer tipo de apelo cômico ou dramático, do tipo de que pode ser notado em alguns de seus filmes mais recentes. A Noiva Cadáver possui uma trama simples, quase infantil, que brinca com situações típicas dos contos de fadas, como o amor proibido, o casamento arranjado pela família dos noivos e a quebra de um feitiço ou maldição que  impede que os protagonistas tenham um final feliz.


A história contada pelo filme gira em torno de um triângulo amoroso inusitado, no primeiro de seus vértices está Victor Van Dort (voz de Johnny Depp), um rapaz tímido vindo de uma família emergente, seus pais lhe arranjam um casamento com uma moça rica, para assim conseguirem adentrar no círculo social dominante; sua noiva, que está no segundo vértice, é Victoria Everglot (voz de Emily Watson), a família dela está falida, mas ainda conserva o status outrora conquistado, os pais dela vêem em seu casamento uma chance de voltarem a ser ricos de verdade. Por ser muito atrapalho, Victor não consegue fazer os votos matrimoniais, o que deixa o pastor local bastante nervoso. O religioso se recusa a prosseguir com o casamento enquanto o noivo não estiver realmente preparado para ele. Frustrado, ao descobrir que não conseguiria casar, mesmo tendo gostado da noiva, Victor foge para a floresta. Após declamar perfeitamente seus votos em uma clareira sob a lua cheia, ele coloca a aliança no dedo de uma cadáver, achando que se tratava de um galho.


Os votos acabam despertando a defunta, ela é Emily (voz de Helena Bonham Carter), uma moça que morrera logo após ter se casado com um homem que mal conhecia. Radiante por ter finalmente encontrado um outro noivo, ele toma Victor pelos braços e o leva para o subterrâneo, onde está localizado o mundo dos mortos. A partir de tal ponto, o roteiro entrelaça as duas histórias, a do mundo dos vivos e a do mundo dos mortos, deixando o noivo dividido entre a noiva que lhe espera e aquela para quem declamou os juramentos matrimoniais. Emily é tão ingênua quanto Victor, porém ela não está disposta a abrir mão do marido que acabara de conquistar...


Durante todo o filme o mundo dos vivos é retratado de forma sombria, em todas as passagens nais quais ele é mostrado a fotografia valoriza tons monocórdicos, com predominância do azul e do branco, o que dá a ele um aspecto frio e mórbido, o que nos remete às motivações daqueles que o povoam. Já o mundo dos mortos é todo colorido, nele predominam as tonalidades fortes, o que gera um contraste interessante. Enquanto no primeiro as relações entre os personagens se dão por interesses mesquinhos, no segundo não há egoísmo, distinção de classes sociais ou formalismos, lá todos vivem em uma festa que parece nunca parar e todos os recém chegados são bem recebidos e convidados a se juntarem à comemoração ensandecida.


Em algumas passagens a técnica de stop motion, conhecida pelo uso de bonecos de massinha, me pareceu um tanto primitiva (principalmente quando a comparamos com outras produções nas quais ela foi usada), no entanto, nem isso tira o filme do alto nível de qualidade que ele alcança em praticamente todos os outros aspectos. A composição dos cenários é muito bem realizada, ela ao lado da fotografia, reforça as diferencias mencionadas, que existem entre o mundo dos vivos e o dos mortos. O filme flerta em diversos momentos com o gênero musical e este, que poderia ser um de seus problemas, acaba sendo um de seus atrativos. As canções interpretadas pelo elenco são muito bem encaixadas na trama e auxiliam no desenvolvimento da narrativa, substituindo outros elementos como a narração e o flash back.


A Noiva Cadáver é de fato um ótimo filme, que entretém e diverte mantendo um bom nível de qualidade, sua curta duração, que talvez seja motivada pelo trabalhoso uso do stop motion, é no fim das contas um fator positivo, pois ele não se prolonga além da conta e nem perde o ritmo em nenhum momento. Este é o Tim Burton que dá prazer assistir e comentar. Recomendo para todos! 


Assistam ao trailer de A Noiva Cadáver no You Tube, clique AQUI !

A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.

Confiram também aqui no Sublime Irrealidade a crítica de Sombras da Noite, também dirigido por Tim Burton!

5 comentários:

  1. Tim Burton vem recentemente dividindo o público e chateando a maioria, acredite, quanto ao filme "Sombras Da Noite" eu embarquei totalmente na brincadeira e me aliviou depois de um piegas, constrangedor e desastroso "Alice".

    Esta animação é muito bem feita, mas não sou particularmente fã deste trabalho (e acho as canções das mais fraquinhas do Elfman). Pode ter momentos bonitinhos e engraçados (e até assustadores para as crianças), mas ainda prefiro mais sua produção "O Estranho Mundo De Jack", um clássico e o recente "Frankenweenie" que é bárbaro!

    Abs.

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  2. Eu adoro "A Noiva Cadáver", talvez seja um dos filmes que eu mais vi nada vida. Muito bem feito e um roteiro costurado da forma certa (:

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  3. Sabe que quando vi esse filme pensei que era de imagens 3D? Eu só soube que eram bonecos depois, quando vi o making-off.

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  4. Adorei este do Tim Burton. Embora não seja dos meu favoritos. Mas vale dizer, a parte técnica do filme é impecável mesmo, e o elenco é soberbo. Parabéns pela resenha, José Bruno.

    Obs: valeu por comentar lá no "Leitura de Cinema" na crítica do "Fale com Ela". Fico muito feliz que tenha gostado da minha análise daquela obra-prima do Almodóvar.

    Abraço.

    http://www.leituradecinema.com.br/2013/05/copia-fiel.html

    http://www.leituradecinema.com.br/2013/04/a-caca_9068.html

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  5. É o meu preferido. E emociona. Afinal, também fala de assassinato e sonhos que nunca se realizarão. A fantasia ameniza tudo isso. A versão em português ficou muito boa também.

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