O Discurso do Rei (The King`s Speech) - 2010. Dirigido por Tom Hooper e escrito por David Seidler. Fotografia de Danny Cohen. Música de Alexandre Desplat. Produzido por Iain Canning; Emile Sherman e Gareth Unwin. Paris Filmes / UK.
"Alguns homens nascem fortes, outros têm que descobrir a força que há dentro deles"
Ainda não sei descrever o que senti quando sai da sala do cinema, depois de assistir O Discurso do Rei (2010). Este filme é um daqueles que de alguma forma nos faz bem e nos transmite uma breve, porém intensa, sensação de otimismo e alto astral. Isto não acontece comigo frequêntemente, mas lembro de ter sentido algo parecido quando assisti Simplesmente Feliz (2008) e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001). O Discurso do Rei também é um daqueles filmes, em que cada coisa está exatamente onde deveria estar, os toques de humor e de melodrama são usados na medida certa e tudo parece fluir em uma sintonia raramente percebida. Os personagens conseguem nos cativar com suas características marcantes e isentas de maniqueísmo. Apesar de suas falhas e de seus modos, que não nos são familiar, eles logo estabelecem conosco uma relação de empatia e cumplicidade.
O Discurso do Rei tem se insurgido como uma das promessas de tirar de A Rede Social (2010), a estatueta de Melhor Filme, que será entregue hoje. O longa de David Finsher era, até algumas semanas atrás, o favorito absoluto ao prêmio, mas o jogo virou e a disputa promete ser acirrada, ambos têm méritos inquestionáveis e já dividem a opinião de críticos e cinéfilos. Curiosamente, são dois filmes que vão muito além daquilo a que se propõe, transcendendo as histórias reias, nas quais foram inspirados. Talvez isso explique o tamanho sucesso que ambos vêem conquistando, apesar de se basearem em fatos que, convenhamos, não têm muito apelo à primeira vista.
O Discurso do Rei poderia ser apenas mais um filme dentre tantos que relatam as polêmicas, intrigas e peripécias da realeza britânica, mas consegue ir muito além do que foram a maioria de seus similares. Como sempre deixo claro em comentários sobre filmes baseados em fatos reais, a sinopse que faço é da história adaptada e não dos fatos históricos que a inspiraram, vamos à ela: O personagem principal é Albert Frederick Arthur George (Colin Firth), que herda o trono da Inglaterra depois da renúncia de Edward (Guy Pearce), seu irmão mais velho, que deixou o poder para se casar com uma americana que já tinha se divorciado duas vezes. Albert não estava preparado para governar, ele era tímido, inseguro e não conseguia falar em público por ser gago. Para complicar a situação Albert, que adotou então o nome de George VI (em homenagem ao seu pai George V), o país estava em um momento histórico critico, o ano era 1936 e a 2° guerra era uma ameaça iminente, era questão de tempo até a Inglaterra declarar guerra à Alemanha.
Apesar da situação instável do país e do mundo, a principal preocupação de George VI era em contornar a gagueira e conseguir lidar com as circunstãncias que lhe exigiam uma aproximação maior de seus súditos, que deveria ser feita justamente através do rádio, veículo de comunicassão de massa com maior abrangência na época. A rainha Elizabeth (Helena Bonham Carter), sua esposa, já havia tentado de tudo para ajudar o marido a se livrar do problema constrangedor, já tinha lhe levado a diversos especialistas, porém sem nenhum resultado. Ambos já estavam prestes a desistir quando Elizabeth conheceu o australiano Lionel Logue (Geoffrey Rush), um profissional de métodos nada ortodoxos. Ele, que lhe fora muito bem indicado, se mostra como sendo egocêntrico e arrogante (comportamento típicos dos nobres). Depois de um pouco de resistência George VI aceita se submeter ao tratamento proposto por Lionel e a acatar suas exigências.
O relacionamento ora conflituoso, ora amistoso, entre o rei e o fonoaudiólogo é o melhor atrativo do filme, ao contrário do que possa parecer, não existe pompa e formalidade entre eles e cada encontro terapêutico vai revelando um pouco mais sobre a personalidade de cada um deles. Os exercícios a que o rei se submete nos proporcionam alguns dos momentos mais divertidos do filme. Mas, nós expectadores somos cativados é justamente pela simplicidade que Lionel representa e não pela suntuosidade da família real. No decorrer da história vemos que tanto George quanto sua esposa se rendem à simplicidade que emana do fonoaudiólogo e de sua família. Acredito até que um dos aspectos mais legais do o filme, seja a forma com que ele nos faz compreender que uma verdadeira amizade pode ser o melhor remédio para boa parte de nossos problemas.
Legal também é que o filme não exita em mostrar Albert como um homem frágil, que não tem a mínima ideia de como passar para o povo, através do rádio, a força que este precisa para encarar a guerra de grandes proporções que se aproxima. Confesso ainda que é muito mais recompensador ver representadas nas telas personalidades que venceram a si mesmas, do aquelas que venceram todo mundo, passando por cima de qualquer um (mesmo que estas personalidades possam estar bem diferentes daquilo que foram ou são na realidade).
O Discurso do Rei também faz jus a cada um dos prêmios que já conquistou e a cada um dos 12 Oscars a que está indicado. A fotografia, aliada a uma ótima direção de arte, digna de ganhar o prêmio da Academia, nos coloca diante de lindas imagens durante todo o filme, a parede descascada do consultório de Lionel Logue, por exemplo, é quase uma obra de arte, pela forma com que é fotografada. Os aposentos reais capturados em tons frios, corroboram a idéia que o filme tenta passar sobre a vida de George VI. A trilha sonora é maravilhosa, marcante sem deixar de ser sutil, ela parece se enquadrar perfeitamente em um filme em que o silêncio desempenha um papel primordial.
As atuações também são excelentes e acredito que sejam, por si só, o aspecto que mais se destaca no filme. Colin Firth foi muito bem sucedido ao dar a seu personagem reações e emoções na medida exata. Ele poderia ter caido no lugar comum de explorar a disfemia com excesso de humor ou de dramaticidade, como seria fácil de se esperar de qualquer filme "mediano". Segundo uma matéria publicada pelo periódico inglês Daily Mail, a rainha Elizabeth II contou que teria se emocionado ao ver a interpretação que Firth deu para o seu pai, ela se disse tocada pela atuação e pelo filme. Geoffrey Rush, que na minha opinião merece tanto destaque quanto Firth, está numa atuação que faz jus à toda sua habilidade cênica. Desde Shine (1996) ele não fazia um papel tão significante e digno de todas a honrarias e indicações que vem recebendo. Helena Bonham Carter também tem um desempenho formidável, é legal ver ela fora dos papéis excêntricos que a marcaram em Filmes como Clube da Luta (1999), Sweeney Todd (2007) e Alice no País das Maravilhas (2010).
O Discurso do Rei também faz jus a cada um dos prêmios que já conquistou e a cada um dos 12 Oscars a que está indicado. A fotografia, aliada a uma ótima direção de arte, digna de ganhar o prêmio da Academia, nos coloca diante de lindas imagens durante todo o filme, a parede descascada do consultório de Lionel Logue, por exemplo, é quase uma obra de arte, pela forma com que é fotografada. Os aposentos reais capturados em tons frios, corroboram a idéia que o filme tenta passar sobre a vida de George VI. A trilha sonora é maravilhosa, marcante sem deixar de ser sutil, ela parece se enquadrar perfeitamente em um filme em que o silêncio desempenha um papel primordial.
As atuações também são excelentes e acredito que sejam, por si só, o aspecto que mais se destaca no filme. Colin Firth foi muito bem sucedido ao dar a seu personagem reações e emoções na medida exata. Ele poderia ter caido no lugar comum de explorar a disfemia com excesso de humor ou de dramaticidade, como seria fácil de se esperar de qualquer filme "mediano". Segundo uma matéria publicada pelo periódico inglês Daily Mail, a rainha Elizabeth II contou que teria se emocionado ao ver a interpretação que Firth deu para o seu pai, ela se disse tocada pela atuação e pelo filme. Geoffrey Rush, que na minha opinião merece tanto destaque quanto Firth, está numa atuação que faz jus à toda sua habilidade cênica. Desde Shine (1996) ele não fazia um papel tão significante e digno de todas a honrarias e indicações que vem recebendo. Helena Bonham Carter também tem um desempenho formidável, é legal ver ela fora dos papéis excêntricos que a marcaram em Filmes como Clube da Luta (1999), Sweeney Todd (2007) e Alice no País das Maravilhas (2010).
O Discurso do Rei pode não ser o meu favorito dentre os longas que estão indicados para o Oscar de Melhor Filme, mas sem sombra de dúvidas é o que mais merece ganhar o prêmio. É um grande filme sobre as coisas simples, aquelas que dão sentido a nossa vida e fazem valer a pena lutar para vencer nosso pior inimigo: nós mesmos. Quem ainda não viu não sabe o que está perdendo. Assista!
O dircurso do Rei está indicado aos Oscars (que serão entregues hoje) de Melhor Filme, Diretor, Roteiro Original, Ator (Colin Firth), Ator Coadjuvante (Geoffrey Rush), Atriz Coadjuvante (Helena Bonham Carter), Fotografia, Edição, Trilha Sonora Original, Direção de Arte, Figurino e Mixagem de Som. Colin Firth ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator - Drama, tendo o filme sido indicado ao prêmio também nas categorias de Melhor Filme - Drama, Diretor, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante, Roteiro e Trilha Sonora Original.
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O Discurso do Rei ganhou o Oscar nas categorias de Melhor Filme, Roteiro Original, Ator (Colin Firth) e Diretor (Tom Hooper).
ResponderExcluirOlá, José Bruno!!!! Boa resenha e ganha mais pontos ainda pela análise feita antes da entrega do Oscar...pois algumas coisas faladas hoje poderia ser vistas como certo puxassaquismo!!!!! Valeu!!!!
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