Babel (Babel) 2006, dirigido por Alejandro González Iñárritu, escrito por Guillermo Arriaga, produzido por Jon Kilik & Steve Golin. Paramount Vintage/ EUA.
Talvez a marca registrada dos filmes de Alejandro González Iñárritu, diretor mexicano radicado nos EUA, seja o sofrimento latente. Ainda não tive oportunidade de assistir seu primeiro filme, Amores Brutos (2000), mas a dor e a busca por redenção talvez sejam as principais característica de 21 gramas (2003) e de Babel (2006). Em ambos os filmes as consequências de um ato, um acontecimento casual ou uma escolha acabam colocando os personagens em situações extremas que os levam à dor e à angústia. Uma analogia pode ser feita entre tal modelo e o proposto por Aristóteles em sua obra A Poética.
O sofrimento vivido no filme é compartilhado por nós espectadores, tal sentimento é despertado pela empatia que passamos a ter com os personagens, que são pessoas comuns como nós, e “induzido” com brilhantismo pela trilha sonora e pela edição. Tal como na tragédia grega, as peripécias do destino levam os personagens à temíveis catástrofes e nós espectadores, que nos identificamos com a trajetória, passamos a, assim como eles, a ansiar por uma redenção. Quando Aristóteles definiu o modelo trágico, ele chamou de catarse este processo de redenção, pelo qual o personagem passa para purgar o erro que o levou à ruína, purgando também as falhas dos espectadores.
.
Estes três elementos: empatia, catástrofe e catarse, que estão bem definidos tanto em 21 Gramas quanto em Babel, pode ser o segredo do sucesso dos filmes. Os roteiros dos três primeiros longas de Iñárritu foram escritor por Guillermo Arriaga, este talvez seja o responsável pela presença dos elementos trágicos citados acima. Durante as gravações de Babel, Arriaga passou a reivindicar maiores créditos sobre a autoria dos filmes, as discussões em torno do assunto levaram ao rompimento da parceria em 2006.
O roteiro de Babel, se desenrola sobre três histórias distintas e está ambientado nos Estados Unidos, México, Marrocos e Japão. Na primeira história, uma turista americana (Cate Blanchett) que está de férias no Marrocos com o marido (Brad Pitt) é baleada acidentalmente, quando um menino pastor, que cuidava de cabras junto com o irmão, atira contra um ônibus em movimento, para testar o alcance da arma comprada pelo pai. Em San Francisco nos EUA uma babá (Adriana Barraza) cuida de duas crianças enquanto os pais estão ausentes, naquele dia aconteceria o casamento de seu filho no México e ao saber que não tinha com quem deixar os pequenos, decide atravessar a fronteira com eles e seu sobrinho (Gael García Bernal), que os dão carona. No Japão uma adolescente surda e muda (Rinko Kikushi), que não consegue se relacionar bem a não ser com outras meninas surdas, tenta vencer o trauma do suicídio recente da mãe e a distancia afetiva do pai (Kôji Yakusho) e sua carência a leva a apresentar um comportamento sexual desajustado. Assim como em 21 Gramas, em determinado momento as histórias se cruzam e dão um sentido maior à trama.
"E o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer." Gn 11-6
O nome do longa é uma referência ao relato bíblico sobre a Torre de Babel. De acordo com a teologia judaico-cristã, a torre foi construída por homens que queriam chegar até o Criador. A prepotência deste intuito fez com que Deus cessasse a construção e desse a estes homens línguas diferentes, para que não pudessem mais entender uns aos outros. Sem a compreensão a edificação que intentava chegar ao céu não poderia mais ser retomada. Babel, o filme, mostra pessoas incapazes de se comunicar e totalmente fracas diante do próprio sofrimento. São pessoas comuns, em quem a dor se abate pelo acaso e não pela justa culpa. Na história bíblica se não fosse a intervenção divina, os homens, por estarem unidos em torno de um mesmo objetivo, realmente teriam conseguido erguer a Torre de Babel. No filme a catarse só acontece quando algumas barreiras de comunicação são quebradas permitindo que um personagem possa compreender o sofrimento de outro. O filme se mostra, deste modo, como uma crítica feroz ao desrespeito à cultura alheia, à segregação social do diferente e ao preconceito. Numa das melhores cenas, um personagem secundário na trama, por meio de um gesto virtuoso quebra uma muralha quase intransponível, dando passagem à redenção e à esperança.
.
Babel foi indicado a 7 Oscars, incluindo melhor filme, roteiro original e duas indicações para melhor atriz coadjuvante (Adriana Barraza e Rinko Kikuchi), sendo vencedor na categoria "melhor trilha-sonora original". Também foi indicado a sete categorias do Globo de Ouro, sendo vencedor na de "Melhor filme – drama”. Vale a pena assistir!.
Assista ao trailer de Babel no You Tube, clique AQUI !
Do diretor Alejandro González Iñárritu, indico também 21 Gramas (2003). E fiquem de olho em Biutiful (2010), novo filme do diretor que estreou no Brasil no último dia 21.
Ótima dica!
ResponderExcluirAinda não tive o prazer de assistir uma obra tão interessante quanto essa mas a cada critica sobre eu fico mais interessado. Parabéns pela critica.
ResponderExcluirQue coincidência, neste domingo assisti 21 Gramas do mesmo narritu.....Já gostava do diretor assistindo Amores Brutos e Babel, agora admiro mais seu trabalho. Estou louco para conferir Biutiful, seu mais novo lançamento. Se quiser, confira meu novo post:
ResponderExcluirhttp://midiacidada.blogspot.com/2011/01/arte-transforma-e-humaniza.html
Abs
Babel fecha a "trilogia da dor" que Arriaga e innaritu deram inicio Em Amores Brutos - o melhor dos 3 pra mim.
ResponderExcluirÓtimo filme, super recomendado e ótimo texto sobre.
Seguindo...
Abraço
Otimo post, estou seguindo seu blog, segue o meu também
ResponderExcluirUm filme excelente, que você descreveu de forma magestosa.
ResponderExcluirAmo suas críticas e amo todos os filmes do Iñárritu!
ResponderExcluir