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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Um Corpo que Cai

Um Corpo que Cai (Vertigo) - 1958. Dirigido e produzido por Alfred Hitchcock e escrito por Alec Coppel & Samuel A. Taylor, baseado na novela D’Entre Les Morts, de Pierre Boileau e Thomas Narcejak. Fotografia de Robert Burks. Música de Bernard Herrmann. Paramount Pictures / EUA.

 

Resumindo, pode-se dizer que Um Corpo que Cai (1958) é um filme sobre o medo, seus efeitos e a forma com que se desenvolve. A sua maior façanha é mostrar que, mesmo parecendo ser tão tolo, o medo que nos aflige pode nos paralisar e causar estragos terríveis. Este clássico de Alfred Hitchcock começa com uma sequência de perseguição policial, onde dois tiras perseguem um bandido numa corrida frenética sobre prédios de São Francisco. Por não conseguir alcançar o outro lado, depois de um salto de um prédio para outro, o policial Jimmy Scottie (James Stewart) fica pendurado e entra em pânico. Seu parceiro tenta o ajudar mas acaba caindo para a morte certa. Scottie conseguiu se salvar, mas começou então a sofrer cada vez mais com seu medo de altura (acrofobia), que só aumentou depois do incidente. Ele ainda se remoía por se sentir culpado pela morte do colega. O tribunal o isentou da culpa, pois ninguém pode ser responsabilizado pelo que deixou de fazer, mas ele foi afastado da corporação, pois entendiam que sua fobia puderia colocar sua própria vida e a de outros colegas em risco.

Quando Jimmy já pensava em se aposentar, ele foi procurado por Gavin Elster (Tom Helmore), um velho amigo que lhe propôs um serviço de detetive particular. O ex-policial deveria seguir a esposa de Gavin, que vinha sofrendo estranhos surtos psicóticos. Este, ao procurar Jimmy, explica que não se tratava de questões conjugais e sim de um misterioso caso de aparente possessão. Madeleine (Kim Novak), a esposa de Gavin, estava obsecada por uma antepassada, que se suicidara décadas atrás e com frequência se fechava em mundo particular como se estivesse catatônica, ou fazia coisas das quais se esquecia completamente mais tarde. O comportamento estranho de Madeleine fez o seu marido acreditar que ela estava sendo atormentada pelo espírito da bisavó suicida. Jimmy se mostrava cético quanto à historia de fantasmas, acabou aceitando o trabalho em consideração ao amigo. Ao seguir a atormentada Madeleine, Stewart percebe nela, tal como acontecera com a antepassada, uma forte tendência suicida. Ele acaba se aproximando mais do que deveria da linda moça, depois de salvar-la de uma tentativa de afogamento.

  
Em cena: Kim Novak e James Stewart em um relacionamento cheio de suspense e mistério.

A primeira parte do filme, que tende para o suspense sobrenatural, tem seu clímax em um campanário que fica nos arredores da cidade de São Francisco, o que parecia ser um final é apenas o começo de uma trama que começa a se desenrolar. Comentar qualquer coisa sobre a segunda parte seria um verdadeiro desrespeito a quem ainda não viu o filme, seria estragar o verdadeiro prazer. Tal como descrevi no artigo Hitchcock à Luz da Teoria da Persuasão, cada uma das partes do filme, tem um objetivo de compor o contexto favorável para que o suspense seja elevado à sua máxima potência. Nós ao percebermos o medo quase absurdo que o protagonista sente de altura, tendemos a estarmos mais suscetíveis ao medo que será trabalhado em nós no decorrer do filme, pois de alguma forma entendemos que sentir medo é algo natural, que pode afetar até mesmo os “heróis”. Quando menos percebemos já estamos sentindo algo semelhante ao que Jimmy sente ao subir em uma simples cadeira, damos lugar ao medo do sobrenatural e do desconhecido, que joga por terra qualquer tentativa de coragem baseada na razão.

  

A trama de Um Corpo que Cai, pode parecer forçada e em muitos momentos absurda demais, o desfecho, a la final de Scooby-Doo, nos deixa perplexos e ao mesmo tempo com a sensação de que tudo é demasiadamente surreal para que possa ser compreendido como verosimilhante. Porém não é na construção da trama que está a grandiosidade desta obra, nem a genialidade de Hitch. É na forma com que o diretor manipula nossas percepções através do poder da mensagem fílmica (imagens + sonoplastia), que reside toda as justificativas que embasam a afirmação de que Um Corpo que Cai é um dos maiores clássicos do cinema de todos os tempos. Não é atoa que ele atualmente figure na maioria das listas de filmes imperdíveis que são renovadas a cada ano.


Um outro destaque de Um Corpo que Cai é a fotografia, feita com tecnologia da Technicolor, que além de capturar lindas cenas de São Francisco, ainda funciona como fator atenuante do medo que é induzido em nós espectadores. Os originais do filme quase se perderam pela deterioração causada pelo tempo, mas em 1996, após um trabalho de restauração que custou mais de um milhão de dólares, os negativos foram recuperados, evitando assim que fosse perdido para sempre um dos melhores registros do cinema Hollywoodiano. Quem ainda não viu, não sabe o que está perdendo. Se você vier a assistir ao filme, repare na pequena participação do diretor (ele fez isso na maioria de seus filmes), que aparece como um transeunte vestindo um terno cinza, mais ou menos aos 11 minutos de duração. E só para terminar a resenha com uma frase de efeito, posso afirmar que: Você nunca entenderá nada de suspense se não conhecer os clássicos de Alfred Hitchcock! Ultra recomendado!

Um Corpo que Cai foi indicado aos Oscars de Melhor Som e Direção de Arte, mas não levou nenhuma das duas estatuetas.


Assista ao trailer de Um Corpo que Cai no You Tube ! (clique no link)

De Hitchcock, recomendo também: Psicose (1960) e Pássaros (1963).


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