N° de acessos:

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Qualquer espécie de afago

.
Naquela noite ele estava abatido, uma intermitente dor de cabeça o deixava ainda mais nervoso. Era um aperto tal como se o seu mundo estivesse se convertido em um ambiente sombrio e claustrofóbico. Já há muito ele sentia que suas possibilidades ali estavam escassas e que a fuga poderia ser a sua melhor dentre as possíveis soluções, se não a melhor, ao menos a mais, aparentemente aceitável. Lhe atormentava o fardo de escolhas e erros que não eram seus, queria ele poder colher os frutos de sua própria vontade. Mas no fundo ele temia; temia a si mesmo, temia a sua inércia e a sua visível degradação. Poderia ele estar se tornando mais um vítima do mal deste século: a depressão. Mesmo naqueles momentos mais desconfortáveis ele nem sequer cogitava procurar ajuda de um profissional, afinal não queria ter que pagar para alguém lhe dizer tudo aquilo que já sabia, que já estava cansado de saber. Como ninguém ele conhecia cada uma das causas do estado em que se encontrava. Mas isso em nada lhe ajudava... Quem sabe se ele escrevesse como costumava fazer? Talvez assim a raiva passasse... E a cefaléia, continuaria o incomodar? Ele questionava consigo: seriam as dores a causa ou só mais uma consequência de um problema maior? Talvez não se conhece tão bem como pensava, talvez nem sequer compreendesse mais o que era causa nem o que era efeito. Mas ele não estava louco, só estava cansado... Era a estafa mental quem o colocara diante do computador no meio da madrugada a digitar baboseiras sem sentido. Talvez ele ainda achasse que ao publicar aquilo, como num passe de mágica , tudo que sentia fosse desaparecer. Porém a realidade era mais cruel. Talvez ainda precisasse mendigar, para que um desconhecido qualquer se prestasse a ler (ou a fingir que leu) e postar algum comentário sobre seus desabafos. Isto, junto com as estatísticas de visitas de seu Blog, quem sabe, mesmo que só por alguns instantes não lhe trouxesse alguma espécie de afago...

Um comentário:

  1. São os temores e incertezas da vida sempre atormentando nossas cabeças. Precisamos todos, mas todos mesmo, trabalhar melhor nossas atitudes.
    Abraço

    ResponderExcluir