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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A Origem

A Origem (Inception) 2010, escrito e dirigido por Christopher Nolan. Direção de Fotografia de Wally Pfister. Música Original de Hans Zimmer. Produzido por Christopher Nolan e Emma Thomas. Warner Bros / EUA.


Quando Stanley Kubrick deixou o mundo perplexo em 1968 com o filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço, o homem já estava prestes a pisar na lua, o que aconteceria no ano seguinte. Talvez o que tenha causado mais espanto não seja a viagem espacial em si, e sim a presença de um computador inteligente, o HAL 9000, como um dos personagens mais marcantes. A informática ainda engatinhava como ciência, a Arpanet, uma espécie de "mãe" da internet só surgiria no ano seguinte e só em 1971 seria criado o primeiro microprocessador. A idéia de que em 2001 existiria um computador detentor de uma personalidade e capaz de falar com as pessoas era uma teoria totalmente avessa à realidade da época e que de fato nem viria se tornar realidade em 2001 como previsto. Em momento nenhum no clássico de Kubrick não é explicado como o computar funciona, muito menos como ele é capaz de falar e ter reações típicas do comportamento humano. Apesar de ser uma teoria sem embasamento racional, nós quando diante da tela a assumimos como uma realidade "poética" e só assim conseguimos compreender a ideia central do filme. 2001 continua sendo até hoje um dos filmes mais importantes de ficção científica, gênero este que pressupõe, como foi explicado, uma subverversão da "realidade" e a troca por uma outra onde o impossível pode acontecer sem que seja considerado fantasia.

Precisei lembrar 2001 - Uma Odisséia no Espaço, para assim justificar uma das possíveis criticas que poderia ser feita ao filme A Origem (2010) de Christopher Nolan, também de ficção científica, a de que é demasiadamente surreal a idéia de invadir e compartilhar sonhos. Vivemos numa sociedade racionalista e estamos o tempo todo ávidos de explicações que nos sirvam de embasamento para cada uma de nossas questões. Este excesso de racionalização mina nosso potencial criativo e na mesma medida impede a nossa compreensão da criatividade alheia. Preferimos nos contentar com a idéia de que uma profecia de um povo ameríndio possa explicar a proximidade do fim do mundo (como em 2012 (2009), filme que não pretendo assistir), do que aceitar uma "realidade" diferente como possível. Nos tornamos tão mal educados que nem licença poética conseguimos mais ceder...


Assisti A Origem pela primeira vez no último sábado, (15/01), o filme talvez tenha me causado a mesma reação que 2001 causou nas platéias na ocasião de seu lançamento. Eu fiquei perplexo, e a complexidade da construção da trama me deixou uma certeza, eu precisava rever o filme novamente o mais rápido possível e não conseguiria esperar muito tempo. Eu precisava buscar mais respostas e tentar perceber o que não tinha notado antes. Já tinha então varias teorias sobre o final e o decorrer da história no filme, e ontem mesmo, (16/01) decidi coloca-las mais uma vez à prova. Ao contrário dos diversos blogs que comentaram o filme, eu não pretendo registrar aqui uma de minha interpretações, nem tentar convencer ninguém de que a minha visão é a mais coerente. Vou me ater a fazer uma breve sinopse e dar algumas dicas.

 

Dom Cobb (Leonarado DiCaprio) e Arthur ( Joseph Gordon-Levitt) são agentes de uma equipe especializada em invadir sonhos e roubar ideias e segredos corporativos. Depois de uma missão falha na mente de um poderoso empresário, Saito (Ken Watanabe), eles são obrigados a fugir, uma vez que a corporação que os emprega não admite erros. Dom Cobb não pode voltar aos Estados Unidos pois é acusado de um grave crime, Saito, cujo os sonhos Cobb tentara invadir, oferece a este a oportunidade de ter a acusação contra ele revogada e assim poder voltar para a América e rever seus filhos, para isso, ao ivés de roubar, ele precisará fazer a inserção de uma idéia. O objetivo é convencer Robert Fischer (Cillian Murphy), a dividir o império corporativo do pai, quando este morrer. Para a missão Cobb montará uma equipe formada por Arthur, seu braço direito, Saito, que quer acompanhar para ter certeza do sucesso de seu investimento, Eames (Tom Hardy), um "falsificador" capaz de mudar a própria aparência nos sonhos, Yusuf (Dileep Rao) um químico que será responsável por formular um potente sedativo e Ariadne (Ellen Page) a nova "arquiteta", a garota será quem irá criar toda a ambientação do sonho a ser compartilhado. Mal (Marion Cotillard), a esposa de Cobb, que costuma invadir os sonhos compartilhados por ele e frustrar suas missões será um dos obstáculos que a equipe terá que enfrentar para garantir o sucesso da missão.

 

O complexo roteiro de A Origem rendeu comparações com outro filme de ficção científica: Matrix (1999), uma vez que a ideia de realidade é o tempo todo colocada em cheque. Assim como em Matrix, no filme de Nolan nada é como parece ser e, tal como aconteceu comigo, uma reassistida pode ajudar esclarecer dúvidas e colocar em ordem fatos que até então pareciam ser desconexos. Uma repassada pelas teorias de Aristóteles acerca da tragédia grega, pelo mito de Teseus e pelas teorias de Freud e Jung sobre os sonhos podem ajudar na compreensão do história. Também recomendo prestar atenção no nome de um dos personagem e na letra da canção Non, je ne regrette rien, da cantora francesa Edith Piaf, que toca em alguns dos momentos mais importante do filme.

 

Mas se você é daqueles que prezam por bons efeitos especiais, mesmo que em detrimento de uma boa história, A Origem continuará sendo uma boa pedida. Ainda que não entenda neca de piti biriba da trama, os efeitos lhe serão uma atração à parte. Mas vale lembrar de uma das falas de Ariadne, quando Cobb em um diálogo a explica sobre a construção dos sonhos: "eu achava que o importante no sonho era o visual... mas parece que é mais a sensação". A Origem é, desta forma, muito mais sensorial que semiótico, e será preciso "ler nas entrelinhas", para não formar apenas uma ideia minimalista. Pois, diferente de um filme do genero terror, neste filme o sensorial não é tão superficial, pois não é o a nossa sensação que deve contar e sim a do personagem.

  

Apesar de não ter sido vencedor em nenhum das categorias nas quais foi indicado na 68° edição do Globo de Ouro, cuja cerimônia aconteceu ontem (16/01), A Origem, continua sendo um dos favoritos ao Oscar, provavelmente não conquistará o de melhor filme, (prêmio que deve ser entregue ao filme A Rede Social), mas tem grandes chances de levar alguns dos prêmios técnicos. Fica ai a dica de um excelente filme, e quando você assistir poste aqui a sua(s) interpretação(ões).


Do diretor Christopher Nolan, indico também: Amnésia (2000), Insônia (2002), O Grande Truque (2006), Batman Begins (2005) e Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008).
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Assista ao trailer de A Origem no You Tube, clique AQUI !

7 comentários:

  1. esse filme deve ser otimo!



    www.diamondsfashion.blogspot.com

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  2. Eu queria ter assistido. Vi que já tem na BlockBuster, vou ve se consigo pegar esse fds ;)

    []'s

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  3. Eu comecei a ver o filme,mas acabei dormindo...rsrsrs

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  4. Kennedy tente assistir denovo tenho certeza que você não vai se arrepender. Assista e me conte depois!

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  5. Eu amei esse filme! Também fiquei com a mesma sensação: preciso ver de novo! Ainda não revi. Mas a minha teoria é de que a Mal estava certa: eles precisavam acordar. Acredito que era tudo um sonho dele(do Cobb), incluindo aquilo que ele acredita ser sua realidade. À princípio, um sonho compartilhado com a Mal, mas ela decide acordar. Todos os personagens são projeções dele. No fundo ele desconfia ou sabe disso, mas não quer acordar. Tanto que em uma das cenas, ainda no início, o pai dele diz: Você precisa voltar para a realidade. Além disso, a Mal, que depois que "morre" nada mais é do que uma projeção sua, parte do seu inconsciente, o avisa disso o tempo, em vários níveis de sonho.
    Haha Essa é minha teoria! Pra mim, ela se comprova no final, quando o pião não para de rodar.

    A rede social é bom. Mas esse filme é sensacional! Merecia os prêmios com certeza.

    Ah, fiquei curiosa pra saber sua teoria. rs

    Adorei o blog!
    Te seguindo.

    Beijos

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  6. Na verdade compartilho a mesma teoria que você, percebi isto desde a primeira vez que assisti o filme. Em vários momentos os próprios personagens dão dicas disso. Tem a questão que Cobb explica, que num sonho vc num chega em determinado lugar, vc sempre está lá, a edição do filme corrobora esta teoria. Tem a questão do nome Ariadne, na mitologia grega ela é quem dá o fio para Teseus encontrar a saida depois de entrar no labirinto do minotauro, já na psicologia o "fio de ariadne" é usado como metáfora para indicar situações em que o nosso próprio sub-consciente nos fornece as respostas para nossas questões. E segundo a teoria de Aristóteles a catarse (que é mencionada em alguns momentos do filme) acontece qd alguém, no caso da tragédia grega, o personagem se livra do peso de uma falha e liberta o expectador no mesmo processo... E só fazer a analogia e chegamos a uma interpletação, que pode ser a certa ou não...

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  7. A Origem ganhou o Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (Wally Pfister), Efeitos Visuais (Peter Bebb, Chris Corbould,
    Paul Franklin e Andrew Lockley), Edição de Som (Richard King) e Mixagem de Som (Lora Hirschberg, Gary A. Rizzo e Ed Novick).

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