Moonrise Kingdom - 2012. Dirigido por Wes Anderson. Escrito por Wes Anderson e Roman Coppola. Direção de Fotografia de Robert D. Yeoman. Música Original de Alexandre Desplat. Produzido por Wes Anderson, Jeremy Dawson, Steven M. Rales e Scott Rudin. Indian Paintbrush, American Empirical Pictures, Moonrise e Scott Rudin Productions / USA.
Pode-se dizer que um determinado cineasta alcançou sua maturidade estética quando ele desenvolve uma marca autoral que caracteriza os seus filmes e esta não os fazem soar repetitivos ou como resultados de autoplágio. Wes Anderson conseguiu este feito já a bastante tempo, o que nos torna relativamente seguros em relação ao o que esperar de suas obras, não que elas sejam previsíveis, pelo contrário, o que sabemos é que ele dificilmente decepcionará aqueles que já o respeitam, ainda que seja difícil ele convencer seus detratores. Isto é na verdade bastante positivo, pois é sinal de que ele não está tão preocupado em agradar um público que não aquele que já o admira. É preciso lembrar também que alguns aspectos que têm sido apontados pelos haters como defeitos em sua obra são na verdade os mesmo que a tornam única e tão genial, falarei de alguns deles mais adiante. Moonrise Kingdom (2012), seu mais recente trabalho, é uma pequena obra-prima que reúne cada um dos elementos que distinguem seu estilo e o tornam tão fabuloso.
A trama do filme, que se passa no ano de 1965 em uma pequena ilha da costa da Nova Inglaterra, é simples, ela narra as buscas por um casal de crianças de 12 anos que estão desaparecidas. Sam Shakusky (Jared Gilman) é um órfão que fora adotado a menos de seis meses por uma nova família, ele estava no acampamento Ivanhoé, comandado pelo Escoteiro-Chefe (Edward Norton), antes de fugir levando uma canoa e uma vara de pescar. Suzy Bishop (Kara Hayward) mora com os pais (vividos por Bill Murray e Frances McDormand) e os três irmãos menores, ela é definida na trama como uma criança complicada e sua fuga tem relação direta com a desestruturação de sua família. Sam e Suzy tinham se conhecido um ano antes durante uma apresentação teatral, eles se apaixonaram e desde então mantiveram contato por meio de correspondências.
Foi através das cartas trocadas que eles arquitetaram cada etapa da fuga, escolheram a data, a hora e o lugar para se encontrarem. A intenção de Sam era percorrer uma antiga trilha aberta por um povo nativo. Durante a pequena viagem ele usa todos seus conhecimentos de escoteiro para sobreviver na natureza e proteger a Suzy. Ao ser informado sobre o desaparecimento de Sam, seu pai adotivo diz que não o quer de volta devido aos problemas que ele tinha causado anteriormente. Uma assistente social (Tilda Swinton) é então chamada para resolver os problemas legais relativos à sua adoção, a passagem na qual ela sugere o que provavelmente acontecerá com ele depois que o encontrarem é no mínimo bizarra. A urgência em encontrar as crianças aumenta com a aproximação de uma forte tempestade, que deixa todos bastante apreensivos. A busca pelos garotos mobiliza todo o pequeno lugarejo, desde os outros escoteiros ao único policial local, o capitão Sharp (Bruce Willis).
Sam foge porque quer ser livre e Suzy por não aguentar mais a hipocrisia dos pais, na viagem, que funciona para eles como um rito de passagem, eles terão contato com uma versão um tanto surrealista do que é a maturidade. Através da descoberta do amor, da sensualidade e do senso de responsabilidade eles compreenderão o quão difícil é ser adulto. Em Moonrise Kingdom é possível perceber um aspecto recorrente na obra de Wes Anderson, que é rompimento da linha que separa o comportamento adulto do infantil, fenômeno que também pode ser notado com facilidade em Os Excêntricos Tenenbaums (2001), no qual alguns personagens são considerados precoces durante a infância, mas se tornam desajustados depois de crescidos. Em Moonrise Kingdom este mesmo fenômeno pode ser observado em diversas situações, como por exemplo nos irmãos de Suzy que, mesmo sendo bem pequenos, jogam ludo com um nível de concentração invejável e demonstram interesse pela da música erudita.
A angulação pela qual toda a história é contada nos remete ao olhar inocente e imaginativo de uma criança e a narrativa trabalha isto de formas surpreendentemente belas e singelas, seja através da fotografia, na qual predominam uma multiplicidade de tons desbotados (o que reforça tanto a beleza quanto a melancolia do filme); da composição da trilha sonora, na qual Alexandre Desplat aparenta se divertir feito um menino; ou nas diversas situações, que nos parecem estranhas à primeira vista, mas que trazem consigo o brilho e a magia típicos da meninice, como no momento em que Suzy descobre que sua mãe pode estar traindo seu pai; no fato de uma das personagens ser chamada pela instituição onde trabalha e não pelo nome; ou nos exageros dramáticos que surgem durante todo o desenrolar da trama. Mesmo em meio a tanta cores e beleza estética, há um fio de melancolia que percorre toda a duração do longa, o que é mais uma evidência da marca autoral do diretor, este sentimento talvez esteja relacionado ao saudosismo e à dor da infância perdida, que se manifestam pela percepção do quanto toda fantasia que nos remete à nossa infância não é no fim das contas irreal...
Num um elenco que reúne nomes como Bill Murray, Frances McDormand, Bruce Willis, Tilda Swinton e Edward Norton a expectativa é a de que seja difícil apontar destaques, todavia, para minha surpresa há sim desempenhos que chamam mais a nossa atenção e estes não vêm de nenhuma dos nomes que acabei de citar, mas dos adolescentes Jared Gilman e Kara Hayward, eles estão ótimos e conseguem segurar boa parte da duração do filme praticamente sozinhos, a química existente entre eles é fundamental para que isso aconteça - Preste atenção no olhar triste e distante e nos gesto contidos de Kara, algo que diz muito sobre seu personagem.
O uso de efeitos e enquadramentos inusitados, outro aspecto comum na filmografia de Wes Anderson, não é nem um pouco exagerado, como alguns detratores de sua obra tem apontado, no longa eles dão coesão à narrativa e serve com êxito aos propósitos dela, tudo está na medida certa e onde deveria de fato estar. Isso demonstra o cuidado e o perfeccionismo do cineasta com cada detalhe que compõe o todo.
Como eu disse, esta é uma pequena obra-prima e a intensidade de cada um de seus efeitos estará diretamente ligada à sensibilidade de cada espectador, afinal o que Moonrise Kingdom nos pede é apenas que consigamos emprestar a ele um pouco do nosso próprio olhar de criança, aquele que talvez já não usássemos a tanto tempo e se você conseguir fazê-lo certamente estará embarcando numa das mais belas experiências cinematográficas que 2012 nos ofereceu... Recomendo para todos sem restrições!
A revelação das passagens aqui comentadas não compromete a apreciação da obra.
Confiram também aqui no Sublime Irrealidade as críticas de Os Excêntricos Tenenbaums (2001) e O Fantástico Sr. Raposo (2009), também dirigidos por Wes Anderson.
Que bom que gostou de Moonrise Kingdom, uma pequena obra-prima mesmo. Não sei se é o melhor filme de Anderson, mas sem dúvida, é o que mais encanta. Ótimo texto! Abração!
ResponderExcluirConcordo Celo, "Moonrise Kingdom" é de fato um dos melhores do ano!
ExcluirJá queria muito assistir, mas a sua resenha deixou-me, no mínimo,louca para conferir! Ótimo texto, recomendação super aceita! Beijo
ResponderExcluirAmanda, "Moonrise Kingdom" é do tipo de filme que já nos conquista na sequência de abertura, é uma obra que não tem nenhuma aresta a ser aparada.
ExcluirFico feliz que você tenha gostado de meu texto e que ele tenha te motivado ainda mais a ver o filme!
Beijos
OI, Bruno, como você tá?
ResponderExcluirValeu pela visitinha e comment.
Também acompanhei Damages, mas só na primeira temporada mesmo. Nem sei porque parei de assisti-la, pois gostei muito. Não sabia que havia sido cancelada. que pena!
Outra resenha muito boa a sua. Nunca ouvi falar desse filme, mas achei bem interessante, sem contar que tem atores muito bons nele. Valeu a dica.
Beijos!
Cleo
http://vejoporai.blogspot.com.br/2013/01/cuidado-com-o-cao-ele-tem-sentimentos.html